20 agosto 2011

Soneto ao Tempo


deixa que passe o que de mim se corre
verás então que cada vez mais rápido
cada vez mais o que se bebe ao trágico
é todo um sonho em correnteza em porre...

deixa que esguiche e que de mim se jorre
tudo que sinto ao cada vez mais ávido
verás então que é cada vez mais válido
este meu Fim que a outro Fim socorre...

verás ao não como ocultei meu lago
com som de pulso este meu sim pressago
inundará tudo o que em ti derrama...

o teu dormir eu sempre sou que trago:
quando se dorme o sangue queima em chama
quando se morre um rio de olhar se inflama... 

18 agosto 2011

O Teu Sorriso Esperado


o teu sorriso  encantado
cantado por entre os sisos
o teu sorriso despido
caído por entre os pisos
o teu sorriso esvaziado
encatarrado o teu riso
o teu só riso calado
frio de lábio manchado
esse teu riso macabro
irônico do meu destino
o teu sorriso sarcástico
o teu sarcasmo descido
escárnio do meu maldito
se rindo do meu sangrado:

o teu deboche divino

17 agosto 2011

A Genialidade dos Buracos, Desníveis e Lombadas das Ruas de Santiago

Abro um pequeno parênteses aqui no blog para elogiar as ruas da minha cidade. As pessoas geralmente reclamam, mas é porque não percebem a genialidade incompreendida que as ruas de Santiago ostentam, encontrando-se cheias de buracos, com valas e desníveis absurdos e enfeitadas de lombadas involuntárias por todos os cantos. 

Para que querem ruas lisinhas e arrumadas? Para correrem com seus veículos e ainda se acidentarem? Para atropelar pedestres incautos? Ou para dirigir de forma absolutamente despreocupada, tediosa até, sem ter que realizar nenhum desvio, sem necessitar utilizar-se de nossa faculdade da concentração, que tenderá, dessa forma, a se atrofiar?

Pense bem, o estado de nossas ruas é a forma mais eficiente e mais barata de evitar acidentes de trânsito. Por isso que cada vez que é necessário abri-las, o calçamento que é recolado fica daquela forma horrível, completamente mau feita. É proposital, é para que os motoristas redobrem sua atenção e não fiquem dormindo enquanto dirigem. Se ele sentir um forte solavanco capaz de quebrar o carro, vai aprender a lição. Dirija devagar, a 20, 30km/h no máximo. Ou nem dirija, saia a pé, estará evitando poluir ainda mais.

E convenhamos, não é muito mais emocionante dirigir realizando desvios, dando freadas aqui e acolá, tendo um solavanquinho de vez em quando, furando um pneu? Sim, isso é a vida. Queriam o quê? Um tedioso mar-de-rosas? Além do mais, dirigir atento é uma forma não só de evitar acidentes, mas também de manter o cérebro ativo. Não é genial?

16 agosto 2011

Mais Alto

um outro sol
um outro sol mais ao alto
se erguerá sobre o sol derradeiro
vitorioso em som sonho e pesadelo
e um outro som mais alto e vermelho
se erguerá em de cada perdido instante
em teu vasto sim de guerra e mais adiante
um outro sou se erguerá em que vai avante
mais alta em larga prata e mortífera espada
de ponta adiante e ainda mais e mais elevada
de ultra e além lâmina e mais afiada em adaga
e um outro canto em soprano surgirá mais além
de sublime em sublime e mais ainda em quem vem
se erguerá mais acima e acima em que nunca ninguém
e se erguerá mais um passo ao alto do horizonte que espanta
e um outro verbo mais grave com fúria aguda venta e se lança
e outro olho mais fundo e avante em outra Força mais alta levanta

14 agosto 2011

no Auge do Fracasso


a minha parte em tudo isso
é a parte do depois de isso...
sei de tudo o que já foi estado
e do que ainda é
mas não posso
estar com o que aí está
pois sou-me um outro passo
pé por pé

nem sei porque digo
isso que passo
mas sei que passo:
e digo o porquê...
que é eu ter que passar-me
e insistir no que não:
quedo a olhar-me onde ninguém me vê

um todo formado por parte
tem sempre última que é a última
que é a que nunca ninguém quer
e ali beijei o meu mister

por isso sou isso
que te canto só
e o meu sucesso
(que é em tudo que não é)
será quando todo sucesso
for apenas pó

não espero que me ouças
(tu – tu mesmo – e todo mais)
e nem espero o que me espera:
o meu objetivo
é ele não ser alcançado
(tu me alcanças?)
por isso já o tenho
e por isso nada faço:
terei minha vitória
no auge do fracasso

