30 janeiro 2012

Nós

quando algo se alta
diante do não da visão
há um outro algo
que é o que ergue
o erguido que (não) se vê

somos nós que nos erguemos...

quando o alto se sona
diante do vazio da audição
há um outro que se torna
que é o que som
no silêncio que (não) se cala

somos nós que nos tornamos...

somos o verbo no atrás da palavra
espírito que se essência em não-estar
gesto sem mão do que se é
úmido da água do que se molha
um e outro oculto
entre todos os extremos

nós
que venceremos...

29 janeiro 2012

O Julgamento Final, de Hieronymus Bosch

Tríptico pintado (provavelmente em 1482) pelo gênio da pintura, e meu pintor favorito, o holandês Hieronymus Bosch. O quadro encontra-se na Academia de Belas Artes de Viena. Para melhor visualização, clique sobre a imagem. Sem mais palavras.

27 janeiro 2012

A cada verso que é inútil...

a cada árvore plantada
há cem derrubadas
ou mais
daquelas
quem nem mais deixam sinais

a cada água que é clara
há cem esgotada
ou fedor
daquelas
que nem se nota o horror

a cada balada composta
há cem baladas na testa
ou paulada
daquelas
que é somente o que resta

a cada animal que é cuidado
há cem massacrados
e é pouco
daqueles
em desespero rouco

a cada beijo que é dado
há cem que são malditos
e mais outros mil
daqueles
que são fingidos...

e tenhos ditos

25 janeiro 2012

Não quer dizer...

eu sei que há.
que há o quê?
o próprio há de haver
que há de haver
mesmo o que não se é.
eu sei que ser.

eu sei que à.
não quer dizer que eu vá
ao lá
mas não quer dizer que não à
como ir.

eu sei que vir.
não quer dizer que eu vieste
mas algo por mim que há...
se eu não for com o que vai
não quer dizer que eu não foste

eu sei que hão
de
ainda que a mim há o não
não quer dizer que o hão não há
porque eu não fui
não quer dizer que não está

em fim:
eu sei que
ah...



24 janeiro 2012

Teu Toque em Silêncio...

teu olhar mudo
é como um toque
de trombeta
e quando tocas
tocas
os homens de ti
e daqui

sempre impassível
vês o nunca e o impossível
tu asas além dos sonhos
dos que sonam
o toque
dos sinos
e o tique...
(taque...)
invisível
dos destinos

o toque
da pedra no lago
produz ondas
que não te tocam:
nada abala
teu ser intocável

mas tocaste a mim
com tua melodia escura
como quem procura
um violino
e um toque de mãos
ao fim da tarde...

tocas sem fazer alarde...
e quando a tua árvore
for só um toco
tocarás o céu...

Tu
imperturbável Urubu.

21 janeiro 2012

O Fatal do Gatilho

para que se adiantar ao adiante?
(deve-se
é se calcular o próximo instante...)
por que querer que o que virá
seja o que é?
saber aguardar
é dar um palmo de calma ao coração
e não trocar os palmos dos pés
pelas palmas das mãos

o dia 07 de maio de 2014
será em 07 de maio de 2014
e aquilo que não for
para ao nunca ser
é o que é o triste:
a tristeza
é o que nunca viste

que se saiba esperar...
há momentos de se pressionar o medo
sobre o equilíbrio do trilho
há momentos de se pressionar o dedo
sobre o fatal do gatilho

20 janeiro 2012

Fechamento do site Megaupload é sintoma de uma nova era de censura e de restrição à liberdade humana

O fechamento do site Megaupload é mais um sintoma da era de censura e de restrição à liberdade humana que está se iniciando.  A perseguição aos fumantes é outro sintoma. Em breve pretenderão vigiar e controlar cada um de nós. Como previu George Orwell em seu genial livro "1984".

É claro que abusos e crimes, como a pedofilia, devem ser combatidos, mas as leis contra a liberdade na internet que estão tramitando no congresso americano são uma forma de cercear os direitos de expressão de cada indivíduo. O que está ocorrendo em terras americanas vai muito além de uma simples disputa por direitos autorais. Aliás, "direitos" estes que trazem dinheiro não para os artistas, mas para as grandes gravadoras e editoras. 

