quem garante
que o real não é sonho
e que o sonho é o que é?
há lagos em que o fundo
nunca alcança a existência de nosso pé
o que existe existe
ou existe
porque eu penso que existe?
dependendo de como
e quando
se vê
a mesma flor
pode ser alegre
ou pode ser triste
só se sente
que o sonho é sonho
quando o sonho chega ao fim
e mesmo quando sinto
não domino o que vem-me aos sentidos
e até mesmo o vinho tinto
só é tinto
porque meus olhos humanos
o percebem assim
e mesmo quando penso
quantos pensam ao mesmo tempo
dentro de mim?
e mesmo quando escrevo
um verso que diz não
quem garante
que ele dizendo não
não disse sim?
04 novembro 2018
01 novembro 2018
Desaforadas (Ou Após ouvir Shostakovich)
porque há risos gargalhadas
em cascatas cataratas
sanguinadas pelas pragas
são cantatas de gargalhas
das risadas alastradas
zombarias pelas águas
são compassos de risadas
entre asas garras brasas
pelas rubras russas geadas
o deboche dos abutres
o gaguejo de macacos
gorgolejo de galinhas
graves línguas de lagartos
entre o sarcástico dos asnos
pelas gárgulas e cabras
ironias desbocadas
em metralhas e sarcasmos
em grotescos e catarras
há danças valsas facas
essa desgraça de engraçada
a lembrar que a humanidade
é só uma piada
em cascatas cataratas
sanguinadas pelas pragas
são cantatas de gargalhas
das risadas alastradas
zombarias pelas águas
são compassos de risadas
entre asas garras brasas
pelas rubras russas geadas
o deboche dos abutres
o gaguejo de macacos
gorgolejo de galinhas
graves línguas de lagartos
entre o sarcástico dos asnos
pelas gárgulas e cabras
ironias desbocadas
em metralhas e sarcasmos
em grotescos e catarras
há danças valsas facas
essa desgraça de engraçada
a lembrar que a humanidade
é só uma piada
31 outubro 2018
Governo Bolsonárico
piadas
cagadas
desgraças
desertos
caçadas
riquinhos
tirinhos
milicos
patentes
pinicos
usura
censura
tortura
tragédia
amargura
acéfalos
hipócritas
suásticas
patéticas
dos trópicos
e os três Phoderes:
o Cômico
o Estúpido
e o Catastrófico
cagadas
desgraças
desertos
caçadas
riquinhos
tirinhos
milicos
patentes
pinicos
usura
censura
tortura
tragédia
amargura
acéfalos
hipócritas
suásticas
patéticas
dos trópicos
e os três Phoderes:
o Cômico
o Estúpido
e o Catastrófico
29 outubro 2018
A Era da Maldade
Trump e Bolsonaro venceram. Isso, para ficar nos casos mais representativos nas Américas. Bolsonaro é um Trump piorado. Ou uma caricatura tosca de Trump. Mas apesar das diferenças pró Trump (tem mais história, mais feitos, é mais culto e mais inteligente, traz uma base muito mais sólida que a de Bolsonaro), ambos têm algo em comum: a maldade.
Vivemos um outro momento na humanidade. Ou o retorno de um outro momento que se configurava há cerca de 100 anos atrás. Momento em que o egoísmo e o desumano prevalecem. O egoísmo fala em um pseudo-nacionalismo de ódio ao diferente, o qual é visto como ameaça, utilizando-se de falsos conceitos de família, pátria e Deus, que se tornam apenas eficientes instrumentos de controle.
O desumano nos fala de uma ordem, na realidade impossível e de fachada, mas que seria necessário se implantar a todo custo através da opressão, da repressão, da redução dos direitos individuais, do controle da liberdade de muitos para o benefício de poucos. É ostensível que o discurso de fachada desses novos governantes é um, e seus atos, são outros. Falam através da liberdade e da democracia, mas tentam convencer que para se "manter a liberdade e a democracia", é necessário que se "reduza a liberdade e a democracia". Exatamente como fez Hitler nas primeiras décadas do século XX.
O egoísmo também nos fala do lucro a qualquer custo. O custo é mais e mais destruição ambiental e exploração do trabalho humano. Vivemos uma nova era da impiedade e do medo, da ausência de compaixão e de solidariedade. Nosso coração morre a cada dia. Voltamos à era da redução das áreas de preservação ambiental, do massacre dos povos nativos, da liberação da caça e da aniquilação da vida selvagem, pois isso não tem valor para o neoliberalismo, a não ser o valor financeiro. A poluição desenfreada não terá limites, a vida será cada vez mais subjugada pelos meios de produção. Vivemos a era em que os recursos naturais, desde campos, florestas, até a água ficarão nas mãos de muito poucos, assustadoramente poucos.
O capitalismo agonizante tenta sobreviver através da morte, sugando a última gota de sangue que restar em nosso planeta. Vivemos a era em que o trabalho humano voltará a perder valor. Direitos trabalhistas são e serão retirados ao limite máximo. Com a justificativa de que é para gerar empregos e pelo excesso de mão de obra. Mas é apenas para gerar mais lucros. E não se poderá se pronunciar contra essa "ordem" estabelecida. Como previram Aldous Huxley e George Orwell, uma falsa necessidade de ordem criada artificialmente trará o autoritarismo disfarçado de democracia.
Vivemos a era da insensibilidade. A era em que a inteligência, a cultura e a arte serão vistas como um perigo por ameaçarem a farsa da necessidade da "ordem". Vivemos a era do ódio ao próximo, se o próximo não vive ou não pensa ou não concorda com o que é tido como "correto". Mas tudo encharcado da hipocrisia dos papinhos moles e dos melosos sorrisos de falsa amizade, nos discursos de fingimento religiosos, naquela velha coisa de "isso vai ser bom pra você".
