Crime legalizado e necessário, é verdade, mas nem por isso menos crime. Crime contra o planeta, contra sua fauna e sua flora, contra seus rios. Agora mesmo, serão construídas as hidrelétricas de Belo Monte, na Amazônia, e de Panambi, aqui no RS. Claro que as dimensões da de Belo Monte não são comparáveis a de Panambi. Porém, cada uma será um desastre em sua região. Sim, um desastre ambiental, que a sociedade aceita, porque não há alternativa, não há o que ser feito. Alguns, os que mais lucram com as obras, aceitam com um vasto sorriso no rosto. E os governos proclamam aos quatro ventos que estão promovendo o desenvolvimento de forma sustentável. Para eles, talvez sim. Para o planeta, definitivamente não.
Sempre é realizado um estudo de impacto ambiental antes de se construir uma hidrelétrica, que, no fundo, não passa de um paliativo praticamente inútil. Tudo vai ser destruído de qualquer forma. Quilômetros e quilômetros de florestas inundados. Milhares de animais afogados. Mesmo que muitos sejam retirados antes da construção, é óbvio que grande parte sofrerá e morrerá com a inundação. Magníficas construções naturais sepultadas pela necessidade do “progresso”. E ninguém se preocupa com isso. Ou, se há alguma preocupação verdadeira, ela logo dará lugar à inexorabilidade do crescimento da civilização.
Segundo estudos, a América Latina terá que dobrar sua produção de energia elétrica nos próximos anos para evitar os apagões. Ficamos loucos quando não há energia elétrica, não é mesmo? Não sabemos o que fazer. Eu mesmo não poderia publicar este texto. A humanidade se transforma em um nada. Contudo, a população aumenta, há que se ter energia para todos, as indústrias não podem parar, pelo contrário, têm que produzir cada vez mais, a humanidade tem que se mover, seguir adiante, rumo ao infinito.
Não há mais espaço para os outros seres vivos. “O homem é a medida de todas as coisas”, o Rei da Criação, não é mesmo? Tudo deve ser dele, tudo deve servir a ele, ser escravizado, dar a vida, se necessário. Mas a humanidade não é infinita. O olhar furtivo da morte a ronda de momento a momento. Saberá ele a hora de dar o bote. Chegará o momento em que não será possível seguir adiante. Todos sabem disso, consciente ou inconscientemente. A maioria finge não saber. Outros, não querem nem saber. Mas sabem. Há os que criam todo tipo de evasivas. Fundamente argumentadas. Mas, no fundo, também sabem. É que ninguém, nunca, jamais, gosta de admitir o fim. É politicamente incorreto. O correto é crer que se irá sempre em frente. Mesmo que seja à custa da morte do planeta. Só que o planeta não pensa assim...