Não irei me alongar no assunto. Creio que o vídeo abaixo falará por mim. Sugiro que o vejam, e entenderão melhor o que estou afirmando:


19 janeiro 2012

Quando Chegar a Hora

quando eu voltar à Revolta
(àquela dos antigos
que nem mesmo têm amigos)
contarei um conto
que não será vendido
nem por mil contos
de réis
ou de reis
agora
(ao fim da hora)
conto
as estrelas do infinito
apontando meu dedo maldito

(cantos de cisnes)...

quando eu voltar à Revolta
fumarei dos cigarros
até mesmo as pontas
e acertarei
todas as minhas contas

17 janeiro 2012

Compro pessoas. Qual o seu preço?

Criei uma organização que trabalha com compra e venda. De pessoas. Compro seus princípios. Seus ideais. Suas ideias. Sua honra e sua dignidade. A sua lealdade. O seu caráter. Quem sabe, até sua alma. Compro e vendo. Mantenho algo como um catálogo. Quando alguém necessita de uma pessoa com determinadas características, basta que entre em contato comigo. Por exemplo, um político precisa de um assessor, alguém que venda suas ideologias e suas posições, afinal, na política deve-se estar sempre de um lado para o outro, de acordo com as circunstâncias. Não há como se manter princípios e ideais. “Flexibilidade” é como chamam. No meu catálogo, há muitos que se vendem para políticos. Quase sempre possuo um indivíduo com o perfil desejado. E dou o seu preço.

Quando, por um ou outro motivo, não se encontra em meu catálogo a pessoa que meu cliente procura, saio em sua busca. Invariavelmente, encontro-a. Até hoje não encontrei uma só pessoa que não tivesse o seu preço. Algumas são um tanto baratas. Outras se encontram em um nível intermediário. E, claro, há as que são caras. Mas compro, todas acabam por se vender.  E sempre há aquelas que imaginam que valem mais do que realmente valem. Para isso, desenvolvi a minha capacidade de persuasão e a minha diplomacia. Consigo convencê-las do seu verdadeiro preço. Sem ofendê-las, naturalmente. Sou um homem de negócios. Jamais compraria gato por lebre. Não se trata de pechinchar, trata-se de dar a César o que é de César. Estabelecer escalas de valores. Alguns dizem que se trata de colocar cada um em seu devido lugar. Eu não diria dessa forma.

Quando falo em valores, não me refiro necessariamente a dinheiro. Claro, a maioria das pessoas vende-se por dinheiro ou por bens de diversas espécies. Por quantias altas, por quantias médias, por quantias baixas. Depende de quanto a pessoa se valoriza ou de quanto ela vale. Algumas pedem valores altos, e de fato merecem. Mas, como dizia, esses valores nem sempre são financeiros. Há, por exemplo, os que estipulam seu preço como um simples espaço em determinado jornal. Em determinada revista. Hoje em dia, é comum venderem-se por uma participação em um site da net. Às vezes, o preço é apenas uma aparição qualquer em um programa de TV. Obviamente, há os que se vendem por fama. Pelos seus 15 minutos.

No meu catálogo há indivíduos que são comprados por um preço bastante singelo: a possibilidade de estar ao lado de pessoas famosas e/ou ricas e/ou influentes, simplesmente para terem a oportunidade de puxar seu saco.  E assim obter alguns favorzinhos. É um preço medíocre, obviamente, mas melhor assim, que os compro com muita facilidade.

Há ainda os que se vendem para obter uma vida segura e tranquila. Para não terem que se preocupar com coisa alguma. Para não terem responsabilidade com nada. Ficar “na sua”, no seu “lugarzinho”, na tranquilidade do lar, tomando sua cervejinha nos finais de semana, tendo que, para tanto, apenas abdicar de si mesmo. Isso é condenável? Eu não os condeno. Eu os compro. E quem condenaria uma pessoa que se vende para poder sustentar sua família? Ou para ter "paz"? Não só não é condenável, como é algo a ser louvado.

E há também o caso oposto. Os que se vendem porque não querem ficar só no seu “lugarzinho”, mas para estar em todos os lugares que puderem aparecer. Vendem-se pelo sucesso, pelo status social, pelo prestígio, pelo reconhecimento, por um aplauso, por um elogio, pelo olhar tentador de uma mulher, enfim... ainda que, muitas vezes, não há nada neles que mereça algum reconhecimento.  Porém, quem disse que para se ter sucesso há que se ter algum valor?