É a era das sentenças arbitrárias e dos julgamentos por interesse. Dos bodes expiatórios. A era em que o culpado de tudo é sempre o outro. Principalmente, se o outro for diferente. E, portanto, o outro deve ser eliminado ou excluído. Caminhamos para uma 3ª Guerra Mundial. Vivemos a Era da Pós-Humanidade. A Era do Fim.
24 outubro 2018
Sem Fundamento
as pessoas se habituaram
a viver a vida que vivem
como se a vida fosse isso que vivem
a vida?
por que assim?
quem levanta de sua cama
levanta para quê?
o trabalho
é um trabalho para qual objetivo?
e alcançado o objetivo
o que é que resta do que fica?
quem dorme
descansa de qual cansaço?
e para que se cansou?
saímos todos os dias
para viver a vida
dentro do mundo
e estamos convencidos
de que a vida é essa que se vive
e de que o mundo é esse que se tem
e de que o que fazemos
é o que deve ser feito
saímos todos os dias
para a morrer a vida
e ninguém se pergunta nada
e não se faz nenhum questionamento
mas errado sou eu
quando digo que tudo isso
não tem nenhum fundamento
a viver a vida que vivem
como se a vida fosse isso que vivem
a vida?
por que assim?
quem levanta de sua cama
levanta para quê?
o trabalho
é um trabalho para qual objetivo?
e alcançado o objetivo
o que é que resta do que fica?
quem dorme
descansa de qual cansaço?
e para que se cansou?
saímos todos os dias
para viver a vida
dentro do mundo
e estamos convencidos
de que a vida é essa que se vive
e de que o mundo é esse que se tem
e de que o que fazemos
é o que deve ser feito
saímos todos os dias
para a morrer a vida
e ninguém se pergunta nada
e não se faz nenhum questionamento
mas errado sou eu
quando digo que tudo isso
não tem nenhum fundamento
23 outubro 2018
Da Mediocridade
I - a humanidade é a soma geométrica
de todas as merdas de cada um de nós:
progredimos pelo bueiro avante.
mas não é esse o problema
o problema é que os humanos
tomaram laxante
II - as pessoas dizem:
“a humanidade é medíocre”
mas a humanidade
é formada pelas pessoas
logo
as pessoas são medíocres.
mas alguém diz:
"eu sou uma pessoa
logo
eu sou medíocre..."
?
o medíocre começa
em não se perceber que o é.
de todas as merdas de cada um de nós:
progredimos pelo bueiro avante.
mas não é esse o problema
o problema é que os humanos
tomaram laxante
II - as pessoas dizem:
“a humanidade é medíocre”
mas a humanidade
é formada pelas pessoas
logo
as pessoas são medíocres.
mas alguém diz:
"eu sou uma pessoa
logo
eu sou medíocre..."
?
o medíocre começa
em não se perceber que o é.
20 outubro 2018
O Meu Lado
eu sempre estarei do lado dos que não têm lado
dos oprimidos dos esquecidos dos explorados
dos combalidos dos excluídos dos exilados
eu nunca serei pelos lucros das empresas
eu nunca serei pelas lavouras dos latifúndios
eu nunca serei pelos produtos das indústrias
eu nunca serei pelo ouro das mineradoras
eu nunca serei pelos tanques dos exércitos
eu estou do lado de quem paga a conta
e não de quem cobra o juro
eu estou do lado de quem cuida a planta pra crescer
e não de quem a enche de veneno
eu estou do lado do animal que é caçado
e não de quem dá o tiro
eu estou do lado dos que sofrem pela vida
e não dos que vivem para a morte
eu sempre estarei do lado
dos que não têm vez:
é o único lado
que representa um poeta
17 outubro 2018
Tempos - Sombra
não há esperança pra vida ou pra massa
nosso Horror nos domina a fogo e a ferro
Shostakovich sangra ácido berro
e Beethoven se ergue além da fumaça
tempos-sombra assomam atrás das desgraças
homens tropeçam no seu desespero
tudo o que é luz desmorona no erro:
nos restam o vinho o whisky a cachaça
mundos de caos nos espreitam na lama
tudo o que somos não passa de falha
máquinas pisam por todas as gramas
resta-me a arte por som e navalha
resta-me um algo que é mais do que chama
que chama o que fúria: triunfo e mortalha
nosso Horror nos domina a fogo e a ferro
Shostakovich sangra ácido berro
e Beethoven se ergue além da fumaça
tempos-sombra assomam atrás das desgraças
homens tropeçam no seu desespero
tudo o que é luz desmorona no erro:
nos restam o vinho o whisky a cachaça
mundos de caos nos espreitam na lama
tudo o que somos não passa de falha
máquinas pisam por todas as gramas
resta-me a arte por som e navalha
resta-me um algo que é mais do que chama
que chama o que fúria: triunfo e mortalha
15 outubro 2018
Sangue de Porco
a humanidade
está acabada.
(é, eu sei, alguns irão protestar,
o que não muda nada)
então que estas levas
de palavras em lavas
larvas de palavras não-livres
livros não lavrados mal-lidos
me deixam mais leve
estas palavras
largarei letra a letra
pingos de vela
granos de areia
e uma cabeça de ovelha
a humanidade acabada:
aquele jorro
de sangue de porco
da garganta esfaqueada
que estas levas
de palavras em lama
me deixem mais breve:
que o diabo as carregue
e o sangue as te leve
está acabada.
