12 janeiro 2010
Eu Não Sirvo a Ninguém
não me siga
que eu a ninguém sou exemplo:
irias arrancar os cabelos
se visses o que trago por dentro
quanto mais belo é o que escrevo
mais de horrores me inundo...
eu não passo
de um vagabundo
e em todos meus passos
nos mais altos
abismos me afundo
o que eu faço da vida
não sei
sei
que meu peito estraçalhei
que quanto melhor é a Arte
mais grave é o enfarte
sou tão nada
que escrevo como escreveram
todos os poetas:
não passo de um triste
a minha própria alma
de tão funda
nem existe
construí catedrais inúteis
do que sinto
ergui minha alma
nos alicerces do que nunca vem
e tudo que digo
minto
do meu trono de miséria
olho-te cheio de orgulho e desdém
por isso não me siga
não me admire
que eu não sirvo pra nada
e não sirvo a ninguém.
10 janeiro 2010
Fatal
sangue de estrelas
sobre meus ombros
todo sol cai
tudo se esvai
lutando à luz do ocaso
trompas de arcanjos
cortam-me a testa
sobre meus olhos
vem todo céu
rasga-se o véu
olhando o fim pra sempre
rabos de raios
dando-me coices
na minha voz
pesa-me a lua
e a noite nua
amando a marcha e a morte
mundos não-críveis
trevas de luzes
cósmicos trezes
na minha alma
voou toda calma
se indo pelo Mistério
08 janeiro 2010
Não Melodio por Mim...
é mais triste que tudo que crio
que é a melodia que não criei
que melodias não rio
mas melodias finais
é tudo que faço
e traço
fracasso
que não crio tudo que faço
só o que é cada vez mais trágico
e escuro
só traço o final mais puro
o estrago
a melodia que for mais triste
que é claro
não existe
e o final que for mais duro
e trago
o vinho que for mais largo
de cansaço
amarguro
e de sangue
na desgraça do braço
em pulso
foi com ele que (al)cansei o laço
errado
onde ando arrastando
o rastro
ondeando em vão
para lassar teu astro
na minha passada de vasto
em passados abraços
de finais e últimos
(com)passos...
07 janeiro 2010
"Eis o mal dos senhores, os políticos. Nem mesmo chegam a pensar em coisas importantes."
olho para a humanidade
e rio
rio que me leva
leve
em suas correntezas
sem correntes
por que devo combater
o que não deve ser combatido?
o que não deve ser combatido
não deve ser combatido
por que já está vencido
o simplesmente é deixar assim
que tudo nasce
e corre ao Fim
não digo
que não irei com a enxurrada
digo que choveu forte vasto e além
e que a enxurrada vem...
06 janeiro 2010
da Sabedoria
sabe
por toda altura
acima
de cada letra filosófica
uma pintura mágica
filtra
sol e lua
avante
de quaisquer gases científicos
uma poesia trágica
rufla
suas negras asas
além
de toda poeira teórica
05 janeiro 2010
Fernando Pessoa e seus Passos da Cruz (II)
A Primavera esquece nos barrancos
As grinaldas que trouxe dos arrancos
Da sua efémera e espectral ledice...
Pelo prado orvalhado a meninice
Faz soar a alegria os seus tamancos...
Pobre de anseios teu ficar nos bancos
Olhando a hora como quem sorrisse...
Florir do dia a capitéis de Luz...
Violinos do silêncio enternecidos...
Tédio onde o só ter tédio nos seduz...
Minha alma beija o quadro que pintou...
Sento-me ao pé dos séculos perdidos
E cismo o seu perfil de inércia e voo...
03 janeiro 2010
Frases para 2010
1)“Não é ilógico supor que, numa existência futura, possamos considerar esta vida terrestre como um sonho.”
Edgar Allan Poe
2)“A lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, as amarguras que existem agora têm sua origem nas alegrias que podiam ter existido.”
Edgar Allan Poe
3)“O corpo é a sombra das vestes
que encobrem teu ser profundo.”
Fernando Pessoa
4)“A morte é a curva da estrada,
morrer é só não ser visto.”
Fernando Pessoa
5)“Deus costuma usar o fogo, para nos ensinar sobre água.”
Fernando Pessoa
6)“Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer.”
Fernando Pessoa
7)“Como a arte é longa, e como a vida é breve!”
Johann Wolfgang Von Goethe
8)“Um prazer demasiadamente repetido produz a insensibilidade; não o sentimos mais como prazer.”
Aldous Huxley
9)“Por trás de toda grande fortuna há um crime.”
Honoré de Balzac
10)“Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos;embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.”
Charles Baudelaire
11)“Que minha guerra contra o homem se eternize, já que cada um de nós reconhece no outro sua própria degradação.”
Conde de Lautréamont
12)"O homem não é o único a falar, o universo fala, tudo fala, linguagens infinitas.”
Novalis
13)“Tu és O Poeta, o grande assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco.”
Cruz e Sousa
02 janeiro 2010
Soneto Ainda Mais ao Fim
se mais e mais sou um louco isolado,
se toda esperança é sonho acabado,
se nenhum olho pelo Cosmos chora?
Pois de ocultar-me vejo chegar a hora:
tão somente um coração massacrado
é o que trago caminhando ao meu lado,
é o que te deixo... Sim, devo ir embora.
Exauri as cordas do meu violino
na tentativa de elevar-te além,
na luta insana contra o Gran Destino.
Voto agora ao homem total desdém
e uma carta a um corvo em febre eu assino
na Noite quieta que matar-nos vem...
31 dezembro 2009
Ou Para Apagá-la...
dar concessões:
há que se voar ao extremo
e se descer ao abismo
se tens medo
de que o fogo do sol
ou do inferno
incendeie teus olhos
ou que morra na queda
quando a tua asa cansar...
é melhor sentar
deitar
repousar...
na Arte não há meio-termos
não se pode equilibrá-la:
a Arte é para incendiar a chama do peito
ou para apagá-la...
30 dezembro 2009
Soneto ao Não
veem como se eu não estivesse cá
todas esperanças que não me deram
é aquela estrela que não está lá
a estrela olho com olho que não é
no alto em promessa como um não perdida
e o seu não fitei com imensa fé
na janela que não foi construída
e a luz que desce ao não ser da janela
vem não a mim em sim de solidão
à chama em não ter aceso uma vela
em paz não beija a minha alma emoção
e me vou sonhar-te em não voo com ela
até os céus de um catastrófico Não
28 dezembro 2009
Fernando Pessoa - O Predestinado - Passos da Cruz I
lá para o fim do futuro,
alguém escreverá sobre mim um poema,
e talvez só então eu comece
a reinar no meu Reino."
