“Pouco me importa.
Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa.”
Fernando Pessoa
Por favor, não venham procurar ler coisas que não digo. Muito menos, venham querer dizer-me coisas que não quero. Quem disse que preciso saber do que é sabido ou que alguma coisa ainda precisa ser dita? Ou ensinada? Ensimesmada? Não há nada ali. Nem aqui. Por que insistir em ver uma luz no fim do túnel? Nem túnel existe. Só poço.
O poço da miséria humana. Por acaso achas que saíste dele? Sinto muito. Eu sou assim mesmo. Eu digo estas coisas chatas, antipáticas, que ninguém quer ouvir, ou melhor, ler. Detesto hipocrisias. Mas todos somos hipócritas. Não é mesmo, leitor? Nem sei por que estou escrevendo isto. Há momentos e há momentos. Este momento é de escrever isto. Dessa forma. Nesse tom. Negro, como o U de Urubu. Ou o U seria roxo? O U é sempre sombrio... Por isso, ele é a vocal principal de Futuro... Aposto que ninguém percebeu esse fato lamentável...
Aliás alguém percebeu alguma coisa? O que quer que seja? Alguém percebeu? Não, nunca ninguém percebe nada, é sempre tudo igual, tudo insuportável, tudo absolutamente monótono, imbecil, hediondo. Nada muda diante dos olhos carcomidos do homem, onde os vermes da apatia, da subserviência, da submissão, do riso imundo e degradante fizeram eterna morada. Risos fedorentos lançados aos ares miasmáticos do fundo do seu poço individual. Há uma luz no fim do poço. Um fogo-fátuo dança ali em sua valsa mefistofélica sempiterna. Que se danem! Danemo-nos. A Danação de Fausto.
Requiem aeternam dona eis, Domine! E os teus olhos? Onde estão os teus olhos? Céus! mas onde estão os teus olhos, os teus olhos tão belos? Por que eu deveria esperá-los? Lux Aeterna! Sim, tudo está bem. Não se preocupem com nada, afinal, o que é um beijo para quem está abraçado? Os senhores não concordam? Odeiam-me? Ótimo, mas odiar é uma perda de tempo, pois nunca se odeia como se gostaria de odiar, o ódio é sempre insuficiente. Já o amor, o amor basta. Por isso não temos nenhum.
Viram como nada muda? Como diria Drummond, sempre haverá uma pedra no meio do caminho. E ruas sempre esburacadas. Sempiternas. O que há no caminho da humanidade? As pedras das paredes do poço. Alguém viu no Jornal Nacional quantos hectares foram desmatados este mês na Floresta Amazônica? Por favor, se alguém sabe, diga-me, vou jogar na loteria. Quem sabe, ganho. Ah, não posso, eu sou pessimista, já sei que não vou ganhar. Por isso, também não espero que alguém leia meu próximo livro. Sei que ninguém vai ler. Aliás, quem é que lê alguma coisa. É tudo mentira, não lêem nada. Lêem coisa nenhuma. Se fazem. Isso, errado mesmo. Ah, lembrei, eu sou um errado. E acho que erraram nas contas, hein! Nesse ritmo, a Floresta Amazônica acaba antes. Vou comprar uma cadeira feita com madeira de lá, para ficar de recordação de suas árvores. Será que vem com um sagüi junto?
Já chega, basta de ironias. Tu não vieste. Não vieste. Eu te busquei enlouquecido e tu não vieste. Agora, Brahms, é o que resta. Sou triste, graças a deus. Deus. Só o que sei é que há pouco passou um louco montado em um cavalo de sangue. Belo cavalo, mas sangrou minha roupa com seus olhares, olhos de cavalo deveriam nos dar medo. Deveriam... E dão. E o cavalo passou agora, de madrugada. Ele me olhou, e eu reconheci seu rosto. Anda a solta. E o cavaleiro é tão jovem, já louco. “Tua febre que nunca descansa,/ O delírio que te há de matar!” Álvares. Os idiotas pensarão que é o Pedro Cabral. Não sei como deixam aquele louco assim. Um sopro nuclear correu atrás dele, vasto, claro, branco, luminoso, simpático, alegre, feliz. Vocês tinham que ver como o sopro nuclear sorria, lindo! Eu me emocionei. Eu chorei, para falar a verdade. Choro com facilidade, sou imbecil, sensível, romântico. Eu chorei. Eu sou. Aliás, “Fui tudo. Nada vale a pena.” Fernando Pessoa
24 novembro 2008
21 novembro 2008
nos Meus Olhos
há muito mais que células
nestes olhos que te olham:
há sentidos cerebrais
sanguíneas quintessências
impulsos coronários...
no meu olhar há Vida.
há muito mais que vida
nestes olhos que te vivem:
há terrores pelas trevas
cantigas sempre em pânico
abismos do que sinto...
no meu olhar há Morte.
há muito mais que morte
nestes olhos que te morrem:
há desejos do infinito
angústias do sublime
paixões em beijo etéreo...
no meu olhar há Sonho.
há muito mais que sonho
nestes olhos que te sonham:
há essências de outros seres
tragédias de outros mundos
loucuras que não digo...
no meu olhar há Alma.
há muito mais que alma
nestes olhos que te amam...
nestes olhos que te olham:
há sentidos cerebrais
sanguíneas quintessências
impulsos coronários...
no meu olhar há Vida.
há muito mais que vida
nestes olhos que te vivem:
há terrores pelas trevas
cantigas sempre em pânico
abismos do que sinto...
no meu olhar há Morte.
há muito mais que morte
nestes olhos que te morrem:
há desejos do infinito
angústias do sublime
paixões em beijo etéreo...
no meu olhar há Sonho.
há muito mais que sonho
nestes olhos que te sonham:
há essências de outros seres
tragédias de outros mundos
loucuras que não digo...
no meu olhar há Alma.
há muito mais que alma
nestes olhos que te amam...
20 novembro 2008
Poemas do Término e Contos do Fim XXXII
Já está em seus costumeiros pontos de distribuição a edição nº 32 do zine Poemas do Término e Contos do Fim, com o conto "Otacílio e Madalena ou A Morte do Pampa" e mais 5 poemas lunáticos. O zine pode ser enviado gratuitamente para qualquer cidade do Brasil ou exterior, sendo cobrada apenas a taxa de envio.
18 novembro 2008
a Torre
mundo que acaba:
e uma torre tão alta
ao alto ao longe me chama
em chamas meus olhos se aclaram
clara tua voz que me encanta
e o mundo ao nada se esvai
não posso ir-me sem ver-me
sem tocar na janela que cantas
asa de fim nos versos nasceu-me
nos céus me sonho em teu sonho
some-se nuvem em teus olhos
não posso temer ter-me em voar
em gotas de lua gelou-se meu sopro
vento de morte caiu-me em castelos
teu castelo em noite inflamada
na torre, só, tua palavra de febre
aprisionada...
e uma torre tão alta
ao alto ao longe me chama
em chamas meus olhos se aclaram
clara tua voz que me encanta
e o mundo ao nada se esvai
não posso ir-me sem ver-me
sem tocar na janela que cantas
asa de fim nos versos nasceu-me
nos céus me sonho em teu sonho
some-se nuvem em teus olhos
não posso temer ter-me em voar
em gotas de lua gelou-se meu sopro
vento de morte caiu-me em castelos
teu castelo em noite inflamada
na torre, só, tua palavra de febre
aprisionada...
17 novembro 2008
Elogio ao Urubu
É comum as pessoas perguntarem-me por que visto somente roupas pretas. Eu poderia relatar inúmeros motivos, mas como sei que não valerá a pena proferi-los, limito-me a responder: “porque eu gosto.” Porém, agora, deixarei bem claro, ou bem escuro, um dos motivos. É que eu queria ser um Urubu. Não, não estou brincando, não estou sendo irônico. Estou apenas realizando uma afirmação, absurda talvez, mas nem por isso ela é menos real que uma afirmação dita “sensata”. Qual seria a afirmação sensata? Eu jamais deixaria de ser um humano para ser um Urubu. Seria essa? Seja como for, pretendo provar até o final deste texto que é mais vantajoso ser um Urubu do que um ser humano. Poderão os poucos amigos leitores não concordar com as provas. Porém, provas não são sempre provas? Ah, pouco me importa.
Ah, a grandiosidade do Urubu!... Percebam que sempre neste texto escreverei Urubu com letra maiúscula. É devido a minha imensa admiração por este fantástico animal. Por favor, não confundam Urubu com corvo ou com abutre. Vamos a um pouco de biologia. Aqui no RS, costumamos chamar os Urubus de corvos. Tudo bem, são regionalismos, e nada mais nobre do que comparar os Urubus aos nobres corvos, como posso esquecer deste também magnífico animal, grande amigo de Poe? Porém, os Urubus não são corvos, nem parentes deles. Não há corvos no RS. Somente Urubus. Aqui, os parentes dos corvos são as gralhas negras, outro animal digno de todo nosso respeito. Os Urubus são aves de rapina da família cathartidae, os corvos não são aves de rapina, e pertencem à família corvidae. Já os abutres, mais próximos dos Urubus que os corvos, são maiores, mais fortes, mais indiscretos e barulhentos que os Urubus e na coloração de suas penas não predomina o preto, mas também há cinza, pardo, marrom e até branco. E não há abutres na América do Sul. Desculpem por esse parêntese, mas é necessário deixar bem claro, ou escuro, o que é o Urubu a que me refiro.
