12 setembro 2012

Brahms e Goethe - A trágica Rapsódia para Contralto

"Compus uma canção nupcial para a condessa Schumann. Porém, faço-o com raiva."

Johannes Brahms, sobre a Rapsódia para Contralto. Logo, os amigos leitores entenderão melhor.

Em 1869, Brahms compôs uma das suas melhores obras vocais, a Rapsódia para Contralto, Coro Masculino e Orquestra, Op.53. A Rapsódia foi composta sobre trechos de um melancólico texto de Goethe, o poema Viagem  de Inverno pelo Harz. Não é a única obra de Brahms baseada em textos de Goethe, antes ele já havia composto a magnífica cantata profana Rinald. Sem falar nos diversos lieder de Brahms que musicaram poemas do grande poeta alemão . Goethe inspirou uma penca de  compositores do romantismo, desde Beethoven (Egmont, por exemplo), passando por Schubert , Schumann, e vários outros. E não poderia ser diferente, uma vez que Goethe dominou a literatura universal em sua época, foi um precursor do romantismo artístico e legou-nos obras de uma grandeza e profundidade incomparáveis.

Mas falemos da Rapsódia de Brahms. A sua história não é exatamente o que se pode chamar de feliz. Depois de sua famosa paixão por Clara Schumann, mulher do seu amigo Schumann, Brahms se apaixonou por uma filha do casal, Julie. Devia ser bem parecida com a mãe. Mas o desafortunado Brahms deveria ter previsto que adviria outro desastre amoroso em sua triste sina. Antes do compositor se declarar, soube que Julie iria se casar com o conde italiano Victor Radicati di Marmorito. Fazer o quê? Concorrer com um conde italiano não dá. Escreveu Clara: "Contei a Brahms antes de qualquer pessoa. Parecia não esperar por uma notícia como esta e ficou transtornado."  Bah, e ainda o Brahms foi o primeiro a saber... Resultado, para fugir da paixão por Julie, Brahms compôs a trágica rapsódia. O curioso é que Goethe, quando escreveu o poema em questão, estava fugindo da sua paixão por Charlotte von Stein. 

Algum tempo depois, Brahms mostrou à Clara a partitura da Rapsódia para Contralto. Que causou a seguinte reação na viúva de Schumann: "Há muito tempo que não tinha uma impressão tão profunda, fiquei surpreendida pelo tom melancólico de sua música." 

A parte inicial da Rapsódia é de uma profunda, violenta amargura, em que parece soprar o gelado e impiedoso vento do sombrio inverno alemão. A densidade emotiva tão característica de Brahms atinge nessa obra níveis extremos. Porém, como também é característica de Brahms, não há exageros, mas uma escura gravidade aliada a uma beleza solene. Tudo dentro de uma forma rigorosa, equilibrada. Os lamentos e súplicas da contralto, o acompanhamento celestial do coro masculino (que somente entra quando a obra se prepara para a conclusão) e os sentenciadores acordes da orquestra formam um todo admiravelmente coeso, em que um envolve o outro. A obra vai adquirindo contornos mais luminosos conforme ascende em direção ao seu final. Sim, é uma verdadeira ascensão, uma transfiguração, que parte de um sofrimento dilacerante de intensa excitação psíquica até uma grandiosa serenidade plena de amor e compaixão. Sem, todavia, atingir a felicidade.

Brahms escolheu três estrofes do poema de Goethe. Abaixo a tradução:

Viagem de Inverno pelo Harz (trechos utilizados na Rapsódia para Contralto)

Mas ao lado, quem é?
No meio dos arbustos seu destino se perde.
Atrás dele, apenas o farfalhar dos arbustos.
E a grama se ergue novamente,
E a andorinha o engole.

Ah, quem mitigará a dor daquele
Para quem o bálsamo se fez veneno?
Daquele que, em pleno amor,
O ódio humano bebeu?
Antes, escarnecido, agora zombador,
Curte secretamente o torturante egoísmo.

Se há em teu saltéro,
Pai de misericórdia,
Uma nota que fale ao seu ouvido,
Enche o seu coração de misericórdia.
Abre ao nublado olhar
Do caminheiro, sedento,
As fontes infinitas do deserto.

Johann von Goethe

10 setembro 2012

Cacete(te) para um Político


gabinete
palacete
com tapete
camionete

prometeste
de falsete
sem valete
cafajeste

em banquete
garçonete
omelete
alcaguete

governete
peidorrete
sem topete:

Marionete!