(é, eu sei, alguns irão protestar,
o que não muda nada)
então que estas levas
de palavras em lavas
larvas de palavras não-livres
livros não lavrados mal-lidos
me deixam mais leve
estas palavras
largarei letra a letra
pingos de vela
granos de areia
e uma cabeça de ovelha
a humanidade acabada:
aquele jorro
de sangue de porco
da garganta esfaqueada
que estas levas
de palavras em lama
me deixem mais breve:
que o diabo as carregue
e o sangue as te leve
12 outubro 2018
A Esperança Curvada ao Desumano
Poema escrito e publicado em novembro de 2015. Mas parece que escrevi hoje.
derradeira decadência das massas
pela invicta derrota do que humano
vontades que naufragam ano a ano
nos fundos tormentados das não-taças
o não-haver de tudo que se faça
o em-vão irrevogável de um Engano
a esperança curvada ao desumano
nas vastas pradarias da desgraça
passo a passo de um algo que maldito
sobre as patas-arcanjos de um cavalo
entre os olhos sedentos do inaudito...
a nulidade do ato de salvá-lo
dessangra entre vermelhos de infinito
e o Horror levanta a força do seu falo...
derradeira decadência das massas
pela invicta derrota do que humano
vontades que naufragam ano a ano
nos fundos tormentados das não-taças
o não-haver de tudo que se faça
o em-vão irrevogável de um Engano
a esperança curvada ao desumano
nas vastas pradarias da desgraça
passo a passo de um algo que maldito
sobre as patas-arcanjos de um cavalo
entre os olhos sedentos do inaudito...
a nulidade do ato de salvá-lo
dessangra entre vermelhos de infinito
e o Horror levanta a força do seu falo...
10 outubro 2018
Os Olhos Grelados da Morte
o rosto longo e fundo da morte
e aqueles olhos calmos e grandes e grelados
que há muito tempo nos observam
por trás da última árvore
que nos restou no quintal
quem olha da janela dos fundos da cozinha
vê a morte lá sentada
num pedaço escuro e descascado de muro
nos sinalizando com seu dedo indicador
se movendo pra cima e pra baixo
(como quem diz: "sim, é contigo mesmo...")
então fingimos que não é com a gente
jogamos os restos de comida pela janela
apagamos as luzes da cozinha
e vamos ver TV
e pensamos nos planos do dia seguinte
enquanto mexemos no celular
nos enchendo de certezas
e quando olhamos sem querer
para a janela da sala
lá está o rosto longo e fundo da morte
aqueles olhos grandes e grelados e calados
a nos olhar como se fôssemos
o futuro morto da nossa nação
e aqueles olhos calmos e grandes e grelados
que há muito tempo nos observam
por trás da última árvore
que nos restou no quintal
quem olha da janela dos fundos da cozinha
vê a morte lá sentada
num pedaço escuro e descascado de muro
nos sinalizando com seu dedo indicador
se movendo pra cima e pra baixo
(como quem diz: "sim, é contigo mesmo...")
então fingimos que não é com a gente
jogamos os restos de comida pela janela
apagamos as luzes da cozinha
e vamos ver TV
e pensamos nos planos do dia seguinte
enquanto mexemos no celular
nos enchendo de certezas
e quando olhamos sem querer
para a janela da sala
lá está o rosto longo e fundo da morte
aqueles olhos grandes e grelados e calados
a nos olhar como se fôssemos
o futuro morto da nossa nação
08 outubro 2018
Bolsonaro: atestado de Óbito para o nosso Meio Ambiente
Quem ama a natureza não vota em Bolsonaro. Se vota, ou está pouco ligando para a vida em seu amplo sentido ou está mal informado. E muito mal informado. Pensem bem no que ele pretende fazer com nosso meio ambiente, caso ocorra a catástrofe da sua eleição:
- Bolsonaro quer acabar com o ministério do Meio Ambiente
- Quer colocar o poder de decisão da questão ambiental nas mãos gananciosas e predatórias de ruralistas e mineradoras.
- Declarou apoio irrestrito a caçadores. Lembre de sua declaração: "A caça é um esporte saudável".
- Declarou que pretende tirar o poder do IBAMA de fiscalização e multa (Talvez, porque ele foi multado pelo IBAMA por pescar em área proibida).
- Pretende por fim às ONGs que defendem nossas florestas.
- Quer acabar com reservas indígenas e de preservação permanente . Há um vídeo, de uma entrevista rápida para a Globo, em que ele afirma claramente que pretende acabar com reservas naturais e indígenas.
- Quer tirar o poder do IBAMA para o licenciamento ambiental. Se com a existência do licenciamento, já existe tanta destruição, imagina sem.
- Quer ampliar sem limites a exploração da Amazônia, acabando com reservas, sem nenhum respeito à vida, à grandiosidade, à importância fundamental da maior floresta tropical do mundo.
Bolsonaro não tem a mínima consciência ecológica, nenhum sentimento pela vida natural. Quem respeita nossa flora e nossa fauna, e compreende sua importância para nossas vidas, não pode votar em Bolsonaro em hipótese alguma. A não ser que esteja sob efeito de uma histeria, de uma hipnose coletiva, que é, sem dúvida o que está acontecendo com grande parte da população brasileira, sob efeito da histeria bolsonariana. Estes somente sairão dessa histeria após um grande choque, com a ocorrência de uma tragédia, de uma catástrofe. Não podemos esperar que isso aconteça. Mas aqueles que ainda não caíram nessa hipnose, não podem, nesse momento ameaçador para nossa nação, omitirem-se.