Urubus voam alto, muito alto, plainam a grandes alturas acima da mediocridade humana, sem medo de enfrentar a luz solar. Que maior sensação de grandeza e liberdade que o vôo de um Urubu? Comem carniça? Comem, e qual o problema? Sempre se diz que gosto não se discute. E percebam a vantagem de se comer carniça. Ela é abundante, dificilmente faltará. Eles vivem da morte. Encantador paradoxo. E a morte é o que mais vive hoje em dia. Em breve comerão os nossos cadáveres... Duvidam? Cuidado...
Alguém poderá rebater, dizendo que os Urubus despertam medo e repugnância e são mortos pelos homens por esse motivo. Sim, despertam medo, e é exatamente por isso que NÃO são mortos. As pessoas simples do campo, em geral, possuem a crença louvável de que matar Urubu traz azar. Muito raro alguém matar um Urubu. Eu nunca soube de alguém que o fizesse, a não ser por acidente. E quem vai querer comer carne de Urubu? Notem que o Urubu, apesar de toda destruição ambiental, ainda é uma ave relativamente comum. Ele resiste, o Urubu é uma ave forte. É uma grande ave! Um grande ser! E quanto à repugnância que ele desperta? Ora, pois que desperte! Os Urubus devem estar muito preocupados com a repugnância dos homens para com eles, rs rs rs!
Aliás, por que eles despertam repugnância? Porque comem carniça? Ou porque trazem mau-agouro? O homem também come carne morta, a diferença é que ele tempera e cozinha. E a alimentação dos Urubus é bem mais natural. E depois eles se purificam voando a poéticas alturas. Mas o homem não pode purificar sua alma, não pode acabar com a repugnância que desperta a todos com seus crimes, com sua perversidade, com sua hipocrisia... O homem é mais repugnante.
E diga-se, apenas de passagem: o Urubu não traz mau-agouro. Ele avisa. É um absurdo condenar o mensageiro pelas desgraças que nós mesmos trouxemos a nossa existência...
E, para finalizar: um Urubu não precisa de emprego, não precisa de dinheiro, não precisa de reconhecimento, não precisa de padrinhos para obter sucesso, aliás, não precisa de sucesso, não precisa de roupas nem de carros nem de computadores, não precisa seguir regras, a não ser as dele mesmo, não precisa ir pra praia pra dizer que se diverte, não precisa... enfim, um Urubu só precisa da morte. E isso é o que não falta. Eu queria ser um Urubu.
Ah, a grandiosidade do Urubu!... Percebam que sempre neste texto escreverei Urubu com letra maiúscula. É devido a minha imensa admiração por este fantástico animal. Por favor, não confundam Urubu com corvo ou com abutre. Vamos a um pouco de biologia. Aqui no RS, costumamos chamar os Urubus de corvos. Tudo bem, são regionalismos, e nada mais nobre do que comparar os Urubus aos nobres corvos, como posso esquecer deste também magnífico animal, grande amigo de Poe? Porém, os Urubus não são corvos, nem parentes deles. Não há corvos no RS. Somente Urubus. Aqui, os parentes dos corvos são as gralhas negras, outro animal digno de todo nosso respeito. Os Urubus são aves de rapina da família cathartidae, os corvos não são aves de rapina, e pertencem à família corvidae. Já os abutres, mais próximos dos Urubus que os corvos, são maiores, mais fortes, mais indiscretos e barulhentos que os Urubus e na coloração de suas penas não predomina o preto, mas também há cinza, pardo, marrom e até branco. E não há abutres na América do Sul. Desculpem por esse parêntese, mas é necessário deixar bem claro, ou escuro, o que é o Urubu a que me refiro.
Urubus voam alto, muito alto, plainam a grandes alturas acima da mediocridade humana, sem medo de enfrentar a luz solar. Que maior sensação de grandeza e liberdade que o vôo de um Urubu? Comem carniça? Comem, e qual o problema? Sempre se diz que gosto não se discute. E percebam a vantagem de se comer carniça. Ela é abundante, dificilmente faltará. Eles vivem da morte. Encantador paradoxo. E a morte é o que mais vive hoje em dia. Em breve comerão os nossos cadáveres... Duvidam? Cuidado...
Alguém poderá rebater, dizendo que os Urubus despertam medo e repugnância e são mortos pelos homens por esse motivo. Sim, despertam medo, e é exatamente por isso que NÃO são mortos. As pessoas simples do campo, em geral, possuem a crença louvável de que matar Urubu traz azar. Muito raro alguém matar um Urubu. Eu nunca soube de alguém que o fizesse, a não ser por acidente. E quem vai querer comer carne de Urubu? Notem que o Urubu, apesar de toda destruição ambiental, ainda é uma ave relativamente comum. Ele resiste, o Urubu é uma ave forte. É uma grande ave! Um grande ser! E quanto à repugnância que ele desperta? Ora, pois que desperte! Os Urubus devem estar muito preocupados com a repugnância dos homens para com eles, rs rs rs!
Aliás, por que eles despertam repugnância? Porque comem carniça? Ou porque trazem mau-agouro? O homem também come carne morta, a diferença é que ele tempera e cozinha. E a alimentação dos Urubus é bem mais natural. E depois eles se purificam voando a poéticas alturas. Mas o homem não pode purificar sua alma, não pode acabar com a repugnância que desperta a todos com seus crimes, com sua perversidade, com sua hipocrisia... O homem é mais repugnante.
E diga-se, apenas de passagem: o Urubu não traz mau-agouro. Ele avisa. É um absurdo condenar o mensageiro pelas desgraças que nós mesmos trouxemos a nossa existência...
E, para finalizar: um Urubu não precisa de emprego, não precisa de dinheiro, não precisa de reconhecimento, não precisa de padrinhos para obter sucesso, aliás, não precisa de sucesso, não precisa de roupas nem de carros nem de computadores, não precisa seguir regras, a não ser as dele mesmo, não precisa ir pra praia pra dizer que se diverte, não precisa... enfim, um Urubu só precisa da morte. E isso é o que não falta. Eu queria ser um Urubu.
13 novembro 2008
Um Errado
lamento
e sinto
mas eu sou um erro
e erro
por sentir
e errar sem rumo
em tudo aquilo que não sou
e no meu absurdo mundo
os teus fortes são fracos
e eu caminho e me iludo
e por nenhum caminho eu vou
porque eu sou um errado
eu amo a lua
no escuro lado
e eu cuspo sangue
nos copos que tu me alcanças
e eu solto corvos
nas luzes que tu me ensinas
são todas insensatas
são sempre insanas
as minhas sinas
desprezo os teus acertos
odeio o que tu amas
eu morro na tua vida
a noite negra de tormenta
é a minha preferida
não me fales do que é certo
eu acerto só no erro
e esse teu claro sucesso
nada vale a um poeta:
é insosso! é pequeno!
da boca de quem amo
quero um trago de veneno...
e sinto
mas eu sou um erro
e erro
por sentir
e errar sem rumo
em tudo aquilo que não sou
e no meu absurdo mundo
os teus fortes são fracos
e eu caminho e me iludo
e por nenhum caminho eu vou
porque eu sou um errado
eu amo a lua
no escuro lado
e eu cuspo sangue
nos copos que tu me alcanças
e eu solto corvos
nas luzes que tu me ensinas
são todas insensatas
são sempre insanas
as minhas sinas
desprezo os teus acertos
odeio o que tu amas
eu morro na tua vida
a noite negra de tormenta
é a minha preferida
não me fales do que é certo
eu acerto só no erro
e esse teu claro sucesso
nada vale a um poeta:
é insosso! é pequeno!
da boca de quem amo
quero um trago de veneno...
11 novembro 2008
A Doença da Luz (ou O Relato de Carlos Walter Mann) - Cap.VI - Final
05 de janeiro de 2025 - Nesse momento, acercou-se a nós aquele homem alto, moreno, de aspecto grave e fisionomia firme, enérgica, porém marcantemente serena. O homem disse chamar-se César. Afirmou que era o momento de fazer-nos algumas revelações. Advertiu-nos para que não perguntássemos nada além do que ele nos dissesse. Impressionava a sensação de autoridade e confiança que ele transmitia, e nem pensamos em questionar sua advertência. O homem iniciou revelando-nos que o planeta que se aproximou da Terra foi o causador do aparente “fim” da eletricidade produzida pelas máquinas humanas. De alguma forma, seu poder eletro-magnético não conhecido pelos homens havia “sugado” para si, atraído como um imã, toda a eletricidade que a humanidade fabricara. A aproximação do planeta também foi responsável por uma série de desastres climáticos, ambientais e geológicos, todos agravados pela destrutiva ação do homem na Terra. Formaram-se apocalípticas tempestades, incêndios catastróficos, alterações aberrantes de temperatura, terremotos, maremotos, estiagens devastadoras em algumas regiões, enquanto em outras, inundações nunca antes presenciadas.
Segundo César, a aproximação do astro também afetava a saúde física e psíquica dos humanos, causando uma espécie de loucura generalizada, além de uma série de epidemias desconhecidas pela ciência de nossa civilização. Disse ainda que a órbita do planeta era extremamente longa e irregular, mas que ele se aproximava da Terra de tempos em tempos, às vezes chegando muito perto, como neste caso, outras vezes, não muito. Era um planeta gigantesco, e seu poder de atração gravitacional muito maior do que o da Terra, o que por si só é causa suficiente de inúmeros cataclismas.
