30 dezembro 2016

Banquete de Virada

nos Anos-Novos
as pessoas falam em mudanças
mas durante os Novos-Anos
fazem o que estão certas
que devem fazer
e sempre acham
que devem fazer as mesmas coisas
e que estão certas no que fazem
e que cumprem seus deveres
e os deveres são sempre os mesmos
e cumpridos sempre da mesma forma

mudança seria
admitir que não se mudará

ninguém nunca se questiona nada
e no fim das contas
anos-novos paz vitórias felicidades
parecem um banquete da virada
mas é só o de sempre:
marmelada

28 dezembro 2016

Merdaria

mostra-me uma gota d’água
ainda não contaminada
com a merdaria humana.

merdaria
vai desde
a merda do organismo
que é o preço que se paga
de se viver o dia a dia
até a merda do progresso
a que se chama
com pompa e baba
de tecnologia

mostra-me uma gota-mar
ainda não tocada
pela quinquilharia humana.

mostra-me uma gota-lágrima
ainda não tocada
pela hipocrisia humana


26 dezembro 2016

Três Considerações sobre o Fanatismo

I - fanatismo é observar um galho
e não só achar que o galho
vale mais que a árvore
mas querer que o galho
seja toda a árvore

II - todo homem se suicida:
seja em corpo ou mente
em psique ou alma
de tal ou qual forma
em maior ou menor grau

fanatismo
é não perceber seu suicídio
como suicídio

III - fanático
é quem quer
que o seu eu
seja eu

24 dezembro 2016

Das Consequências

o tremendo
homem
ascendido de otimismo
confiante no seu taco...

após
(em seu mais poder)
ter aterrado todas as terras
se derramado em todas as águas
arrematado todas as matas
posto campas em todos os campos
amontoado em todos os montes
(a não mais poder)...

há pós

acendido de onanismo
impotente no seu saco
(a mais se foder)
abismado à beira do abismo
o homem
temendo
tremendo...

21 dezembro 2016

Governo Sartori/PMDB: Incompetente e covarde ou lacaio do poder econômico? Ou ambos?

O absurdo e revoltante governo Sartori/PMDB apresenta-se entre duas perversas alternativas:

Alternativa a: O governo Sartori é absolutamente incompetente e covarde, porque não ataca, não enfrenta os problemas do estado do RS no seu cerne, por não conseguir e/ou por não possuir a coragem necessária de mexer em setores poderosos economicamente. Só em sonegação fiscal, ou seja, roubo do imposto, do ICMS pago pelo consumidor, o estado perde mais de 7 bilhões de reais ANUAIS. No entanto as medidas contra a sonegação do Sartori praticamente inexistem. Em isenções fiscais para grandes empresas, o estado deixa de arrecadar 9 bilhões de reais. Esse dinheiro seria suficiente para cobrir o alegado déficit estadual (2,9 bi) mais de SEIS vezes. Onde estão os sacrifícios das empresas que recebem tantas isenções? Sacrifício é só para servidores? Só para o povo em geral, não para os que lucram?

Além disso, há a questão dos tradicionais e inaceitáveis privilégios de deputados e assessores, juízes, desembargadores, secretários, cargos de confiança etc. Se tanto falta dinheiro, onde estão os cortes nesses privilégios? E é claro que dentro do funcionalismo público há injustiças e disparidades. Há salários altos demais para cargos nem tão úteis assim, há irregularidades em alguns casos que devem ser verificadas e combatidas, ou inchamentos da máquina pública que devem ser enxugados e melhorados. Mas, ao invés disso, Sartori penaliza todos os servidores indistintamente, todos os serviços públicos fundamentais à população, e, pior, quem sempre acaba por sair mais prejudicado são os servidores com menores salários e, mais tarde, a população com menor poder aquisitivo.