08 setembro 2012

Três Pequenas Maldições

I

a diferença
entre o apenas intelectual
e o sábio
é que para o apenas intelectual
não há diferença

II

se aqueles que têm a razão
praticassem a razão
que dizem ser a razão
(sejamos francos)
assaltariam bancos

III

para as leis científicas
entre a humanidade
não existem zumbis

para as leis poéticas
entre a humanidade
só existem zumbis

07 setembro 2012

Que Seja Sobre o Sangue


que seja
o meu verso

sobre o sangue
em areia derramada dura
no nu obsceno
do seio necropsiado
da terra
sangue seco
coagulado pelo pó da enxada
que deserticamente escorre...

que seja
sobre o sangue
ou água-podre
em rio derramado humano
visco de olho negro
no óleo do amargo da margem
que poluidamente escorre...

sobre o sangue
ou seiva-lágrima
em verde derramada queda
o esverdeado do plasma
da vastidão evaporada
que devastadamente escorre...

sangue
ou guará atropelado
pelo horizonte
rubro-vivo-lago
miolo derramado afora
no embora das estradas
que extintamente escorre...

que seja...
ou o que morre

05 setembro 2012

O Homem Correto (Final)

Também não deveria sair mais com meus amigos. No fundo, não eram meus amigos, eles sabiam. E eu deveria sentir-me grato por eles estarem agora me alertando, antes que fosse tarde demais. Antes que eu me perdesse e me transformasse em um ser inútil, absolutamente improdutivo para a sociedade. Exclamei que sim, que minha gratidão era infinita, e lembro que chorei ao telefone as mais sinceras lágrimas. Então se despediram, muito polidamente, lembrando das severas punições em caso de desobediência e acrescentando que no dia seguinte eu receberia algo muito importante. Seria um manual, uma cartilha de como encontrar bons amigos. No final da cartilha, haveria uma breve lista com nomes, telefones e endereços de pessoas que seguramente seriam ótimos amigos para mim. Eu deveria procurá-los o mais rápido possível. Poucas vezes senti-me tão feliz em minha vida.

Certo dia, estava eu em um shopping, experimentando roupas em um provador de uma loja. Enquanto vestia a camiseta que provavelmente levaria, escuto um som de respiração, como se alguém estivesse muito próximo a mim. No meu lado esquerdo havia uma cortina. Parecia ser detrás dela que o som provinha. Abri-a. E ali estavam eles. Logo, declararam que estavam me observando, através de um pequeno orifício na cortina, enquanto eu experimentava as novas roupas. E, com um ar de profunda gravidade e decepção, que me estremeceu, disseram-me que não gostaram nem um pouco das roupas que eu estava pretendendo comprar. Eu não estava os agradando dessa forma. As roupas não combinavam comigo, garantiram, não podiam combinar. Elas não me deixariam melhor como pessoa. Eram de muito mau gosto. Exclamei, bastante envergonhado, que, fosse como fosse, era o meu gosto pessoal.  Eles não quiseram saber. De súbito, retiraram de seus paletós várias sacolas, cada uma com uma peça de roupa diferente. Disseram-me que, a partir daquele dia, para o meu próprio bem e crescimento individual, deveria usar aquelas roupas. E sempre que eu fosse comprar vestimentas novas, deveriam ser naquele estilo e com aquelas cores. Qualquer dúvida, deveria consultar um manual, uma cartilha de bem vestir-se que eles deixariam com a gerente da loja. Em caso de desobediência... eu já sabia. Claro que as roupas que eles me deram não eram de graça. Paguei por elas.

Levei-as comigo e experimentei-as somente em casa. De início, foi um choque. Senti-me verdadeiramente ridículo. Aquelas roupas não tinham nada a ver comigo. Porém, mantive firme minha força de vontade e segui as usando. Fui trabalhar com elas. Percebi que todos me olhavam na rua com sorrisinhos mal disfarçados e troçavam de como eu estava me vestindo. Mantive-me altivo e não dei atenção. Idiotas, pensei, que não sabem de nada. Se eles me garantiram, é porque assim eu estou bem melhor. De modo que os dias se passaram, segui usando aquelas roupas, adquirindo outras que não fugissem àquele estilo, e, ao fim das contas, nunca me senti tão bem vestido.

As semanas, os meses, os anos foram seguindo seu curso, e, de tempos, em tempos, eu os encontrava na rua, ou em algum local público, ou em meu trabalho, ou eles vinham até minha casa, com o nobre intuito de me transmitir mais instruções de como eu deveria viver, a melhor forma de se viver. E eles aproveitavam tais ocasiões para me inquirir. Desejavam saber se eu estava cumprindo com todas as determinações que me foram outorgadas. Garanti que sim, simplesmente porque era verdade. E mesmo que eu quisesse mentir, seria uma catástrofe, porque eles sempre sabiam de tudo. E então, com a mentira, a punição seria triplicada. Questionavam-me apenas para verificar o meu nível de sinceridade. É óbvio que jamais os decepcionei, nunca deixei de os agradar, sempre agi e me comportei de acordo com o que esperavam de mim, esforçava-me, em suprema abnegação, em mantê-los plenamente satisfeitos. Afinal, eles estavam sempre certos, a razão estava sempre com eles, suas opiniões eram as mais corretas, seus gostos, os mais perfeitos, suas ideias, as mais brilhantes. É assim, que posso fazer?