Afirmou ainda César que o sinistro planeta possuía a capacidade inexplicável pelas leis da física conhecidas de se ocultar no espaço, não sendo identificado por telescópios, até que estivesse tão perto que poderia ser visto a olho nu. Acrescentou que alguns seres humanos, entre os quais eu e Carolina, eram imunes aos efeitos direto do planeta, mas não quis revelar os motivos dessa imunidade, completando que com o passar do tempo saberíamos. Finalizou revelando que aqueles que nos trouxeram para este lugar naquela noite eram seres extraterrestres com sua nave espacial, não entrando em maiores detalhes sobre o assunto. Sua última frase, um tanto enigmática e que muito me chamou a atenção, foi: “A maioria dirá que o planeta gigante destruiu a humanidade. Eu digo que a humanidade se autodestruiu, e o planeta apenas restabeleceu a ordem necessária, conforme o tempo revelará...”
Não resisti e tive que fazer uma única pergunta: “Mas que lugar é este em que estamos?” César limitou-se a lembrar-nos de sua advertência inicial: não deveríamos realizar nenhuma pergunta. Em seguida, levantou-se do gramado e partiu calmamente.
Bem, senhores, creio que não há mais nada a acrescentar. Escrevi quase tudo o que lembrei, procurando estabelecer datas para os acontecimentos, conforme vossos insistentes pedidos. Cumpri também com a ordem expressa dos senhores de não relatar nada mais além do dia em que César nos fez aquelas revelações. Muitas coisas descobrimos após aquele dia, outras revelações fantásticas e aterradoras, contudo, creio que não são para este relato, embora eu não compreenda o por quê. Aos poucos vamos entendendo os motivos de estarmos aqui, e o trabalho terrível que devemos realizar. Nossa vida não tem sido fácil, porém é uma luta extremamente gratificante.
Como não foi esclarecido o motivo de ter-me sido solicitada a elaboração deste relato, não sei se cumpri com vossos objetivos. Escrevi o que julguei ser realmente importante. No entanto, sem dúvida haverá alguns pontos falhos, uma vez que minha memória não guardou vários fatos devido ao estado lamentável em que me encontrava. Alguns pontos foram-me lembrados por Carolina. Espero ter cumprido satisfatoriamente esta minha tarefa. Aqui está meu relato. Não sei o que os senhores farão com ele. Talvez, nem deva saber...
NOTA: O relato de Carlos Walter Mann foi encontrado no ano de 2008, na cidade de Santiago, no Rio Grande do Sul, Brasil. Estava ele impresso em algumas páginas colocadas dentro de uma pequena pasta vermelha. Tal pasta encontrava-se sobre a grama, à beira de um trevo de acesso à cidade, e foi recolhida durante uma manhã de sol por um senhor que realizava tranqüilamente uma de suas caminhadas matinais.
Segundo César, a aproximação do astro também afetava a saúde física e psíquica dos humanos, causando uma espécie de loucura generalizada, além de uma série de epidemias desconhecidas pela ciência de nossa civilização. Disse ainda que a órbita do planeta era extremamente longa e irregular, mas que ele se aproximava da Terra de tempos em tempos, às vezes chegando muito perto, como neste caso, outras vezes, não muito. Era um planeta gigantesco, e seu poder de atração gravitacional muito maior do que o da Terra, o que por si só é causa suficiente de inúmeros cataclismas.
Afirmou ainda César que o sinistro planeta possuía a capacidade inexplicável pelas leis da física conhecidas de se ocultar no espaço, não sendo identificado por telescópios, até que estivesse tão perto que poderia ser visto a olho nu. Acrescentou que alguns seres humanos, entre os quais eu e Carolina, eram imunes aos efeitos direto do planeta, mas não quis revelar os motivos dessa imunidade, completando que com o passar do tempo saberíamos. Finalizou revelando que aqueles que nos trouxeram para este lugar naquela noite eram seres extraterrestres com sua nave espacial, não entrando em maiores detalhes sobre o assunto. Sua última frase, um tanto enigmática e que muito me chamou a atenção, foi: “A maioria dirá que o planeta gigante destruiu a humanidade. Eu digo que a humanidade se autodestruiu, e o planeta apenas restabeleceu a ordem necessária, conforme o tempo revelará...”
Não resisti e tive que fazer uma única pergunta: “Mas que lugar é este em que estamos?” César limitou-se a lembrar-nos de sua advertência inicial: não deveríamos realizar nenhuma pergunta. Em seguida, levantou-se do gramado e partiu calmamente.
Bem, senhores, creio que não há mais nada a acrescentar. Escrevi quase tudo o que lembrei, procurando estabelecer datas para os acontecimentos, conforme vossos insistentes pedidos. Cumpri também com a ordem expressa dos senhores de não relatar nada mais além do dia em que César nos fez aquelas revelações. Muitas coisas descobrimos após aquele dia, outras revelações fantásticas e aterradoras, contudo, creio que não são para este relato, embora eu não compreenda o por quê. Aos poucos vamos entendendo os motivos de estarmos aqui, e o trabalho terrível que devemos realizar. Nossa vida não tem sido fácil, porém é uma luta extremamente gratificante.
Como não foi esclarecido o motivo de ter-me sido solicitada a elaboração deste relato, não sei se cumpri com vossos objetivos. Escrevi o que julguei ser realmente importante. No entanto, sem dúvida haverá alguns pontos falhos, uma vez que minha memória não guardou vários fatos devido ao estado lamentável em que me encontrava. Alguns pontos foram-me lembrados por Carolina. Espero ter cumprido satisfatoriamente esta minha tarefa. Aqui está meu relato. Não sei o que os senhores farão com ele. Talvez, nem deva saber...
NOTA: O relato de Carlos Walter Mann foi encontrado no ano de 2008, na cidade de Santiago, no Rio Grande do Sul, Brasil. Estava ele impresso em algumas páginas colocadas dentro de uma pequena pasta vermelha. Tal pasta encontrava-se sobre a grama, à beira de um trevo de acesso à cidade, e foi recolhida durante uma manhã de sol por um senhor que realizava tranqüilamente uma de suas caminhadas matinais.
08 novembro 2008
A Doença da Luz (ou O Relato de Carlos Walter Mann) - Cap. V
Meados de dezembro de 2024 - Acredito que o acontecimento derradeiro foi em dezembro, pelo menos foi o que posteriormente os senhores me relataram. Sinceramente, não sei como chegamos vivos até aquele dia. Recordo vagamente de que consegui abater um boi que surgiu em nossa propriedade, e foi comendo sua carne que sobrevivemos. O frio era insuportável, abaixo de -10ºC, com certeza, embora não houvesse como eu saber a temperatura exata. A água do poço estava congelada. Já prevendo que isso ocorreria, armazenamos dentro de casa grandes quantidades de água. Para nos aquecermos e cozinhar, fomos obrigados a queimar nossos próprios móveis. Creio que nos últimos dias chegamos a comer carne crua.
A maior parte da luz solar era impedida de chegar à Terra devido à interposição do imenso planeta vermelho. Os dias eram sombrios, desolados, nevoentos, e afligia-nos psicologicamente de forma arrebatadora. Passávamos a maior parte do tempo dormindo, por fraqueza e para conservarmos o que nos restava de energia. Mal consigo lembrar desses dias infaustos. Só sei que quando dormíamos, éramos assediados por pesadelos insanos e indescritíveis. Imagens nebulosas de horrores, de morte, de epidemias, de genocídios, de loucuras, de guerras, de catástrofes ambientais naturais e provocadas pela mão humana vinham-me à mente e à de Carolina, durante nosso sono perturbado. Creio que eram como visões do que aconteceu ou acontecia com o restante da humanidade.
Foi então que em uma noite de funesto silêncio, fomos acordados de nosso sono agourento por dois homens estranhos. Mal consigo lembrar-me do que vi, tamanho era nosso abatimento. Estávamos realmente próximos da morte. Eles carregaram-nos no colo até uma espécie de avião ou helicóptero desconhecido muito luminoso que estava nos fundos de nossa propriedade. Deitaram-nos em camas estranhas e nos deram algo igualmente estranho para beber, um líquido pastoso de sabor muito forte. Então, voltamos a adormecer quase que de forma imediata.
05 de janeiro de 2025 - Foi o dia em que acordamos. Enigmaticamente, dormimos de forma ininterrupta por duas semanas. Nossos sonhos agora eram povoados por visões de paz e de belezas deslumbrantes, em um ambiente desconhecido, porém livres de horrores e tormentos. Quando despertamos, não sabíamos onde estávamos. Então vieram até nós um homem e uma mulher altos e de bondosa aparência, com uma fisionomia um pouco estanha, no entanto. Deram-nos de comer e de beber. O lugar em que nos encontrávamos consistia em algo como uma pequena casa de madeira simples, muito limpa e organizada.
Era manhã, e o sol raiava lá fora com toda sua força e plenitude. A temperatura era agradável, e ouvíamos o canto de dezenas de pássaros, alguns conhecidos, outros não. Sentíamo-nos muito bem, tanto física quanto psicologicamente. Os terrores que havíamos vivenciado pareciam ser apenas pesadelos já superados... Não compreendíamos por que estávamos naquele local desconhecido, mas o casal que se encontrava conosco tranqüilizou-nos dizendo para aguardarmos que logo tudo seria explicado, ou pelo menos tudo o que deveríamos saber. Decidimos então esperar e não fazer nenhum questionamento por enquanto.