Fernando Pessoa
27 dezembro 2009
Poema Fúnebre
que de nota em nota
a Marcha Fúnebre
chegará ao fim
enquanto eles falam
e gritam e riem e gestam
e sobem e descem e sabem
e vencem e caem e cegam
transpiram publicam rastejam
eu calo-me
num canto
canto sombrio e só
não-visto por todos
ouvido por nada
e só recebi um não
por ter a razão
o Fim
é uma marcha fúnebre
e fúnebre sendo
seu lento andamento
é lento...
lento...
bem lento...
então deixa assim
que eu não falo por mim:
quem fala é o Tempo...
26 dezembro 2009
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
Irei direto ao ponto, não há muito que ser dito sobre este assunto. As pessoas falam em preservar o planeta com redução da poluição, com preservação da vegetação natural, com conscientização da população, com desenvolvimento sustentável, enfim, todas essas utopias que qualquer ser humano com o mínimo de inteligência sabe que são irrealizáveis. O fracasso de todas as conferências sobre clima e preservação ambiental está aí para provar o que digo. Ter esperanças de que o ser humano vai conseguir reverter a situação com tais atitudes é uma ingenuidade, ou imbecilidade mesmo.
Então, nossa civilização não tem saída? Tem. É só ninguém mais ter filhos. Pronto. Isso é um absurdo? Claro que é. E só esse absurdo pode salvar nossa atual civilização. É tão absurdo que ninguém toca nesse assunto. Já viram alguém falar que essa é nossa única solução? Não, ninguém tem coragem de afirmar tal inaceitabilidade. Eu tenho. E meu raciocínio é de uma impiedosa simplicidade.
Segundo os cálculos científicos, dentro de 40 anos, o mundo, mantendo o atual índice de crescimento populacional, com o aumento da expectativa de vida, terá cerca de 10 bilhões de habitantes. Nosso planeta não está suportando 6, vai suportar 10 bilhões de pessoas? Calcula-se que para sustentar tal população sem que ninguém passe fome, tenha-se que quase triplicar a produção de alimentos. E tirar de onde tantos alimentos, se a atual produção já é insustentável para o planeta? E de onde tirar mais água, se ela já está escasseando? E mais energia? Ou quem sabe as pessoas que nascerem não deverão se alimentar, nem tomar água, nem se vestir, nem acender uma lâmpada? Talvez nem devam respirar...
A verdade simples, lógica, matemática - e cruel - é esta: a humanidade não pode aumentar, se aumentar, o planeta morre, porque ele já nem com o que tem está aguentando. É o mesmo que dar mais sal para um hipertenso que está tendo um infarto. Qual será o resultado? Então, ninguém mais pode ter filhos. Ou, para cada criança que nascer, alguém deverá morrer. E como eu sei que isso não vai acontecer, explica-se todo o meu pessimismo... Esta civilização não tem futuro. Terá que acabar para recomeçar. Ponto final.
25 dezembro 2009
Poemas do Término e Contos do Fim 37
Em Santiago, os pontos de distribuição são os seguintes: locadoras Fox, Classic e Stop, biblioteca pública, biblioteca da Uri, Ponto Cópias e Livraria Santiago. Pode ser enviado para qualquer cidade do Brasil ou exterior, mediante o pagamento das despesas de correio.
Agradeço à colaboração dos seguintes amigos na distribuição do zine em outras cidades: Liziane Serafini (Santa Cruz do Sul/RS), Luana Serafini (Santa Maria/RS), Alberto Ritter (Porto Alegre/RS), Gracieli Persich (Santo Ângelo/RS), Louise Wagner (São Leopoldo/RS), Lilene Leverdi (São Gonçalo/RJ), Héder Duarte (São Gonçalo/RJ), Agnes Mirra (Goiana/PE) e Paulo Soriano (Salvador/BA). Agradeço também ao amigo Guilhermes Damian pelo excelente trabalho de design do zine.
24 dezembro 2009
Poema de Natal II
a felicidade que ânsia pelos dramáticos angelicais
anos-luz de desejos que se afogam
nos impossíveis das idades...
mas não vou te desejar felicidades.
talvez te desejasse saúde
a saúde que sol pelos campos em tons azuis
verdes-luz de paisagens que se somem
nas contradanças do alaúde...
mas não vou te desejar saúde.
talvez te desejasse amor
o amor que céus pelas lunáticas infinitais
beijos-luz de sonhar-te que se vagam
ao som da mais clara cor...
mas não vou te desejar amor.
não, não vou desejar...
nem felicidades
nem saúde
nem amor
nem paz
nem calma
eu só te desejo Alma.
22 dezembro 2009
Poema de Natal
nem espalharei pelo universo
a mínima desgraça andante
golfejarei meu próprio sangue
que tudo é vão e decadente
que tudo é falsa e vã semente
cala-te ânsia pelo meu pranto
suma comigo em teu espanto
nada fique da minha história
que é vão o amor o sonho a glória
que abisme o desejo em meu peito
morra o horror em mim desfeito
mergulhem-me no que é fatal...
brilha puro o astro de Natal.
21 dezembro 2009
Aspire Fundo... e Solte...
um pouco mais de inspiração
talvez transformasse em sonho
o ar medonho
que respiro
se eu tivesse um pouco mais
de respiração...
se eu chegasse
a um alto mais de aspiração
talvez transmutasse em dança
o chumbo da esperança
que suspiro
se eu tivesse um alto mais
de inspiração...
se a tua respiração eu inspirasse
talvez aspirasse o ar que me inspira
talvez ventasse a luz que suspira
em tua boca soprada
mas aspirei a tudo
e aspirei o nada
19 dezembro 2009
Visão Final
trago o peito (de) amor... tecido
e sempre irei afoguear-me
no mar de fogo da arte
na cura de chamas românticas
das quais sempre morti... fiquei-me
morri-me vezes várias
e consegui-me curar-me jamais
contigo e tuas pupilas
de íris ocultas de sonhos
a cristais de horizontes
carregados rubros de Fim
meu espírito
que nunca será (demo)lido
verá o Final pelo Início
sublimado
em vapores de lágrima
de teu olho emocio...
nado
no teu choro ao infinito
que é onde vou-me ao jamais...
sonhado
17 dezembro 2009
Versos Erguidos
sentenciei-me acabando por entre meus sonhos
e quanto mais fundo me acabo
ergo-me cada vez melhor acabado
sempre longínquo de teu marasmo sensato
acabei-me flechado por trágico orgulho
e quanto mais me dispo de orgulho
ergo-me cada vez mais exaltado
sempre em desprezo de teu saudável sorriso
orgulhei-me de insano em dramática doença
e quanto mais em violência adoeço
ergo-me cada vez mais inflamado
sempre em desgraça de teu vazio perfeito
adoeci-me em tormentas de arcanjos rebeldes
e quanto mais sem consolo rebelo-me
ergo-me cada vez mais rebelado
sempre em fracasso de teu destino traçado
rebelei-me sendo Rei sempre ao descer
e quanto mais aos abismos me desço
ergo-me cada vez mais elevado
Agradecimento Geral
16 dezembro 2009
Eu Acredito em Papai Noel, Yeda Crusius, Marco Peixoto e Expresso Ilustrado
15 dezembro 2009
Cruz e Sousa: o Maior Poeta Brasileiro
Tudo desfeito e tudo consumido?!
