07 novembro 2013

o homem que não muda

com a muda
de árvore
nas mãos miúdas
espera o homem
(que nunca muda)
mudar o mundo

o homem que não-muda
entre a merda e o medo

e a poesia muda
como quem observa
um morto
como sendo grave
a poesia em silêncio
como sendo árvore

05 novembro 2013

Três Chutes Não-Poéticos

I

a poesia
ocupa cada vez
menos espaço
porque o homem
já está saturado
esgotado
explodindo
de vazio

II

o que há de mais antiquado
que escrever
“sublimemente”?
primeiro
é contra as regras literárias
segundo
é contra os vazios humanitários
por isso a palavra
nem foi escrita
logicamente

III

há homens
que acham que dizem algo
dizendo
o que (não) tem a dizer...
poderiam poupar-nos
da sua fra(n)queza


03 novembro 2013

Não Voto em Filho da Puta*

prezado
senhor candidato:
com todo respeito
vou pegar o meu voto
e enfiar no teu rabo
de rato

não me venhas
com apertadinhas de mão
podres imundas infectas
de micróbios de corrupção
e das mais fedorentas melecas

no ranço do teu sorrisinho
de boca amarela e fingida
deixo o voto do meu catarro
mijo ressaca e sarro
tuas alegrezinhas
musiquinhas
ridículas
enfia
nos teus orifícios propícios
que eu sei muito bem
quais são as alegrias
das campanhas políticas:

queres
passeatas
carreatas
mamatas?

conchavos
conluios
canalhas?

tratados
tramoias
trapaças?

sobre a merda do teu santinho
apago meu cigarro vadio
ah, e senhor candidato
nobremente
vai à puta que pariu!


*Poema reelaborado e republicado e deixado em homenagem a alguns pré-candidatos Brasil afora.

02 novembro 2013

Dois Palmos pra Dentro

algumas pessoas
tanto falam em conhecer-se a verdade
que a verdade
já não fala ao que eles conhecem

enquadram a verdade
em determinados quadrados
e desconhecem a que está
a algumas próximas quadras

passam pelas ruas
a perpassar passadas
e não percebem a verdade
pela qual passam a dois passos

das abertas palmas das mãos
largam flores e palmas
mas não apanham a verdade
que passaram a dois palmos atrás