12 agosto 2011

Noturno


tu...
em sono mozartiano
dormes intocata:
sonata

eu...
sorumbático sonâmbulo
vou sozinho pelo sempre
em silêncio de verso preto:
soneto

tu...
aos sons sonhos soturnos
com sinos sóis de adorno
adormeces
a dor...
preces

eu... só
pelo sereno da madru...gata:
serenata

11 agosto 2011

a Brahms e seu Trio Opus 8


se Borges
se considerava indigno de Ti
o que é que me resta?

resta-me o que me revelaste:
um só dos teus trios
é uma revelação mais elevada
que uma trilogia de Bíblias
e que toda a obra de Kant
triplicada

e tão mais alta é então do meu verbo
que minha mais alta palavra
se queda em cadente miséria
minha mais alva palavra
que é mais alta que meu eu
e eu mesmo sou alguém que desceu...

então me largo e nem te canto
e nem me conto e só me alago
em teu mar de Verbo em que me trago
que me tragas em tuas águas hialinas...

nem verbos nem versos nem cantos
mas numa lágrima cálida eu calo
diante do amor que me ensinas...

10 agosto 2011

78% das Florestas do Planeta já não existem mais. E O Senhor dos Anéis.

O leitor deve estar se perguntando o que uma coisa tem a ver com a outra. E eu respondo: muito. Há cerca de 70 anos, o escritor de uma das maiores criações da imaginação de todos os tempos, J.R.R. Tolkien, deixou-nos, no segundo volume de “O Senhor dos Anéis” – “As Duas Torres”-, o seguinte: “As florestas do mundo irão sucumbir diante do poder da indústria”.  Claro que o “mundo” a que Tolkien se referia era a “Terra-Média”, o mundo de sua imaginação. Mas torna-se mais claro ainda que a sentença do escritor é perfeitamente aplicável ao nosso planeta. Soa como uma profecia, um aviso, uma previsão. Na época da elaboração de “O Senhor dos Anéis”, ainda havia muita floresta ao redor do planeta. A Amazônia, por exemplo, estava praticamente intacta, assim como as florestas do Canadá e da Rússia asiática. Já hoje... Convido-os a acompanhar os índices abaixo:

Índices de destruição florestal ao redor do mundo:

Europa: 99,7%
Ásia: 94%
África: 92%
Oceania: 78%
Rússia: 71%
América do Norte: 66%
América do Sul: 54%

Fonte:  World Resource Institute, EUA.

Realizando-se o cômputo geral, 78% das florestas do planeta já não existem mais. Para os otimistas, os crentes nesta humanidade, aqueles que acreditam na evolução eterna, que a humanidade está sempre melhorando, esse catastrófico fato não deve passar de um acidente de percurso, que a humanidade irá tirar de letra. Evolução... Como se assim fosse com todas as coisas... Por acaso não nascemos, crescemos, tornamo-nos adultos e depois envelhecemos e morremos? Isso é evolução e involução. O dia evolui e involui para que venha a noite. E depois é a vez da noite involuir para que venha o dia. Assim é com tudo no universo. Por que seria diferente com a nossa humanidade?

Eu não temo afirmar que esta atual civilização humana já principiou seu processo de involução. Não digo que a humanidade vai acabar total e simplesmente. Digo que esta civilização está a caminho de seu fim. Não quer dizer que não possa surgir outra depois. Os sinais tornam-se lentamente evidentes com o passar dos dias. Qual o primeiro sinal da aproximação da morte? Uma doença no organismo, que pode ser curável ou não. Qual o organismo da humanidade, o seu corpo? É o planeta, obviamente, que se encontra gravemente doente. É um fato inquestionável. Em sua arrogância e pretensa autossuficiência, os homens creem que a ciência ou que um ajuste utópico e absurdo das coisas por si só irão resolver os problemas que nos ameaçam. É belo ser otimista. Até parece sábio. Para as coisas se resolverem, o homem teria que mudar essencialmente. Agora. E olhe lá. Mas quem conhece o ser humano sabe que ele não muda.