Entrem no Facebook e assistam ao vídeo:https://www.facebook.com/luiz.pires.39/posts/1836893913012535
03 outubro 2018
Jantar entre Amigos
o Horror veio e jantou comigo
e com ele vinham todos os que já não
(apesar de antipático
era meu melhor amigo)
e falamos como se insanos
entre um trago de água quente
(daquela, água ardente)
e um prato de sangue com feijão
e alguma coisa não estava bem
(era como se um algo me olhasse além
ou de frente)
e gritei
- oh Ser do que me era
para onde foi o teu sempre?
e agora qual dos sete é que me é?
entre uma e outra ironia
naquele ambiente doentio e brutal
era vasto o cheiro de extinto e de ferro
quando uma voz
me sorriu estranha
(e o Caos me servia
outro gole negro de canha)
era o Horror que me perguntava
se (r)indo:
“mas por que mesmo
amar
não está mais na moda?”
- ah, sei lá, é que... (respondi)
é foda!
e com ele vinham todos os que já não
(apesar de antipático
era meu melhor amigo)
e falamos como se insanos
entre um trago de água quente
(daquela, água ardente)
e um prato de sangue com feijão
e alguma coisa não estava bem
(era como se um algo me olhasse além
ou de frente)
e gritei
- oh Ser do que me era
para onde foi o teu sempre?
e agora qual dos sete é que me é?
entre uma e outra ironia
naquele ambiente doentio e brutal
era vasto o cheiro de extinto e de ferro
quando uma voz
me sorriu estranha
(e o Caos me servia
outro gole negro de canha)
era o Horror que me perguntava
se (r)indo:
“mas por que mesmo
amar
não está mais na moda?”
- ah, sei lá, é que... (respondi)
é foda!
01 outubro 2018
Das Poucas Virtudes do Homem
uma das grandezas do homem
é ser simples com os humildes
e altivo com os arrogantes
uma das inteligências do homem
é ser simpático com os autênticos
e irônico com os hipócritas
uma das sabedorias do homem
é se importar com o ser humano
(como ser)
e desprezar a humanidade
(como mundo)
é ser simples com os humildes
e altivo com os arrogantes
uma das inteligências do homem
é ser simpático com os autênticos
e irônico com os hipócritas
uma das sabedorias do homem
é se importar com o ser humano
(como ser)
e desprezar a humanidade
(como mundo)
29 setembro 2018
Na Seca, a Tempestade é a Luz
arte também é para reagir
se tu queres da arte só o beijo e não o soco
só o belo e não o chute
só o sonho e não o sangue
só o certo e não o fundo
só o leve e não a morte
se tu queres arte para te sentires bem
para ser agradado agraciado acariciado
sempre concordado nunca confrontado
para te manteres na tua zona de conforto
para seguires cômodo na tua frívola visão da vida
e prosseguir satisfeito com teu sorriso estúpido
e nunca ter abalos nas tuas certezas toscas...
então tu não queres arte
tu queres autoajuda:
então vai ler augusto cury
vai pagar por palestras motivacionais
então que lambas o microfone de um pastor
ou o saco do teu salvador da pátria
ou vai pra casa
brincar com tua caixinha de esperanças fodidas
se tu queres da arte só o beijo e não o soco
só o belo e não o chute
só o sonho e não o sangue
só o certo e não o fundo
só o leve e não a morte
se tu queres arte para te sentires bem
para ser agradado agraciado acariciado
sempre concordado nunca confrontado
para te manteres na tua zona de conforto
para seguires cômodo na tua frívola visão da vida
e prosseguir satisfeito com teu sorriso estúpido
e nunca ter abalos nas tuas certezas toscas...
então tu não queres arte
tu queres autoajuda:
então vai ler augusto cury
vai pagar por palestras motivacionais
então que lambas o microfone de um pastor
ou o saco do teu salvador da pátria
ou vai pra casa
brincar com tua caixinha de esperanças fodidas
26 setembro 2018
Liberdade x Controle
há dois tipos de pessoas:
as que buscam a liberdade
e as que buscam o controle
buscam o controle
os que julgam que liberdade
é sinônimo de anarquia
e que podem e devem
decidir pelos outros
(e para outros)
o comportamento de todos
e para ter o controle
pensam ter a razão e o saber
e o direito de exercer o controle
e o como, o a quem e o para quê?
controlar
mas como estão certos
de que estão certos?
e que outros lhes deram o direito
de ter direitos sobre outros?
buscam a liberdade
não os que desejam
a ausência de controle
mas os que promovem ao homem
as condições de a si próprio
exercer a consciência
de saber quando ser livre
e de quando se controlar
as que buscam a liberdade
e as que buscam o controle
buscam o controle
os que julgam que liberdade
é sinônimo de anarquia
e que podem e devem
decidir pelos outros
(e para outros)
o comportamento de todos
e para ter o controle
pensam ter a razão e o saber
e o direito de exercer o controle
e o como, o a quem e o para quê?
controlar
mas como estão certos
de que estão certos?
e que outros lhes deram o direito
de ter direitos sobre outros?
buscam a liberdade
não os que desejam
a ausência de controle
mas os que promovem ao homem
as condições de a si próprio
exercer a consciência
de saber quando ser livre
e de quando se controlar
25 setembro 2018
Os 14 Pontos do Fascismo
Afinal, o que é FASCISMO? Umberto Eco, romancista e filósofo italiano, falecido em 2016, é um dos mais importantes e respeitados escritores contemporâneos. É o autor do célebre romance "O Nome da Rosa", que trata da proibição de livros pela Igreja Católica durante a Idade Média. Em 1995, Eco escreveu um texto para uma conferência onde ele trata exclusivamente sobre o assunto "Fascismo". Ele intitulou o texto de "Ur-Fascismo" ou "Fascismo Eterno". No longo texto, ele identifica e aborda 14 características do Ur-Fascismo. Abaixo, estão apenas trechos do texto. Mas já poderemos comparar o que é o Fascismo com o que ocorre hoje no Brasil.