ou perderam
a dois palmos pra dentro

29 outubro 2013

Fragmento Absurdo de Uma Existência Futura nº5 - Quatro Golpes de Pá na Cabeça

Não se podia falar sobre o assunto. Nenhum comentário. Ninguém podia. Nem nas ruas nem em qualquer outro local público. Até mesmo em casa era perigoso. Quem o fizesse seria preso de imediato, caso fosse descoberto. O que não era algo difícil de acontecer, pois os malditos agentes e espiões do governo estavam por toda parte.  Havia escutas em todos os lugares. Era a lei do novo governo mundial. Foi necessário centralizar o governo da humanidade para, diziam eles, evitar que o pânico injustificado e errôneo se espalhasse por todos os cantos do planeta e então imperasse o caos. Qualquer um que falasse do assunto era considerado criminoso porque com sua irresponsabilidade alarmista e desinformada estaria espalhando um pânico talvez fatal por entre a população pouco esclarecida. Essa era a justificativa deles. Dos membros do governo mundial.
Claro que o governo mundial era formado por membros dos países ricos. Ou que se achavam ricos. A interminável e crescente crise econômica, a cada dia agravada pela aniquilação ambiental e pelas definitivas e radicais alterações climáticas, vem fazendo tabula rasa das “potências” mundiais. Países subdesenvolvidos, desenvolvidos, em desenvolvimento... Não faz mais sentido. Tudo faz parte da mesma merda.
Uma puta de uma mentira, é claro. Primeiro que o caos já impera absoluto há muito tempo. Segundo que o pânico não só é justificável como somente imbecis mantêm-se calmos diante da situação absurda em que nos encontramos como espécie, acreditando nas besteiras estúpidas dos governos e de suas ciências falidas. Imbecis, ou então pessoas que alimentam uma indiferença suprema, como a minha. Pouco me importa que a humanidade inteira apodreça. Talvez seja o que merecemos.  A civilização há tempos vem cavando sua sepultura. Uma hora tem que cair no buraco que cavou.
Mentiras deslavadas, falsas verdades, silêncios impostos a força (com subornos, ameaças, prisões ou mortes, por exemplo), versões distorcidas, engenhosas histórias inventadas, farsas escancaradas, belas e luminosas teorias sem pé nem cabeça, ocultação de fatos, enfim, o arsenal para manter a população sob controle  não tem fim. Mas começa a ruir, e as coisas começam a se acelerar. Há coisas que já não se pode esconder.
Principalmente, depois daquele colossal terremoto em terras do Primeiro Mundo. Ou do ainda chamado “Primeiro Mundo”. Mais de 400 mil mortos. Que se sabe. E mais algumas dezenas de milhares de desaparecidos. Talvez centenas. Foram pegos de surpresa.  Não paravam mais de achar corpos. Até que desistiram de procurar. Procurar mais seria fazer a população se chocar e sofrer desnecessariamente. Diziam. Já estavam mortos mesmo, fazer o quê? Que importava encontrar ou não agora seus corpos.
A ciência, já em franca decadência, não havia previsto nada. Ou, se previu, escondeu, acreditando que conseguiria evitar o pior. Eles sempre tentam evitar o pior. Ou melhor, dizem que tentam evitar o pior. E que trabalham em prol do bem da humanidade. Tudo fachada.  Conversa fiada para os palhaços. Trabalham para manter o status quo das coisas. Ou seja, dominantes e dominados, os que produzem e os que consomem, os que lucram e os que pagam. E consumir, basicamente, é o grande ideal da humanidade do século XXI. Poder consumir sempre e mais. E os que produzem convencem muito bem de que se deve consumir sempre e mais. Mas uma hora tinha que explodir. Só ninguém, ou quase ninguém, esperava que fosse do jeito que está sendo. Os filhos-da-puta ainda tentam mascarar com inúmeros atos sórdidos. Mas não está dando. Ele já está muito perto.
            Bom, mas eu falava naquele terremoto. Aqui na cidade miserável onde vivo também houve um. O primeiro da história nesta região. Não foi, obviamente, tão intenso quanto aquele na Europa. Mas matou gente, centenas delas, soterradas pelas ruínas de prédios. Minha casa não chegou a ser afetada. Mas me ofereci como voluntário para ajudar a socorrer os milhares de feridos. Cheguei a resgatar, ou tentei resgatar, uma menina de não mais que seis anos de idade dos escombros. Sua perna direita estava presa por umas ferragens gigantescas. Não havia como tirá-la dali. Eu estava sozinho. Chovia. Tive que serrar sua perna na altura do joelho. Eu havia trazido algumas ferramentas de casa, entre elas minha serra de açougueiro. O sangue esguichava na minha cara. Os berros da menina eram insuportáveis. Serrei a perna e tirei-a de lá. Carreguei-a sangrando por quase um quilômetro em busca de ajuda médica. Não encontrei nenhuma. Pensei em levá-la para minha casa. Mas seria inútil, eu não poderia fazer nada e ela morreria em poucas horas. Então, exausto, larguei seu corpo e disse a ela. “Mocinha, não tem jeito, nem eu nem mais ninguém pode te ajudar”. Ela ainda chorava, chamando pela mãe, quando morreu.

            Prossegui caminhando pela região do desastre. Já quase mais ninguém ajudava a encontrar sobreviventes. Talvez não houvesse mais. Parei quando uma mãe se escabelava pelo filho morto esmagado. Gritava desesperada:

             - Aqueles desgraçados, eles são culpados da morte do meu filho, matem aqueles desgraçados, me ajudem, façam alguma coisa! Eles são culpados, dizendo merdas, aqueles desgraçados, matem eles, sempre mentindo, sempre dizendo que tudo está bem, que tudo está sendo controlado, mentirosos filhos-da-puta, alguém mate aqueles desgraçados, pelo amor de Deus, ajudem uma pobre mãe!

Então, em poucos minutos, surgiram três homens com uma pá. Eram homens do governo. Agarraram a pobre mulher pelos braços e pelos cabelos, arrastaram-na até um canto escuro. Não perceberam que eu os observava. Mataram a mulher com uns quatro golpes de pá na sua cabeça. Depois, encheram de ferimentos seu corpo e cobriram-no de barro. Assim, ela pareceria ter sido tão somente mais uma vítima do terremoto. E a polícia não investigaria mesmo.

