27 junho 2008
As Almas do Fantástico na História do RS
O conto abaixo é o 2º de uma série de 7 contos que estou compondo sobre acontecimentos fantásticos na história do RS. O 1º conto, O Horror no Campo, fui publicado na edição 30 do zine Poemas do Término e Contos do Fim, que está em circulação. Os contos são fundamentados em fatos reais de nossa história, no entanto, apresentam um desenvolvimento fictício. As histórias, apesar de relacionadas, são independentes entre si.
Os Urubus Demoníacos - História 2ª
No princípio da terceira década do século XIX, o tropeiro espanhol Esteban Velasquez cruzava os ermos pampas do extremo sul do Brasil à procura de um local agradável para seu repouso, após dias de extenuantes peregrinações solitárias, ou quase solitárias, se considerarmos a fiel companhia de seu cavalo.
Esteban encontrou então numa região absolutamente deserta de seres humanos, semi-oculto por duas imensas coxilhas, um pequeno e aprazível lago cercado por um frondoso capão de mata, um local realmente convidativo ao descanso. O tropeiro acercou-se do lago, desceu do cavalo e sentou-se distraidamente sobre a relva verdejante e macia à beira das águas límpidas e tranqüilas. Ali, ele podia observar, do outro lado do lago, as árvores imensas da pequena mata, onde dezenas de pássaros emitiam um alegre canto naquele princípio morno da tarde ensolarada.
As margens do lago não eram, como em outros casos, cercadas por arbustos e plantas que dificultavam a aproximação até as águas, pelo contrário, tão-somente havia um vasto gramado que se estendia até elas. Tanto que de uma das duas grandes bolsas que Esteban carregava sobre o cavalo, ele retirou um copo e o encheu com a água cristalina do lago e saciou sua sede. Após, dirigiu-se à outra margem, chegando à beira da mata, e ali, sob a sombra aconchegante das árvores, decidiu fazer seu almoço de charque com pão.
Tranquilamente o tropeiro comia e aproximou-se das águas para colher mais um copo d’água. E foi nesse instante que sua tranqüilidade alçou vôo para nunca mais voltar... Ao retirar o copo do lago, o que Esteban viu não foi aquela mesma água pura e transparente, mas um líquido avermelhado de coloração verdadeiramente sanguinolenta. Alarmado, o espanhol jogou fora a água vermelha e observou atentamente o interior do lago no intuito de encontrar algum cadáver, fosse de homem ou animal, de onde pudesse se originar o sangue que contaminava o lago. Porém, o que Esteban divisou foi algo que ultrapassava as barreiras do absurdo. As águas antes límpidas e translúcidas eram agora invadidas por um fluxo inesgotável de um líquido que possuía a cor e o cheiro de sangue.
O tropeiro percebeu que o sangue, se é que realmente o era, provinha do centro do lago e rapidamente contaminava toda a sua extensão, não restando sequer uma gota de água pura. Para ser mais exato, o misterioso sangue, cuja fonte era impensavelmente desconhecida e insondável, não apenas contaminou as águas, parecia mais ter tomado conta totalmente delas, era como se tivessem se transformado em líquido sanguíneo. Esteban, atônito e assustado, não conseguia formular nenhuma explicação para o que ocorria e, quando ainda observava o fluxo viscoso de sangue do interior do lago e sentia o seu cheiro nauseante, percebeu que o dia, antes ensolarado, rápida e ameaçadoramente principiou a escurecer-se. Com um vento quente e enfermiço, invadiram os céus da região pesadas nuvens de um lúgubre tom avermelhado. Em questão de minutos, todo o céu foi encoberto por densos e estranhos nimbos carregados por uma sinistra coloração escarlate e sangrenta.
Trovões cavernosos e relâmpagos obscuramente rubros expandiram-se pelos céus de sangue, e tudo indicava que em breve desabaria uma chuva torrencial. Nesse instante, o numeroso bando de pássaros abrigados na mata, que se calara no momento em que as águas do lago principiaram a tornar-se vermelhas, iniciaram a emitir não mais o canto alegre e harmonioso quando da chegada do tropeiro, mas um lamento lúgubre, arrepiante, um cântico de morte que assombrava e deprimia, algo completamente diverso e inadequado para o canto de uma ave.