Escreveu Umberto Eco:
"A despeito dessa confusão, considero possível indicar uma lista de características típicas daquilo que eu gostaria de chamar de “Ur-Fascismo”, ou “fascismo eterno”. Tais características não podem ser reunidas em um sistema; muitas se contradizem entre si e são típicas de outras formas de despotismo ou fanatismo. Mas é suficiente que uma delas se apresente para fazer com que se forme uma nebulosa fascista.
1. A primeira característica de um Ur-Fascismo é o culto da tradição.
2. O iluminismo, a idade da Razão eram vistos como o início da depravação moderna. Nesse sentido, o Ur-Fascismo pode ser definido como “irracionalismo”.
3. O irracionalismo depende também do culto da ação pela ação. A ação é bela em si, portanto, deve ser realizada antes de e sem nenhuma reflexão. Pensar é uma forma de castração.
4. Nenhuma forma de sincretismo pode aceitar críticas.
5. O desacordo é, além disso, um sinal de diversidade. O Ur-Fascismo busca o consenso desfrutando e exacerbando o natural medo da diferença. O primeiro apelo de um movimento fascista ou que está se tornando fascista é contra os intrusos. O Ur-Fascismo é, portanto, racista por definição.
6. O Ur-Fascismo provém da frustração individual ou social.
7. Para os que se vêem privados de qualquer identidade social, o Ur-Fascismo diz que seu único privilégio é o mais comum de todos: ter nascido em um mesmo país.
8. Os adeptos devem sentir-se humilhados pela riqueza ostensiva e pela força do inimigo. Os inimigos são, ao mesmo tempo, fortes demais e fracos demais. Os fascismos estão condenados a perder suas guerras, pois são incapazes de avaliar com objetividade a força do inimigo.
9. Para o Ur-Fascismo não há luta pela vida, mas antes “vida para a luta”.
10. O elitismo é um aspecto típico de qualquer ideologia reacionária, enquanto fundamentalmente aristocrática. No curso da história, todos os elitismos aristocráticos e militaristas implicaram o desprezo pelos fracos. O Ur-Fascismo não pode deixar de pregar um “elitismo popular”.
11. Nesta perspectiva, cada um é educado para tornar-se um herói.
12. Como tanto a guerra permanente como o heroísmo são jogos difíceis de jogar, o Ur-Fascista transfere sua vontade de poder para questões sexuais. Esta é a origem do machismo (que implica desdém pelas mulheres e uma condenação intolerante de hábitos sexuais não-conformistas, da castidade à homossexualidade). Como o sexo também é um jogo difícil de jogar, o herói Ur-Fascista joga com as armas, que são seu Ersatz fálico: seus jogos de guerra são devidos a uma inveja do pênis permanente.
13. O Ur-Fascismo baseia-se em um “populismo qualitativo”. Em uma democracia, os cidadãos gozam de direitos individuais, mas o conjunto de cidadãos só é dotado de impacto político do ponto de vista quantitativo (as decisões da maioria são acatadas). Para o Ur-Fascismo, os indivíduos enquanto indivíduos não têm direitos e “o povo” é concebido como uma qualidade, uma entidade monolítica que exprime “a vontade comum”. Como nenhuma quantidade de seres humanos pode ter uma vontade comum, o líder apresenta-se como seu intérprete.
14. O Ur-Fascismo fala a “novilíngua”. Todos os textos escolares nazistas ou fascistas baseavam-se em um léxico pobre e em uma sintaxe elementar, com o fim de limitar os instrumentos para um raciocínio complexo e crítico."
O texto de Eco pode ser lido por completo NESTE link.
23 setembro 2018
Aquelas Asas
aquelas asas batiam
como se ninguém acreditasse nelas.
em cada batida de asa pesava
uma condenação
em cada olhar do urubu uma sentença
e eu estava bêbado e por isso eu vi
dois sóis queimavam no horizonte:
um sol era sol outro sol era o mal
e aquelas asas em câmera lenta
como se debochassem do que temi
como se distanciassem do que não fui
e não era só eu que morria
aquelas asas como furacões na Flórida
um dragão de Tolkien nos meus olhos em crise
jamais esquecerei que haviam duas asas
pelo caminho do alto
toda uma humanidade a ser destruída
os dois sóis me olhando
desde antes que eu amasse
cada batida de asa era uma vitória
sobre o que não sou
nenhum som se ouvia daquelas asas
a não ser a surdez de Beethoven
que era como um grito que se elevava aos poucos
"e um clamor de vingança retumba"...
e a Morte que tinha o fedor da esperança
faltou eu falar em sangue
daquele de gota em gota
a cada batida de asa
e um sol se punha e outro não
como incêndios nos meus erros
que formam tempestades
e melodias de flautas ecoaram
naqueles horizontes de Fim
e eu olhei para aquelas asas que me batiam
como se dissessem que eu estava morto
mas as asas viam mais que meus olhos
e algo se erguia além do que vejo
além do que vês
um sopro de asas sobre as nações
e aquele sol que não era um sol
avermelhou-se como se vencesse
abaixo daquelas asas
de mensageiros
como se ninguém acreditasse nelas.