         A mulher havia falado demais num lugar público. Mesmo que não houvesse ninguém naquele merda de lugar devastado, sempre se corre o risco de alguém ouvir. Eu, por exemplo, ouvi. Tive a sorte de estar escuro e de não me verem. É como eu disse. Ninguém pode falar nada. Deve-se fingir que não se percebe o que está ocorrendo. Mas não adianta mais. Ele já veio, já está visível. Não sei que tipo de mentira estão dizendo agora, não tenho mais acompanhado as notícias fajutas do jornais, todos controlados pelo governo mundial. Mas a farsa está ruindo como aquele prédio ali adiante. Aliás, quando o prédio cair, aqui, deste ângulo em que estou, dará para vê-lo, triunfante.

27 outubro 2013

da Partícula de Si Mesmo*

I

nossos intelectuais
estão certos
de que preveem o futuro
e antecipam o a frente
(...)
mas deveriam fazê-lo
acendendo
(antes)
uma vela
pelo escuro
do seu (v)entre

II

dizem
ter descoberto
a “partícula de Deus”
(o homem
procura a sabedoria
como se pescasse uma palha
em um palheiro
a esmo)
só lamento
o nunca encontrarem
a partícula
de si mesmo

III

perguntam-me
qual afinal
a minha esperança...
eu não escolho esperanças
eu espero o que vem
não espero
por exemplo
que tu - ser humano
me ames

e o que importa
é que existe Brahms

*Poema reelaborado e republicado

25 outubro 2013

O Artista deve ser Maldito

I

o artista
(poeta músico ou o diabo)
é sempre um egoísta:
quer que os outros
sintam as emoções
que são suas

os outros
não sentem nem as deles
os outros quase nunca
sentem nada

II

ou talvez o artista
seja aquele que desperta
as emoções dos outros...
alguns dirão
que é uma tarefa ingrata
eu direi
que é palhaçada

III

é por isso que o artista
(hoje mais do que nunca)
deve ser maldito:
uma  pessoa só reage
(e mais se emociona)
quando provocada

24 outubro 2013

Uma Mensagem Deixada

os humanos deixaram-se
esqueceram-se
do que já nem se sabe
do que já nem foi
tanto não foram
que já agora não são
tanto não foram
que acabaram por não ir

fizeram tantas coisas
que mal chegaram a existir
formaram tantas cidades
onde não se viu viverem

ao quase nada
que sobrou da humanidade
deram o nome de arte
que é o que não foi
do  não ser humano:
o homem não-sendo
só tendo a arte
para voltar ao ser
que se deixou
entre o cair
e o des-ser

21 outubro 2013

do Grande Homem

grande é somente
o homem
que funda sua obra
como sendo árvore:
desde a semente única
no nada do solo
até a folha última
no auge do topo

aqueles que sobem
no meio do tronco
(como que pegando atalhos)
para tentar fazer crescer
ou endireitar os galhos
acabam caindo de tombo
após alguns poucos
(ou alguns muitos)
estalos
e talhos

19 outubro 2013

do Momento Correto

o momento correto
para estar agir dizer
sobe sempre em curva
e nunca em caminho reto

só o percebem
aqueles que desviam
os olhos da reta
para contemplar a paisagem
em marcha lenta
como que se deliciando
com os detalhes da passagem

o momento certo
da ida volta ou revolta
nem é questão de ser esperto
mas de intuir
que aquela é a entrada justa
da incógnita de uma porta
avistada pelo longe

olhar para o lado
é o segredo:
o inimigo nos julga esquecido
e esquece de manter cuidado
e de compreender o medo...

18 outubro 2013

Para Um Rebelde*

rebelde com causa
sem causa
ou rebelde com cauda
de rato?

rebelde com calda
açucarada
de leite
de saco
escroto

rebelde com causa?
rebelde com calça
frouxa
frouxo
trouxa
engolindo os reais
(que diz ser o real)
dos outros
rebelde com calça
arriada

rebelde arcado
alcaide
curvado
com espinho na goela
e espinha dobrada
com o peso
do desprezo
do seu preço

rebelde sem calça
com o saco
sem bolas
que coça
e com o saco
de outros
que puxa
com cara
de puta

*poema reelaborado e republicado

17 outubro 2013

O Governo PP em Santiago e a Política da Aparência

A administração do PP em Santiago, e não é de hoje, vem sofrendo de um mal bastante comum nos nossos dias, principalmente quando se trata de Brasil:  o da "Política da Aparência". É só em Santiago tal fenômeno? É ostensível que não. Mas como vivo aqui, falarei do que tenho visto em minha cidade. E seja como for, aqui se tem a forte impressão de que a "Política da Aparência" tem raízes bastante profundas, pois é muito bem vista pela sociedade em geral, preocupada, enfim, em ser contentada com o "belo" e com as "fachadas" pelos locais por ande mais se transita.