Após nos sentirmos revigorados pela nutritiva refeição, saímos do aposento e fomos conhecer os arredores. O lugar era como uma pequena cidade, talvez uma aldeia, aparentemente isolada entre belos montes cobertos por densas florestas por um lado e vastos campos verdejantes por outro. Avistávamos algumas pessoas nas pequenas ruas da aldeia, nenhuma conhecida. Ouvíamos vozes articuladas em outras línguas, entre elas o espanhol. Não divisávamos nas ruas nenhum tipo de automóvel, apenas carroças e charretes puxadas por cavalos ou bois. O clima era um tanto medieval e estranho, contudo, de profunda paz e serenidade. Sentamos em um gramado para conversarmos sobre o que presenciávamos.
(Continua...)
A maior parte da luz solar era impedida de chegar à Terra devido à interposição do imenso planeta vermelho. Os dias eram sombrios, desolados, nevoentos, e afligia-nos psicologicamente de forma arrebatadora. Passávamos a maior parte do tempo dormindo, por fraqueza e para conservarmos o que nos restava de energia. Mal consigo lembrar desses dias infaustos. Só sei que quando dormíamos, éramos assediados por pesadelos insanos e indescritíveis. Imagens nebulosas de horrores, de morte, de epidemias, de genocídios, de loucuras, de guerras, de catástrofes ambientais naturais e provocadas pela mão humana vinham-me à mente e à de Carolina, durante nosso sono perturbado. Creio que eram como visões do que aconteceu ou acontecia com o restante da humanidade.
Foi então que em uma noite de funesto silêncio, fomos acordados de nosso sono agourento por dois homens estranhos. Mal consigo lembrar-me do que vi, tamanho era nosso abatimento. Estávamos realmente próximos da morte. Eles carregaram-nos no colo até uma espécie de avião ou helicóptero desconhecido muito luminoso que estava nos fundos de nossa propriedade. Deitaram-nos em camas estranhas e nos deram algo igualmente estranho para beber, um líquido pastoso de sabor muito forte. Então, voltamos a adormecer quase que de forma imediata.
05 de janeiro de 2025 - Foi o dia em que acordamos. Enigmaticamente, dormimos de forma ininterrupta por duas semanas. Nossos sonhos agora eram povoados por visões de paz e de belezas deslumbrantes, em um ambiente desconhecido, porém livres de horrores e tormentos. Quando despertamos, não sabíamos onde estávamos. Então vieram até nós um homem e uma mulher altos e de bondosa aparência, com uma fisionomia um pouco estanha, no entanto. Deram-nos de comer e de beber. O lugar em que nos encontrávamos consistia em algo como uma pequena casa de madeira simples, muito limpa e organizada.
Era manhã, e o sol raiava lá fora com toda sua força e plenitude. A temperatura era agradável, e ouvíamos o canto de dezenas de pássaros, alguns conhecidos, outros não. Sentíamo-nos muito bem, tanto física quanto psicologicamente. Os terrores que havíamos vivenciado pareciam ser apenas pesadelos já superados... Não compreendíamos por que estávamos naquele local desconhecido, mas o casal que se encontrava conosco tranqüilizou-nos dizendo para aguardarmos que logo tudo seria explicado, ou pelo menos tudo o que deveríamos saber. Decidimos então esperar e não fazer nenhum questionamento por enquanto.
Após nos sentirmos revigorados pela nutritiva refeição, saímos do aposento e fomos conhecer os arredores. O lugar era como uma pequena cidade, talvez uma aldeia, aparentemente isolada entre belos montes cobertos por densas florestas por um lado e vastos campos verdejantes por outro. Avistávamos algumas pessoas nas pequenas ruas da aldeia, nenhuma conhecida. Ouvíamos vozes articuladas em outras línguas, entre elas o espanhol. Não divisávamos nas ruas nenhum tipo de automóvel, apenas carroças e charretes puxadas por cavalos ou bois. O clima era um tanto medieval e estranho, contudo, de profunda paz e serenidade. Sentamos em um gramado para conversarmos sobre o que presenciávamos.
(Continua...)
07 novembro 2008
A Doença da Luz (ou o Relato de Carlos Walter Mann) - Cap.IV
Meados de agosto de 2024 - Durante várias noites repetiram-se as absurdas tempestades de raios, sendo estes cada vez mais anômalos e destrutivos. Creio que só por um milagre nossa casa não foi atingida, porém nosso galpão, um pouco afastado da casa, recebeu uma das ramificações monstruosas e foi totalmente aniquilado. Nosso cavalo e nossos frangos estavam lá dentro. Morreram todos. Sem os animais, nossa situação tornava-se mais e mais difícil, para não dizer trágica.
E quando finalmente chegou ao fim o período das tempestades, há cerca de quatro semanas, principiou-se um tempo violentamente seco, impressionou-nos a rapidez brutal com que a umidade desapareceu do ar. Um sol inclemente castigava nossa região em pleno inverno, e a temperatura ultrapassava os 30ºC. Era um calor insalubre, doentio, irradiava-nos uma sensação febricitante, deixando-nos irritadiços algumas vezes, e noutras abatia-nos com um insuportável desânimo e torpor.
Não demorou muito para que infernais incêndios sem controle devastassem os campos e as matas da região, e densas nuvens de fumaça pioravam nosso já lamentável estado físico e psicológico. Eu e Carolina todos os dias tínhamos que retirar baldes e mais baldes do poço para apagar o fogo que ameaçava o pomar e as esquálidas tentativas de replantar nossas hortas. E a água começava a escassear rapidamente. Já iniciávamos a passar fome, mas graças ao próprio fogo ela foi aliviada. Freqüentemente, animais fugiam das chamas e aproximavam-se de nossa casa. Mesmo sendo contra a caça, não tive alternativa. Necessitei caçá-los para sobrevivermos. Abatia animais selvagens e domésticos, como vacas e ovelhas.
Nossas noites tenebrosas eram agora iluminadas pelos deprimentes e intermináveis incêndios e pela luz amarelada e insuportavelmente triste de uma lua cheia ameaçadoramente esfumaçada, como surgida de um pesadelo pressago. Aqueles fantasmagóricos sons noturnos que infestavam as noites durante o período de tormentas cessaram por completo, mas nossa tensão permanecia. Carolina já entrara em depressão e meu estado psíquico não era muito melhor que o dela. Então, em certa tarde de muito sol, quando o fogo principiava a regressar, olhei para o céu intentando encontrar alguma nuvem de chuva. Porém o que vi foi algo inquietantemente estranho. Quase que ao lado do sol eu julguei avistar um outro. Sim, outro sol de um brilho menor e de tom avermelhado. No entanto, não me era possível, obviamente, fixar minha atenção na direção do sol e não tive certeza do que vi.
Início de novembro de 2024 - Meu decadente estado de alma por essa época deixou-me na memória apenas os fatos mais significativos, os mais terríveis dentro de tantos horrores. Os incêndios haviam cessado por completo. A temperatura diminuíra muito, o frio era absurdo para a época, com temperaturas próximas a zero. A luz do sol havia regredido, minguado canhestramente. Nossas fontes de alimentação encontravam-se no fim. O pomar já não possuía mais frutas, nossas plantações morreram inteiramente, o estoque de alimentos enlatados logo acabaria. Nossa única esperança de alimentação era a caça, cada vez mais difícil. Mesmo no estado em que me encontrava, eu partia em busca de animais e atirava no primeiro que surgisse, indistintamente. Era doloroso para mim atirar em animais selvagens, mas não havia saída. E eu estava certo que em breve não encontraria mais nenhum para abater.
Fracos e atormentados psiquicamente, sentíamos que nossa morte se aproximava. Nada sabíamos do que estava acontecendo. E nem tínhamos mais condições de pensar nisso. Creio até que delirávamos...
Dissera que a luz do sol havia minguado, regredido de forma absurda. A única explicação para o fenômeno seria aquele “outro sol” que eu havia visto há meses. Aquele sol de brilho estranho e avermelhado, de uma aura fantasmal, estava agora muito mais próximo. Eu delirava? A questão é que ele havia se aproximado muito da Terra e já encobria uma grande parte do sol. Porém, o que chamei de “outro sol”, não o era. Tratava-se, acreditei, de outro planeta, um gigantesco e ominoso planeta vermelho que se aproximava ameaçadoramente... Eu não tenho palavras para descrever a opressora e massacrante sensação de medo e horror que aquele inacreditável planeta nos causava. Nós sentíamos e víamos morrer a luz do sol, assim como morrera a eletricidade. Eu tinha apenas minha esposa e a luz dos olhos dela. Ela tinha apenas a mim e a luz de meus olhos. E foram essas únicas luzes, creio, que nos alimentaram e nos mantiveram vivos.
(Continua...)
E quando finalmente chegou ao fim o período das tempestades, há cerca de quatro semanas, principiou-se um tempo violentamente seco, impressionou-nos a rapidez brutal com que a umidade desapareceu do ar. Um sol inclemente castigava nossa região em pleno inverno, e a temperatura ultrapassava os 30ºC. Era um calor insalubre, doentio, irradiava-nos uma sensação febricitante, deixando-nos irritadiços algumas vezes, e noutras abatia-nos com um insuportável desânimo e torpor.