No Ergástulo d'ergástulos perdido
Tanto desejo e sonho soluçado?!
Tudo se abismará desesperado,
Do desespero do Viver batido,
Na convulsão de um único Gemido
Nas entranhas da Terra concentrado?!
Nas espirais tremendas dos suspiros
A alma congelará nos grandes giros,
Rastejará e rugirá rolando?!
Ou entre estranhas sensações sombrias,
Melancolias e melancolias,
No eixo da alma de Hamlet irá girando?!
14 dezembro 2009
Decepção
a noite sem fim do Fim que me embriaga
esperanças que correm pelas luas claras
poções de sonhos das mais santas magas
olhos profundos das corujas altas
promessa em luz em catedrais mais vastas
cantos de ave em imensidões tão largas
rezas de anjo de pulsar tão gratas
amor em deuses por mais belas almas
enfim estrela alva iluminada...
é como se fosse tudo!
mas não é nada.
12 dezembro 2009
Otimismo (piada)
na humanidade...
o homem se a(pro)funda
no ato de merditar
e usa as folhas das árvores massacradas
pra bem limpar
... a consciência
a Merda
é o fruto
sublime
da humanidade:
é algo sólido
prático
concreto
palpável
bem material
é o nosso futuro
espe... rançoso
11 dezembro 2009
Projeto Pequenas Histórias
Venho então fazer a propaganda dos mesmos. Caso o leitor tenha interesse em adquirir um dos livros, ou os dois, pode fazê-lo através do seguinte link:
http://www.cidadelaeditorial.com.br/euautor.htm
Anexando ao pedido do livro o código Arte e Fim, o leitor obterá um desconto de 10%. Agradeço imensamente aos que se interessarem pelas publicações.
10 dezembro 2009
Escolha a sua Opção
é sofrer à vista:
sofre-se um pouco
e depois passa
e até se pode ganhar um desconto...
ter esperança
é sofrer a prazo:
adiar a desgraça
com um cheque
de sonhos sem fundos
com um cartão de crédito
com limite de sorte excedido
para 30 dias
30 meses
30 anos...
mas um dia tem que se pagar
com juros
e acréscimos
escolha a sua opção...
09 dezembro 2009
I Fórum Latino-Americano de Literatura Contemporânea
08 dezembro 2009
Aquecimento Global, Caos Planetário e a Cegueira Humana
07 dezembro 2009
Se a Alma Foi?
que faço-te a mim
e faço-me a Ti
de quatro porquês sem princípio nem fim
porque silenciar não posso
porque te gritar não devo
além de tudo que pergunto ao mundo
além do todo que responde e afundo
neste meu poço onde tudo posso
neste meu posso com um porquê no fundo
por que a vida se viver não há?
por que esta alma se a alma foi?
por que a arte se minha arte só?
por que meu sonho se teu beijo não?
só um olho em verbo
que nada ganha e tudo vê:
uma verdade em dúvida...
por quê?
05 dezembro 2009
Crueldade Contra Animais na UFSM - Parte II
Art. 14. São considerados métodos inaceitáveis:
I - Embolia Gasosa;
II - Traumatismo Craniano;
III - Incineração in vivo;
IV - Hidrato de Cloral (para pequenos animais);
V - Clorofórmio;
VI - Gás Cianídrico e Cianuretos;
VII - Descompressão;
VIII - Afogamento;
IX - EXSANGUINAÇÃO (SEM SEDAÇÃO PRÉVIA)
X - Imersão em Formol;
XI - Bloqueadores Neuromusculares (uso isolado de nicotina, sulfato de magnésio, cloreto de potássio e todos os curarizantes);
XII - Estricnina.
Atentem, leitores, para o inciso IX: é um método INACEITÁVEL de eutanásia a exsanguinação sem sedação prévia. O mestrando sedou o animal antes de o sangrar com uma faca? Parece claro que não. Ele não sabia que deveria sedar? O MESTRANDO não sabia? Se não sabia, como chegou ao mestrado? Ou sabia e teve preguiça? Se teve preguiça, foi vergonhosamente negligente. Que profissional teremos no futuro? Ou sabia, mas quis ser propositalmente cruel? Queria se divertir com o sofrimento do gato? São perguntas que faço.
Então, amigos leitores, mesmo sendo verdadeira a história desse estudante, ela ainda é absurda, ainda é desumana, ainda é cruel. Sangrar um gato sem sedar, vendo o sangue escorrer, esguichar, espalhando o sangue por todo o local, seja ele qual for, estando o animal CONSCIENTE de tudo, sofrendo em desespero, sem nem ao menos ter certeza do que tinha o pobre gato, sem nem levá-lo para fazer um exame, sem nem tentar tratá-lo, sem nem tentar alimentá-lo, e ainda dizer que o matou por PIEDADE!!! Francamente...
04 dezembro 2009
Ainda sobre o Equívoco no Método Científico
Outra ressalva que faço é que mesmo nos dias de hoje há vários países da África e da Ásia em que a expectativa de vida não passa dos 30 anos. Até mesmo na América.
Não nos esqueçamos do 1 bilhão de miseráveis... Será que eles vivem 80 anos?
E uma última ressalva. Na Idade Média, por exemplo, um homem que vivesse 30 anos não teria vivido uma vida mais autêntica que um homem que hoje vive 80? Hoje vivemos sempre cheios de compromissos, sem tempo para nada, numa vida mecânica, robótica, sempre reclamando que a vida “voa”, que é como se um ano passasse como um mês e que 10 anos atrás “é como se fosse hoje”? Esses 80 anos não passaram como se fossem apenas 30? São questionamentos que deixo...
Mas tudo bem, reconheço sim, o aumento na expectativa de vida é uma conquista do atual método científico, negá-lo seria um absurdo. Mas percebam que no texto abaixo não neguei os avanços materiais e físicos da ciência com seu método. O que questiono é no que tais avanços tornaram o homem realmente melhor? Ou a ciência não é para tornar o homem melhor? Por que não, pergunto eu? Por que ela não pode modificar sua visão puramente racionalista e mecanicista para outra mais holística, que englobe outras capacidades e necessidades humanas.