Enfim, há um preço para tudo. Qualquer um pode ser comprado. Todos têm o seu desejo, guardado bem lá no fundo (às vezes nem tão no fundo assim...), pelo qual dariam qualquer coisa. Até o que há de mais precioso em si... Ou não? Há os que se vendem porque, simplesmente, são fracos para resistirem à tentação do preço.  Há até os que se vendem porque todos já se venderam. "Se todos já estão vendidos, por que não eu?" Na obra de Goethe, Fausto vendeu sua alma a Mefistófeles para conseguir o amor de Margarida. E você? Pense no seu preço...

15 janeiro 2012

Sei que Algo Acontece

sei que algo acontece...
o fundamental é o que está latente
o que não está simplesmente atrás
mas à frente
como consequência não-sólida
mas astralizada
o que se move como sopro e tigre
há passos de tudo
que se passa em passado
que ela se ergue em olho
bem do teu lado


qual sábio é que garante
que um vento que se veste inofensivo
lá em processos desvistados
não se tornará tornado furacão?
tudo o que hão não são o que são...

quando cai uma flor
há outro algo além da sua queda
e este outro nos envolve
em insondável onde:
há um ato que é fato
e há outro que se esconde

tudo traz um além-motivo
ainda que a ele (rindo)
não nos motivemos
mas ele sempre sorri
acima
do nosso riso... 

14 janeiro 2012

Tratado Rápido de Poesia Insensata (e Outras Histórias Bonitas)

I

o coração do poeta
deve ser como um pano
que está sempre em valde:
absorver tudo
para depois torcer
dentro do vazio
de um balde

II

chorar
é saber que se sabe
ou cedo
ou tarde

III

poeta
é quem nunca te desistes
e com um só arrependimento:
o de não ter escrito
ainda mais tristes

IV

quando necessito ouvir...

vou à beira dos banhados
escutar o coaxar dos sapos
e o matraquear dos patos
abaixo de tempestades...

é o que faço
quando necessito ouvir verdades


12 janeiro 2012

Acima da Humanidade

o que sei é que sei que há
e o que há é o que não sei
mas sei que me sei
sabendo-me que não me satisfaço
com as maçãs do baixo
da macieira
(hei de estender meu braço)
que as melhores estão no que é alto
e há sempre algo mais que o algo
do outro lado da beira

se a humanidade é só isso que vejo
(ou ainda aquém)
eu manterei o meu além
entre o além do meu desejo...
por mais que vós façais
em vossos sensatos humanos
(e eu não me limito nos anos)
a isso que foi é e será feito
não sigo e nem consigo
com que a vós
sangre o meu respeito...

ainda que ninguém esteja comigo
e o isso seja só isso
por este momento...
sou daqueles
que ao nunca me contento

há um mais acima do pouco
(alguém dirá que sou louco...)
mas em um mundo
que se imunda ao nada
deixo o vosso sucesso de fachada

há algo mais a se amar-te...
e se disso eu me esqueça
lembrar-me-ei de ti...

ó Arte

10 janeiro 2012

Versos a Nada

aquilo que não
que não o quê?
que não tudo
desde o lá
ao agora que não está
aquilo que ser
sem que seja como sendo
o longínquo do que está aqui dentro
o que nunca em nunca momento
sonho que sonha o meu real
o outro lado do que não o outro
além-me-ar estando aqui
pelo sono do teu quintal
flor que cheirou o meu gesto
sem tocar a minha mão
fuga invisível de um verso
ao voo do que não me fui
em estares de imaginação
o  mas do que me distância
e longos pelos teus cabelos
olhos  no éter sem sê-los
que terminam em um nada
e começam em um fim...

aquilo que não
é então
o que me sim

09 janeiro 2012

Aquilo que Não Disse

não há nada que não
que já não tenha sido
que já não fosse dito
o que direi é a mesma coisa
daquilo que ainda não é
e os sábios deveriam saber disso
e não cairem (en)laçados
pela letra ao pé

 toda árvore que agora existe
(e quando lembro dela fico triste)
é ser que não sendo si sempre foi
desde a pele da cobra ao olho do boi
é repetição representada de outro outro
que  não está aqui para ser pensado
e a senti-lo há que ser maldito
ou um vale preso ao infinito

bom escrito é o que diz
aquilo que não diz
como professor escrevendo
ao quadro negro
sem ter na mão o giz
pois sabe-se que a árvore ali deixada
não é ela como sendo
a coisa imaginada
e o melhor verso é o que nunca trata dela
mas o que apenas a pinta
(já que ela sempre foi pintada)
ao canto irreal de uma tela

