O leitor deve estar se perguntando o que uma coisa tem a ver com a outra. E eu respondo: muito. Há cerca de 70 anos, o escritor de uma das maiores criações da imaginação de todos os tempos, J.R.R. Tolkien, deixou-nos, no segundo volume de “O Senhor dos Anéis” – “As Duas Torres”-, o seguinte: “As florestas do mundo irão sucumbir diante do poder da indústria”. Claro que o “mundo” a que Tolkien se referia era a “Terra-Média”, o mundo de sua imaginação. Mas torna-se mais claro ainda que a sentença do escritor é perfeitamente aplicável ao nosso planeta. Soa como uma profecia, um aviso, uma previsão. Na época da elaboração de “O Senhor dos Anéis”, ainda havia muita floresta ao redor do planeta. A Amazônia, por exemplo, estava praticamente intacta, assim como as florestas do Canadá e da Rússia asiática. Já hoje... Convido-os a acompanhar os índices abaixo:
Índices de destruição florestal ao redor do mundo:
Europa: 99,7%
Ásia: 94%
África: 92%
Oceania: 78%
Rússia: 71%
América do Norte: 66%
América do Sul: 54%
Fonte: World Resource Institute, EUA.
Realizando-se o cômputo geral, 78% das florestas do planeta já não existem mais. Para os otimistas, os crentes nesta humanidade, aqueles que acreditam na evolução eterna, que a humanidade está sempre melhorando, esse catastrófico fato não deve passar de um acidente de percurso, que a humanidade irá tirar de letra. Evolução... Como se assim fosse com todas as coisas... Por acaso não nascemos, crescemos, tornamo-nos adultos e depois envelhecemos e morremos? Isso é evolução e involução. O dia evolui e involui para que venha a noite. E depois é a vez da noite involuir para que venha o dia. Assim é com tudo no universo. Por que seria diferente com a nossa humanidade?
Eu não temo afirmar que esta atual civilização humana já principiou seu processo de involução. Não digo que a humanidade vai acabar total e simplesmente. Digo que esta civilização está a caminho de seu fim. Não quer dizer que não possa surgir outra depois. Os sinais tornam-se lentamente evidentes com o passar dos dias. Qual o primeiro sinal da aproximação da morte? Uma doença no organismo, que pode ser curável ou não. Qual o organismo da humanidade, o seu corpo? É o planeta, obviamente, que se encontra gravemente doente. É um fato inquestionável. Em sua arrogância e pretensa autossuficiência, os homens creem que a ciência ou que um ajuste utópico e absurdo das coisas por si só irão resolver os problemas que nos ameaçam. É belo ser otimista. Até parece sábio. Para as coisas se resolverem, o homem teria que mudar essencialmente. Agora. E olhe lá. Mas quem conhece o ser humano sabe que ele não muda.
O ser humano pensa que ele é o único ser que sabe das coisas e se vangloria de seu inútil intelectualismo. Sabedoria transformou-se em sinônimo de vã intelectualidade e de complexas teorizações, suntuosos castelos belíssimos na aparência, mas que não guardam essência alguma. O saber advindo da intuição, do coração, da espiritualidade é hoje ridicularizado. Mas é assim que os poetas, os artistas sabem. Foi assim que Tolkien previu o desastre de nossas florestas. Fico com Goethe: “Toda teoria é cinza, e só é verde a árvore de dourados frutos que é a vida”.
Há sabedoria no planeta. E nas suas conexões universais. Bem mais do que no homem. A Terra, nossa mãe e organismo da humanidade, saberá varrer aqueles que estão a parasitando. O novo só surge quando o velho morre. Essa é minha única esperança.