Como afirmei abaixo, Einstein também questionava sobre isso, e não só ele, mas também outros grandes cientistas, como Carl Jung. Este afirmou que a ciência ocidental obscurece a visão quando apregoa que a única forma de conhecimento é o conhecimento racional. Por que a ciência insiste em sua visão mecânica das coisas? É isso que questiono. Creio que a ciência poderia ser mais e melhor se não se mantivesse arrogantemente nessa visão retrógrada. O pensamento medieval, ainda que com vários pontos em atraso, possuía um bem mais avançado que o atual: o de que o homem devia ver a si mesmo como uma parte integrada da natureza e não como seu dominador e explorador.
Que fique bem claro que não sou contra a ciência, somente um idiota é contra o conhecimento. Sou contra a maneira como a ciência é vista pelos cientistas e intelectuais em geral, questiono seu método, que para mim é realmente atrasado. Ninguém é obrigado a concordar comigo, obviamente. E o blog está aberto a outras visões.
Mas o que não se pode negar é a responsabilidade que recai sobre o corrente método científico na destruição do planeta, pelos motivos que mencionei abaixo. Claro que a responsabilidade não é só dele, mas sua parcela de culpa é imensa. A natureza sempre foi vista pela ciência como algo a ser explorado, algo a ser torturado até que nos contasse seus mais íntimos segredos. Tanta exploração levou-nos a que caminho? De nada adianta vivermos 80, 100, 200 anos se não houver um planeta para vivermos...
03 dezembro 2009
O Método Científico é Responsável Pela Destruição do Planeta?
A meu ver, a ciência deve buscar a verdade, o conhecimento sobre as coisas, sejam elas materiais ou não. E utilizar tal conhecimento para melhorar a humanidade. Mas o que vemos hoje? Vemos uma ciência cujo objetivo maior tornou-se apenas desenvolver técnicas ou fazer descobertas para tornar nossa vida mais cômoda ou mais “saudável”, ainda que esse “saudável” seja um tanto discutível. E ainda que essas “conquistas científicas” somente sejam acessíveis aos que têm condições financeiras de bancá-las. E o mais de 1 bilhão de miseráveis do mundo? O que a ciência faz por eles? No que a ciência contribuiu para tornar o homem melhor? O mundo melhor? A ciência não serve para isso?
Então, para a ciência, somente o que é mensurável, material, e adquirível materialmente é que pode e deve ser científico? É o que diz o método científico? Então, ao meu entender, o método científico está equivocado. Quem disse que ele deve estar necessariamente correto? Pois eu estou o contestando. O método científico é como a ciência atua, e para mim a ciência está atuando de forma equivocada.
O próprio Einstein condenava essa visão materialista e racionalista da ciência, inclusive não foi com esse método, ou unicamente com ele, que Einstein chegou à Teoria da Relatividade. Einstein, segundo suas próprias declarações, chegou a essa genial teoria inicialmente através da imaginação, através de uma sensibilidade artística que trouxe geniais insights ao cientista, os quais mais tarde se transformaram em uma teoria revolucionária. Einstein foi antes de tudo humano, sensível, não somente frio e racionalista. Não é à toa que uma das frases mais célebres de Einstein é esta: “A imaginação é mais importante que o conhecimento.”
Este método científico em vigor é absolutamente mecânico. Assim construiu uma ciência mecânica, que não está preocupada, comprometida com o verdadeiro desenvolvimento humano. De onde provém o atual método científico? Em grande parte, ele é oriundo da filosofia de Descartes. Descartes pensava que tudo era material ou explicável pela matéria, que tudo era mecânico, mensurável, que o universo inteiro poderia ser reduzido às leis físicas já conhecidas, e que o homem poderia fazer o que quisesse com o planeta e com os seres nele existentes, inclusive torturá-los em prol da ciência, pois não haveria alma nenhuma neles. Descartes afirmou: “o grito dos animais sendo torturados em prol da ciência é como o som do funcionamento de uma fábrica”.
Um absurdo? Um método um tanto atrasado? Pois é o método que ainda está em vigor na ciência. E o seu resultado está diante de nossos olhos. Uma civilização que destrói seu planeta a passos largos, afinal foi ensinada pela ciência com seu método que a natureza deve ser explorada ao máximo, pois ela não teria alma e nós, os homens, seríamos seus donos. Esse é o resultado mais elevado deste método científico.
02 dezembro 2009
dos Fins
desci descendente e desço
em queda
livre a serviço
mal sei o que soube em fim
mal vim de saber não sendo
mal sendo me vou e toco...
de sina em sinos
ao som me ensino
silencio
e sinto...
vela em crepúsculo
de chama à morte
aos Fins a(s)cendo...
01 dezembro 2009
Crueldade Contra Animais na UFSM
Bateram em Tua Porta...
e tu não atendeste
foi alguém ou foi algo
e tu nunca soubeste
e tu nunca tentaste
e tu sempre temeste
o que foi que perdeste?
pela noite descendo
bateram em tua porta
mas não foi duas vezes
e teus olhos fechaste
e de novo dormiste
é tão cômodo o sono
do qual nunca acordaste
é tão cômoda a vida
como não se findasse
mas a noite caía
e tão alta era a treva
e tão firme a batida
sinfonia em Beethoven
e tu nunca a ouviste
nem pensaste na morte
mas bateram na porta
e saber não quiseste
te viraste de lado
e o olhar não provaste
que o temor era forte
e o final te falava...
mas tu não atendeste
29 novembro 2009
Schubert - Um Gênio Não Reconhecido
Alguns leitores, após lerem a postagem sobre a trágica canção "Der Atlas" de Schubert, pediram-me para que escrevesse algo mais sobre o compositor. Prometi que o faria. Cumpro agora o prometido.
Franz Peter Schubert nasceu em 1797, em Viena, na Áustria. Foi um dos pioneiros do Romantismo na música, porém, quase que no anonimato, nunca tendo sua genialidade reconhecida em vida. Vida que foi curta, pois Schubert morreu em 1828 , com apenas 31 anos de idade, demonstrando uma precocidade raras vezes conhecida no mundo musical, comparável à de Mozart.
Com apenas 17 anos de idade, Schubert, que é considerado o maior compositor de lieder (a canção clássica) da história, compôs o famoso lied "Gretchen am Spinnrade", um dos maiores lieder de todos os tempos. Já na adolescência, Schubert prova toda a sua assombrosa facilidade para a criação de melodias e dá mostras da veia trágica que lhe possibilitaria a criação de sublimes obras-primas no final de sua existência.
