imagem que vejo o que tu não foste
em teu não-ser é que estou:
a felicidade é o que imagino
no que não posso ver em ti
sou-me no reflexo de mim
que reflexiono em tua ausência:
tu só podes ser
se te sinto na minha consciência
imagem que vejo o que te projeto
o meu sonho é o real que tu não és
eu que sinto o teu além-sentir
e tu vives por sentires em mim
e tu sonhas quando vivo em ti
sou rio quando povoo a tua ausência
tu só podes ser
se eu te sou a tua essência
imagem que vejo o que desejo
há outro mundo em ti que não habitas:
sou eu que astro o teu éter
eu que violino o teu canto
uma lágrima ao que em ti silência
imagem do meu alto
a minha alma
compensa a tua ausência
29 dezembro 2017
27 dezembro 2017
Frio
fazia geada fora
e dentro de mim...
isso foi há séculos
agora sou frio.
mas há séculos
passei pela floresta
e na floresta havia um rio
e no rio uma cachoeira
e ao lado uma grande pedra
e sobre a pedra caía ao eterno
um tênue fio de água
do lado esquerdo do rio...
isso foi há séculos
agora sou frio.
há dias
fui ver a grande pedra
não passava de um pequeno cascalho
o tênue fio de água
ao cair por séculos e séculos
a consumiu...
isso foi há dias
agora sou frio.
mas quem ali passou
durante esses séculos
não percebeu que a pedra
aos poucos agonizava
sob a água sem nenhum compromisso...
o Fim é isso.
e dentro de mim...
isso foi há séculos
agora sou frio.
mas há séculos
passei pela floresta
e na floresta havia um rio
e no rio uma cachoeira
e ao lado uma grande pedra
e sobre a pedra caía ao eterno
um tênue fio de água
do lado esquerdo do rio...
isso foi há séculos
agora sou frio.
há dias
fui ver a grande pedra
não passava de um pequeno cascalho
o tênue fio de água
ao cair por séculos e séculos
a consumiu...
isso foi há dias
agora sou frio.
mas quem ali passou
durante esses séculos
não percebeu que a pedra
aos poucos agonizava
sob a água sem nenhum compromisso...
o Fim é isso.
24 dezembro 2017
Mensagem de Natal 2017
as pessoas querem de mensagem de natal
qualquer texto banal que fale de amor felicidade esperança
um amontoado pré-determinado mecânico automático robótico de palavras positivas
votos vazios vazados de (in)verdades vagas
algo que fale em paz perdão jesus
a ser esquecido antes de ser lido
pretensas espiritualidades a serem estouradas com champanhes foguetes e peidos pós-ceia...
hoje quando acordei um sabiá cantava na janela
e eu prestei atenção no seu canto:
essa foi a minha mensagem de natal
e não poderia haver melhor
qualquer texto banal que fale de amor felicidade esperança
um amontoado pré-determinado mecânico automático robótico de palavras positivas
votos vazios vazados de (in)verdades vagas
algo que fale em paz perdão jesus
a ser esquecido antes de ser lido
pretensas espiritualidades a serem estouradas com champanhes foguetes e peidos pós-ceia...
hoje quando acordei um sabiá cantava na janela
e eu prestei atenção no seu canto:
essa foi a minha mensagem de natal
e não poderia haver melhor
21 dezembro 2017
Eu vi que havia Sangue
tateei na treva do vinho
o Prenúncio
e vi que havia Sangue em minha Espera
colerizavam nos meus olhos
horizontes de hemoglobinas
e lia em Goethe e em Blake
os sintomas rubros de uma fera
a culpa fulva
(eu disse fulva)
lacrimejou nos cortes do meu fígado
e vi que havia Sangue em minha Esfera
um sabiá golfejou tuberculoses
entre cantos dos cortes do meu Fígaro
sendo réquiens de Mozart pelas eras
degolei os vendavais
no auge da menstruação
e vi que havia Sangue em minha Ópera
semeei suas trompas pela terra
com a enxada das estrofes
furiando aquele incêndio com uma vela
pesadelei que sapos e cavalos
urinavam líquidos escarlates
e vi que havia Sangue em minha Véspera
pelas águas amarelas
ceifei das tulipas a mais bela
entre pulsos pulsares e vinagres
entre tragos sentidos e planetas
entre cosmos à espera
e abutres foiceando pelos ares
eu vi que havia Sangue em minha Estrela
o Prenúncio
e vi que havia Sangue em minha Espera
colerizavam nos meus olhos
horizontes de hemoglobinas
e lia em Goethe e em Blake
os sintomas rubros de uma fera
a culpa fulva
(eu disse fulva)
lacrimejou nos cortes do meu fígado
e vi que havia Sangue em minha Esfera
um sabiá golfejou tuberculoses
entre cantos dos cortes do meu Fígaro
sendo réquiens de Mozart pelas eras
degolei os vendavais
no auge da menstruação
e vi que havia Sangue em minha Ópera
semeei suas trompas pela terra
com a enxada das estrofes
furiando aquele incêndio com uma vela
pesadelei que sapos e cavalos
urinavam líquidos escarlates
e vi que havia Sangue em minha Véspera
pelas águas amarelas
ceifei das tulipas a mais bela
entre pulsos pulsares e vinagres
entre tragos sentidos e planetas
entre cosmos à espera
e abutres foiceando pelos ares
eu vi que havia Sangue em minha Estrela
19 dezembro 2017
O Problema do Brasil*
o problema é que se acostumaram
a andar com a espinha vergada
sob o corte do chicote
sob o laço da vergasta
(a mando de vara)
que erguer a cara
virou desaforo
a toda uma cultura da opressão
o problema é que se acostumaram
a sempre dizer sim
a quem manda com bafos de patrão
sob pena
de falta de decoro
de falta de respeito
e de insubordinação
o problema é que se acostumaram
a ter olhares baixos
aniquilados pelo chão
pescoços tortos
colunas curvadas
toda uma vida de submissão
sobre os arrebentados ombros
todo o peso das gordas manadas
toda a baba das infindas mamadas
toda uma história de servidão
sobre os arruinados escombros
de restos de (des)humanos
todo um povo brasileiro
encilhado à obediência
ao servilismo
ao cativeiro
500 anos de escravidão!