Alternativa b: Pode ser que, simplesmente, o governo Sartori não seja incompetente, mas competentíssimo em fazer aquilo que escondeu dos gaúchos, principalmente em sua campanha, de um marketing adocicado e ilusório. Sartori sempre se propôs a trabalhar para o que representa, ele e os deputados que são a base do seu governo na AL: não passam de lacaios, de serviçais do poder econômico das grandes empresas, que foi, no fundo, o que os elegeu. Para isso, é fundamental que o governo Sartori desmantele o serviço público, deixe de investir em todos os seus setores, corte verbas vitais a seu funcionamento, desvalorize e desmoralize os servidores públicos, tudo para poder afirmar depois que o funcionalismo “não presta”, que os serviços “não funcionam” e que devem ser vendidos à iniciativa privada. Esta, na sua sede insaciável de lucro, a qual, entre outros fatores, vem aniquilando com a vida e com o planeta, fará o que bem entende com os serviços imprescindíveis à população, que não tem dinheiro, em sua grande maioria, para pagar por eles. 

Isso justificaria o porquê Sartori somente penaliza os servidores públicos, mas deixa que a sonegação role solta, e não busca, seriamente, revisar os absurdos benefícios fiscais concedidos a seus parceiros de politica: os grandes grupos empresariais, nacionais e estrangeiros, profundamente encravados, como sanguessugas, nas “veias abertas” da América Latina.

19 dezembro 2016

O Triunfo do Não

sim, o Não venceu.
a vida tornou-se
a negação da vida

vale mais um Puma®
do que um puma
lustram-se as máquinas
esmagam-se as árvores
entroniza-se o robótico
aniquila-se o humano

a esperança nos horizontes
assume as cores escuras
da poluição
os tons sombrios
da sonoridade do não

ao contrário de César
não fomos
não vimos
não vencemos

nem amamos

não somos
nem razão 
nem emoção:
só um misto
de nadas e de nãos

e todos afundando com o barco
e nem nos demos as mãos

negamos a tudo:
desde o ser
até a alma
e como derradeira negativa
hoje
(não-)vivemos
o Triunfo do Não.
só nos resta
a maldição



17 dezembro 2016

Tempos-Sombra

não há esperança pra vida ou pra massa
o Horror nos domina a fogo e a ferro
Shostakovich sangra ácido berro
e Beethoven se ergue além da fumaça

tempos-sombra assomam atrás das desgraças
e os homens tropeçam em que desespero
tudo que é luz é luz somente no erro:
nos restam o vinho o whisky a cachaça

mundos de caos nos espreitam na lama
idiotas estendem na alma uma toalha
máquinas pisam por todas as gramas

resta-me a arte sendo sol e navalha
resta-me um algo que é mais do que chama
que chama o que fúria: triunfo e mortalha




15 dezembro 2016

De(x)ploração (Poema ao Fim das Águas)

ao erguer-se
a luz empurecida do sol
brilha a claridade etérica de éter
das espumas dos rios
das sangras
dos arrotos
dos diachos
ao render-se
à luz emputecida do sol

castelos de sabão
aves cheias de graxas
e aquelas formas alvas
das névoas lépidas fétidas
formas brancas
acagadas
formas claras
de ovos
infinitos e intestinais

a serenidade impassível intragável
das águas plácidas
pútridas
ácidas
básicas
aquelas águas plásticas
de folhas flores e fezes

aquelas águas tranquilas
imperturbáveis
onde nem um peixe
causa alguma onda...

aquelas águas-espumas
aclaradas brilhantes
acabadas desinfetantes
como resultado tardo
de ter gentes


14 dezembro 2016

O Problema do Brasil

o problema é que se acostumaram
a andar com a espinha vergada
sob o corte do chicote
sob o laço da vergasta
(a mando de vara)
que erguer a cara 
virou desaforo
a toda uma cultura da opressão

o problema é que se acostumaram
a sempre dizer sim
a quem manda com bafos de patrão
sob pena
de falta de decoro
de falta de respeito
e de insubordinação

o problema é que se acostumaram
a ter olhares baixos
aniquilados pelo chão
pescoços tortos
colunas curvadas
toda uma vida de submissão

sobre os arrebentados ombros
todo o peso das gordas manadas
toda a baba das infindas mamadas
toda uma história de servidão

sobre os arruinados escombros
de restos de (des)humanos
todo um povo brasileiro
encilhado à obediência
ao servilismo
ao cativeiro
500 anos de escravidão!