A sua capacidade criativa era infinita, espontânea, poética, lírica, viva de inspiração. Pode-se dividir sua obra em duas grandes fases: a 1ª, ainda classicista e fortemente influenciada por Mozart, e a romântica, onde a influência de Beethoven se torna preponderante. Assim, Schubert é um dos compositores responsáveis pela transição do Classicismo para o Romantismo, dando continuidade à revolução beethoveniana. É na fase romântica que se encontra a grande maioria de suas obras-primas.
Porém, a imensa criação de Schubert foi silenciosa, sem a grandiloquência de Beethoven. Nunca atingiu reconhecimento em vida, ninguém o considerava um gênio, a não ser seus amigos mais próximos, e o próprio Beethoven, que antes de falecer reconheceu todo o raro talento de Schubert. Grande parte das obras máximas de Schubert nunca foram executadas durante a vida do compositor. Seu imenso sucesso em todo o mundo artístico só veio décadas depois. Suas músicas não lhe traziam uma renda suficiente para a sobrevivência, tendo que ser por várias vezes sustentado por amigos e familiares, morrendo na pobreza. No entanto, possuía um círculo de fiéis admiradores em Viena. Bem mais tarde, graças a esses amigos e a alguns músicos e musicólogos, sua obra foi resgatada, e Schubert tornou-se um dos maiores gênios do Romantismo.
Em 1822, com 25 anos, Schubert descobriu que estava com sífilis. A partir de então, como se a sombra da doença lhe intensificasse ainda mais a inspiração, Schubert passou a compor num ritmo febril. Ao mesmo tempo, aprofunda-se no Romantismo, iniciando sua última fase de criação, marcada pela produção de uma obra-prima atrás da outra, como se pretendesse deixar ao mundo o maior número possível de obras, pressentindo a aproximação da morte. As composições desse período caracterizam-se pela grande originalidade, pelo caráter trágico, melancólico e sentencioso, embriagado de um clima de fim, sem perder, no entanto, a espontaneidade e a beleza melódicas, que sempre caracterizaram as músicas de Schubert.
São dessa época a enigmática Sinfonia Inacabada, os terríveis últimos quartetos para cordas, as sublimes últimas sonatas para piano, de uma misteriosa originalidade, uma infinidade de lieder de absoluta maestria, além de uma série impressionante de outras obras-primas, como óperas, composições de câmara, composições sacras (entre elas a comovente Ave-Maria, capaz de enternecer o mais empedernido coração), as quais mais tarde serviriam de inspiração para inúmeros compositores, românticos ou não.
Em 19 de novembro de 1828, vítima provavelmente de febre tifóide, Schubert faleceu, deixando para um mundo um dos mais ricos legados da música clássica, sem nunca, no entanto, poder ouvir grande parte desse legado. Não por ter perdido a audição, como Beethoven, mas porque as obras nunca foram executadas.
28 novembro 2009
Não Gosto de Praia*
da praia infestada
de vazio humano
tal praia
é a profanação do mar
o que busco
é o oculto da sanga
entre o escuro do mato
como é escuro e oculto
o destino do meu olhar
com o que restou
do sopro livre de minha alma
quero o que restou
do vento livre destes campos:
o meu peito que nada espera
busca os capões brabos
peraus de cobras
onde há mosquitos
da febre amarela
há muito as febres me consomem
que eu só sou vacinado
contra o homem
e meu coração é uma tapera
quero me sumir pelos banhados
com os mistérios
que em mim somem
liberto de tudo que vi
quero me perder
por entre sapos
louco e bem longe de ti
até que se forme
a ventania em mim...
cumprir-se-á então
o que já está cumprido
do começo ao fim
*poema republicado com 2 versos a mais
27 novembro 2009
Campanha Publicitária - Casa dos Poetas
26 novembro 2009
Esta é a Tua História (ou O Pesadelo) - Parte Final
Eras o que pensavas enquanto conduzias dormindo o veículo pelas ruas povoadas. Dormindo não de dormir, embora com os sonhos já sonhasses. Com os sonhos não da vida, mas do sono. Pouco sono, aliás. Que o teu pesadelo voltará... Tu sabes. Mas os sonhos da vida... Estes não germinam na alma empedrada de compromissos.
Na avenida de intenso movimento, um acidente. O motorista da moto morreu. Contemplaste como se nunca morrerás. Com piedade do morto. E refletiste sobre o que iria acontecer com o motorista. Talvez nada. Talvez tudo. O homem pensa em tudo para ter uma vida cada vez mais cômoda. Mais tecnológica. Tecno lógica. Tudo deve ser lógico e confortável... Para isso o dinheiro. Para explicar tudo. Aliás, amanhã deves comprar um sofá novo. Dás duro. Mereces. Mas o motoqueiro morreu. O vermelho do sangue congestionando teus olhos. Para onde ele haverá de ir? Foi no que pensaste. Sabes? Não queres nem saber. Não sabes o porquê de saber? Rapidamente substituído pelos olhos da moça do escritório. Rapidamente substituídos pelo relatório de amanhã.
Chegaste. Belíssimo jardim ostenta tua casa. Mal pisaste nele desde que foi construído. Para não matar as gramas, argumentas para ti mesmo. Sabes que mente. Para não matar teu tempo. Tempo é trabalho. Exausto, a cerveja desceu aliviando teus músculos e nervos. Isso é reconfortante Principalmente antes da academia, para revigorar.
Tua esposa também chegou. Os olhos da moça do escritório são mais doces que o da tua esposa. Aliás, ela também está muito cansada. Até porque recém chegara da academia. Agora é a tua vez de ir. Beijo no rosto. Tchau. De carro para a academia. Por que não a pé? Ah, a violência. Estás certo. A violência das grandes cidades não combina com a preservação ambiental. Nada combina com a preservação ambiental. Principalmente o homem. Principalmente o mundo de que o homem necessita. Mas não é coisa para se pensar agora. É coisa para se pensar no nunca. Agora pensarás na academia, pois já estás nela. Não, pensas no relatório de amanhã, no sofá que irás comprar, no dinheiro que estão te devendo, no crescente da tua empresa. Estás conseguindo. Mesmo. Só não consegues o que não sabes que queres.
Academia é um saco, pensaste. Já não aguentas mais. Mas é necessário. Assim como trabalhar. Não fosse a academia, talvez a moça do escritório não teria te olhado. Ainda assim, terias bolso.