*Poema publicado originalmente em 14 de dezembro de 2016.
a andar com a espinha vergada
sob o corte do chicote
sob o laço da vergasta
(a mando de vara)
que erguer a cara
virou desaforo
a toda uma cultura da opressão
o problema é que se acostumaram
a sempre dizer sim
a quem manda com bafos de patrão
sob pena
de falta de decoro
de falta de respeito
e de insubordinação
o problema é que se acostumaram
a ter olhares baixos
aniquilados pelo chão
pescoços tortos
colunas curvadas
toda uma vida de submissão
sobre os arrebentados ombros
todo o peso das gordas manadas
toda a baba das infindas mamadas
toda uma história de servidão
sobre os arruinados escombros
de restos de (des)humanos
todo um povo brasileiro
encilhado à obediência
ao servilismo
ao cativeiro
500 anos de escravidão!
*Poema publicado originalmente em 14 de dezembro de 2016.
17 dezembro 2017
Capitalismo, Egocentrismo, Machismo
1- CAPITALISMO CIVILIZADO:
capitalismo selvagem é uma definição equivocada.
ele não tem nada de selvagem.
os animais não acumulam coisas para si ad infinitum.
capitalismo é o espelho da civilização.
é a cara do ser humano.
é nosso egoísmo nossa perversidade nossa decadência
escrachados.
o capitalismo é civilizado.
2- EGOCENTRISMO HUMANITÁRIO:
diz-se que o planeta
tem cerca de 7 bilhões de habitantes.
7 bilhões de humanos.
e os animais habitam outro planeta?
3- MACHISMO INSTITUCIONALIZADO:
quando se diz
em termos históricos:
o homem conquistou isso
o homem descobriu aquilo
o homem inventou tal coisa
é como se a mulher não tivesse feito nada.
capitalismo selvagem é uma definição equivocada.
ele não tem nada de selvagem.
os animais não acumulam coisas para si ad infinitum.
capitalismo é o espelho da civilização.
é a cara do ser humano.
é nosso egoísmo nossa perversidade nossa decadência
escrachados.
o capitalismo é civilizado.
2- EGOCENTRISMO HUMANITÁRIO:
diz-se que o planeta
tem cerca de 7 bilhões de habitantes.
7 bilhões de humanos.
e os animais habitam outro planeta?
3- MACHISMO INSTITUCIONALIZADO:
quando se diz
em termos históricos:
o homem conquistou isso
o homem descobriu aquilo
o homem inventou tal coisa
é como se a mulher não tivesse feito nada.
14 dezembro 2017
Para Sophie
todos os computadores notebooks celulares
todos os aviões foguetes helicópteros
todos as naves satélites estações
todos os porsches ferraris bmws
todos os microscópios autômatos robôs
e todas as quinquilharias tecnológicas
com que esta civilização vazia
possa ainda atulhar o mundo
tudo isso
não passa de absolutamente nada
e jamais alcançará a trilionésima parte
da vida que pulsa no olhar da minha gata
todos os aviões foguetes helicópteros
todos as naves satélites estações
todos os porsches ferraris bmws
todos os microscópios autômatos robôs
e todas as quinquilharias tecnológicas
com que esta civilização vazia
possa ainda atulhar o mundo
tudo isso
não passa de absolutamente nada
e jamais alcançará a trilionésima parte
da vida que pulsa no olhar da minha gata
11 dezembro 2017
Destino
a minha parte do que é
é a que estará depois do que já não estiver:
tenho a última máxima extrema
como o canto de um cavalo
que se levantasse ensanguentado
nos horizontes de outro planeta
o meu objetivo será alcançado
quando se tiver tornado vento
e se transtornado em tornado de pó
e nas (re)voltas e retornos do tempo
entre os pedaços do meu pleno fracasso...