As últimas instruções que recebi referiam-se a uma lista das mulheres que eu poderia namorar e, posteriormente, casar-me. Não era uma lista longa, havia ali apenas cinco mulheres. Também não eram muito bonitas. No entanto, em hipótese alguma eu poderia escolher para namorar alguma mulher que não estivesse na lista. A punição seria impiedosa.  Como deve ser, para que nos mantenhamos na linha. Ainda estou escolhendo qual delas será. Uma vez escolhida, não posso mais trocar. E a moça deve me aceitar em namoro. Ela não tem escolha. E é melhor realmente que não tenha, daria muita confusão. São as leis, justíssimas, para o nosso próprio bem.

É claro que desde que os conheci, minha vida tem se tornado difícil. Mas eu não reclamo, eu não protesto, jamais me rebelo, nunca questiono. Por que o faria? Sei que tudo o que eles fazem, os sacrifícios por mim e por tantos outros, todas as suas instruções, regras, ordens e disciplinas constituem um esforço tenaz em me tornar um exemplo de cidadão, um bom homem em todos os sentidos, cumpridor de seus deveres, um indivíduo correto, que conhece o seu lugar e as suas responsabilidades, que vive sua vida dentro da lei e da ordem estabelecidas e que, apesar de todos os percalços, é um homem satisfeito e bem sucedido.

Lembro que certa vez um antigo amigo, que, graças, nunca mais o vi, perguntou-me: “Mas como assim, eles decidem tudo por ti e tu achas bom?” Eu, sereno, limitei-me a responder: “É claro, por que não acharia, se assim sou feliz?”

04 setembro 2012

O Homem Correto

Abordaram-me durante uma manhã de sol.  Disseram que eu estava indo para o trabalho pelo caminho errado. Garantiram-me que, para meu próprio bem, eu deveria seguir por outro caminho. Protestei que, para mim, o caminho que percorria naquele momento era perfeito, que eu sempre o fizera, e que não via por que outro seria melhor. Mostraram-me então o caminho que eu deveria percorrer. E não somente naquele dia, mas por todos os outros em que eu fosse trabalhar. Caso não fosse por ele, seria punido. O que era, segundo eles, perfeitamente justo, uma vez que era tudo para o meu próprio bem. Convencido, passei, daquele dia em diante a ir trabalhar somente pelo caminho que me fora orientado. Não vi nenhuma vantagem em fazê-lo, creio que era até um pouco mais longe do que o que percorria anteriormente. Mas se eles estavam tão certos que era para o meu bem, como poderia contrariá-los? Sem contar que, se não o fizesse, seria punido. Não me esclareceram, no entanto, que tipo de punição eu sofreria.

Dias depois, estava almoçando em minha casa, quando ouvi batidas na porta. Atendi. Eram eles. Traziam-me algumas viandas com variados tipos de comida, conforme verifiquei instantes depois. Imaginei que as viandas fossem o seu almoço. Convidei-os para entrar e almoçar. Recusaram, declarando que aquela comida não era para eles, mas para mim. Naturalmente, eu deveria pagar pela comida. E o fiz. Acrescentaram que já haviam se encarregado de realizar a encomenda de meu almoço, e que o mesmo seria entregue sempre por volta do meio-dia no meu endereço por um menino escolhido por eles. Eu deveria pagar o almoço ao menino. Todos os dias. E comer, ao menos durante o almoço, somente o que havia nas viandas. Eram alimentos cuidadosamente escolhidos para a minha mais perfeita saúde. Retruquei que não gostava de vários alimentos que ali estavam. Responderam que isso não fazia diferença, eu deveria comer e me habituar a eles. Era para o meu próprio bem. Caso me recusasse a me alimentar somente com os alimentos das viandas, seria severamente punido. Tive que aceitar.

Quando abri a última das viandas (eram 5 no total), não havia comida ali, mas uma folha de papel cuidadosamente dobrada. Abri-a e li o seguinte:

“Senhor Gilberto, aqui está uma lista dos livros, revistas, músicas e filmes. São os que você deverá ler, ouvir, assistir durante este mês. Não é necessário ler todos os livros, ouvir todas as músicas, assistir a todos os filmes. Porém, o que senhor desejar ler, ouvir ou assistir, deverá estar incluído nessa lista. Nem é preciso que escrevamos que é para  o seu próprio bem. E crescimento individual. Tudo o que está na lista foi selecionado pensando-se exclusivamente em seu bem-estar.  É igualmente desnecessário que escrevamos que a punição oriunda do descumprimento destas determinações será exemplar. No mês seguinte, junto com alguma das viandas, virá a lista para o mês em questão. E assim sucessivamente. ”

No mesmo dia, providenciei alguns dos filmes, livros e músicas. Eu não gostava de quase nada do que estava lista. Porém, estava certo que, com o tempo, aprenderia a gostar, e que o benefício a mim trazido pelas obras seria extremamente recompensador.

Por vezes, desejava encontrá-los na rua para que eu pudesse agradecê-los por tamanha bondade e consideração por alguém tão insignificante quanto eu. Eu, que trabalho em uma indústria de móveis da manhã à noite e que recebo um salário não mais que razoável. Realmente, eu jamais teria tempo para pensar em todas essas coisas que eles têm pensado por mim. Tenho me sentido bem mais tranquilo. Fico imaginando o que devo ter feito de tão meritoso para receber a preocupação e dedicação deles. E chego à conclusão de que não fiz nada. Aliás, nada faço além de trabalhar e voltar para casa. Nos fins de semana, bebo, melhor dizendo,bebia, uma cervejinha com os amigos.