Em casa, outra vez, que alívio. Nas impossibilidades da vida, os rios límpidos e serenos emitem as vozes aéreas dançantes de tudo que não podes. E elas queimam rápido no teu sentir. Mas é noite, e a noite nunca tarda, e a noite é um réquiem. Descanso. Delicioso jantar escorreu mecânico pelo teu esôfago. Até te sentiste um pouco mal. O jeito foi deitares mais cedo na noite, mesmo com o medo do pesadelo... Na noite que convidava ao amor... Que espécie de amor? O que sentes pela tua esposa? Sentes? Ou o desejo que se intensifica pelo olhar da moça do escritório? Não sabes. Mas certamente era esse tipo de amor que a cumplicidade da lua, que a violência emocional em silêncio da noite te convida. O sonho...
Dormiste pensando em coisas importantes... No relatório de amanhã, por exemplo. No sucesso da tua vida, sem dúvida, plena de sucesso. Mas o pesadelo te despertou. Pesadelos têm por princípio despertar os homens que dormem. Agora, o silêncio da noite era fúnebre como a morte. Havia algo de estranho pairando no ar. Pensaste lento em coisas distantes. O pesadelo foi absolutamente misterioso. Mistério era tudo o que respiravas agora... Estavas certo que nele, alguém ou algo chamou teu nome. No pesadelo, tu não eras tu. Tu fingias que era feliz, mas sabias que não eras. Tentavas enganar a ti mesmo. Em outro momento de teu pesadelo, enlouquecias, eras o mais insensato dos homens, e então te sentias bem.
Acordava sempre imerso na dúvida. Alguma coisa esquisita vibrava em tua alma. Lembravas da música do pesadelo. Estavas certo que era Bach. Talvez não fosse pesadelo, talvez fosse um sonho mirífico. Alguém batia na porta, pesadas batidas. Não tinhas coragem de atender. Sinuoso e enigmático. Densificou-se o alimento de tua respiração. Algo de impalpável te alarmava.
O sopro das narinas em sono de tua mulher intensificava a tensão. Algum oculto flutuava no desconhecido da noite. O Desconhecido... Um sino soava como uma voz de fêmea. O mistério que te falava e que eternamente sustinha suas asas negras sobre tua alma. Que crescia e fitava-te nos olhos, em paroxismos e apoteoses, dizendo-te de tudo que nunca fizeste, que nunca tentaste, que nunca viveste, que nunca beijaste...
Mas amanhã é dia de trabalho. Deves dormir. Tentando esquecer o pesadelo, conseguiste. E horas depois, acordaste para o teu novo dia. Novo... Como seria o teu novo dia? Basta que releias esta história, que é a tua história...
25 novembro 2009
Esta é a Tua História (ou O Pesadelo)
Olhaste pela janela. 7 horas da manhã. Raios de sol iluminavam teus olhos. De nada adiantaria. Fazias isso todos os dias, todas as manhãs o mesmo ato. Já estavas anestesiado e mecânico. Passado e futuro digladiavam-se em tudo o que sentias. Nunca o presente. E o presente é extremamente cruel. O presente é sempre extremamente cruel. Fracassaste em teu presente. Tens tudo. Mas no fundo não queres nada do que tens. O que realmente, ou iludidamente, queres é sempre o que não alcanças. Mas não sabes disso.
Abriste a geladeira, e ela estava abarrotada de coisas. Sem tempo para comer. Um suco escorregou sem graça pelo teu esôfago. A garganta continuou seca. A laranja não tinha culpa de nada, talvez pensaste.
A roupa que vestiste era impecável. Hoje precisarias de teu melhor terno. O trabalho dignifica. És um homem digno. As ruas pelas quais passavas agora eram de uma magnificência encantadora. Todos os dias o mesmo trajeto. Mal as viste. Exausto sem ainda estar, cansado sem cansaço, o cosmos falava pelo canto dos pássaros. Já estavas atrasado. O salário era alto, como não poderia deixar de ser. Sempre valia a pena o esforço, o sacrifício e a dedicação extremados. Imensidões de esperança despencavam de céu irrepreensivelmente azul. Já estavas no escritório.
Cumprimentaram-te de acordo com toda a necessidade do respeito que te é devido. Há muito tempo teus olhos não se enchiam de lágrimas. E assim permaneceram. Fitaste a vetusta figueira filtrada pelos vidros espelhados do escritório. O verde irradiava-se livre pela ascensão triunfante do dia. Fracassaste em teu emprego. Trabalhaste para ser livre. Mas te tornaste ainda mais escravo. Escravo de teu sucesso.
Afogado nos papéis, uma sede insaciável debatia-se em tua alma. Córregos, rios, mares, oceanos cintilavam pelo longínquo sob o crepuscular das estrelas. O olhar da moça que passou dirigiu-se aos teus. E tua assinatura era agora imprescindível. Em centenas de documentos que em verdade não diziam nada. Mas eram tudo. Lembras-te que há muito tempo não via olhos como aqueles? Reminiscências espirituais de estrelas que há muito séculos partiram. Tristeza. Um pequeno besouro chocou-se contra a parede envidraçada. E uma gota de tinta manchou o terno impecável.
Ninguém é impecável. Como é da natureza humana, e animal, a fome sempre chega. Ao meio-dia, o sol atinge o seu auge. Mas não há tempo para considerações. Em teu carro de modelo importado colocaste uma música da moda. Não te agradava realmente, mas não havia tempo para encontrar aquela em que pensavas há meses. Em um buraco furaste o pneu. Ficaste tenso. Já não estavas bem. Tens andado nervoso ultimamente, talvez seja devido aos pesadelos. Mas furaste o pneu. O azar e o imprevisto voam sempre tão alto que não dá para avistá-los. Descem suas asas negras sobre os minutos de calmaria. Mas não há tempo para divagações. Trocaste.
O restaurante era belo. E caro. E impregnado dos mais vários e lindos alimentos. Ao longe os pomares em jardins impactantes e comoventes aspergiam o pólen de suas flores pelos ares límpidos e vivos de borboletas. Ao longe... O restaurante era o mesmo de todos os dias. Não há nada de novo sobre a terra. Pediste o de sempre. Antes de entrar, porém, um pequeno gato roçou-te a calça. O felino fitou teus olhos. Sem tempo para sentimentalismos. Sem tempo para considerações. Comeste. E isso é tudo. É prático. Haveria algo de maior em cada molécula ingerida? Levantaste da mesa, teu terno estava maculado pela tinta da caneta. Aborrecido. O terno maculou tua alma. Pagaste. Dinheiro não é problema.