Não demorou muito para que infernais incêndios sem controle devastassem os campos e as matas da região, e densas nuvens de fumaça pioravam nosso já lamentável estado físico e psicológico. Eu e Carolina todos os dias tínhamos que retirar baldes e mais baldes do poço para apagar o fogo que ameaçava o pomar e as esquálidas tentativas de replantar nossas hortas. E a água começava a escassear rapidamente. Já iniciávamos a passar fome, mas graças ao próprio fogo ela foi aliviada. Freqüentemente, animais fugiam das chamas e aproximavam-se de nossa casa. Mesmo sendo contra a caça, não tive alternativa. Necessitei caçá-los para sobrevivermos. Abatia animais selvagens e domésticos, como vacas e ovelhas.
Nossas noites tenebrosas eram agora iluminadas pelos deprimentes e intermináveis incêndios e pela luz amarelada e insuportavelmente triste de uma lua cheia ameaçadoramente esfumaçada, como surgida de um pesadelo pressago. Aqueles fantasmagóricos sons noturnos que infestavam as noites durante o período de tormentas cessaram por completo, mas nossa tensão permanecia. Carolina já entrara em depressão e meu estado psíquico não era muito melhor que o dela. Então, em certa tarde de muito sol, quando o fogo principiava a regressar, olhei para o céu intentando encontrar alguma nuvem de chuva. Porém o que vi foi algo inquietantemente estranho. Quase que ao lado do sol eu julguei avistar um outro. Sim, outro sol de um brilho menor e de tom avermelhado. No entanto, não me era possível, obviamente, fixar minha atenção na direção do sol e não tive certeza do que vi.
Início de novembro de 2024 - Meu decadente estado de alma por essa época deixou-me na memória apenas os fatos mais significativos, os mais terríveis dentro de tantos horrores. Os incêndios haviam cessado por completo. A temperatura diminuíra muito, o frio era absurdo para a época, com temperaturas próximas a zero. A luz do sol havia regredido, minguado canhestramente. Nossas fontes de alimentação encontravam-se no fim. O pomar já não possuía mais frutas, nossas plantações morreram inteiramente, o estoque de alimentos enlatados logo acabaria. Nossa única esperança de alimentação era a caça, cada vez mais difícil. Mesmo no estado em que me encontrava, eu partia em busca de animais e atirava no primeiro que surgisse, indistintamente. Era doloroso para mim atirar em animais selvagens, mas não havia saída. E eu estava certo que em breve não encontraria mais nenhum para abater.
Fracos e atormentados psiquicamente, sentíamos que nossa morte se aproximava. Nada sabíamos do que estava acontecendo. E nem tínhamos mais condições de pensar nisso. Creio até que delirávamos...
Dissera que a luz do sol havia minguado, regredido de forma absurda. A única explicação para o fenômeno seria aquele “outro sol” que eu havia visto há meses. Aquele sol de brilho estranho e avermelhado, de uma aura fantasmal, estava agora muito mais próximo. Eu delirava? A questão é que ele havia se aproximado muito da Terra e já encobria uma grande parte do sol. Porém, o que chamei de “outro sol”, não o era. Tratava-se, acreditei, de outro planeta, um gigantesco e ominoso planeta vermelho que se aproximava ameaçadoramente... Eu não tenho palavras para descrever a opressora e massacrante sensação de medo e horror que aquele inacreditável planeta nos causava. Nós sentíamos e víamos morrer a luz do sol, assim como morrera a eletricidade. Eu tinha apenas minha esposa e a luz dos olhos dela. Ela tinha apenas a mim e a luz de meus olhos. E foram essas únicas luzes, creio, que nos alimentaram e nos mantiveram vivos.
(Continua...)
05 novembro 2008
A Doença da Luz (ou O Relato de Carlos Walter Mann) - Cap. III
22 de junho de 2024 - Estávamos completamente isolados. Após ter matado aquele louco que se acercou da carroça, vi apenas mais dois humanos, ambos igualmente enlouquecidos. Também necessitei matá-los. O primeiro deles tentou se aproximar de Carolina enquanto ela tirava água de nosso poço artesiano. O segundo, encontrei no campo quando fui visitar nosso vizinho mais próximo, que ficava a cerca de 4 km. Tentou atacar-me com um machado. Acertei uma bala em seu peito e prossegui rumo a meus vizinhos. Não havia ninguém vivo por lá. Os cadáveres de Antônio, sua esposa e seus filhos jaziam apodrecidos no pátio. Apenas pus na carroça seus estoques de querosene e gás, assim como as velas que encontrei, e voltei para casa. Nessa tarde, reforcei drasticamente a segurança de portas e janelas.
Durante a escura noite, não consegui dormir. Apesar de estarmos no princípio do inverno, o calor era insuportável. E já fazia cerca de uma semana que, durante estas noites densas e abafadas, eu ouvia ao longe gritos horríveis, dificilmente conseguiria descrevê-los, eram como urros, grunhidos, pios, gemidos, enfim, toda espécie de som aterrador. Eu não saberia dizer se eram de homens ou animais, ou de algum ser monstruoso. Naquela altura, em meio a tantas aberrações, eu tenebrosamente imaginava o que poderia ser aquilo e comentava com Carolina as idéias terrificantes que surgiam a minha mente, enquanto um gélido arrepio percorria nossas almas... Porém, naquela noite tudo parecia ainda mais intenso e perturbador, o calor, o clima físico e psicológico de opressão, os sons infernais da noite... Foi então que percebemos que se formava uma tempestade, uma absurda tempestade...
A tormenta formou-se numa velocidade vertiginosa e assustadora. De uma hora para outra, violentas rajadas de vento surgiram dos céus congestionados, nossa casa parecia que seria derrubada em questão de minutos. Trovões atordoantes massacravam os céus, e dantescos relâmpagos como eu jamais vira bombardeavam os campos até onde a vista alcançava. A eletricidade que o homem não mais podia produzir estava ali devastando horizontes. Eram raios gigantescos, grotescamente ramificados, cruzando-se incessantemente por entre a pesada chuva. Víamos árvores serem atingidas, e um dos raios caiu em nosso pomar. A fúria do vento varria as extensões diante de nossos olhares aterrorizados. Havia algo de errado, de anômalo naquela tormenta, principalmente em seus raios. Eles eram doentios, imensos em demasia, suas ramificações ominosas e a freqüência com que surgiam nos céus eram completamente anormais.
Durante aproximadamente uma hora, mal conseguíamos respirar de tanto medo e apreensão. Impossível expressar nossa sensação de alívio quando a tormenta cessou de forma tão súbita quanto iniciara. Nossa casa estava intacta. Porém, algumas árvores do pomar foram derrubadas e perdemos praticamente todas nossas plantações de legumes e verduras.
(Continua...)
Durante a escura noite, não consegui dormir. Apesar de estarmos no princípio do inverno, o calor era insuportável. E já fazia cerca de uma semana que, durante estas noites densas e abafadas, eu ouvia ao longe gritos horríveis, dificilmente conseguiria descrevê-los, eram como urros, grunhidos, pios, gemidos, enfim, toda espécie de som aterrador. Eu não saberia dizer se eram de homens ou animais, ou de algum ser monstruoso. Naquela altura, em meio a tantas aberrações, eu tenebrosamente imaginava o que poderia ser aquilo e comentava com Carolina as idéias terrificantes que surgiam a minha mente, enquanto um gélido arrepio percorria nossas almas... Porém, naquela noite tudo parecia ainda mais intenso e perturbador, o calor, o clima físico e psicológico de opressão, os sons infernais da noite... Foi então que percebemos que se formava uma tempestade, uma absurda tempestade...
A tormenta formou-se numa velocidade vertiginosa e assustadora. De uma hora para outra, violentas rajadas de vento surgiram dos céus congestionados, nossa casa parecia que seria derrubada em questão de minutos. Trovões atordoantes massacravam os céus, e dantescos relâmpagos como eu jamais vira bombardeavam os campos até onde a vista alcançava. A eletricidade que o homem não mais podia produzir estava ali devastando horizontes. Eram raios gigantescos, grotescamente ramificados, cruzando-se incessantemente por entre a pesada chuva. Víamos árvores serem atingidas, e um dos raios caiu em nosso pomar. A fúria do vento varria as extensões diante de nossos olhares aterrorizados. Havia algo de errado, de anômalo naquela tormenta, principalmente em seus raios. Eles eram doentios, imensos em demasia, suas ramificações ominosas e a freqüência com que surgiam nos céus eram completamente anormais.
Durante aproximadamente uma hora, mal conseguíamos respirar de tanto medo e apreensão. Impossível expressar nossa sensação de alívio quando a tormenta cessou de forma tão súbita quanto iniciara. Nossa casa estava intacta. Porém, algumas árvores do pomar foram derrubadas e perdemos praticamente todas nossas plantações de legumes e verduras.
(Continua...)
02 novembro 2008
A Doença da Luz (ou O Relato de Carlos Walter Mann) - Cap.II
14 de maio de 2024 – Esses dois meses que passaram foram decisivos no desenrolar da catástrofe e deram-me uma visão absolutamente desesperadora do que acontecia com a humanidade. Definitivamente, já não existia uma civilização. Não, não voltamos à barbárie. Antes tivéssemos voltado. Na verdade, involuímos de forma absurda para um estado de degradação inimaginável, o mundo via aflorar o lado mais negro e diabólico do ser humano, e eu pensava desolado no que estaria acontecendo naqueles instantes ao redor do mundo...