em cada batida de asa pesava
uma condenação
em cada olhar do urubu uma sentença
e eu estava bêbado e por isso eu vi
dois sóis queimavam no horizonte:
um sol era sol outro sol era o mal
e aquelas asas em câmera lenta
como se debochassem do que temi
como se distanciassem do que não fui
e não era só eu que morria
aquelas asas como furacões na Flórida
um dragão de Tolkien nos meus olhos em crise
jamais esquecerei que haviam duas asas
pelo caminho do alto
toda uma humanidade a ser destruída
os dois sóis me olhando
desde antes que eu amasse
cada batida de asa era uma vitória
sobre o que não sou
nenhum som se ouvia daquelas asas
a não ser a surdez de Beethoven
que era como um grito que se elevava aos poucos
"e um clamor de vingança retumba"...
e a Morte que tinha o fedor da esperança
faltou eu falar em sangue
daquele de gota em gota
a cada batida de asa
e um sol se punha e outro não
como incêndios nos meus erros
que formam tempestades
e melodias de flautas ecoaram
naqueles horizontes de Fim
e eu olhei para aquelas asas que me batiam
como se dissessem que eu estava morto
mas as asas viam mais que meus olhos
e algo se erguia além do que vejo
além do que vês
um sopro de asas sobre as nações
e aquele sol que não era um sol
avermelhou-se como se vencesse
abaixo daquelas asas
de mensageiros
21 setembro 2018
Quatro Metáforas sobre a Decadência
1 - em geral os homens caem
porque não olham pra baixo
2 - em geral os homens morrem
porque caíram por dentro
3 - a decadência do homem começa
no ponto em que termina
a sua consciência de que é decadente
4 - nem o sol (que é sol)
permanece sempre no alto
porque não olham pra baixo
2 - em geral os homens morrem
porque caíram por dentro
3 - a decadência do homem começa
no ponto em que termina
a sua consciência de que é decadente
4 - nem o sol (que é sol)
permanece sempre no alto
18 setembro 2018
Bandido bom é Bandido Morto
Bandido bom é bandido morto. OK. Mas quem é bandido?
Bandido também é o BANQUEIRO que, na exploração impiedosa do sistema financeiro, suga o máximo que pode do pouco, exíguo, dinheiro do trabalhador, do pobre sem assistência, que precisa se sacrificar, às vezes, até entregando aos bancos seu reles pedaço de terra, para não ser preso pela "lei" que protege os ricos.
Bandido também é o EMPRESÁRIO SONEGADOR, que rouba os impostos que você paga quando compra um produto e serviço. E depois esse dinheiro vai faltar para o seu filho estudar, para ter saúde e para se sentir seguro, porque é o dinheiro desses impostos roubados, o maior roubo em números do Brasil, que possibilita o avanço e bem-estar social.
Bandido também é o MÉDICO que cobra 500 reais por uma consulta particular e se recusa a marcar consultas ou atender pelo SUS, porque o SUS SÓ paga 10 mil reais por mês, e assim não dá pra enriquecer rapidamente. E aí deixam que morram nas filas dos hospitais velhos e crianças pobres que pagam seus impostos em dia.
Bandido também é o LATIFUNDIÁRIO DO AGRONEGÓCIO e o INDUSTRIAL que empregam mão de obra escrava ou semi-escrava, que exploram até a medula o pobre e ignorante trabalhador rural e urbano, que envenenam nossa comida com agrotóxicos proibidos e aditivos nefastos causando inúmeros tipos de câncer na população e poluindo águas e terras, destruindo o que ainda resta do nosso ambiente.
Bandido também é o CAÇADOR que mata sem dó nem piedade animais belíssimos e raros da nossa imensa e massacrada fauna, que não respeita a vida dos seres que possibilitam a nossa existência e deixa um rastro de morte e horror por onde passa.
Bandido também é o JUIZ e o POLÍTICO que recebem uma soma astronômica e absurda de privilégios, que não têm a honra e a dignidade e a vergonha de achar que isso está errado. E ainda debocham da cara do povo pobre, miserável, que tenta sobreviver, ou morre mesmo, muitas vezes, com menos de um salário mínimo. E ainda são obrigados a ver seus filhos agonizando de fome e sem oportunidade de nada.
Esses BANDIDOS você quer ver morto? Ou é só o bandido pobre?
Bandido também é o BANQUEIRO que, na exploração impiedosa do sistema financeiro, suga o máximo que pode do pouco, exíguo, dinheiro do trabalhador, do pobre sem assistência, que precisa se sacrificar, às vezes, até entregando aos bancos seu reles pedaço de terra, para não ser preso pela "lei" que protege os ricos.
Bandido também é o EMPRESÁRIO SONEGADOR, que rouba os impostos que você paga quando compra um produto e serviço. E depois esse dinheiro vai faltar para o seu filho estudar, para ter saúde e para se sentir seguro, porque é o dinheiro desses impostos roubados, o maior roubo em números do Brasil, que possibilita o avanço e bem-estar social.
Bandido também é o MÉDICO que cobra 500 reais por uma consulta particular e se recusa a marcar consultas ou atender pelo SUS, porque o SUS SÓ paga 10 mil reais por mês, e assim não dá pra enriquecer rapidamente. E aí deixam que morram nas filas dos hospitais velhos e crianças pobres que pagam seus impostos em dia.