07 janeiro 2012

Amanhecer (à) Tarde

(a)onde estão (vão)
os teus passos?
(meus laços)
que tantos (folhas de) outonos
deixaram passar aos meus pés
(onde é que tu és?)
onde estão (não?)
os teus traços?
que tantos (sonhos?) estranhos
(de estanhos)
agora cinzaram meus pós
(o que é teu após?)
onde estão os teus vagos?
(tu, vagas?)
demares derrios delagos
que tanto sedaram meus tragos
(de sede de seda)
e agora selaram-me a sós
(quem é que sabe de nós?)
onde é que (in)pulsa teu dia?
(ah és tão-só (tão só...) melodia)
que tanto tornou-me (tornado) só vento
(é Brahms, Chopin ou olhares?)
teus olhos (in)versos sustento
onde é que hão teus passares?
(pesares...)
(próximo e tanto que afasta)
e tanto sem forma e sem nome...
(que fome...)


já basta. 

06 janeiro 2012

Gosto de Não Ser Entendido

gosto de não ser entendido
é bom não ser o que se é
(é o que mais me faz sentido)
que a poesia é para se ser
(independente de acessível ou grega)
e isso chega

além do mais
(poesia é só sinais)
por que querer que eu seja
o que sou aqui?
sou no verso que deixo
mas não sou o que deixo do verso
e meu vou muito mais disperso
e falo do que não é meu eu
porque somente sou
e bem mais o que se perdeu
mas o verso fica
e eu não irei junto com ele
portanto não me confundam
com o que eu disse
e vice-versa e versa-vice

as palavras que fatalmente digo
nem sei se estão comigo
elas vieram e eu as disse
como o mafioso que atira
porque tem que atirar
(é sua função
como quem vive aspira (a)o ar)

porém
cada palavra é calculadamente meditada
(me ditada)
que tudo (tudo) é cálculo
por mim mesmo feito
ou de algum jeito
(talvez de outrem
ou talvez imperfeito)
captado
e este mesmo poema é um plano
não me executado

(talvez meu talvez não
talvez um nada
talvez prenúncio
de um furacão)

não é meu eu que se é
o que sou não sou o que sei
o que me conduz...

talvez eu seja
meu poema
daqui a um ano-
luz...
ó luz

05 janeiro 2012

Meu agradecimento às pessoas inteligentes que divulgaram e apoiaram o texto sobre a mediocridade descarada de Michel Teló

Quando postei o texto abaixo, sabia que teria manifestações a favor e contra meu posicionamento. Todos são livres para se manifestar, tanto que publiquei TODOS os comentários recebidos, inclusive anônimos. Meu blog é democrático, ao contrário do que sugerem alguns, por e-mail inclusive, de que tenho vocação para ditador ou nazista. Apenas não publico comentários com textos grosseiros e/ou com ofensas pessoais a quem quer que seja.

Reafirmo que não retiro uma palavra do que disse, pelo contrário, estou cada vez mais convicto de que a mediocridade de Michel Teló e de outros tão pobres artisticamente quanto ele, ou até mais, deve ser duramente combatida por aqueles que reconhecem a verdadeira arte e lutam penosamente para, com ela, levar alguma coisa de valor ao ser humano.

Agradeço a todas as pessoas que me apoiaram aqui e em outros sítios da internet, como no Facebook e no Twitter. E agradeço especialmente ao Milton Ribeiro e ao jornal Sul21, que divulgou o texto  aqui. Agradeço também ao amigo Ruy Gessinger pelo auxílio na divulgação, bem como ao amigo Rogowsky e ao novo amigo Ivanhoé Eggler Ferreira, que repercutiu meu blog em São Paulo, aqui

Obrigado. 