Como qualquer tipo de comunicação à distância era impossível, inclusive deslocar-se com veículos automotivos, cujas baterias não funcionavam, eu não podia mais saber o que estava sendo feito para a solução da tragédia, se é que alguma coisa poderia ser feita. O que a ciência poderia fazer, como poderia construir qualquer nova tecnologia que não dependesse de eletricidade se todas as máquinas necessárias para tanto só funcionavam com eletricidade? Não havia saída para a civilização.
Eu e minha esposa estávamos isolados e com medo. Havíamos consumido quase todo nosso estoque de alimentos. Onde obter mais? E como conservar alimentos sem geladeiras? Felizmente, o inverno se aproximava, e com o frio, a necessidade de refrigeradores seria menor. Mas precisaríamos de mais calor, de mais fogo. Deveríamos obter mais gás. Era imperativo voltar à cidade. Sim, porque vivíamos um pouco afastados dela. Nossa casa situava-se além do perímetro urbano, possuíamos uma pequena propriedade onde cultivávamos um vasto pomar e plantávamos alguns legumes e verduras, além de criarmos frangos. No entanto, tanto eu como Carolina trabalhávamos na cidade em nossos respectivos empregos, que haviam sido suspensos pela falta de energia.
Em minha última visita à cidade, há menos de um mês, a maioria dos estabelecimentos comerciais haviam fechado suas portas, ou por falta de fornecedores ou por medo dos saques. A população, já perdendo seus empregos e sem dinheiro, não tinha alternativa, a não ser saquear os mercados para a obtenção de alimentos. Mesmo assim, eu deveria ir à cidade na esperança de encontrar o que nos faltava e conseguir mais gás. Felizmente, eu possuía uma pequena carroça e um cavalo. Foi o que possibilitou minha pequena viagem.
15 de maio de 2024 – No início da tarde, parti em direção à cidade. Por precaução, levei comigo uma arma de fogo. Conforme me aproximava da zona urbana, um cenário de desolação verdadeiramente apocalíptico ia se desenrolando. Eu via casas em ruínas, automóveis destruídos, pessoas e animais mortos às centenas pelas ruas imundas, abarrotados de todo tipo de lixo e sujeira. O mau cheiro da podridão infestava minhas narinas. “Meu Deus!” pensei comigo, “a ausência da eletricidade causou todas essas tragédias em tão pouco tempo?” E passei a imaginar os horrores que poderiam estar assolando o mundo naquele exato momento... Continuei avançando pelo que parecia ser o cenário de uma guerra. Não podia dizer como, mas acreditava que toda ou quase toda população da cidade estava morta ou desaparecida. O cavalo abria caminho por entre cadáveres, e os únicos seres vivos que eu via, além das plantas, eram alguns gatos, cachorros e aves perdidos por entre a destruição.
Avistei o que havia sido um supermercado. Peguei a arma e entrei. O mercado fora saqueado, mas ainda pude encontrar alimentos enlatados e em conserva, bem como alguns pacotes de velas. Rapidamente, saí do mercado e dirigi-me até o depósito de gás. Ainda consegui encontrar três bujões intactos. Preocupado com a segurança de minha esposa, tomei o caminho de volta. Por entre os mortos, eu tentava desesperado entender o que estava acontecendo com a humanidade. O que ocorrera com a população de mais de 50 mil habitantes da cidade onde eu vivia? E enquanto refletia inutilmente, alguém surgiu por detrás de algumas árvores. Era um homem com aspecto de mendigo. Quando me avistou, partiu em minha direção numa corrida desvairada. Parecia enlouquecido. Peguei a arma, estava pronto para atirar. Porém, antes tentei interrogá-lo, saber quem era, o que estava acontecendo. Foi inútil, parecia não me ouvir. Ele se acercou da carroça ameaçadoramente. Matei-o com um tiro na cabeça.
Alarmado com o ocorrido, temi pela vida de Carolina. Fui para casa o mais rápido possível. Para meu alívio, ela estava bem.
(Continua...)
Como qualquer tipo de comunicação à distância era impossível, inclusive deslocar-se com veículos automotivos, cujas baterias não funcionavam, eu não podia mais saber o que estava sendo feito para a solução da tragédia, se é que alguma coisa poderia ser feita. O que a ciência poderia fazer, como poderia construir qualquer nova tecnologia que não dependesse de eletricidade se todas as máquinas necessárias para tanto só funcionavam com eletricidade? Não havia saída para a civilização.
Eu e minha esposa estávamos isolados e com medo. Havíamos consumido quase todo nosso estoque de alimentos. Onde obter mais? E como conservar alimentos sem geladeiras? Felizmente, o inverno se aproximava, e com o frio, a necessidade de refrigeradores seria menor. Mas precisaríamos de mais calor, de mais fogo. Deveríamos obter mais gás. Era imperativo voltar à cidade. Sim, porque vivíamos um pouco afastados dela. Nossa casa situava-se além do perímetro urbano, possuíamos uma pequena propriedade onde cultivávamos um vasto pomar e plantávamos alguns legumes e verduras, além de criarmos frangos. No entanto, tanto eu como Carolina trabalhávamos na cidade em nossos respectivos empregos, que haviam sido suspensos pela falta de energia.
Em minha última visita à cidade, há menos de um mês, a maioria dos estabelecimentos comerciais haviam fechado suas portas, ou por falta de fornecedores ou por medo dos saques. A população, já perdendo seus empregos e sem dinheiro, não tinha alternativa, a não ser saquear os mercados para a obtenção de alimentos. Mesmo assim, eu deveria ir à cidade na esperança de encontrar o que nos faltava e conseguir mais gás. Felizmente, eu possuía uma pequena carroça e um cavalo. Foi o que possibilitou minha pequena viagem.
15 de maio de 2024 – No início da tarde, parti em direção à cidade. Por precaução, levei comigo uma arma de fogo. Conforme me aproximava da zona urbana, um cenário de desolação verdadeiramente apocalíptico ia se desenrolando. Eu via casas em ruínas, automóveis destruídos, pessoas e animais mortos às centenas pelas ruas imundas, abarrotados de todo tipo de lixo e sujeira. O mau cheiro da podridão infestava minhas narinas. “Meu Deus!” pensei comigo, “a ausência da eletricidade causou todas essas tragédias em tão pouco tempo?” E passei a imaginar os horrores que poderiam estar assolando o mundo naquele exato momento... Continuei avançando pelo que parecia ser o cenário de uma guerra. Não podia dizer como, mas acreditava que toda ou quase toda população da cidade estava morta ou desaparecida. O cavalo abria caminho por entre cadáveres, e os únicos seres vivos que eu via, além das plantas, eram alguns gatos, cachorros e aves perdidos por entre a destruição.
Avistei o que havia sido um supermercado. Peguei a arma e entrei. O mercado fora saqueado, mas ainda pude encontrar alimentos enlatados e em conserva, bem como alguns pacotes de velas. Rapidamente, saí do mercado e dirigi-me até o depósito de gás. Ainda consegui encontrar três bujões intactos. Preocupado com a segurança de minha esposa, tomei o caminho de volta. Por entre os mortos, eu tentava desesperado entender o que estava acontecendo com a humanidade. O que ocorrera com a população de mais de 50 mil habitantes da cidade onde eu vivia? E enquanto refletia inutilmente, alguém surgiu por detrás de algumas árvores. Era um homem com aspecto de mendigo. Quando me avistou, partiu em minha direção numa corrida desvairada. Parecia enlouquecido. Peguei a arma, estava pronto para atirar. Porém, antes tentei interrogá-lo, saber quem era, o que estava acontecendo. Foi inútil, parecia não me ouvir. Ele se acercou da carroça ameaçadoramente. Matei-o com um tiro na cabeça.
Alarmado com o ocorrido, temi pela vida de Carolina. Fui para casa o mais rápido possível. Para meu alívio, ela estava bem.
(Continua...)
31 outubro 2008
A Doença da Luz (ou o Relato de Carlos Walter Mann) - Cap.I
O Conto abaixo, do qual publico seu primeiro capítulo, talvez seja minha obra em prosa mais bem acabada, e também a de mais difícil realização. Tornou-se um pouco extensa, se considerarmos a dimensão média de meus contos. Por isso, confio na paciência dos leitores para o acompanharem através de capítulos que serão postados aqui de dois em dois dias. Estou certo que o final será absolutamente surpreendente.
7 de maio de 2025 - Meu nome é Carlos Walter Mann, e o relato que me foi solicitado pelos senhores encontra-se nas linhas a seguir. Procurei explicar os acontecimentos de acordo com as datas mais significativas para mim, algumas delas ficaram profundamente gravadas na memória. É a minha visão particular da catástrofe, vamos a ela...
