03 fevereiro 2019

Simbolista

quero apagar mas apagar de um modo
que quando acorde já não seja eu todo:

todas aquelas coisas sossegadas
que do que esperam só recebem nadas

que sabem que ter é beber espuma
como quem olha para o céu e fuma

sentadas pelas beiras das estradas
essas coisas de tudo tão cansadas

a ver quem passa se matar nas curvas
e quem chega não encontrar nenhuma

a se aguardar num sol já quase posto
que não se acabem os invernos de agosto

que as noites vindas já não tenham fim
que sempre fosse sempre fosse assim

e que se achasse em sangue o amor já morto
ao soprar de asas de um voar de corvo

todas aquelas coisas sossegadas
que já viram Deus e só são fantasmas

que desceram para tomar um vinho
e quando viram vinha o Fim sozinho

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