Porém, esse canto fúnebre prolongava-se e aumentava de intensidade de forma progressiva, enquanto um desespero nervoso massacrava o espanhol, que já não podia acreditar que tais absurdos não passassem de perturbadas alucinações, tamanha era a impressão de realidade deixada por aqueles horrores.
Enquanto os hediondos lamentos das aves prosseguiam, e o lago já transbordava de sangue, as primeiras gotas de chuva caíram grossas e pesadas sobre o campo, sobre a mata e sobre Esteban. Contudo, não eram gotas de água, eram gotas de sangue. Sangue que escorreu pela face do tropeiro, e ele percebeu que era um sangue morno e pôde sentir seu gosto de ferro adocicado, enquanto a chuva sangrenta se derramava em sua boca. E aquele sangue, ao cair sobre o campo, queimava a grama e, ao cair sobre a mata, murchava as folhas das árvores. Ainda assim, os pássaros mantinham seu canto de desespero e profundo mau-agouro.
Porém, outras aves foram atraídas pelo cheiro nauseabundo do sangue... Um gigantesco bando de urubus assomou como uma mancha negra nos horizontes enfebricidos e numa velocidade diabólica atingiu a mata grunhindo e chilreando em um alarido insano e demoníaco. As aves pousaram próximo a Esteban, encharcadas de sangue e adejando triunfantes suas asas enormes na chuva infernal.
Aquele inexplicável espetáculo dantesco parecia não ter fim: a chuva continuava implacável caindo das sobrecarregadas nuvens vermelhas e emurchecendo a vegetação; o lago prosseguia transbordando seu sangue espesso, enquanto nos céus os odiosos trovões e relâmpagos atordoavam sem misericórdia a alma estarrecida de Esteban. Porém, o que mais aniquilava o espírito do tropeiro era a tortura ominosa do canto maligno dos pássaros, que agora parecia ser guiado pela não menos aniquilante gritaria satânica e debochada dos urubus. Foi só então que Esteban percebeu que seu cavalo não estava mais por ali, certamente fugira de tantos horrores.
O espanhol fitava os horizontes assustadoramente rubros e não distinguia nenhum sinal da tempestade de sangue acalmar-se. Não sabia o que fazer ou para onde ir. Decidiu entrar no capão de mata para abrigar-se ao menos parcialmente. Desvairado, rapidamente penetrou na mata, sempre atormentado pela histeria absurda dos urubus. Avançou aos tropeções, até que estacou perplexo ao encontrar enrodilhada à sua frente uma imensa serpente de um vermelho angustiantemente vivo e sanguinolento.
Sem que Esteban pudesse evitar, a serpente cravou as presas na sua perna, perfurando suas calças e inoculando um veneno provavelmente fatal. O tropeiro caiu e sentiu-se desfalecer, sabendo que a morte já o fitava, enquanto o ferimento da picada vertia sangue em infrene profusão. Minutos depois, Esteban jazia inconsciente no meio da mata, que mais parecia um banhado de sangue.
No entanto, passados alguns minutos, o tropeiro acordou. Não, não estava morto. Ele observou o local onde se encontrava, e não havia nenhum vestígio de sangue. Olhou para o ferimento de sua perna, mas não havia ferimento, não havia picada. Também não havia nenhuma serpente. O dia estava ensolarado como no princípio, nenhum sinal de chuva de sangue, nenhuma nuvem maculava o céu azul. Esteban, já à beira da insânia, saiu da mata e dirigiu-se ao lago. Encontrou suas águas puras e cristalinas como quando as viu pela primeira vez. Os pássaros ali permaneciam, porém entoavam seus cantos felizes e harmoniosos em honra a luz do sol. E Esteban não avistou nenhum urubu demoníaco por ali. Mas avistou seu cavalo no mesmo lugar em que o deixara.
Absolutamente confuso e caótico, porém acreditando agora que tudo não passou de uma funesta alucinação, ainda perturbado, Esteban montou em seu cavalo e partiu daquela região bela, mas de uma beleza maldita...
Não se sabe o que realmente ocorreu naquele local do pampa gaúcho, e o tropeiro Esteban Velasquez, buscando o esquecimento, como se isso fosse possível para sua alma profundamente traumatizada, jamais procurou saber. No entanto, o que se sabe é que cinco anos após o terrível acontecimento, teve início no RS a Revolução Farroupilha, responsável por um dos maiores derramamentos de sangue da história brasileira.