23 de fevereiro de 2024 - Naquela manhã de verão plena de sol, ao levantar-me, percebi que a geladeira não estava funcionando. Tentei acender as luzes. Não havia energia elétrica. Imaginei que fosse apenas uma interrupção temporária no fornecimento de eletricidade. Logo deveria voltar. Minha esposa, Carolina, ainda dormia. Sentei-me e fui comer algumas frutas, e em seguida li o jornal. No entanto, passara-se mais de uma hora, a luz não retornara. Decidi ligar para a companhia de energia elétrica. O atendente não soube informar-me absolutamente nada sobre o que estava acontecendo. Disse-me que a interrupção no fornecimento de energia ocorrera durante a madrugada de forma misteriosamente inexplicável, e não era algo restrito a nossa região, mas atingia todo o país, melhor dizendo, atingia todo o planeta! Por mais absurdo que isso pudesse ser, até onde se sabia, não havia energia elétrica em nenhuma parte do mundo. Finalizou a breve conversa afirmando que o estranho e caótico caso já estava sendo seriamente estudado por milhares de técnicos e cientistas em todos os países do mundo e logo deveria ser solucionado.
Em seguida, telefonei para o celular de um amigo que trabalhava na própria companhia. Desejava ter uma idéia melhor do que ocorria. Com muita pressa e nervosismo, meu amigo limitou-se a dizer que tudo ocorreu de uma hora para outra, a energia simplesmente deixou de ser fornecida simultaneamente em todos os países, sem nenhuma causa aparente. Não houve falha em nenhum ponto, todas as unidades produtoras de energia elétrica estavam funcionando perfeitamente, sem nenhum erro. Porém, não existia energia. As usinas ao redor do mundo não produziam absolutamente nada de eletricidade. E, até o momento, não havia explicação alguma. E desligou o celular. Fui deitar ao lado de Carolina e ler um livro.
19 de março de 2024 – A energia ainda não voltara. Apesar dos terríveis esforços em todo o mundo, não só nenhuma solução foi encontrada, como também a causa do pior desastre da história da humanidade permanecia uma incógnita. E ainda pior que isso: não só a eletricidade oriunda de usinas (fossem elas hidrelétricas, termelétricas, nucleares...) deixou de existir, mas também qualquer tipo de eletricidade produzida pelo homem: pilhas, baterias, células fotoelétricas, enfim, nada mais funcionava. Não era mais possível ao homem produzir energia elétrica. Creio que os senhores podem imaginar perfeitamente o caos absoluto que reinou no planeta. Sem a energia elétrica, o homem atual não é nada.
Com o colapso energético, a comunicação entre os humanos deixou de existir, pois até mesmo as companhias telefônicas e os correios não tinham mais condições de funcionar. Sem telefones, sem internet, sem televisores, sem rádios, enfim, sem nada, teríamos regressado aos séculos em que não dependíamos da eletricidade, se isso fosse possível. Não era. Não estávamos preparados para tanto.
A humanidade paralisou-se completamente. Imaginem as negras conseqüências da catástrofe... Basta lembrar que todas as instituições, todas as indústrias, todas as empresas, toda a ciência, praticamente todas as profissões, todos os governos, os mais banais afazeres, desde um celular a um automóvel, de uma calculadora a um computador, de uma lanterna a um avião são dependentes de energia elétrica. É inenarrável a titânica magnitude do desastre que rapidamente estabeleceu o mais absurdo caos entre a civilização...
(continua...)
7 de maio de 2025 - Meu nome é Carlos Walter Mann, e o relato que me foi solicitado pelos senhores encontra-se nas linhas a seguir. Procurei explicar os acontecimentos de acordo com as datas mais significativas para mim, algumas delas ficaram profundamente gravadas na memória. É a minha visão particular da catástrofe, vamos a ela...
23 de fevereiro de 2024 - Naquela manhã de verão plena de sol, ao levantar-me, percebi que a geladeira não estava funcionando. Tentei acender as luzes. Não havia energia elétrica. Imaginei que fosse apenas uma interrupção temporária no fornecimento de eletricidade. Logo deveria voltar. Minha esposa, Carolina, ainda dormia. Sentei-me e fui comer algumas frutas, e em seguida li o jornal. No entanto, passara-se mais de uma hora, a luz não retornara. Decidi ligar para a companhia de energia elétrica. O atendente não soube informar-me absolutamente nada sobre o que estava acontecendo. Disse-me que a interrupção no fornecimento de energia ocorrera durante a madrugada de forma misteriosamente inexplicável, e não era algo restrito a nossa região, mas atingia todo o país, melhor dizendo, atingia todo o planeta! Por mais absurdo que isso pudesse ser, até onde se sabia, não havia energia elétrica em nenhuma parte do mundo. Finalizou a breve conversa afirmando que o estranho e caótico caso já estava sendo seriamente estudado por milhares de técnicos e cientistas em todos os países do mundo e logo deveria ser solucionado.
Em seguida, telefonei para o celular de um amigo que trabalhava na própria companhia. Desejava ter uma idéia melhor do que ocorria. Com muita pressa e nervosismo, meu amigo limitou-se a dizer que tudo ocorreu de uma hora para outra, a energia simplesmente deixou de ser fornecida simultaneamente em todos os países, sem nenhuma causa aparente. Não houve falha em nenhum ponto, todas as unidades produtoras de energia elétrica estavam funcionando perfeitamente, sem nenhum erro. Porém, não existia energia. As usinas ao redor do mundo não produziam absolutamente nada de eletricidade. E, até o momento, não havia explicação alguma. E desligou o celular. Fui deitar ao lado de Carolina e ler um livro.
19 de março de 2024 – A energia ainda não voltara. Apesar dos terríveis esforços em todo o mundo, não só nenhuma solução foi encontrada, como também a causa do pior desastre da história da humanidade permanecia uma incógnita. E ainda pior que isso: não só a eletricidade oriunda de usinas (fossem elas hidrelétricas, termelétricas, nucleares...) deixou de existir, mas também qualquer tipo de eletricidade produzida pelo homem: pilhas, baterias, células fotoelétricas, enfim, nada mais funcionava. Não era mais possível ao homem produzir energia elétrica. Creio que os senhores podem imaginar perfeitamente o caos absoluto que reinou no planeta. Sem a energia elétrica, o homem atual não é nada.
Com o colapso energético, a comunicação entre os humanos deixou de existir, pois até mesmo as companhias telefônicas e os correios não tinham mais condições de funcionar. Sem telefones, sem internet, sem televisores, sem rádios, enfim, sem nada, teríamos regressado aos séculos em que não dependíamos da eletricidade, se isso fosse possível. Não era. Não estávamos preparados para tanto.
A humanidade paralisou-se completamente. Imaginem as negras conseqüências da catástrofe... Basta lembrar que todas as instituições, todas as indústrias, todas as empresas, toda a ciência, praticamente todas as profissões, todos os governos, os mais banais afazeres, desde um celular a um automóvel, de uma calculadora a um computador, de uma lanterna a um avião são dependentes de energia elétrica. É inenarrável a titânica magnitude do desastre que rapidamente estabeleceu o mais absurdo caos entre a civilização...
(continua...)
28 outubro 2008
Soneto Noturno
Ah, que Tristeza flutua nos luares,
mais agora que o mundo vai morrendo,
e um vulto envolto em sonhos pelos ares
em raios e grinaldas vem descendo...
Nos teus olhos sinto anjos florescendo...
dou-te a alma se à noite me beijares
no perfume que o escuro vai tecendo
aos fantasmas que em névoas vêm aos pares.
E em mim gotejam almas: noite nua
nas árias lutulentas que cantaste,
na febre, na loucura que flutua...
És sangue de rosas, espinhos da haste,
a alma da morte, veneno da lua...
Ó Noiva! Foste tu que me mataste!
mais agora que o mundo vai morrendo,
e um vulto envolto em sonhos pelos ares
em raios e grinaldas vem descendo...
Nos teus olhos sinto anjos florescendo...
dou-te a alma se à noite me beijares
no perfume que o escuro vai tecendo
aos fantasmas que em névoas vêm aos pares.
E em mim gotejam almas: noite nua
nas árias lutulentas que cantaste,
na febre, na loucura que flutua...
És sangue de rosas, espinhos da haste,
a alma da morte, veneno da lua...
Ó Noiva! Foste tu que me mataste!
26 outubro 2008
a Fernando Pessoa
pessoalmente
não me sinto ser uma pessoa
nem sei o que é ser o que sou
ou não-sou
o que meu ser pensam ser as pessoas
jamais será o meu ser impessoal:
eu não estou no que me é
afinal
o que sou
em mar de essências ressoa...
além do mais do que vale a pena
eu só queria ser
um(a) grande Pessoa
não me sinto ser uma pessoa
nem sei o que é ser o que sou
ou não-sou
o que meu ser pensam ser as pessoas
jamais será o meu ser impessoal:
eu não estou no que me é
afinal
o que sou
em mar de essências ressoa...
além do mais do que vale a pena
eu só queria ser
um(a) grande Pessoa
Um comentário sobre Oracy Dornelles
Algumas pessoas me perguntaram qual foi meu comentário sobre um poema de Oracy, no caso, um de seus poemas morfológicos. Digo que o comentário foi feito no blog de minha amiga Fátima, porém, infelizmente ela o apagou. Embora eu não concorde em apagar comentários realizados em blogs, sejam eles positivos ou negativos (afinal, essa é uma das funções deles, a interatividade), eu entendo os motivos dela. No entanto, eu sempre deixo salvo os comentários que realizo em blogs, quando eles são extensos. Então, para os interessados, publico aqui aquele comentário, na íntegra, originalmente feito no blog da Fátima. É o que penso, com toda sinceridade, sobre a poesia atual de Oracy.