O ser humano pensa que ele é o único ser que sabe das coisas e se vangloria de seu inútil intelectualismo. Sabedoria transformou-se em sinônimo de vã intelectualidade e de complexas teorizações, suntuosos castelos belíssimos na aparência, mas que não guardam essência alguma. O saber advindo da intuição, do coração, da espiritualidade é hoje ridicularizado. Mas é assim que os poetas, os artistas sabem. Foi assim que Tolkien previu o desastre de nossas florestas. Fico com Goethe: “Toda teoria é cinza, e só é verde a árvore de dourados frutos que é a vida”.

Há sabedoria no planeta. E nas suas conexões universais. Bem mais do que no homem. A Terra, nossa mãe e organismo da humanidade, saberá varrer aqueles que estão a parasitando. O novo só surge quando o velho morre. Essa é minha única esperança.

08 agosto 2011

São Todos Iguais


um verso igual
e outro parecido com o primeiro
outro verso igual
e mais um
sem diferença alguma
outro verso igual
e absolutamente monótono
e outro verso monótono
monótono
e igual ao segundo
igual ao terceiro
igual ao quarto
ao quinto
ao sexto
ao sétimo
todos iguais ou parecidos
e outro verso igual
e outro verso parecido

parece que não é
mas é
pensa que não é
quer passar como se fosse diferente
mas é igual
igual a todos os outros
os outros todos iguais
igual parecido
parecido igual
absolutamente chatos
insuportáveis e medíocres
todos iguais entre si
iguais

iguais
aos seres humanos

07 agosto 2011

Minha Culpa

a culpa é minha
(ponto)
e em mesmo no que não me sou
sei que sou eu o culpado
carrego a culpa de acertar
quando devia me levar errado
admito que nunca fui admitido
ali onde jamais estive
e que é minha culpa que me deixa livre

todo carrego-me de lado a lado
sendo o fumo que respiro do que fiz
e ainda mais do meu não-ato
quando mascarei-me de sensato
não passei de um quase e de um triz

quando amanheci-me já era tarde
e sempre quando olhei ao céu
(com todo erro do que é meu)
se me (as)somava a tempestade

revelo-me como alguém que não presta
que para não ter que morrer em si
se deu um tiro na testa
e martelei-me em invisível tribunal
para ter a certeza absoluta
de que eu sou mal

de todas as culpas sou culpado

a não ser de uma:
a de ter coragem de dizer-te.
e por isso condenado.

05 agosto 2011

Mais Um Trecho de Um Instante de Sono (Sono Sanguíneo)

como o líquido negro do café
que escorre dos vales da minha urgência
sonho que um vinho
vive em meu passo à beira...

sou daqueles
que passam às margens do tenso
no passar em seus três sentidos
e sempre um símbolo de humanidade
morta
despenca-me tumularmente furiando
a cada lágrima que em teus
cílios convulsiona-me

um sei que se apaga
no morrer-do-sol
durmo como dorme a lua febre
envelhecida pelo fumo de um cigarro
só não dorme
o que vulcanicamente pulsa
na pele sonâmbula do sentimento
em finais
derramamentos de violinos ocasos
ao Fim da História...


durmo após o mundo

no pânico do ansiamente em charme
para acordar nos roxos abraços
dos sangues do que deve abraçar-me...