Aqui a política da aparência consiste em se investir no centro, enfeitando-o, deixando-o "ajeitadinho", e esquecendo-se do trabalho nos bairros, de nossos principais problemas sociais, como a ausência de oportunidades de emprego, como as questões ambientais, que vêm sofrendo um verdadeiro descaso por parte do poder público. 

Enquanto as ruas centrais foram asfaltados (aliás, parece-me que não com um serviço de grande qualidade, pois já começaram a ficar esburacadas) e luminárias novas e canteiros de flores foram espalhados pelo centro, o que é bonito, sem dúvida, as ruas de muitos bairros continuam sem calçamento, tapadas de pedras e buracos, não obstante as seguidas promessas de campanha. Soube pessoalmente de casos de ruas onde se cobra IPTU, mas não se calça porque se considera de zona rural. Exatamente. Um morador foi reclamar que havia sido prometido durante a campanha política municipal o calçamento de sua rua. Disseram a ele que a rua não poderia ser calçada, pois estava em zona rural. Com o detalhe de que o morador ( e demais moradores) pagava IPTU a mais de 20 anos. 

O acima citado é apenas um exemplo desse descaso com o que NÃO DÁ NA VISTA, mas existem vários outros. Esgotos a céu aberto, lixo acumulado nas margens das ruas e em terrenos baldios, cursos d'água totalmente poluídos, abarrotados de toda espécie de sujeira, esgoto doméstico despejado em arroios por não haver nenhum tipo de tratamento disponível, mau-cheiro espalhado por locais públicos... E todos eles afastados do centro. É que melhorar e deixar o centro bonitinho traz votos, é APARÊNCIA, e não é isso o que vale nos dias de hoje? 

Logicamente que a questão ambiental é responsabilidade também da população. Mas e ela recebe a educação devida para saber como evitar a poluição? A Cidade Educadora é uma ótima ideia. Mas pergunto: está chegando aos bairros? A quem mais precisa? Que atividades estão sendo feitas, por exemplo, para amenizar a caótica situação ambiental da periferia santiaguense? Tenho a impressão de que a Cidade Educadora é apenas um negócio de e para as elites. Corrijam-me se eu estiver errado.

E o emprego? Há os que garantem que há aqui em Santiago emprego para todos. Que tipo de emprego? Aqueles que se entra "de favor" em alguma empresa que paga mal e depois se tem que aguentar o que vier para não ser despedido? Ou será que é aqueles empregos em que se paga bem, mas que se precisa de algum apadrinhamento para se obtê-lo?

Outro ponto são os investimentos em cultura. Existem? Talvez, mas como são feitos? Com bustos de escritores espalhados pelo centro e calçadas da fama apenas para SE DIZER TERRA DOS POETAS? Com casinhas enfeitadas? Não há uma maneira melhor de se investir esse dinheiro? Eu sempre fui um crítico de feiras de livros. Não só das de Santiago. Na minha opinião, o dinheiro investido numa feira, que é muito mais um espetáculo para o divertimento do povo do que para VERDADEIRAMENTE promover a cultura, poderia ser muito melhor aproveitado com, por exemplo, um auxílio efetivo aos escritores da terra, SEM NECESSITAR SER DO PARTIDO DA SITUAÇÃO OU SEU SIMPATIZANTE, e, talvez ainda mais, com a valorização do trabalho dos professores, que lutam incansavelmente para possibilitar um resquício de educação a nossos jovens das escolas municipais. 

Mas tanto os governos municipais como as populações ignorantes preferem feiras de livros. Um espetáculo montado que me cheira a farsa. Houve uma feira do livro aqui em Santiago em que se pagou milhares de reais para uma palestrinha bem lugar-comum do Gabriel Pensador. E quem escreve aqui, na Terra dos Poetas, o máximo que consegue é um cantinho qualquer pra lançar seu livro. E ainda julgam isso o máximo. Desculpem-me, mas minha visão de cultura é outra.

Porém, por outro lado, não se pode condenar tanto o governo municipal pela "Política da Aparência". Afinal, é o que o povo quer. Rostinhos bonitos, ainda que almas podres. A humanidade toda é uma grande fachada. O homem é uma grande farsa.