04 janeiro 2012

A Mediocridade de Michel Teló e a Vergonha Nacional

Amigos leitores, peço que acompanhem os textos abaixo:

"Nossa, nossa

Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia

Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego"


Como todos sabem, essa é a letra de uma "música" cantada por Michel Teló. Como todos também sabem, ele não é o único a cantar esse tipo de coisa. Os leitores conhecem a letra abaixo?
"Porque a sonzeira é bala
A mulherada é mara
Em cima da Saveiro
Mulherada rebola, bebe, dança se descontrola
Bebe, beijo ficar com desejo
Quer mais cerveja vai até embaixo
Já mostra o pedaço da sua calcinha
Vem uma cerveja e elas tão louca
E Nós bem mais louco com água na boca"
Essa é outra "música", cantada por Roberto Sales, muito conhecido da nossa querida juventude. Agora, leiam o trecho do poema abaixo:


Noite, que és a Beatriz que inspira e que conduz,
a ti suba o perfume, alucinante e forte,
da flor que, às minhas mãos, esplêndida, reluz!

É tua a febre ardente em que me torturei!
Tu me cinges de sombra e a sombra é quase a morte!
Noite divina e triste, a ti tudo o que amei!

São os dois tercetos do soneto "Final", do poeta gaúcho, do início do século XX, Eduardo Guimaraens. Alguém conhece Eduardo Guimaraens? Por que não conhecem? Por que a nossa mídia não divulga? Por que não divulga? Desnecessário mencionar sobre a abissal diferença de qualidade entre o poema e as letras imbecis acima. Também não vou exigir que a letra de uma música popular se aproxime de um poema clássico. Mas peguemos as letras do Roberto Carlos, do Engenheiros do Hawaí e comparemos com as do Michel Teló e do Roberto Sales e companhia ilimitada... Nem vou falar nada...

O que vou dizer é que depois do episódio lamentável (para nós, brasileiros, e para os israelenses) da dancinha ridícula dos soldados israelenses, há pessoas afirmando, pelas redes sociais, que devemos nos orgulhar de Michel Teló pois ele representa o Brasil lá fora. Meu Deus, orgulhar-se de uma porcaria dessa tipo? A que ponto chegamos?  Mas numa coisa devo concordar: Michel Teló representa mesmo o Brasil lá fora. Representa o que não presta por aqui, o que há de pior, de mais baixo, vulgar, de mais imundo. Representa o lixo cultural que é feito em nossas terras. A ignorância do povo brasileiro, a mediocridade musical que varre o Brasil de norte a sul, a falta de vergonha na cara, a degeneração psíquica de nossa juventude, a decadência mental e espiritual, representa perfeitamente a nossa VERGONHA mais lancinante. 

O que representa o que há de VALOR no Brasil, a nossa mídia não divulga, e o povo nem quer saber. Quem é quem fala em Villa-Lobos, que foi considerado um verdadeiro gênio musical do século XX pelos europeus? Quem é que conhece sua obra? E mesmo fora da música clássica, o que representa o Brasil é Tom Jobim, é Pixinguinha, é Nelson Gonçalves, o antigo samba de raiz, o próprio Roberto Carlos, várias bandas de Rock que têm qualidade, como o próprio Engenheiros, Legião Urbana etc. Agora, essa merda do Michel Teló? Devo me orgulhar disso? Ou quem sabe do Funk? Ou de um sentimentalóide barato como o Luan Santana? Ou dessas duplas sertanejas que só querem ganhar dinheiro e constituem uma ofensa ao verdadeiro sertanejo? Ou dessas bandinhas ridículas de pagode que surgem num dia e desaparecem no outro? Orgulhar-me disso? Eu sinto profunda vergonha e desprezo por toda essa degradação. 

É claro que não é só no Brasil que se produz lixo cultural, mas desgraçadamente  a nossa imagem lá fora está intimamente ligada a esse lixo produzido aqui. O Brasil é sinônimo de putaria. Michel Teló é música para putas e bagaceiras. Essa é a verdade, digam o que quiserem. Alguém vai me chamar de preconceituoso. Não estou nem ligando. Depois querem que sejamos patriotas... Assim, dessa forma? Entronizando tamanha miséria cultural? De que adianta ser a 6ª economia do mundo?  O Uruguai não está nem perto do Brasil no quesito economia, mas  culturalmente, e até socialmente, em termos gerais de seu povo,  dá um banho nos brasileiros, assim como a Argentina. 

Mas, felizmente, esse lixo do Michel Teló, dentro de um ou dois anos terá se afundado em sua mediocridade, depois de ganhar o dinheiro dos trouxas, e ninguém se lembrará mais dele. Já brasileiros de real valor, como Villa-Lobos, Tom Jobim etc, jamais desaparecerão,  estarão sempre sendo cultuados por aqueles que ainda mantém algo vivo em seu interior.