E o que também não se sabe é que no ano de 1890, o peão de fazenda Luiz Juvenal Soares relatou a amigos e familiares um canhestro caso assombrosamente semelhante ao ocorrido com o espanhol Esteban. Segundo as palavras do próprio Luiz Soares, o que ele viu consistia em “sangue, eu só via sangue pra tudo quanto é lado, e um bando de corvo pingando sangue que gritavam como uns diabo, parecia até que davam umas risada.” Naturalmente, ninguém deu atenção aos desvarios absurdos do rústico e simplório peão, até porque ele já estava apresentando alguns sinais de perturbação mental e dizia que sonhava com urubus enormes com espantosa freqüência. E ninguém relacionou as visões de Luiz Soares com o fato de, três anos mais tarde, em 1893, os vastos campos rio-grandenses terem sido palco de mais um brutal festim sangrento com a Revolução Federalista.
Conta-se ainda que poucos anos antes da Revolução de 1930, um colono italiano teria tido “visões inenarráveis de derramamentos sangrentos em uma região selvagem do interior gaúcho, o que o levou, horas depois de relatar o fato a sua esposa, a cometer suicídio”, segundo noticiado no rodapé de um jornal da época. Deixara uma breve carta de despedida, onde se lia o seguinte trecho: “não agüento mais sentir as asas desses corvos batendo na minha cabeça e essas risadas de demônios...”
Porém, o que não se sabe é que em novembro de 2007, alguém, que é melhor não identificar, relatou-me algo com ele ocorrido inquietantemente similar ao antigo caso de Esteban Velasquez. Porém, com uma sinistra variação: em lugar de sangue, o que esse alguém vislumbrou foi um repulsivo líquido negro, e o número de urubus demoníacos era maior, absurdamente maior, e seus deboches malignos e estridentes eram piores, bem, bem piores...
Esteban encontrou então numa região absolutamente deserta de seres humanos, semi-oculto por duas imensas coxilhas, um pequeno e aprazível lago cercado por um frondoso capão de mata, um local realmente convidativo ao descanso. O tropeiro acercou-se do lago, desceu do cavalo e sentou-se distraidamente sobre a relva verdejante e macia à beira das águas límpidas e tranqüilas. Ali, ele podia observar, do outro lado do lago, as árvores imensas da pequena mata, onde dezenas de pássaros emitiam um alegre canto naquele princípio morno da tarde ensolarada.
As margens do lago não eram, como em outros casos, cercadas por arbustos e plantas que dificultavam a aproximação até as águas, pelo contrário, tão-somente havia um vasto gramado que se estendia até elas. Tanto que de uma das duas grandes bolsas que Esteban carregava sobre o cavalo, ele retirou um copo e o encheu com a água cristalina do lago e saciou sua sede. Após, dirigiu-se à outra margem, chegando à beira da mata, e ali, sob a sombra aconchegante das árvores, decidiu fazer seu almoço de charque com pão.
Tranquilamente o tropeiro comia e aproximou-se das águas para colher mais um copo d’água. E foi nesse instante que sua tranqüilidade alçou vôo para nunca mais voltar... Ao retirar o copo do lago, o que Esteban viu não foi aquela mesma água pura e transparente, mas um líquido avermelhado de coloração verdadeiramente sanguinolenta. Alarmado, o espanhol jogou fora a água vermelha e observou atentamente o interior do lago no intuito de encontrar algum cadáver, fosse de homem ou animal, de onde pudesse se originar o sangue que contaminava o lago. Porém, o que Esteban divisou foi algo que ultrapassava as barreiras do absurdo. As águas antes límpidas e translúcidas eram agora invadidas por um fluxo inesgotável de um líquido que possuía a cor e o cheiro de sangue.
O tropeiro percebeu que o sangue, se é que realmente o era, provinha do centro do lago e rapidamente contaminava toda a sua extensão, não restando sequer uma gota de água pura. Para ser mais exato, o misterioso sangue, cuja fonte era impensavelmente desconhecida e insondável, não apenas contaminou as águas, parecia mais ter tomado conta totalmente delas, era como se tivessem se transformado em líquido sanguíneo. Esteban, atônito e assustado, não conseguia formular nenhuma explicação para o que ocorria e, quando ainda observava o fluxo viscoso de sangue do interior do lago e sentia o seu cheiro nauseante, percebeu que o dia, antes ensolarado, rápida e ameaçadoramente principiou a escurecer-se. Com um vento quente e enfermiço, invadiram os céus da região pesadas nuvens de um lúgubre tom avermelhado. Em questão de minutos, todo o céu foi encoberto por densos e estranhos nimbos carregados por uma sinistra coloração escarlate e sangrenta.