03 agosto 2011

Amar é o Quê?

o que é dizer que somos todos irmãos?
que temos todos o mesmo pai
ou a mesma mãe?
ou somos irmãos
porque somos a mesma coisa
a mesma essência a mesma substância?
enfim, eu sou o outro
e vice-versa?
tudo que há em mim
no outro também universa?

sou irmão do tigre
que é filho da mesma Terra
e onde corre sangue que é rubro
ou porque o seu sangue
é uma parte do meu em onda espiritual?
se ele morre
escorre
algo do meu vital?

se os homens se dilaceram na guerra
ou se degeneram em miséria
que sonho do meu ser é que se vai?
que olho do meu peito chora e se contrai
se a floresta se esvaece em fumaça?
quando o planeta sofre
que vida se derrama da minha taça?

sofro porque eu sofro
ou porque o todo sofre?
o sangue derramado lá
sou eu derramado aqui?
o que é isso que goteja das minhas mãos
quando uma cabeça é esmagada?
é lágrima é sangue é mentira
ou é nada?
quando o sol se obscurece no céu
anoitece uma luz no que sou eu?

e isso que digo é para algum fim
ou sou só eu que sinto assim?

02 agosto 2011

O Gênio Maldito Arthur Rimbaud abandonou a poesia e foi traficar armas. E fez muito bem.

Nascido em 1854, na França, Rimbaud, um dos maiores gênios poéticos da história da humanidade, criou toda sua obra entre os 15 e 20 anos de idade. Obra absolutamente fenomenal. Revolucionou a literatura, partindo do simbolismo de Baudelaire, Rimbaud anunciou o irracionalismo e o surrealismo, foi um dos criadores da poesia moderna, influente até os dias de hoje. E com uma obra criada na adolescência. Ele via coisas que ninguém via. E soube como raros expressar as suas visões em palavras de loucuras, alucinações e delírios.

Depois disso, abandonou tudo para viajar pelo mundo, não a passeio, mas a loucura, e sua vida se transformou num mito. Não quis mais saber de escrever. Estava certo. Para quê? Ele já tinha feito mais do que suficiente. E para que perder mais tempo com poesia? Se bem que até tem certa utilidade. Para se postar no twitter, por exemplo. Mas Rimbaud queria provar para seus pais que era um cara sério, e não só um poeta. Foi tentar enriquecer na África. Depois que o acusaram injustamente de homossexualidade. Ele não era. Pelo menos não há nenhuma prova de que o fosse. Pelo contrário. Só se conhecem ligações de Rimbaud com mulheres. Teve um caso com uma viúva italiana e depois casou com uma etíope. Dizem que seu amigo, Verlaine, era bissexual. Porém, Verlaine afirmou que foi tudo invenção da mulher dele. Bem, aí eu já na sei. E também, se Rimbaud fosse homossexual, sua obra continuaria a mesma.

Toco no assunto, porque já inventaram muita coisa sobre Rimbaud. Inclusive que ele teria feito tráfico de escravos na África. Comprovou-se que foi uma calúnia. No entanto, é verdade que traficou armas no continente africano para ganhar algum dinheiro. Como já disse, ele queria provar a seus pais que era um homem sério capaz de ganhar dinheiro e enriquecer. Não trabalhando. Poetas são seres vagabundos. Não gostam de trabalhar. Aliás, quem é que enriquece só trabalhando? Como diria Balzac: “Por trás de toda grande fortuna, há um crime”. É, traficou armas, mas não foi muita, não. Não conseguiu enriquecer.

Mas ele não fez só isso em suas andanças delirantes. Andando por toda Europa e parte da África e da Ásia, aprendeu diversas línguas, aprendeu a tocar piano, tentou se alistar na marinha americana, fugiu da polícia, foi catador de destroços, teve que amputar uma perna e acabou contraindo febre tifóide. Morreu com 36 anos. De uma vida vivida intensamente.

 O que fez Rimbaud abandonar a poesia, para a qual era tão espetacularmente dotado, e ir traficar armas? Não, não foi só o desejo de mostrar aos pais que ele poderia ganhar dinheiro. Abandonou a poesia porque era poeta demais. Porque sentia demais. Ele simplesmente não sabia mais o que dizer. Dizer como? Para quem? Para quê? Se o que ele escreveu na adolescência já era incompreensível para o seu tempo, o que seria a sua criação da fase adulta? Não, Rimbaud não tinha mais nada o que escrever.  Desiludiu-se com tudo, com a humanidade principalmente, e foi tentar ganhar dinheiro. Não, foi tentar viver. Chegou àquele ponto em que não se agüenta mais nada e que nada mais serve, tudo é miseravelmente pouco. Decidiu então ir para longe da mediocridade dos que tentam julgar e determinar o que não se pode: a poeta e a poesia. Alguns gênios malditos quando chegam ao ponto de Rimbaud, suicidam-se, viciam-se em alguma coisa, venenosa, de preferência, tornam-se ocultistas, saem a cometer as coisas mais abomináveis diante do julgamento medíocre dos olhos da sociedade hipócrita. Rimbaud foi traficar armas e encontrar a morte em meio ao horror.