12 dezembro 2016

O Saco do Papai Noel

Já virou tradição eu postar aqui no blog, antes das festas naftalinas, digo, natalinas, o meu grandioso poema ao saco do Papai Noel. Então, aqui vai ele:

O Saco do Papai Noel

P. noel,
eis minha carta:
maior que tua barba
bem perfumada
de capital
(de fazer trança)
é a tua farsa
bem estufada
de banquetes
e palacetes
entre tua pança

de bochechas gordas coradas
de (sem) vergonha
tu só és papai,
a quem deixar
algumas notas
(e outros dotes 
e outros cofres
e outras cotas)
na (pro)fundidade
do teu chapéu

P.noel
o bom velhinho
velhaco:
só ganha presente
quem tiver os dedos
sujos de besta
no meio da moeda
pra te puxar o saco

09 dezembro 2016

Da Presença do Sangue

não, agora que sangram tempos outros
eu falarei como te sendo o ausente
ou um nada que nem sequer se sente
ou um doentio pelas mentes dos doutos

pesteado bicho pelos campos solto
pingo de sangue na vagina quente
a poeira de um meteoro incidente
um palavrão na boca de um louco

serás o assalto de uma velha astuta
gosto insentido de cianureto
os pedaços de carniça em disputa

a navalha que num fígado eu meto
saliva morna de um beijo de puta
e a tua presença entre meu soneto

07 dezembro 2016

Você é Doente

a maneira dos que controlam a sociedade
poder controlar aquilo que não controlam
é determinar tudo que foge ao controle
como doença:

se você bebe além do social, você é doente
se você fuma, você é doente
se você não come o que é propagandeado
que deve ser comido
você é doente
se você não anda de acordo com a moda
você é doente
se você não faz exames regulares com um médico
você é doente
se a você não interessa
ser alguém com um bom emprego e bem sucedido
você é doente
(mental)
se você tem pensamentos e comportamentos fora dos padrões
e se interessa por coisas que ninguém se interessa
você é doente
(mental)
se você não segue a regra geral
de estudar se formar trabalhar
constituir família
ser um pilar da sociedade
ter boa casa bom carro
acumular bens
e morrer
você é doente
(total)
enfim
se você não se sente vitorioso feliz alto astral sorridente
você é doente

para eles
você só não é doente
se você for um robô




05 dezembro 2016

Das Lições da Humanidade

sentiu
aquele gosto
de esgoto
trago que traga
a quem o traga
como se tivesse de almoço
a própria praga

sentiu aquele gosto de rato
como se um deles mijasse no prato
e boiasse uma merda no copo
depois descendo
pela ardência do esôfago
e ouviu o baque báquico
de sua queda
na úlcera fúngica
do estômago

sentiu aquele gosto do tarde
como se mastigasse o cáustico
(tremendo as mãos dormentes)
com o farelo da quebra dos dentes
e sangue de porca num jarro
no desespero do erro
infeccionado
pelo não do catarro

sentiu aquele gosto de gente
na garganta de traqueia exposta
(a lição de não vomitar bosta)
naquele ato
do após que falava
que era engolir
palavra por palavra


03 dezembro 2016

O Artista deve ser Maldito

I - o artista
(poeta músico ou diabo)
é sempre um egoísta:
quer que os outros
sintam as emoções
de artistas

os outros
não sentem nem as deles
os eles não sentem nem as suas

II - ou talvez o artista
seja aquele que desperta
as emoções dos outros...
alguns dirão
que é uma tarefa ingrata
eu direi
que é palhaçada

III - é por isso que o artista
(hoje mais do que nunca)
deve ser maldito:
porque as pessoas 
não ficam mais emocionadas:
elas só se emocionam
quando insultadas

01 dezembro 2016

Da literatura dos nossos dias

um foi tão “só sorrisos”, que esqueceu de ser sincero
outro fez tanto marketing, que esqueceu da produção
outro quis ser tão certinho, que não passou de insuportável
outro buscou tantos prêmios, que precisou ser só medíocre
outro quis ser tão moderno, que esqueceu do que é futuro
outro foi tão “intelecto, que esqueceu toda verdade
outro foi tão diplomata, que anulou toda coragem
...
e todos tanto quiserem escrever, 
que não disseram merda nenhuma