Digo que bebia, porque não o posso mais fazer. Para meu próprio bem. Há alguns dias, acordei com um telefonema às 3h da madrugada. Eram eles. Rapidamente, pois não podiam desperdiçar seu tempo, disseram-me que eu não deveria mais beber nenhuma bebida alcoólica. Eram nocivas, fosse para a minha saúde física, fosse para a minha saúde psíquica. Nunca, jamais, eu deveria voltar a ingerir um gole sequer de álcool. 
(Amanhã, o final do conto.)

03 setembro 2012

Gripe A e o jornal Expresso Ilustrado

Como praticamente chegamos ao final do inverno de 2012 e os casos de gripe A não devem surgir mais com força este ano, talvez apenas isoladamente, creio que é o momento de analisarmos a sua taxa de mortalidade. Esta será a minha resposta ao jornal Expresso Ilustrado e ao jornalista João Lemes, editor do jornal. Ocorre que em 2009, quando do surgimento da gripe A, ou suína, o jornal Expresso escreveu que a mortalidade da gripe A era igual ou menor à da gripe comum, e que não haveria motivo de sérias preocupações. Questionei a informação, apresentando dados que mostravam que a gripe A era na verdade mais mortal. O jornalista João Lemes, então, eu seu blog, contestou-me (aqui), sugerindo que eu me corrigisse. Porém, eu apenas fiquei sabendo de sua contestação em finais de 2011. Como era verão, não tinha dados atualizados para analisar melhor a questão. Agora, tenho-os, e os apresento. Vamos a eles:

Segundo o site do jornal Correio do Povo (aqui), os casos confirmados em 2012, até 13 de agosto, de gripe A, no RS chegaram a 447, com 57 vítimas fatais. Basta fazer o cálculo para encontrarmos a taxa de mortalidade da doença: 12,75%. Se pegarmos toda a região Sul do Brasil, até 30 de julho, teremos 144 mortes em 1613 casos confirmados (aqui). Taxa de mortalidade: 8,93%. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de mortalidade da gripe comum gira em torno de 0,5 a 1,5%. Ou seja, as taxas de mortalidade da gripe A no Brasil estão altíssimas. E não é só aqui. 

Segundo estudos que vêm sendo realizados (aqui) a gripe causou e vem causando muito mais mortes do que se pensava. O total de mortos pela gripe A foi elevado em 15 vezes com relação ao que havia se calculado anteriormente. 

Não culpo o jornal Expresso pela informação veiculada na época, pois muitos, até mesmo cientistas, acreditavam que a gripe A era uma "gripezinha". Já eu não era da mesma opinião.  Como o jornal não aceitou meu questionamento na época, o que era do seu direito, naturalmente, retorno à questão. Agora, passados três anos do surgimento da doença, está-se percebendo que a gripe A não é nenhuma brincadeira. Como não acompanho o jornal Expresso, não sei o que ele veiculou a respeito da mortalidade da doença em 2012. Porém, se ainda não o fez, deveria, como qualquer jornal sério, ao menos, questionar a sua própria informação veiculada há três anos. Enviarei um e-mail ao jornalista João Lemes sobre o assunto.

01 setembro 2012

Palavr(ar) ao Nada


a minha palavra em lava
esvaziada pelo vento
o vazio da minha lavra
de palavra desventada
minha lava em ventania
vã palavra no vazio
o meu livre enderramado
vaziado em vendaval
a palavra deslavada
derramada do meu vaso
meu vazio vitalizado
enlevado de palavras
meu tornado derramado
desvazado no meu livre
a palavra ciclonando:
em teu vão vandalizada
furacão para  o teu nada

30 agosto 2012

Existe Brahms


I

nossos intelectuais
estão certos
de que preveem o futuro
(...)
mas deveriam fazê-lo
acendendo
(antes)
uma vela
no (v)entre do escuro...

II

dizem
ter descoberto
a “partícula de Deus”
(o homem
procura a sabedoria
como se procurasse uma palha
em um palheiro
a esmo)
só o que lamento
é que nunca encontraram
a partícula de si mesmo

III

perguntam-me
qual afinal
a minha esperança...
ora, eu não escolho esperanças
eu espero o que vem...
não espero
por exemplo
que tu, ser humano
me ames.

fora isso...
existe Brahms

29 agosto 2012

Dia Nacional de Combate à Televisão

Hoje é o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Ótimo. Mas por que que não existe também, por exemplo, o Dia de Combate à Coca-Cola, Dia de Combate aos Agrotóxicos, Dia de Combate aos Aditivos Químicos e, finalmente, o Dia de Combate à Televisão. Melhor fumo que televisão. Fumo faz mal para os pulmões. Televisão, faz mal para a cabeça. E, principalmente, para o que tem dentro dela. Transforma cérebros em merda.