14 outubro 2013

do Atraso do Mundo*

o que há de pior
são os que querem saber para todos:
“não olhe pela janela,
eu já olhei
e não há nada lá fora”

são como aquelas visitas
que te impedem de sair
por nunca irem embora

o que há de pior
(do que um energúmeno)
são os que querem
que calcemos os seus próprios sapatos
de menor número

nada atrasa mais o mundo
do que estar certo
de que o mundo
está certo
dentro dos limites
que ele tem

é como sempre pisar no seco
para nunca molhar o pé

os que criam
são os que veem o que não é


*Poema reelaborado e republicado

13 outubro 2013

Acidez dos oceanos é a maior já registrada e pode aniquilar com 60% da vida marinha

Um relatório do Conselho Nacional de Ciências dos EUA afirma que a poluição produzida pela humanidade, principalmente o dióxido de enxofre, o qual é absorvido em grande parte pelas águas marinhas, está tornando os oceanos cada vez mais ácidos em um nível "sem precedentes", reduzindo drasticamente sua porcentagem de oxigênio e ameaçando toda a vida marinha, já em grande parte afetada e reduzida, e, consequentemente, ameaçando também a existência da humanidade que depende dos mares para sua sobrevivência. 

Afirma o Conselho: "A química do oceano está mudando numa taxa e numa magnitude sem precedentes, devido às emissões antropogênicas de dióxido de carbono. A taxa de mudança excede qualquer uma conhecida que tenha ocorrido nas últimas centenas de milhares de anos."

Um relatório do Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos  adverte que "estamos expondo os organismos a uma pressão evolutiva insuportável. A próxima extinção em massa (de espécies) pode ter começado". 

A acidificação dos mares, por exemplo, corrói recifes de coral, interfere na capacidade de algumas espécies de peixe em se localizar e pode prejudicar frutos do mar como mariscos e ostras, impedindo-os de produzir suas conchas. Isso, a princípio. Com o passar do tempo, prosseguindo o crescimento da acidificação, as consequências podem ser muito piores e amplas, ainda não totalmente conhecidas.

Cientistas afirmam que com oceanos mais ácidos e mais quentes, as espécies marinhas tenderão a migrar na direção dos pólos e para águas mais profundas, a diversidade de peixes e invertebrados hoje explorados pode diminuir 60% e os recifes de coral tropicais sofrerão uma redução colossal até 2050. Isso equivaleria a uma aniquilação de quase dois terços da vida marinha.

Alex Rogers, do Somerville College, da Universidade de Oxford, e um dos criadores do Programa Internacional para o Estado dos Oceanos, diz que “a saúde dos oceanos está a piorar mais rapidamente do que se pensava. Esta situação deveria ser motivo de grave preocupação para todos, dado que todos serão afetados pelas alterações na capacidade dos oceanos em suportar a vida na Terra".

Bom, que tal então pegar uma prainha para relaxar? A da foto acima está boa?

11 outubro 2013

Uma Pergunta...

O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.”

E. A. Poe

quem garante
que o real não é sonho
e que o sonho
é o que é?
há lagos em que o fundo
nunca alcança a existência
de nosso pé

o que existe existe
ou existe
porque eu penso que existe?
dependendo de como
e quando
se vê
a mesma flor
pode ser alegre
ou pode ser triste

e quem me dirá
que pensar é saber
se quando penso
há pensamentos
que pensam opostos em mim?
se eu pensasse certo
sobreviveria no nada do deserto?

só se sente
que o sonho é sonho
quando o sonho chega ao fim
e mesmo quando sinto
não domino o que vem-me aos sentidos
e até mesmo o vinho tinto
só é tinto
porque meus olhos humanos
o percebem assim

o que sinto e vejo
é algo que corre em todos
ou é só um desejo
de meu eu?
e isto é um verso
ou é só um nada já dito
perdido

em um sonho do universo?

