Às vezes, é melhor deixar que outros poetas falem por nós. De preferência, um poeta de mais alto nível, como é o caso de Augusto dos Anjos. Que ele fale, enquanto eu silencio.
O Fim das Coisas
Pode o homem bruto, adstrito à ciência grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!
Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
Sôfrego, o solo sáxeo: e, na ânsia ardente
De perscrutar o íntimo da orbe, invente
A lâmpada aflogística de Davy!
Em vão! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio...
E quando, ao cabo do último milênio,
A humanidade vai pesar seu gênio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!
Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
Sôfrego, o solo sáxeo: e, na ânsia ardente
De perscrutar o íntimo da orbe, invente
A lâmpada aflogística de Davy!
Em vão! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio...
E quando, ao cabo do último milênio,
A humanidade vai pesar seu gênio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!
Augusto dos Anjos
(Na imagem, detalhe do quadro "O Julgamento Final", de Hieronymus Bosch.)
3 comentários:
Poetíssimo Augusto dos Anjos! Meu poeta preferido. Ele diz tudo, para que possamos calar.
Gostei demais, Reiffer.
Um abraço.
Ah, cara, adoro esse soneto e casou bem com o quadro.
Tem um soneto do Camilo Pessanha que o final é parecidíssimo com esse, não lembro o nome, enfim, ótima escolha!
Poema e imagem afinadíssimos!!! Abraços alados e leves.
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