Bandido também é o LATIFUNDIÁRIO DO AGRONEGÓCIO e o INDUSTRIAL que empregam mão de obra escrava ou semi-escrava, que exploram até a medula o pobre e ignorante trabalhador rural e urbano, que envenenam nossa comida com agrotóxicos proibidos e aditivos nefastos causando inúmeros tipos de câncer na população e poluindo águas e terras, destruindo o que ainda resta do nosso ambiente.
Bandido também é o CAÇADOR que mata sem dó nem piedade animais belíssimos e raros da nossa imensa e massacrada fauna, que não respeita a vida dos seres que possibilitam a nossa existência e deixa um rastro de morte e horror por onde passa.
Bandido também é o JUIZ e o POLÍTICO que recebem uma soma astronômica e absurda de privilégios, que não têm a honra e a dignidade e a vergonha de achar que isso está errado. E ainda debocham da cara do povo pobre, miserável, que tenta sobreviver, ou morre mesmo, muitas vezes, com menos de um salário mínimo. E ainda são obrigados a ver seus filhos agonizando de fome e sem oportunidade de nada.
Esses BANDIDOS você quer ver morto? Ou é só o bandido pobre?
16 setembro 2018
Viver é não estar nos planos
o que se planeja
não é o que vida:
viver é não estar nos planos
não esperar
é evitar que o vindo
não seja o esperado
só espero pelo que não se espera
que é o que não depende
do inútil do meu esforço
mas de um indefinido não pensado
paisagem em súbito na estrada
susto de inspiração surgida do nada
como pode valer a pena
ser alcançado o que sempre esteve
ao alcance da mão?
a canção que mais nos comove
é aquela que canta
(em nosso íntimo)
o imenso de um não
o que é então
que deve ser como deveria?
melhor é o que não se espera
o que não se vê e nem seria
as mais longínquas estrelas
são vistas apenas
durante noites sombrias
não é o que vida:
viver é não estar nos planos
não esperar
é evitar que o vindo
não seja o esperado
só espero pelo que não se espera
que é o que não depende
do inútil do meu esforço
mas de um indefinido não pensado
paisagem em súbito na estrada
susto de inspiração surgida do nada
como pode valer a pena
ser alcançado o que sempre esteve
ao alcance da mão?
a canção que mais nos comove
é aquela que canta
(em nosso íntimo)
o imenso de um não
o que é então
que deve ser como deveria?
melhor é o que não se espera
o que não se vê e nem seria
as mais longínquas estrelas
são vistas apenas
durante noites sombrias
14 setembro 2018
Variações sobre um Tema de Fernando Pessoa: "Viver é não conseguir."
I – é inútil dizer à frente:
de nada adianta
qualquer coisa que se adiante:
o mundo nunca vai avante
II – qualquer verso que eu faça
não vale mais
que um gole de vinho
whisky
cachaça
III – o mundo é mesmo só isto:
para que se consiga
uns secam os mares com redes
outros pescam lambaris de caniço
IV – quem acha que conseguiu
não percebe que a vida é vento:
ou é porque não sabe
que tem o que não quis
ou é porque não vê
que o que quer é só momento
V – o mundo é lodo ou é ouro?
é todo lodo ouro de tolos
dos tolos todo
de nada adianta
qualquer coisa que se adiante:
o mundo nunca vai avante
II – qualquer verso que eu faça
não vale mais
que um gole de vinho
whisky
cachaça
III – o mundo é mesmo só isto:
para que se consiga
uns secam os mares com redes
outros pescam lambaris de caniço
IV – quem acha que conseguiu
não percebe que a vida é vento:
ou é porque não sabe
que tem o que não quis
ou é porque não vê
que o que quer é só momento
V – o mundo é lodo ou é ouro?
é todo lodo ouro de tolos
dos tolos todo
12 setembro 2018
Poema Negro
Nós somos os homens mortos.
e caminhamos passo a passo ao abismo
como fariam os cegos de Bruegel.
nossas esperanças amanheceram boiando podres
sobre um lago de esgoto
e nós nos agarramos a elas
como um cachorro pesteado
se agarra a seu osso seco.
nossos sonhos se enegreceram
e subiram aos céus como nuvens
de queima de carvão e petróleo
e formaram tempestades que desabam
sobre nossas cabeças tortas.
vimos nossa fé desmoronar
como desmoronam catedrais nas guerras
e nossos amores se suicidaram
como cavalos que se jogam em poços.
as oportunidades que nos foram dadas
transformamo-as nos chiqueiros dos porcos
entremeadas de restos lamas e fezes.
não só não aprendemos com nossos erros
como os tornamos um sol falso
a brilhar doente por um céu enfermo.
falhamos ao tentar ser grandes.
desabamos ao tentar ser fortes.
fracassamos ao tentar vencer.
quando olhamos para trás
vislumbramos desertos de horror e caos
e horizontes rubros de tormentas sussurravam
que era tarde demais.
trabalhamos pelo que não valia nada
nos preocupamos com o que não valia a pena
e trocamos direitos divinos por um prato de feijão.
caímos de joelhos ante nosso destino
e reconhecemos em lágrimas
que a noite e a morte
são sempre mais vastas.
são sempre mais fundas.
são sempre mais fortes.