Trovões cavernosos e relâmpagos obscuramente rubros expandiram-se pelos céus de sangue, e tudo indicava que em breve desabaria uma chuva torrencial. Nesse instante, o numeroso bando de pássaros abrigados na mata, que se calara no momento em que as águas do lago principiaram a tornar-se vermelhas, iniciaram a emitir não mais o canto alegre e harmonioso quando da chegada do tropeiro, mas um lamento lúgubre, arrepiante, um cântico de morte que assombrava e deprimia, algo completamente diverso e inadequado para o canto de uma ave.
Porém, esse canto fúnebre prolongava-se e aumentava de intensidade de forma progressiva, enquanto um desespero nervoso massacrava o espanhol, que já não podia acreditar que tais absurdos não passassem de perturbadas alucinações, tamanha era a impressão de realidade deixada por aqueles horrores.
Enquanto os hediondos lamentos das aves prosseguiam, e o lago já transbordava de sangue, as primeiras gotas de chuva caíram grossas e pesadas sobre o campo, sobre a mata e sobre Esteban. Contudo, não eram gotas de água, eram gotas de sangue. Sangue que escorreu pela face do tropeiro, e ele percebeu que era um sangue morno e pôde sentir seu gosto de ferro adocicado, enquanto a chuva sangrenta se derramava em sua boca. E aquele sangue, ao cair sobre o campo, queimava a grama e, ao cair sobre a mata, murchava as folhas das árvores. Ainda assim, os pássaros mantinham seu canto de desespero e profundo mau-agouro.
Porém, outras aves foram atraídas pelo cheiro nauseabundo do sangue... Um gigantesco bando de urubus assomou como uma mancha negra nos horizontes enfebricidos e numa velocidade diabólica atingiu a mata grunhindo e chilreando em um alarido insano e demoníaco. As aves pousaram próximo a Esteban, encharcadas de sangue e adejando triunfantes suas asas enormes na chuva infernal.
Aquele inexplicável espetáculo dantesco parecia não ter fim: a chuva continuava implacável caindo das sobrecarregadas nuvens vermelhas e emurchecendo a vegetação; o lago prosseguia transbordando seu sangue espesso, enquanto nos céus os odiosos trovões e relâmpagos atordoavam sem misericórdia a alma estarrecida de Esteban. Porém, o que mais aniquilava o espírito do tropeiro era a tortura ominosa do canto maligno dos pássaros, que agora parecia ser guiado pela não menos aniquilante gritaria satânica e debochada dos urubus. Foi só então que Esteban percebeu que seu cavalo não estava mais por ali, certamente fugira de tantos horrores.
O espanhol fitava os horizontes assustadoramente rubros e não distinguia nenhum sinal da tempestade de sangue acalmar-se. Não sabia o que fazer ou para onde ir. Decidiu entrar no capão de mata para abrigar-se ao menos parcialmente. Desvairado, rapidamente penetrou na mata, sempre atormentado pela histeria absurda dos urubus. Avançou aos tropeções, até que estacou perplexo ao encontrar enrodilhada à sua frente uma imensa serpente de um vermelho angustiantemente vivo e sanguinolento.
Sem que Esteban pudesse evitar, a serpente cravou as presas na sua perna, perfurando suas calças e inoculando um veneno provavelmente fatal. O tropeiro caiu e sentiu-se desfalecer, sabendo que a morte já o fitava, enquanto o ferimento da picada vertia sangue em infrene profusão. Minutos depois, Esteban jazia inconsciente no meio da mata, que mais parecia um banhado de sangue.