Problema eram os olhos da moça que entrara no escritório. Ela não trabalhava contigo. Onde estaria agora? Amanhã, tu terás reunião. “Lembras-te disso espírito da terra.” E depois de amanhã também. Quem sabe a moça retorne... Pelo acaso. Voltaste. Passaste pela mesma rua de sempre. A fronde das árvores evaporando-se em sonhos? Agora não há como lembrar. Principalmente de sonhos. Principiava a tarde. Era tarde. É sempre tarde. Irritou-te com as infinitas questões do trabalho. Sempre haverá problemas, e se os resolveres, surgirão outros. Até quando serás saudável? Esse é o infinito. Porém, vale a pena preocupar-se com eles. E irritar-te. E estressar-te. O estresse está na moda. Vale? Nas distâncias inatingíveis e somente imaginadas, ou contempladas através das ondas da TV, vales floridos e verdejantes, onde pequenas casas de rústica beleza e simplicidade espargem melodias de Bach, ou eram como que eternamente. Talvez lá houvesse cintilantes olhos como os da moça relampejante do escritório. Aquele dinheiro que não te pagam continua te tirando o sono. Teria o fato alguma relação com teu pesadelo recorrente? Sim, agora pensavas no pesadelo... Ele voltará...
As cédulas serão necessárias para o necessário investimento. E a tarde vai passando. Passando como se não passasse. Ou como se passasse de forma total e devastadora. E não deixaste nada de nada. Como se não fosse nada. Mas sendo tudo para ti. O tempo morreu. Foste tu que o mataste.
23 novembro 2009
Que eu sei muito bem...
com teu sorriso mentido
ao cair lento
invisível da treva
no escuro
ao silêncio do verbo em trovão
melhor te conheço
que eu sei muito bem...
eu sou aquilo que vem...
então achaste mesmo
que o tenso do raio primeiro
fosse o encerrar da tormenta?
secreto medo nos olhos te leio...
a Tempestade ainda nem veio...
quer dizer que pensaste
que o intenso da tormenta inicial
fosse o findar do tufão?
há um aviso no teu lábio ao meio...
o Furacão ainda nem veio...
então tiveste certeza
que o denso do horror que desaba
fosse todo o horror já no fim?
tu sabes que em ti eu não creio...
o Horror ainda nem veio...
que eu sei muito bem...
eu sou aquilo que vem...
O que é Poesia?
jogada num poço
chama de incêndio
acesa na chuva
lava vulcânica
jogada na antártida
e o poço e a chuva e a antártida
é o teu coração
21 novembro 2009
O que Fica...
seja mais forte mais vasto mais alto
que o nada
que me impele pra baixo
se alvejarem meu tigre
não apagarão a força
com que ele sangrou suas presas...
se flecharem minha águia
não apagarão o espaço
que percorreram suas asas...
se serrarem meu cedro
não apagarão a altura
que atingiram seus galhos...
20 novembro 2009
Schubert e a Canção mais Trágica do Mundo
Die ganze Welt der Schmerzen muß ich tragen,
(Na imagem, Schubert, aos 15 anos de idade)
19 novembro 2009
I FÓRUM LATINO-AMERICANO DE LITERATURA / II ENCONTRO DE ESCRITORES DO MERCOSUL.
O evento internacional ocorrerá naquele mesmo local, nos dias 22, 23 e 24 de janeiro de 2010.Maiores informações podem ser obtidas no site da casa: http://www.casadopoetadesantiago.com.br/ .
18 novembro 2009
Na Praça Pública
Levantado
Por minhas mãos esgarçadas...
E, da tribuna mais alta,
Arrepelando os cabelos,
Gritei à malta:
“Eh, Camaradas!... Ouvi,
Que vou dizer-vos quem sou.”
Depois
Tudo o que penso de mim,
A minha boca gritou.
Gritou assim:
“Desde Jó
Que sofro as minhas feridas
E as minhas resignações.
Bastou: preciso falar!
Jó, deixa uivar os leões!
(Tens uma jaula no seio...)
Que este é o meu ar.
Estas vagas mãos caídas,
Estes vagos olhos fitos,
Este vago riso alheio,
- Não sei quem foi que mos deu!
Eu?!...
Eu sou um doido aos gritos,
Um que torce as mãos e berra,
Com olhos cegos de pó,
Com boca cheia de terra,
Com sangue roxo nas unhas,
Com micróbios nos pulmões...
Jó,
Abre a grade dos leões!
Camaradas!... Camaradas!...
Eu sou um velho realejo
Velhas valsas descoradas
Que farto já de esmoer,
Desandou,
E desatou a gemer
Coisas que ninguém no mundo
Lhe ensinara,
E que ele sempre guardara
No fundo
Lá tão no fundo!...
Eu?! camaradas!
Eu sou o esboço de Alguém
Que esteve quase a nascer
Mas não nasceu.
...Quem não me deixa ser eu?!
Viver
É, para mim, duvidar,
Desvairar,
Interrogar,
Procurar-me
Torturar-me
Agarrar fumo nas mãos
E acenar a uns meus irmãos
Que sinto perto, e não vejo
Por causa da multidão...
Sou um desejo
Que não tem satisfação!...
Embrião
Que nunca pode ser flor,
(É esta minha tragédia
E é esta a minha comédia)
Sou a linha do Equador,
Que fica entre Cá e Lá...
Senhor!
Meu Autor,
Criador nosso,
Culpado disso que sou!:
Ah, Camaradas!...”
E eu ia enfim, revelar-me...
Não sei que vento
Me levantava os cabelos
E me arrastava
Num turbilhão...
Todo eu era um alarme
Que vibrava
Abria-se-me a prisão!
Abriam-se
As minhas fontes fechadas!
Meus olhos doídos, fundiam-se
Em lágrimas que nasciam
Do coração...
Então,
Parei, sentindo risadas
Entre aqueles que me ouviam.
E as suas caras diziam:
- Que charlatão!
17 novembro 2009
Sobre um Tema de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
é belo o sol
imperador classicista dos céus...
mas a peste romântica da tempestade
amargura do caos
violência de tigre que ataca
vem e não se detém:
finda-se a paz do sol
no desespero das nuvens
carregadas...
é belo o azul
dos céus inatacavelmente felizes...
mas a pata em silêncio do lobo da noite
decadência do olhar
peso do sonho que esmaga
vem e não se detém:
finda-se a paz do azul
no desespero das trevas
carregadas...
é belo o rio
sereno e límpido sob azul e sol...
mas violento e túrgido sob noite e chuva
vem e não se detém:
finda-se a paz do rio
no desespero das águas
carregadas...
é vão lutar
contra o que deve vir:
o Fim sempre vence...
então deita nas águas do rio
e deixa por elas ser
carregado...
(Na imagem, o quadro "A Tempestade" de Giorgione)
15 novembro 2009
E uma Ave que Voa...
como se não estivesse
como se tirassem o mundo
debaixo do meu sou
coruja que clama pela noite
e a noite amanheceu
como se fugisse o ar
ao meu erguer de asas
promessa branca
cumprida ao contrário
pacto de sangue
em sangue sem hemácias
descompactado
divino sorriso
só aberto em ironias
horizonte em mar
salgado
quando se tem sede
e uma ave que voa
na aurora da chuva
como se dissesse a deus...
