Já por diversas vezes afirmei aqui no blog (e também sugeri através de textos literários) que o aprofundamento da degradação ambiental de nosso planeta não é algo que ocorre através de uma sequência clara e sem interrupção, mas de maneira um tanto enganadora: em um ano, o planeta é assolado por incontáveis catástrofes naturais, que parecem indicar que o próximo ano será ainda pior. Porém ocorre que no ano seguinte a situação apresenta uma aparente amenização. Então, muitos, na ânsia de não culpar o homem, ou de acalentar uma ilusória esperança, aproveitam para afirmar que a situação não é tão grave como acusam os "alarmistas". Muitas doenças também evoluem assim. Após uma crise, surgem momentos de melhora, que são confundidos com cura, e o paciente não se preocupa em se tratar. Mas se passa um tempo, e os sintomas surgem mais intensos. Até que um dia o doente falece.
É assim que determinadas pessoas, inclusive estudiosos e cientistas, acreditam que não existe o Aquecimento Global, ou, se existe, não seria tão sério, e o ser humano não teria responsabilidade a respeito. No entanto, passados dois ou mais anos, as catástrofes naturais repetem-se de forma ainda mais severa e mais generalizada. E, discretamente, de maneira um tanto gradual, recordes negativos vão sendo sistematicamente batidos, e, de forma muitas vezes imperceptível, o planeta vai lentamente sendo consumido, vitimado pela inconsciência humana.
Sobre o assunto, vejamos o que está no jornal Correio do Povo deste último domingo, na seção da previsão do tempo:
"As secas marcam este ano de 2012 até agora no mundo com impactos econômicos mundiais que geram o temor de uma crise de alimentos global. O ano começou com a Inglaterra enfrentando sua pior estiagem desde 1976. O início de 2012 foi marcado ainda por grande seca no Cone Sul da América(...). Lavouras de milho e soja agora agonizam com a falta de chuva nos EUA, no que está sendo considerada uma das cinco piores secas em solo americano no último século. No México, a estiagem é descrita como a pior em 70 anos. Seca agora também na Rússia, onde são revistas para baixo as projeções da safra de trigo. E na Índia, com monções insuficientes e danos ao arroz a ponto de rios inteiros terem secado no país. Espanha e Portugal também têm há meses déficit de precipitação e os últimos dias foram de graves incêndios na Ilhas Canárias."
Alguém poderia argumentar que em nenhum desses lugares a estiagem, apesar de intensíssima, está sendo a pior da história. O que significaria que já passamos por momentos piores e, não obstante, estamos aqui. Porém, o que deve ser percebido, o grave disso tudo, é que as secas nunca foram tão generalizadas, nunca foram tantas ao mesmo tempo no mundo. Isso é que inédito. Quase todo o planeta sofre com secas severas simultâneas. Aqui em Santiago mesmo, somos testemunhas de uma das maiores estiagens de todos os tempos em nosso município, talvez a mais prolongada da história, com o trágico fato inédito de vermos a nossa imensa barragem quase seca.
E se aliarmos a esses "detalhes" o terrível fato de que o Hemisfério Norte está tendo um dos verões mais abrasadores da história, de que as águas oceânicas setentrionais nunca estiveram tão quentes, de que as águas do mar Ártico atingiram este ano a maior temperatura desde o início da medições, e de que o gelo da Groenlândia chegou a derreter em 97%, recorde absoluto e inquestionável, podemos elaborar uma sombria questão: da forma como não fazemos nada, o que será da humanidade nas próximas décadas?
Um comentário:
Boa pergunta! Morando no Nordeste do país, me questiono sempre sobre isso!
Post muito rico!
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