No entanto, passados alguns minutos, o tropeiro acordou. Não, não estava morto. Ele observou o local onde se encontrava, e não havia nenhum vestígio de sangue. Olhou para o ferimento de sua perna, mas não havia ferimento, não havia picada. Também não havia nenhuma serpente. O dia estava ensolarado como no princípio, nenhum sinal de chuva de sangue, nenhuma nuvem maculava o céu azul. Esteban, já à beira da insânia, saiu da mata e dirigiu-se ao lago. Encontrou suas águas puras e cristalinas como quando as viu pela primeira vez. Os pássaros ali permaneciam, porém entoavam seus cantos felizes e harmoniosos em honra a luz do sol. E Esteban não avistou nenhum urubu demoníaco por ali. Mas avistou seu cavalo no mesmo lugar em que o deixara.
Absolutamente confuso e caótico, porém acreditando agora que tudo não passou de uma funesta alucinação, ainda perturbado, Esteban montou em seu cavalo e partiu daquela região bela, mas de uma beleza maldita...
Não se sabe o que realmente ocorreu naquele local do pampa gaúcho, e o tropeiro Esteban Velasquez, buscando o esquecimento, como se isso fosse possível para sua alma profundamente traumatizada, jamais procurou saber. No entanto, o que se sabe é que cinco anos após o terrível acontecimento, teve início no RS a Revolução Farroupilha, responsável por um dos maiores derramamentos de sangue da história brasileira.
E o que também não se sabe é que no ano de 1890, o peão de fazenda Luiz Juvenal Soares relatou a amigos e familiares um canhestro caso assombrosamente semelhante ao ocorrido com o espanhol Esteban. Segundo as palavras do próprio Luiz Soares, o que ele viu consistia em “sangue, eu só via sangue pra tudo quanto é lado, e um bando de corvo pingando sangue que gritavam como uns diabo, parecia até que davam umas risada.” Naturalmente, ninguém deu atenção aos desvarios absurdos do rústico e simplório peão, até porque ele já estava apresentando alguns sinais de perturbação mental e dizia que sonhava com urubus enormes com espantosa freqüência. E ninguém relacionou as visões de Luiz Soares com o fato de, três anos mais tarde, em 1893, os vastos campos rio-grandenses terem sido palco de mais um brutal festim sangrento com a Revolução Federalista.
Conta-se ainda que poucos anos antes da Revolução de 1930, um colono italiano teria tido “visões inenarráveis de derramamentos sangrentos em uma região selvagem do interior gaúcho, o que o levou, horas depois de relatar o fato a sua esposa, a cometer suicídio”, segundo noticiado no rodapé de um jornal da época. Deixara uma breve carta de despedida, onde se lia o seguinte trecho: “não agüento mais sentir as asas desses corvos batendo na minha cabeça e essas risadas de demônios...”
Porém, o que não se sabe é que em novembro de 2007, alguém, que é melhor não identificar, relatou-me algo com ele ocorrido inquietantemente similar ao antigo caso de Esteban Velasquez. Porém, com uma sinistra variação: em lugar de sangue, o que esse alguém vislumbrou foi um repulsivo líquido negro, e o número de urubus demoníacos era maior, absurdamente maior, e seus deboches malignos e estridentes eram piores, bem, bem piores...
23 junho 2008
Sentença
aquele Olho que me olha
nunca deixa de me olhar
um olho negro como um erro
um olho firme como um crime
um olho forte como a morte
como é fundo aquele olhar...
é tão fundo como o nada
é tão sério como o fado
é tão duro quanto a sina...
a que mistérios
me destina?
nunca sorri aquele olho
nunca pisca aquele olho
nunca muda aquele olho
aquele Olho
que me olha
nunca deixa de me olhar
aquele Olho
que me olha
nunca deixa de me olhar
nunca deixa
meu olhar
nunca deixa de me olhar
um olho negro como um erro
um olho firme como um crime
um olho forte como a morte
como é fundo aquele olhar...
é tão fundo como o nada
é tão sério como o fado
é tão duro quanto a sina...
a que mistérios
me destina?