14 novembro 2009
Limites
no jardim
pensa que o mundo
é o jardim
o tubarão
no mar
penso que o mundo
é o mar
o periquito
no mato
pensa que o mundo
é o mato
o morcego
no escuro
pensa que o mundo
é o escuro
e o homem
no mundo
pensa que o mundo
é o mundo
12 novembro 2009
A Grandiosa Farsa de Yeda
VOCÊ SABIA que o governo Yeda prometeu dobrar o salário da Brigada Militar, mas agora contempla os brigadianos com um reles aumento de 20%, e que continuam sendo os mais mal pagos do Brasil na área de segurança?
VOCÊ SABIA que o “reajuste” de Yeda só contempla 14% dos professores, pois 86% deles estão nos níveis 5 e 6, que não ganharão 1 centavo de aumento?
VOCÊ SABIA que os professores aposentados foram excluídos do “pacote”?
VOCÊ SABIA que esse “reajuste” na verdade não é um reajuste? É somente um completivo para os que ganham menos de R$ 750,00. E é um completivo que não se incorpora ao salário, pois será descontado quando houver qualquer tipo de reajuste real. Não há nenhum índice de reajuste proposto aos professores, tudo foi enfiado goela abaixo sem nenhuma discussão. Isso foi tudo que o governo Yeda fez depois de 3 anos sem dar ao menos a reposição da inflação ao magistério.
VOCÊ SABIA que o novo plano de carreira incluído no “pacote” acaba com direitos adquiridos pelos professores, como promoções, triênios, avanços entre níveis e licença-prêmio? E que aqueles que não aderirem ao novo plano IMPOSTO e não discutido entre as categorias terão seus salários congelados?
VOCÊ SABIA que dizer que o piso do magistério vai passar para R$ 1500,00 é uma imensa mentira? Piso salarial é o vencimento básico de início da carreira, e sobre ele recairão os avanços e gratificações obtidos. Já para Yeda, piso é tudo isso somado. Ou seja, para ela, piso é o mesmo que teto. Significa que um professor que ganhe R$ 1500,00 devido a todo seus avanços, gratificações e conquistas não receberá 1 centavo de aumento, pois já está dentro do piso, que é o teto. Por que será que ninguém fala sobre isso?
VOCÊ SABIA que o tão propalado 14º salário é outro engodo? Primeiramente, afirma que somente irão receber o tal salário aqueles professores que merecerem. Mais quais os critérios desse merecimento? Provavelmente será puxar o saco do governo e não questionar suas decisões. Será um abono para os puxa-sacos. E ainda assim, segundo o próprio secretário da fazenda, “Se o Estado não estiver equilibrado, não tem prêmio.” Haha! Digam-me quando que o Estado está equilibrado?
Esse é o novo jeito de governar, através da mentira descarada, e com um poderoso mecanismo de marketing por trás. Mas há algo de novo nisso? Outra prova da grande farsa que é este governo incompetente e corrupto de Yeda é o trecho da rodovia entre Santa Maria e Paraíso do Sul. Passei por lá semana passada. Há um enorme cartaz que ostenta: Recuperação do trecho... blá, blá, blá. Mas a realidade que salta aos olhos, e ao carro, é uma buraqueira e desníveis vergonhosos.
Alguém vai me rebater?
11 novembro 2009
Eu sempre me espanto...
no milagre da vida
e nas maravilhas do cosmos
aqueles que julgam
que o milagre da vida
e as maravilhas do cosmos
não passam
do fruto sem sentido do acaso
de um amontoado estúpido de átomos?
se a Lei existe ou não
por que deveria ela
desocultar-se de seus longínquos
atender mansa a nossos gritos
responder clara às nossas mentes?
crer no acaso
ou crer na Lei
não é certeza,
é crença:
não faz diferença
então
prefiro crer
que a beleza e o canto do pássaro
não são imagem e ruído ordenados
por absurdas coincidências
para mim
a beleza e o canto do pássaro
são beleza e canto!
e em tudo que vejo e ouço
eu sempre me espanto...
09 novembro 2009
A Dança Cósmica (Parte Final)
Eu estava lá com Ele. E nós vimos. O grande cíclico movimento, densificação extrema, todas as almas, as mônadas, as partículas elementares voltando ao ventre até formar o estado pré-bigbang. E assim justifiquei para mim mesmo o amor. O amor é perfeitamente lógico. Devemos amar-nos uns aos outros porque somos os outros. No fundo, somos a mesma coisa: fagulhas nascidas de e pertencentes a um Todo que é Uno. Éramos uma coisa só, um átomo titânico, antes do Bigbang. Continuamos essa mesma coisa só, ainda que transformados. E voltaremos a ser esse átomo titânico. Por isso o amor. Não amar é como um braço de um corpo detestar e prejudicar o outro braço do mesmo corpo.
Ao iniciar o Mahavantara, eu iniciei a aventura da existência. Como se fosse tudo simultâneo e em perfeito equilíbrio e dinâmica transcendente. Deixei o repouso sereno da Noite Cósmica, do estado pré-bigbang e mergulhei na dramaticidade do teatro da formação espiritual-física. Desci, criado, e ingressei na evolução. E fui um elemental mineral, um elemental vegetal, um elemental animal, e fui um Elemental humano e... Viria mais. Algo além da evolução mecânica. Mas se não se vai além da evolução, vem o outro lado da roda, a outra face da moeda, pela lei do Eterno Retorno, vem a involução. Dia e Noite. E assim sucessivamente, infinitamente, em intermináveis ciclos. Noite e Dia.
Bigbangs explosões expansões auges retrações densificações auges Bigbangs explosões expansões... E o Todo deixando de ser Todo e sempre sendo Todo e sempre sendo Uno. E todas as coisas passando a existir sendo criadas e se expandindo ao máximo e se retraindo e sendo descriadas deixando de existir mas sempre sendo até a retração-regressão máxima e todas as coisas...
Universos e mais universos nascendo e morrendo e tornando a nascer e tornando a morrer. Assim é conosco. Assim é o Cosmos. E quantos bilhões de anos ou trilhões ou quatrilhões compõem um Dia Cósmico? E quantos Dias e Noites Cósmicas já vieram e morreram e retornaram? Quantos Bigbangs? E quantos ainda virão? E eu vi tudo isso. Eu estava lá com Ele. Nós estávamos lá com Ele. Nós éramos Ele. E Ele é Deus.