E outra. Poderia existir também o Dia de Combate ao Funk, Dia de Combate ao Michel Teló, Dia de Combate ao Tchu e Tcha. Isso sim faz mal. Para a mente. Para a alma. Seja como for, de uma forma ou de outra, todos prejudicam a si mesmos, não é só fumando. Mas, na maioria das vezes, nem sabem. E nem querem saber. E a mídia não quer que saibam. E assim todos vivem felizes e contentes em sua ignorância e hipocrisia. 

Muitos irão pensar que estou fazendo campanha pró-fumo. Não estou. Estou fazendo campanha em prol da liberdade. Hoje, tiram nosso direito de fumar. Amanhã, será o de tomar as nossas próprias decisões. E depois, finalmente, tirarão o nosso direito de pensar por  nós próprios. Coisa que, dissimuladamente,  a televisão já o faz. 

28 agosto 2012

Soneto-Ocaso


derradeira derrocada das massas
pela invicta derrota do que humano
vontades que naufragam ano a ano
em vórtices vazados de não-taças

o infindo decair do que se faça
no em-vão irrevogável do não-plano
a esperança vencida pelo insano
nas vastas pradarias da desgraça

passo a passo de um algo que maldito
sobre as patas-serpentes de um cavalo
entre os olhos sedentos do inaudito...

a nulidade do ato de salvá-lo
dessangra entre vermelhos de infinito
e o Horror levanta a força do seu falo...

26 agosto 2012

Silêncio


em breve
nem o longe
ao longe
no horizonte
em breve
o sempre
que será ontem
silêncio esgotado
ao esgoto
de uma fonte

em breve
nem o leve
só o calo
de um canto de ave
calado
num eterno vago
de neve
pássaro passado
desmanche
de sorriso lasso
desmoronado
por entre olhos
de cuja luz
em breve
nem traço

e da árvore
que te arde
despencada
entre abismo
folha por folha
abalada
entre os riscos
do que cismo
em breve
nem cisco

em breve
nem nada
e que te leve
o desfeito

assim
como se fosse
o meu peito

25 agosto 2012

do Não Esperar


o que se planeja
não é o que vida:
vida
é o que não está nos planos

não esperar
é evitar que o vindo
venha abaixo do esperado

o mais belo
o mais fundo
o mais alto
é o que não nos pode ser dado

só espero pelo que não posso
que é o que não depende
do inútil do meu esforço

mas de um indefinido não pensado
paisagem em súbito na estrada
susto de inspiração
surgida do nada

como pode valer a pena
ser alcançado
o que já está ao alcance da mão?
a canção que mais nos comove
é aquela que canta
(em nosso íntimo)
o imenso de um não...

o que é então
que deve ser como deveria?
melhor é o que não se espera
que não se vê
e nem seria...
os prenúncios de estrelas
vêm apenas
durante a noite sombria...

23 agosto 2012

Três Considerações Antipáticas


I

ser poeta
é ser líder e único membro
de sua própria gangue
e preparar-se
para um banho
(entre palavras)
de sangue

II

um poema
além de segredos
é dar nos dedos
e tirar sarro:
é como soltar na cara
de quem não fuma
uma baforada de cigarro

III

o mais corajoso
dos soldados
é o que deserda
o mais corajoso
dos homens
é o que tem coragem
de mandar
tudo à merda

22 agosto 2012

Secas Devastam ao Redor do Planeta - E o que Será da Humanidade nas Próximas Décadas?

Já por diversas vezes afirmei aqui no blog (e também sugeri através de textos literários) que o aprofundamento da degradação ambiental de nosso planeta não é algo que ocorre através de uma sequência clara e sem interrupção, mas de maneira um tanto enganadora: em um ano, o planeta é assolado por incontáveis catástrofes naturais, que parecem indicar que o próximo ano será ainda pior. Porém ocorre que no ano seguinte a situação apresenta uma aparente amenização. Então, muitos, na ânsia de não culpar o homem, ou de acalentar uma ilusória esperança, aproveitam para afirmar que a situação não é tão grave como acusam os "alarmistas". Muitas doenças também evoluem assim. Após uma crise, surgem momentos de melhora, que são confundidos com cura, e o paciente não se preocupa em se tratar. Mas se passa um tempo, e os sintomas surgem mais intensos. Até que um dia o doente falece.

É assim que determinadas pessoas, inclusive estudiosos e cientistas, acreditam que não existe o Aquecimento Global, ou, se existe, não seria tão sério, e o ser humano não teria responsabilidade a respeito. No entanto, passados dois ou mais anos, as catástrofes naturais repetem-se de forma ainda mais severa e mais generalizada. E, discretamente, de maneira um tanto gradual, recordes negativos vão sendo sistematicamente batidos, e, de forma muitas vezes imperceptível, o planeta vai lentamente sendo consumido, vitimado pela inconsciência humana.

