A condenação pela justiça dos quatro réus julgados pela tragédia da boate Kiss foi justa. Com essa afirmação inicio meu texto. Foi exagerada? Considerando o número de mortes e as circunstâncias das mesmas, no meu entender, não. Outras pessoas deveriam ter sido condenadas além das que foram? No meu entender, sim.
Mas essas são outras discussões. O objetivo do meu texto é claro e cristalino. A condenação, em sua essência, não foi de pessoas, mas do que essas pessoas buscavam: ganhar dinheiro, enriquecer cada vez mais. Foi a condenação do lucro a qualquer custo, a condenação do capitalismo sem escrúpulos, desumano, indiferente.
Foi a condenação do que disse uma testemunha: "a boate estava tão lotada que as pessoas não conseguiam chegar até a copa, e isso prejudicava a RENTABILIDADE da casa." A rentabilidade. Essa era a única preocupação. Com o lucro. O bem estar e a segurança das pessoas? Ninguém se importava com isso.
A condenação foi um exemplo. De que o lucro não é tudo. De que a vida não é uma festa eterna, em que sempre tudo vai dar certo. De que não se pode brincar com a vida. De que não se pode brincar com o fogo. Não se pode brincar com os elementos da natureza sem se sofrer as consequências. As alterações climáticas estão aí para provar.
Foi a condenação da ganância: de um proprietário que não quis gastar mais para fazer uma parede e resolveu colocar espuma das MAIS BARATAS, mesmo indo contra as orientações de um especialista no assunto. Que não via limites para o número de pessoas em seu estabelecimento. Quanto mais, melhor, mesmo que isso significasse não poder se mexer. E que não estava nem aí para o que se usasse em sua boate (fogo), desde que isso significasse lucro.
De um outro proprietário que sabia de tudo (ou alguém em sã consciência investe 200 mil reais e deixa ao bel prazer de outro, sem saber de nada?) e tentou se imiscuir de responsabilidades. De um vocalista de uma banda que SABIA que não devia usar aquele tipo de fogo em ambiente interno, mas, mesmo assim, usou, para ganhar dinheiro, porque isso "atraía público" e porque comprou do mais BARATO. De um roadie que também sabia de todos os riscos mas que preferiu se omitir para evitar PERDER DINHEIRO.
Essa condenação serviu como um exemplo. Não de que isso não vai se repetir, mas de que se deve estar muito mais atento para que não se repita. Infelizmente, não devido à consciência e ao amor das pessoas, mas ao medo de serem julgadas e condenadas.
Finalizando, e aceito opiniões contrárias (estamos numa democracia), a sentença final foi, para mim, correta.