nunca sorri aquele olho
nunca pisca aquele olho
nunca muda aquele olho
aquele Olho
que me olha
nunca deixa de me olhar
aquele Olho
que me olha
nunca deixa de me olhar
nunca deixa
meu olhar
12 junho 2008
Tristeza, tão-somente
Tristeza
pura e simplesmente
sim, aquela de Cruz e Sousa
velha tristeza nada original
tristeza há muito tempo triste
longa, roxa e fantasmal
tristeza de tudo
tristeza por nada
de tudo que é sublime
por nada desolada
tristeza em quintessências
que flui aos olhos dos séculos
lá dos milênios e eras
até a tristeza do agora
tristeza do Início
e que jamais vai embora
tristeza do ontem e do hoje
e que vai até o Fim
de tudo que se perde e chora
e que sai dos teus olhos
e se expressa por mim
tristeza dos grandes finais
cada vez mais perto de nós
tristeza que cresce e assombra
com sombrios adeuses na voz
tristeza-sentença
do que é e de tudo que virá
de tudo que foi e que morre
tristeza que ao futuro corre
tristeza que não basta
e nunca bastará
pura e simplesmente
sim, aquela de Cruz e Sousa
velha tristeza nada original
tristeza há muito tempo triste
longa, roxa e fantasmal
tristeza de tudo
tristeza por nada
de tudo que é sublime
por nada desolada
tristeza em quintessências
que flui aos olhos dos séculos
lá dos milênios e eras
até a tristeza do agora
tristeza do Início
e que jamais vai embora
tristeza do ontem e do hoje
e que vai até o Fim
de tudo que se perde e chora
e que sai dos teus olhos
e se expressa por mim
tristeza dos grandes finais
cada vez mais perto de nós
tristeza que cresce e assombra
com sombrios adeuses na voz
tristeza-sentença
do que é e de tudo que virá
de tudo que foi e que morre
tristeza que ao futuro corre
tristeza que não basta
e nunca bastará
05 junho 2008
Vão Vocês...
crer no possível mundo melhor
e ir pelo mundo em celestes sorrisos
e pregar que o mundo melhor é possível
em possíveis ciências celestiais...
os senhores podem ir, mas eu...
eu não agüento mais.
bater pelas portas com mãos de esperança
com faces de luz em vivas canções
e nas ruas erguer as bandeiras
à esperança-portas em que vós entrais
as senhoras podem ir, mas eu...
eu não agüento mais.
e olhar nos olhos com olhos de amor
em rostos felizes de felizes amores
levar a alegria em lindos olhares
olhares de amor a que vós alegrais...
vós todos podeis ir, mas eu...
eu não agüento mais.
ah os vossos sonhos
os sonhos vossos
já sonhei todos
os vossos sonhos
antes de serem vossos
e os sonhos meus
sonham sempre comigo...
mas usar os sonhos
pra sonhar nas ruas
em humanos ideais?
não não...
vão vocês!
que eu não agüento mais.
e ir pelo mundo em celestes sorrisos
e pregar que o mundo melhor é possível
em possíveis ciências celestiais...
os senhores podem ir, mas eu...
eu não agüento mais.
bater pelas portas com mãos de esperança
com faces de luz em vivas canções
e nas ruas erguer as bandeiras
à esperança-portas em que vós entrais
as senhoras podem ir, mas eu...
eu não agüento mais.
e olhar nos olhos com olhos de amor
em rostos felizes de felizes amores
levar a alegria em lindos olhares
olhares de amor a que vós alegrais...
vós todos podeis ir, mas eu...
eu não agüento mais.
ah os vossos sonhos
os sonhos vossos
já sonhei todos
os vossos sonhos
antes de serem vossos
e os sonhos meus
sonham sempre comigo...
mas usar os sonhos
pra sonhar nas ruas
em humanos ideais?
não não...
vão vocês!
que eu não agüento mais.
01 junho 2008
Segredo
nas asas do Fim de tudo que foge
nas vozes tormenta longa distante
nas nuvens que crescem aos gritos de corvos
em tudo que parte em fúria do vento
em tudo que voa em força desastre
em tudo que canta sentenças ao longe
meus velhos olhos que explodem em ciclones
meus olhos doenças com asas pesares
meus corvos olhos no cosmos malditos
lá onde as mortes arrancam com foices
lá onde os carmas orquestram ocultos
lá onde os deuses tempestam universos
é lá onde estou com meu luto segredo
nas vozes tormenta longa distante
nas nuvens que crescem aos gritos de corvos
em tudo que parte em fúria do vento
em tudo que voa em força desastre
em tudo que canta sentenças ao longe
meus velhos olhos que explodem em ciclones
meus olhos doenças com asas pesares
meus corvos olhos no cosmos malditos
lá onde as mortes arrancam com foices
lá onde os carmas orquestram ocultos
lá onde os deuses tempestam universos
é lá onde estou com meu luto segredo
Assinar:
Postagens (Atom)