Sobre o assunto, vejamos o que está no jornal Correio do Povo deste último domingo, na seção da previsão do tempo:

"As secas marcam este ano de 2012 até agora no mundo com impactos econômicos mundiais que geram o temor de uma crise de alimentos global. O ano começou com a Inglaterra enfrentando sua pior estiagem desde 1976. O início de 2012 foi marcado ainda por grande seca no Cone Sul da América(...). Lavouras de milho e soja agora agonizam com a falta de chuva nos EUA, no que está sendo considerada uma das cinco piores secas em solo americano no último século. No México, a estiagem é descrita como a pior em 70 anos.  Seca agora também na Rússia, onde são revistas para baixo as projeções da safra de trigo. E na Índia, com monções insuficientes e danos ao arroz a ponto de rios inteiros terem secado no país. Espanha e Portugal também têm há meses déficit de precipitação e os últimos dias foram de graves incêndios na Ilhas Canárias."

Alguém poderia argumentar que em nenhum desses lugares a estiagem, apesar de intensíssima, está sendo a pior da história. O que significaria que já passamos por momentos piores e, não obstante, estamos aqui. Porém, o que deve ser percebido, o grave disso tudo, é que as secas nunca foram tão generalizadas, nunca foram tantas ao mesmo tempo no mundo. Isso é que inédito. Quase todo o planeta sofre com secas severas simultâneas. Aqui em Santiago mesmo, somos testemunhas de uma das maiores estiagens de todos os tempos em nosso município, talvez a mais prolongada da história, com o trágico fato inédito de vermos a nossa imensa barragem quase seca.

E se aliarmos a esses "detalhes" o terrível fato de que o Hemisfério Norte está tendo um dos verões mais abrasadores da história, de que as águas oceânicas setentrionais nunca estiveram tão quentes, de que as águas do mar Ártico atingiram este ano a maior temperatura desde o início da medições, e de que o gelo da Groenlândia chegou a derreter em 97%, recorde absoluto e inquestionável, podemos elaborar uma sombria questão: da forma como não fazemos nada, o que será da humanidade nas próximas décadas?

20 agosto 2012

Ilógico

entre o tudo que não existe
dou-te-me este poema
vitoriosamente triste
pois nem triste chegou a ser:
talvez o fosse
se eu me pudesse ver

e a minha pá (lavra de coveiro)
que não é suficiente
talvez o seja
em se olhar ao mundo
como morrer
e só então
ser profundo

a minha humanidade
não me perdoa:
sou minha culpa
e o culpado
do que não voa

e o que me eleva
é o que não veio
ou talvez veneno
envernizado em taça
eternizada
entre teu seio

que o horror divino
é sempre firme
em tudo há medo
e aponta um dedo:
sentir é crime

eu sou
o que não me esquece:
sou como um sono
e tu minha prece

a minha palavra
não dará ensejo
a nenhuma lágrima
e não será desejo
de organismo etéreo
o que eu disse
nem está dito
o que eu não disse
eu me mistério

17 agosto 2012

Potências

dizer
(como se em não-dito)
essências

abrir
(do que então pequeno)
imensas

tornar
(como se ideias-nadas)
suspensas

mostrar
(do que nunca foram)
presenças

tocar
(no que não-violino)
cadências

trazer
(desde o que desforam)
ex-ciências

saber
(como se ao fora errado)
con-sências

16 agosto 2012

Para as Eleições, para os Candidatos... O Político*

Agora, estão dizendo que sou desonesto. Nada sabem sobre os desígnios de um grande político. Queria que os que me criticam estivessem em meu lugar. Eu também já fui um grande idealista. Em minha juventude, queria mudar, não, mais que isso, queria revolucionar minha cidade, meu Estado, minha Pátria, e, por que não? o mundo. Eu me sentia capaz das maiores realizações, dos feitos mais nobres e grandiosos, dos atos de heroísmo, do sacrifício pela nação... E eu me via, em meu magnânimo futuro, rodeado de todas as glórias, adorado pelo povo, um símbolo do que é correto, justo, enfim, um grande homem, o maior dos políticos.

Mas não pensem, meus senhores, minhas senhoras, não pensem que eu abri mão de todos esses ideais sublimes. Não, eu apenas os adaptei aos nossos tempos, às necessidades da sobrevivência. Ao contexto de nossa sociedade. De nossa civilização moderna, onde não há espaço para ingenuidades. Os ideais de um grande homem continuam vivos e ativos em meu interior, em minhas atitudes, sempre arraigadas na honra e na dignidade. Isso é que é ser honesto, honesto em manter a minha palavra de homem, qual seja, a que um dia prometeu lutar pelo bem-estar e pelo progresso do povo e da nação. Isso, eu estou certo que realizo com todos os méritos.

E nos meus discursos, qualquer um poderá comprovar a verdade intrínseca do que afirmo. Vejam, percebam como o meu verbo é forte, intenso, inflamado! Quem poderá duvidar da veracidade das minhas palavras? Quando discurso para o meu povo, eu encarno o espírito dos grandes estadistas, dos paladinos do passado, dos bem-feitores da humanidade. Muitas vezes, já chorei, derramei as minhas lágrimas, lágrimas sinceras, profundas, sentidas, quando me dirigia àquelas pessoas, vendo-as ali, com os olhos brilhantes de esperança, crentes no meu poder de melhorar suas vidas. Ah, como isso é belo, como é emocionante! E eu nunca as decepcionei!