do ser: um raio romperá
o limiar da consciência
do cosmos: uma garra
rasgará o destino do espaço
é a que estará depois do que já não estiver:
tenho a última máxima extrema
como o canto de um cavalo
que se levantasse ensanguentado
nos horizontes de outro planeta
o meu objetivo será alcançado
quando se tiver tornado vento
e se transtornado em tornado de pó
e nas (re)voltas e retornos do tempo
entre os pedaços do meu pleno fracasso...
do ser: um raio romperá
o limiar da consciência
do cosmos: uma garra
rasgará o destino do espaço
09 dezembro 2017
Eu Confesso
confesso que não presto
que não estou no que me esperam
que não sou pelo que é certo:
não sou homem de bem
sou homem de mal
confesso que não faço
confesso que nem tento
essa coisa de progresso
de construir carreira sólida
de me assegurar para a velhice
de me ser reconhecido
e coisas e tal
confesso minha angústia
admito que ainda sinto
que não tornei-me “descolado”
que não fingi felicidade
ou mentiras de alto-astral
mas confesso que me finjo
que me bebo escracho e minto
a suportar o insuportável
da convivência entre gentes
e a necessidade social
e confesso que escrevo:
escrever é isso
e ponto final
que não estou no que me esperam
que não sou pelo que é certo:
não sou homem de bem
sou homem de mal
confesso que não faço
confesso que nem tento
essa coisa de progresso
de construir carreira sólida
de me assegurar para a velhice
de me ser reconhecido
e coisas e tal
confesso minha angústia
admito que ainda sinto
que não tornei-me “descolado”
que não fingi felicidade
ou mentiras de alto-astral
mas confesso que me finjo
que me bebo escracho e minto
a suportar o insuportável
da convivência entre gentes
e a necessidade social
e confesso que escrevo:
escrever é isso
e ponto final
06 dezembro 2017
Dignidade
começa a ser um grande homem
quem não reconhece como grande
os que se acham grandes
só os fortes
não ficam do lado dos mais fortes:
a força está
em não se dobrar à força
há poder
em quem não se curva ao poder
de modo
que não convém a um poeta
estar do lado dos ricos
quem não reconhece como grande
os que se acham grandes
só os fortes
não ficam do lado dos mais fortes:
a força está
em não se dobrar à força
há poder
em quem não se curva ao poder
de modo
que não convém a um poeta
estar do lado dos ricos
04 dezembro 2017
Aos Otimistas
I - os otimistas
dizem que a vida
assim como é vista
nem é tão pouca
e que a humanidade
apesar do que há-de
não é tão louca
para sair dos seus trilhos
mas é a isso que me refiro:
o meu pessimismo está no fato
de que acham que essa vida é tanto
que me encho de espanto
e que a humanidade
não sairá desses trilhos
que a levam ao abismo
II - o meu pessimismo
não é um desejo de Fim:
é um desejo de Novo
algo semelhante-análogo
ao que o planeta viu
lá nos tempos áureos
após o fim dos dinossauros
dizem que a vida
assim como é vista
nem é tão pouca
e que a humanidade
apesar do que há-de
não é tão louca
para sair dos seus trilhos
mas é a isso que me refiro:
o meu pessimismo está no fato
de que acham que essa vida é tanto
que me encho de espanto
e que a humanidade
não sairá desses trilhos
que a levam ao abismo
II - o meu pessimismo
não é um desejo de Fim:
é um desejo de Novo
algo semelhante-análogo
ao que o planeta viu
lá nos tempos áureos
após o fim dos dinossauros
02 dezembro 2017
Sobre o Sangue
construí meu verso sobre o sangue
era tudo que me restava
derramado duro pela terra aberta
coagulado seco pelo pó da enxada
que deserticamente escorre
construí meu verso sobre o sangue
era uma força que me obrigava
de água morta derramada escura
sangue visco-negro pela areia
que poluidamente escorre
construí meu verso sobre o sangue
era um destino que me amaldiçoava
de seiva-lágrima em derramada queda
verde sangue de imensidão tombada
que devastadamente escorre
construí meu verso sobre o sangue
era todo um cosmos que me massacrava
do guará atropelado ao horizonte
sangue vivo-lago derramado das estradas
que extintamente escorre
construí meu verso sobre o sangue
era o meu sangue o que continuava...
era tudo que me restava
derramado duro pela terra aberta
coagulado seco pelo pó da enxada
que deserticamente escorre
construí meu verso sobre o sangue
era uma força que me obrigava
de água morta derramada escura
sangue visco-negro pela areia
que poluidamente escorre
construí meu verso sobre o sangue
era um destino que me amaldiçoava
de seiva-lágrima em derramada queda
verde sangue de imensidão tombada
que devastadamente escorre
construí meu verso sobre o sangue
era todo um cosmos que me massacrava
do guará atropelado ao horizonte
sangue vivo-lago derramado das estradas
que extintamente escorre
construí meu verso sobre o sangue
era o meu sangue o que continuava...
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