10 outubro 2013

Lâmina

I

nem toda palavra
deve ser dita
tanto para o bem...
tanto para o mal...
um poema que se poeme
não é um bem dito
é só um mau
sinal

II

a melhor maneira de dizer
é (não-) dizer em segredo...
um verso que se diga
sugere como lâmina
mas nunca aponta o dedo

III

o que é de forma completa explicado
nunca é de forma completa sublime:
quando tudo está claro
nada funciona
desde a arte
até o crime

08 outubro 2013

Breves Considerações sobre as Empresas em Santiago

O que percebo em algumas empresas e instituições de Santiago (claro que isso não é só em Santiago, mas agora falarei especificamente aos santiaguenses) é que ao invés de possibilitarem a seus funcionários uma maior liberdade de expressão pessoal, preferem carregá-los de normas, limitações, repressões, com o intuito de fazê-los trabalhar "certinho", de mantê-los "dentro da linha". Que linha? Tal visão administrativa não somente é retrógrada, ultrapassada, mas também hostil, antipática (em alguns casos chega a ser desumana), e acarreta ao funcionário uma progressiva insatisfação, desmotivação e revolta com o seu trabalho, trazendo,  naturalmente, reflexos negativos para a empresa.

A consequência são funcionários insatisfeitos, estressados, tensos, com medo de expressar a si mesmos, com opiniões e emoções oprimidas, arrastando uma baixa autoestima, que acabam por perder produtividade e oferecer um mau atendimento aos clientes. E sabemos como há queixas de mau atendimento em nosso município... Sem falar que, com tantas limitações, a criatividade dos funcionários é podada e acaba por se aproximar do zero. 

Essa atitude lamentável de alguns proprietários, diretores e ocupantes de cargos gerenciais revela não só um autoritarismo rançoso, mas também uma falta de inteligência e de visão com relação aos seus recursos humanos.

No entanto, comprovando o dito popular que diz: "A corda sempre arrebenta do lado mais fraco", acabamos por culpar, quando somos em algum momento mau atendidos em uma empresa ou instituição, apenas o funcionário, sem levarmos em consideração o que ele talvez esteja passando em seu local de trabalho. Não digo que não haja vezes em que a culpa é exclusivamente do funcionário. Porém creio que na maior parte dos casos a maior parcela de responsabilidade é de quem os administra. 

O descaso com os recursos humanos é a regra geral, e os funcionários são vistos como empregados alheios à organização a ter sua força de trabalho explorada, quando deveriam ser entendidos como uma parte fundamental do todo, a ser bem tratada, ouvida, respeitada, valorizada. Não só para o bem deles, mas para o da própria empresa.

Finalizo com Bertolt Brecht: "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem."

06 outubro 2013

Sobre a Tua Vida Esmagada *

graxaim atropelado
(pela estrada):
nenhuma lágrima
de ninguém
teu sangue esparramado
(pela estrada)
é mancha do que era:
para quem passa rápido
(que é preciso ir e vir
a correr e a sorrir)
tu foste de outra era
e agora és nada

tu sendo um
és todos
que já não são
para que fosse
o progresso
(pela estrada
ao nada)
quem se importa
na pressa?
tua existência
num mundo moderno
é inútil
é um excesso

sobre a tua vida esmagada
(pela estrada
findada)
soprou um hálito
de so(risos)
a sonhar com beijos na noite
ou com sono de justos
ou em festas baladas
sobre a tua vida esmagada
(pela estrada
esvaziada)

eu mesmo...
fiz o quê?
nada
só um poema
que também é nada
para quem o lê
(pela estrada...)

*Poema reelaborado e republicado

04 outubro 2013

O Idiota

ali
o homem de sucesso
sentado no seu escritório
em tons de ilusório
uma janela fechada
do lado
e um ar livre de fachada
nas torturas das engrenagens
do ar-preso-
condicionado

enquanto
lá fora voam pássaros
ali dentro voam notas
enquanto
ali dentro nascem notas
lá fora morrem pássaros

nota
ali
o homem de sucesso
predador idiota
e presa do progresso

de mãos vazias
a vida passa
e o homem
vai contando suas moedas
as moedas passam
e a vida
vai contando seus dias...

03 outubro 2013

Sete Rápidas Brincadeiras Amargo-Irônicas

nº1 – da Verdade

pra quê?
ninguém vai acreditar em você

nº2 – da Filosofia

até serve para um oi:
mais que isso
até iria...
mas não foi

nº3 – do Amor

o amor é uma grande viagem
cujo final você nem imagina...
talvez nem aqui
nem na china

nº4 – da Esperança

já não sou mais criança

nº5 – da Fé

essa que se vê
o que é?
talvez o requentado
de uma xícara de café

nº6 – do Sentimento

esse que aí está
um saco vazio de cimento
amassado com pá

nº7 – do Coração

com o das galinhas
se faz um sopão