Mas agora, agora vêm esses inimigos do povo, inimigos dos batalhadores da Pátria, atirar pedras na minha vida exemplar, acusar-me de roubo, de corrupção, de tráfico de influência, de crime de responsabilidade, de desvio de verbas... É como sempre digo: quem não está no poder, não sabe como deve agir quando se está no poder. Acreditam que podem ser um grande político sendo um reles santinho. Assim, serão esmagados. Devem entender, esses ingênuos, que estamos no meio de lobos. Entre feras. Já dizia o poeta que quem vive entre feras sente necessidade de também ser fera. Isso não é ser corrupto. É apenas ter consciência do lugar em que nos encontramos. Já que estou aqui e que cumpro com o meu dever, por que não? É justo que eu seja muito bem pago pelo meu serviço, que é fruto de anos, anos! de esforço, de dedicação, de reflexão sobre a vida, de criação de laços de amizade, de enfrentamento de inimigos, de sacrifícios voluntários, de dias e dias longe da família, da pessoa amada, para ficar ali, em meio a homens sórdidos, raposas ardilosas, criando pactos, alianças, sabendo a hora certa de apertar o gatilho. E aí, então, depois disso, eu sou um ladrão? Mas o que é isso? Onde é que estamos?

Meus amigos, tudo depende do ponto de vista. O que é desviar uma verba? O que é uma verba? Entendo que a verba pública, e os senhores hão de concordar comigo, é para o bem-estar do povo. Então, digamos que eu tenha me apropriado de alguma verba pública. Se o fiz, foi porque considero que foi para o bem-estar de todas aquelas pessoas as quais represento. Exatamente. Compreendo perfeitamente a importância da minha pessoa para a nação. Deixemos de falsa modéstia. Eu merecia aquele dinheiro. Merecia, primeiro por que batalhei muito para estar onde estou. E cumpro as obrigações de um homem eleito pelo povo. Estou dia e noite preocupado com o bem-estar da população, com o desenvolvimento do país. O que mais desejo nesta vida é contemplar a felicidade do meu povo. E estou trabalhando para isso. E quero trabalhar ainda mais. Então, agora, entendam este ponto fundamental: para isso eu preciso de dinheiro.

Sim, eu sei que dirão que deputados e senadores já ganham muito. Mas dizem apenas por ignorância.  Por absoluto desconhecimento das inúmeras funções e atribuições de um bom político. Nosso salário não dá para nada, no que se refere ao exercício de nossas funções. Se eu não fosse um grande político tão cheio de responsabilidades, se não necessitasse de tantos assessores, de tantas pessoas de confiança, de tantas amizades imprescindíveis para o devido desempenho do meu cargo, tudo bem, o salário seria ótimo. Porém, infelizmente, não é assim. Eu preciso comprar pessoas. Digam o que quiserem, mas é assim. Se eu não comprar pessoas, que político serei? Quem estará do meu lado? Quem apoiará minhas ideias? Quem divulgará o meu nome, as minhas promessas, as minhas inúmeras realizações? Quem alardeará para toda a nação o grande homem, o genial político que sou?

Percebam, eu precisava daquele dinheiro, daquela pequena, exígua, parcela daquela verba para continuar a realizar o bem para o povo. Foi uma necessidade que somente os grandes homens compreendem. Eu tenho que fazer favores para aqueles que me auxiliam nesta dificílima empreitada que é engrandecer a nação e tirar o povo da miséria. Ou será que não sabem que ninguém faz nada de graça? Aqueles homens e mulheres que me auxiliam, que possibilitam a minha atuação pelo povo, também necessitam da sua parte. Do seu pagamento. Claro que esse pagamento nem sempre se refere a uma soma em dinheiro. Às vezes, é alguma outra necessidade dessas pobres pessoas, tão serviçais, que dão suor e sangue pelo nosso Brasil. Eu, como o homem justo que sou, devo atender justamente às reivindicações dessa gente que vende os seus prestimosos serviços, os serviços de suas empresas, de seus jornais, de seus blogs, que vendem as suas valiosas opiniões, enfim, que vendem a si próprias! Observem o gigantismo de tamanhos sacrifícios! E isso nem sempre sai barato, naturalmente.

Claro, às vezes, apenas pedem como pagamento um empreguinho aqui, uma informaçãozinha ali, uma participaçãozinha acolá, um patrociniozinho mixuruca, enfim, essas coisas simples, nada de mais. Porém como que vou possibilitar tais coisas a essas pessoas tão úteis, que são tantas, se eu não tiver dinheiro, poder econômico, influência política? E vou tirar dinheiro de onde? Ora, claro que das verbas públicas, exatamente pelo motivo de que eu as usarei para o bem da nação, e isso é algo inquestionável, indubitável, irrebatível, conforme atestam meus argumentos. Não é um desvio de dinheiro, é um emprego inteligente de uma verba que seria desperdiçada em alguma obra desnecessária. E que depois ainda acabaria abandonada. E esse dinheiro indevidamente definido como “desviado” nem ficou em minhas mãos. Foi para quem mais necessitava: aqueles que estão sempre do meu lado (e, por conseguinte, do lado do povo), auxiliando-me na minha divina missão.