Nenhum reles humano tem permissão de o julgar. Quem já leu “Uma Temporada no Inferno” sabe disso.

“O poeta é o grande enfermo, o grande delinquente, o grande proscrito e o maior dos sábios.”  Arthur Rimbaud

31 julho 2011

Eu Sou o Bem

sou o que nunca está sempre sendo
eu sempre fujo
de onde sabem que eu estou
para que não me saibam em erro
porque o erro é o que sou
não o erro do equívoco
mas o erro do que se entende como erro
pois estou no oposto do senso
sou vago impossível denso...

nunca estive ali onde me dizem
confundo-te para que me entendas:
sou o que está latente
nunca deixo meu olho
e tu nunca sentes meu dente...

existo entre o que não há-de
não há sinal na minha face
e não há quem a trace
e nem que possa vê-la:
sou eu que a(s)cende o sol
em silêncio de não-vista vela
sou sempre o teu não-ver:
eu sou o Ser

29 julho 2011

O Mundo Próximo da Terceira Guerra Mundial?

Se voltarmos algumas décadas na história, mais precisamente para os anos 30, veremos um cenário mundial bastante semelhante ao que vivenciamos atualmente. E não é preciso conhecer muito de História para saber que na segunda metade da década de 30 a humanidade desembocou no horror da 2ª Guerra Mundial.

O que acontecia mesmo naqueles distantes anos 30? (Nem tão distantes assim...).  Primeiramente, a xenofobia na Europa chegara a um nível assustador. Como hoje. Quem não era europeu de sangue não era bem-vindo por lá. Hoje também não. Tão grande é o racismo e o preconceito europeu que Anders Breivik, o responsável pelo genocídio na Noruega foi apenas considerado culpado, pela OTAN e pelos EUA, de um simples ato de violência. É que ele é europeu e cristão. Se fosse árabe e muçulmano, seria um terrorista. Percebam que o “autêntico" norueguês deixou um manifesto racista justificando seu ato, não um texto sem sentido, escrito por um lunático, mas um texto racional e bem argumentado, muito embora sem fundamento científico. Lembra muito o “Mein Kampf” de Hitler. É óbvio que ele não fez o que fez sozinho, sem respaldo na sociedade. Há todo um pensamento e uma  atitude racista na Europa que lhe dão sustentação. O nacionalismo europeu voltou a crescer nos últimos anos com força espantosa. Não nos esqueçamos que o nazismo era em essência nacionalismo exacerbado.

E a crise econômica atual? Muito semelhante a dos anos 30. Está certo que os EUA ainda não estão no nível da Grande Depressão. Mas estão perto. A um passo de um calote na dívida. Já pensaram no que isso irá significar para a economia mundial? A maior potência mundial dando calote. A Europa já está sendo varrida por uma das piores crises econômico-sociais de sua história. O desemprego raras vezes foi tão alto. Impostos sendo elevados e benefícios sendo retirados da população. A verdade é que a Europa anda mal das pernas. E cada vez pior. O que isso causa mesmo? Revolta e insurreição social. E assim vai crescendo ainda mais o ódio contra os estrangeiros. Que vão para a Europa “roubar” os empregos dos europeus. E os outros povos, sentindo-se injustiçados, explorados, discriminados, violentados querem revidar, é claro. Ah, a vingança, o gosto da vingança não tem preço. O terrorismo é a arma para se sentir o gosto da vingança. Na década de 30 havia antissemitismo. Agora há anti-islamismo.

E agora há um ingrediente a mais para uma nova guerra mundial: a crise ambiental. Afinal, guerrear por água talvez seja melhor que guerrear por petróleo. Isso sem falar nos refugiados ambientais, aqueles que fogem desesperados das catástrofes que cada vez mais assolam o planeta. Para onde eles irão? Imagine milhares, milhões de refugiados miseráveis invadindo o seu país, já em crise econômica... Ah, não dá para aguentar, é guerra.