Nós somos os homens mortos.
e caminhamos passo a passo ao abismo
como fariam os cegos de Bruegel.
nossas esperanças amanheceram boiando podres
sobre um lago de esgoto
e nós nos agarramos a elas
como um cachorro pesteado
se agarra a seu osso seco.
nossos sonhos se enegreceram
e subiram aos céus como nuvens
de queima de carvão e petróleo
e formaram tempestades que desabam
sobre nossas cabeças tortas.
vimos nossa fé desmoronar
como desmoronam catedrais nas guerras
e nossos amores se suicidaram
como cavalos que se jogam em poços.
as oportunidades que nos foram dadas
transformamo-as nos chiqueiros dos porcos
entremeadas de restos lamas e fezes.
não só não aprendemos com nossos erros
como os tornamos um sol falso
a brilhar doente por um céu enfermo.
falhamos ao tentar ser grandes.
desabamos ao tentar ser fortes.
fracassamos ao tentar vencer.
quando olhamos para trás
vislumbramos desertos de horror e caos
e horizontes rubros de tormentas sussurravam
que era tarde demais.
trabalhamos pelo que não valia nada
nos preocupamos com o que não valia a pena
e trocamos direitos divinos por um prato de feijão.
caímos de joelhos ante nosso destino
e reconhecemos em lágrimas
que a noite e a morte
são sempre mais vastas.
são sempre mais fundas.
são sempre mais fortes.
Nós somos os homens mortos.
09 setembro 2018
Sobre o Vinho
I - bebê-lo é olhar
meu ser do que não sou
pelo lado oposto
daquele outro gosto
do teu olhar no espelho
II - no vinho o que é que se afoga?
não se afoga
o fogo é que se inunda
afogueado de outro sangue
de essência mais quente e mais funda
III - há o branco e há o rosa
o ácido o doce o quase absinto
mas o melhor do beijo
é quando ele fica tinto
meu ser do que não sou
pelo lado oposto
daquele outro gosto
do teu olhar no espelho
II - no vinho o que é que se afoga?
não se afoga
o fogo é que se inunda
afogueado de outro sangue
de essência mais quente e mais funda
III - há o branco e há o rosa
o ácido o doce o quase absinto
mas o melhor do beijo
é quando ele fica tinto
06 setembro 2018
Fracassei
falta-nos humanidade
ou humanidade é o que é:
o isso que nos falta?
o ser humano é isto
ou ser humano é o que não se foi?
ou o que já se foi?
o ser humano é a árvore que não cresceu
ou é a semente apodrecida?
e eu? que parte faço eu
nisso em que não me sinto mas me estou?
sou um exemplo do fracasso da humanidade?
ou fracassei
pra nos mostrar o que restou?
ou humanidade é o que é:
o isso que nos falta?
o ser humano é isto
ou ser humano é o que não se foi?
ou o que já se foi?
o ser humano é a árvore que não cresceu
ou é a semente apodrecida?
e eu? que parte faço eu
nisso em que não me sinto mas me estou?
sou um exemplo do fracasso da humanidade?
ou fracassei
pra nos mostrar o que restou?
03 setembro 2018
(Só) Trabalhe
quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer: "SÓ trabalhe!"
é a melhor forma de dominação:
quem só trabalha
não tem tempo para ler
nem para ouvir
nem para ver
nem pra pensar
nem pra sentir
ou se inquietar
ou questionar
ou contemplar
enfim... não tem tempo para a vida
quem não vive
não se importa com o que vive
nem com o que sofre
nem com o que morre
a era pós-humana
a era pós-tudo
quer só máquinas e robôs
porque eles SÓ trabalham
quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer "SÓ trabalhe!"
eles só não dizem só
porque não é só
eles querem dizer: "SÓ trabalhe!"
é a melhor forma de dominação:
quem só trabalha
não tem tempo para ler
nem para ouvir
nem para ver
nem pra pensar
nem pra sentir
ou se inquietar
ou questionar
ou contemplar
enfim... não tem tempo para a vida
quem não vive
não se importa com o que vive
nem com o que sofre
nem com o que morre
a era pós-humana
a era pós-tudo
quer só máquinas e robôs
porque eles SÓ trabalham
quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer "SÓ trabalhe!"
eles só não dizem só
porque não é só
01 setembro 2018
Marcha Fúnebre
tempos de marchas
por tudo e pra nada
para o nada
nulas caminhadas de mulas
marchas com as marcas
de todos os ismos
marchas a um passo de abismos
marcha das máquinas
das pisadas sobre as árvores
dos saltos sobre o peito dos pobres
das botas sobre o crânio dos bichos
das moedas sobre o sangue dos vivos
pés atolados em petróleo
almas atadas com correntes
até o fundo sem fundo dos bancos
marchas de palhaços e saltimbancos
marcha dos fanáticos hipócritas
que trazem Deus entre os dentes
e o Diabo entre as mentes
marcha dos fardados de fralda
marcha dos estúpidos
sob a vigia dos abutres...
marcha dos mortos
dos zumbis que dominaram o planeta
marcha murcha sem esperanças
a marcha do sol se pondo
ante o nosso féretro:
Marcha Fúnebre
por tudo e pra nada
para o nada
nulas caminhadas de mulas
marchas com as marcas
de todos os ismos
marchas a um passo de abismos
marcha das máquinas
das pisadas sobre as árvores
dos saltos sobre o peito dos pobres
das botas sobre o crânio dos bichos
das moedas sobre o sangue dos vivos
pés atolados em petróleo
almas atadas com correntes
até o fundo sem fundo dos bancos
marchas de palhaços e saltimbancos
marcha dos fanáticos hipócritas
que trazem Deus entre os dentes
e o Diabo entre as mentes
marcha dos fardados de fralda
marcha dos estúpidos
sob a vigia dos abutres...
marcha dos mortos
dos zumbis que dominaram o planeta
marcha murcha sem esperanças
a marcha do sol se pondo
ante o nosso féretro:
Marcha Fúnebre
Assinar:
Postagens (Atom)