Ah, irão dizer que isso a lei não permite? Ora, os grandes homens, os gênios devem estar acima da parca lei humana. Quantos feitos grandiosos nunca teriam sido realizados se não houvesse os corajosos que enfrentam todas as leis, nem sempre justas, os padrões estabelecidos, o senso comum, que vão contra todos os preconceitos e julgamentos ofensivos? Sei que este é o meu caso. Sim, podem me classificar como um ladrão, um salafrário, um cafajeste, seja o que for, eu aceito, em nome da nação pela qual sofro e me sacrifico. A minha consciência resplandece em absoluta tranquilidade. A tranquilidade do dever cumprido.

*Republicação do conto, tendo em vista as eleições. (Na imagem, o quadro "La Lampe Philosophique" de Magritte.)


15 agosto 2012

O Fracasso nas Olímpiadas – A Vergonha na Educação – e 50% das Vagas das Universidades para Escolas Públicas

         Para um país com quase 200 milhões de habitantes, 6ª economia do mundo, com uma extensão territorial das maiores do planeta, com uma diversidade de povos imensa, conquistar apenas 17 medalhas em uma Olimpíada, sendo míseras 3 medalhas de ouro, é, no mínimo, um fracasso. Que se torna ainda maior se levarmos em consideração que as próximas olimpíadas serão no Brasil.

            A maioria culpa pelo desastre a falta de investimentos nos esportes e em nossos atletas. O que é uma parte da verdade. Embora os investimentos e incentivos aos esportes tenham quase dobrado nos últimos 4 anos, ainda é pouco. O governo investe pouco e as empresas, principalmente as privadas, menos ainda.  Estas só querem saber de lucros imediatos. Principalmente no Brasil. As maiores empresas aqui são de outros países, por que vão querer investir em nossos atletas? Preferem, é claro, investir nos atletas dos países deles.

            Mas há um ponto da questão que quase ninguém toca: um bom atleta não é formado depois que se decide a ser atleta, já na fase adulta. Um bom atleta começa ainda criança, na escola, tendo o incentivo e a estrutura para a prática dos mais diversos esportes e atividades físicas. Porém não há incentivo e muito menos estrutura em nossas escolas públicas para tal.  Sem educação, sem nada. Inclusive, sem bons atletas. E sem medalhas. Mas no Brasil, o que todos desejam, em todas as coisas, são os resultados imediatos. Investir em educação? Não, isso demora muito, leva tempo, exige muito dinheiro, há que se começar pagando bem os professores, enfim, não vale a pena. O povo quer ver resultados imediatos, coisas que saltem aos olhos, obras faraônicas, que ostentam uma majestosa aparência.

            Tanto é que o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do Brasil é ridículo. E dizer ridículo ainda é um eufemismo. É catastrófico! Nas Olimpíadas ficamos em 22º lugar, e fomos mal. E na educação, então? Na educação, estamos em 53º lugar entre os países analisados, atrás de Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia, países que superamos nas Olimpíadas.  Nossos jovens saem do Ensino Básico sem saber interpretar um texto. Só isso. Não há nem mais o que comentar.

            E quando surge uma rara boa notícia na educação brasileira, bem, aí os ricos não gostam. Agora, os riquinhos estão putos da cara porque 50% das vagas das universidades públicas devem ser destinadas para estudantes que tenham cursado somente o ensino fundamental e médio em escolas públicas. Nada mais justo. As universidades públicas são pagas com dinheiro de todo o povo (e todos sabem que os pobres são os mais penalizados com os altos impostos brasileiros), mas os que mais preenchem as vagas dessas universidades são os filhos de ricos, que podem pagar as melhores escolas particulares e ainda cursinhos. Sem contar que não precisam trabalhar, podem se dedicar somente aos estudos. E adquirir os livros que necessitam, que quase sempre custam os olhos da cara em nosso país. O ensino público deve ser melhorado a ponto de se equiparar ao particular? Óbvio que sim. É o que estou sempre dizendo e pelo que sempre combati aqui no blog. Mas enquanto isso não ocorre (e vai demorar, se é que vai acontecer), a medida do governo é um paliativo muito bem-vindo como forma de ajudar a equilibrar um pouco as enormes diferenças sociais do Brasil.

Quanto à charge acima, eu poderia realizar uma simples alteração. No lugar do atleta, poderia ser um escritor. Que vai até os governos, até as empresas pedir apoio e patrocínio, mas recebe sempre um polido, mas definitivo, não. Depois, governos, empresas e população em geral querem que os escritores sejam difusores de cultura, de saber, de pensamento, de sensibilidade, enfim, em um país absolutamente carente de todas essas coisas.  Ou então querem dar e ostentar títulos a determinados municípios, como “Terra dos Poetas”.