E assim caminha a humanidade...

27 julho 2011

Eu Sou o Mal

quando os teus olhos olham
sou eu que olho nos teus olhos
não por fora mas de dentro
mesmo que vejas
pensando que eu sou tu...

quando sentes não me sabes
mas sou eu ali em teu desconhecer
sentindo o meu como se fosse teu
pois se soubesses de mim
esse mim não seria eu

mas sou eu que invento tua mentira
que não sabes que mentes
a de que eu nunca amo
apenas me apego
e minto que o apego
com que sofres
é amor
na verdade nunca digo a verdade
a não ser (eu sou o não-ser)
que ela me interesse
e o meu interesse é no que é meu...

sou a máscara invisível
a face que é a tua
mas que não vês e nem ninguém
e que talvez só vejam a ela
eu sou a tua tela...

quando pensas sempre pensas em mim
sem pensar
porque sou eu que penso por ti
mas digo que és tu
para que desejes o que eu desejo
sou o que passa pela tua cabeça
quando  pensas que tens o controle
e movo tua mão
como marionete...

conheces-me tão bem
quanto a ti mesmo
mas eu te conheço melhor
e gosto de não ser aceito
porque me faço aceitar
em meu não-ser negro
sem ser percebido:
estou em tudo que é teu...
eu sou o Eu

25 julho 2011

O Erro é o Há Certo

quanto mais me tento acertar
mais me alongo do acerto
se me aproximo fico mais longe
e da distância me distancio
como o poço que é sempre mais poço
quanto mais está vazio...
talvez porque o certo
não seja o que é acerto
nem o que mais perto

aquilo que falo
falo a que onde?
quando digo
quem é que está comigo?
o que é aquilo que ao não me responde?
em que ego o meu eco ecoou pela Terra?
o que me ergue é o que me aterra...

errando pelo meu caminho
tornei-me o deus do que não sou
e matando-me a mim
deixei minha flâmula
no alto do cerro:
acertei-me mais
quanto mais mirei no Erro...

23 julho 2011

Versos Erguidos

sempre distante de teu sucesso tedioso
sentenciei-me acabando por entre meus sonhos
e quanto mais fundo me acabo
ergo-me cada vez melhor acabado

sempre longínquo de teu marasmo sensato
acabei-me flechado por trágico orgulho
e quanto mais me dispo de orgulho
ergo-me cada vez mais exaltado

sempre em desprezo de teu saudável sorriso
orgulhei-me de insano em dramática doença
e quanto mais em violência adoeço
ergo-me cada vez mais inflamado

sempre em desgraça de teu vazio perfeito
adoeci-me em tormentas de arcanjos rebeldes
e quanto mais sem consolo rebelo-me
ergo-me cada vez mais rebelado

sempre em fracasso de teu destino traçado
rebelei-me sendo Rei sempre ao descer
e quanto mais aos abismos me desço
ergo-me cada vez mais elevado

21 julho 2011

O Ar em Movimento

minha palavra em lava
esvaziada pelo vento
o vazio da minha lavra
de palavra já ventada
minha lava em ventania
sem palavra no vazio
o meu livre enderramado
esvaziado em vendaval
minha palavra deslavada
derramada do meu vaso
meu vazio ventalizado
já lavado de palavras
meu tornado derramado
desvazado no meu livre
minha palavra ciclonando
em teu vazio vandalizada
ventaniando minha palavra
um furacão para  o teu nada

20 julho 2011

Aviso

um fóton da luz
é o que me fala-te
um fluido da lua
é o que te diz-me
lá por onde
(em que meu soprar se esconde)
meu verbo versa pelo vento
é que em ser me sou
lá onde rumam-te rumores
é onde em ver sou sol
há na minha sina um sino
(desígnio em destino)
que se (h)ouve além
de onde ele não está
que no que digo sempre venta
(atenta ao que te (a)tenta)
há um sussurro de livre escuro
e minha cura onde febre murmura
que onde não estou em meus olhares
meus versos vos olham todos lugares...