"Olá, Fátima! Bem, já que o Oracy gosta tanto de criticar o que escrevo, permita-me, Fátima, deixar agora a minha crítica a um poema dele, que até pode ser válido para todos os outros que ele escreve neste mesmo estilo. Sim, um poema excelente dentro da poesia minimalista, com grande significação em poucas palavras, intelectualmente admiravelmente construído. Mas seria essa poesia fria e intelectual a verdadeira poesia? Que emoção verdadeira há nela? Onde ela toca em nossas almas? Onde está a força do ritmo, ou a magia da leitura das palavras em algo tão mínimo? Com toda sinceridade, não sinto nenhuma emoç]ao ao lê-la. Posso ficar pensando para tentar entender seus significados, mas nisso não entra meus sentimentos, é algo frio, analítico, mental, raciocinativo, não tem alma, não tem o espírito fecundador das grandes poesias. E Essa poesia minimalista já não corresponde às novas tendências da poesia, vem surgindo um grito de libertação dessa poesia cômica e intelectualista para buscar trazer novamente para a poética a emoção, o coração, o espírito da poesia discursiva ou semidiscursiva (sem descuidar dos elementos pós-modernos) que põe fogo na alma. Eu, ultimamente, tenho procurado escrever dentro de uma nova visão. Estou farto do minimalismo. O próprio Alfredo Bosi afirma sobre a nova poesia: "Ressurge o discurso poético e, como ele, o verso, livre ou metrificado – em oposição à sintaxe ostensivamente gráfica." Um abraço!"
"Olá, Fátima! Bem, já que o Oracy gosta tanto de criticar o que escrevo, permita-me, Fátima, deixar agora a minha crítica a um poema dele, que até pode ser válido para todos os outros que ele escreve neste mesmo estilo. Sim, um poema excelente dentro da poesia minimalista, com grande significação em poucas palavras, intelectualmente admiravelmente construído. Mas seria essa poesia fria e intelectual a verdadeira poesia? Que emoção verdadeira há nela? Onde ela toca em nossas almas? Onde está a força do ritmo, ou a magia da leitura das palavras em algo tão mínimo? Com toda sinceridade, não sinto nenhuma emoç]ao ao lê-la. Posso ficar pensando para tentar entender seus significados, mas nisso não entra meus sentimentos, é algo frio, analítico, mental, raciocinativo, não tem alma, não tem o espírito fecundador das grandes poesias. E Essa poesia minimalista já não corresponde às novas tendências da poesia, vem surgindo um grito de libertação dessa poesia cômica e intelectualista para buscar trazer novamente para a poética a emoção, o coração, o espírito da poesia discursiva ou semidiscursiva (sem descuidar dos elementos pós-modernos) que põe fogo na alma. Eu, ultimamente, tenho procurado escrever dentro de uma nova visão. Estou farto do minimalismo. O próprio Alfredo Bosi afirma sobre a nova poesia: "Ressurge o discurso poético e, como ele, o verso, livre ou metrificado – em oposição à sintaxe ostensivamente gráfica." Um abraço!"
23 outubro 2008
Webrevista - Projeto C.O.V.A
O meu amigo e escritor Giovani Coelho de Souza elaborou uma webrevista de seu Projeto C.O.V.A, onde publicou um magnífico tributo a Álvares de Azevedo, incluindo nele meu Soneto Ultra-romântico. Agradeço ao amigo e deixo todos meus elogios a seu trabalho, o qual foi perfeitamente conduzido, tanto formal quanto conteudiscamente. Há na webrevista textos de alta qualidade, uma adequada e impressionante escolha de imagens, incluindo pinturas clássicas. Percebe-se que é um trabalho feito com o coração. Parabéns.
Link para download da webrevista(edição 1):
http://www.mediafire.com/file/d4ttjtrkwkz/WEBREVISTA
Link para download da webrevista(edição 1):
http://www.mediafire.com/file/d4ttjtrkwkz/WEBREVISTA
19 outubro 2008
A Saída
tu és o último canto
do conto eterno em que conto
em que me encontro e retorno
e sempre em torno ao meu rosto
o teu encanto me conta
o que pra sempre me resta
o que deixei de meu rastro
tu és o último conto
em que pra sempre te canto
e pelo céu eu me arrasto
revolto eu volto no entanto
com tudo o que é de minha conta
um vulto em vida e revolta
conta comigo em tua volta
conta comigo os meus olhos
vê como eles são tantos
e como paguei minha conta
olhando acima da lama
no canto daquele que ama
a saída de tudo é a Alma
do conto eterno em que conto
em que me encontro e retorno
e sempre em torno ao meu rosto
o teu encanto me conta
o que pra sempre me resta
o que deixei de meu rastro
tu és o último conto
em que pra sempre te canto
e pelo céu eu me arrasto
revolto eu volto no entanto
com tudo o que é de minha conta
um vulto em vida e revolta
conta comigo em tua volta
conta comigo os meus olhos
vê como eles são tantos
e como paguei minha conta
olhando acima da lama
no canto daquele que ama
a saída de tudo é a Alma
17 outubro 2008
É Lógico que a Vida não Possui Lógica
“...não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser cotidiano, ser nítido,
Ter um lugar na vida...”
Fernando Pessoa
Não, não possui. Talvez possua algum Equilíbrio, um equilíbrio sombrio, oculto, incompreensível, inacessível e absoluta e canhestramente ilógico. Mas um equilíbrio. E sempre acima de nossa mão. Por que deveria ser compreensível? Já alguns dirão que esse equilíbrio não existe. Eu não digo nada. Não gosto de dizer as coisas. Gosta de cantá-las. E de gritá-las. Mas não de dizê-las, dizer é tão fraco.
A Lua estava anômala ontem. Foi necessário que eu saísse às ruas naquele estado de sono que não era o sono. Era um sono em um estado alterado de consciência. Saí caminhando pelo dia não-diurno, sim, porque eu sentia um sono profundo e vertiginoso, algo como um desejo não-terráqueo nem fictício, mas dominado por todas as cores de beijos. Não, não sou sonâmbulo. Naquela praça, vi 4 homens lendo jornais. Jamais conseguiria defini-los, mas os defino: horríveis, todos eles: olhos esbugalhados, descabelados, tossindo, boca escorrendo sangue como um churrasco mal-assado, não falavam uns com os outros, não se movimentavam. Não sei se andei ou flutuei até eles, aliás, eu não sei nada. E pedi um jornal emprestado e li todas as manchetes. Horríveis, todas elas.
Como era mágico e salutar meu sono... Com as manchetes dos jornais fiz um poema, sem modificar uma só palavra. O poema mais trágico da história da humanidade. Sonhei... Não sei com o que sonhei, mas vivi o mais fundo possível o que sonhei. Que mais se pode fazer? E como saí das florestas felinas sem ter uma só palavra a dizer a ninguém, isso é que é de se admirar! E como senti os vapores nunca-vistos de tudo que tu me disseste aquele dia sem que me olhasses uma só vez nos olhos... E como olhei nos teus olhos com cheiros de músicas sem que tu me dissesses um só verbo divino ou caído.
Amanhã vai chover... Assim, percebi que a humanidade não vale a pena... Vale a pena aquele rio que nunca correu, aquela flor que nunca nasceu, aquela árvore que nunca cresceu, aquela música que nunca tocaram, aquele céu que nunca brilhou, aquele beijo que nunca se deram... Por isso voam aves de verde pelas ânsias perfumadas daquele inverno que nunca apagou sua luz. Nem a minha. Porém, o mais absurdo de tudo, algo realmente ilógico e que nunca me foi permitido entender é que a sociedade no fundo odeia os professores. Deve ser por que eles são os únicos capazes de melhorar seus filhos. Se o homem quisesse ser melhorado, eu não estaria aqui dormindo, sonhando e escrevendo.
Quantas estrelas caíram aquele dia do céu... Uma delas abriu ao meio minha cabeça, literalmente, e uns uivos-desejo flutuavam tensos ao longe, e perto de mim. Era uma noite sombria, mas tu não estavas sobre os altares. Como se iluminou todo o luar, como uma treva santa chocou-se contra os versos que uma águia largou do bico sobre a morte... Três mãos alucinadas ergueram-se de dentro de meu peito, e vi uma chuva de olhos com chifres brancos perfurarem todo meu coração, o sangue não-meu que lacrimejava ao espaço doente formou uma nuvem que aceleradamente ascendeu ao sonho onde eu dormia. Não esqueçam que eu estava dormindo, por favor, não percam o fio da meada. Corri. Tu não estavas lá. Tudo não estava lá.
E no Brasil odeia-se ainda mais os professores, e estou certo que isso é uma das principais características de nossa cultura, talvez a principal, aquela que define definitivamente o que é ser brasileiro, odiar um professor, afinal, sem isso o Brasil não seria Brasil. Mas um canto e um grito titânicos ergueram-se majestosos daquele planeta de luz que não vejo. Como soou apaixonado um violino de Brahms aos meus ouvidos, e todas as coisas se angustiavam de forma tão ciclonicamente sublime que um furacão passou pela minha cidade e arrasou com tudo, inclusive comigo. Por isso durmo e elevo meu coração na ponta de uma espada flamígera e atiro-o ao relâmpago que me beija... O fim é como o começo: “Sim, está tudo certo./Está tudo perfeitamente certo./O pior é que está tudo errado.” É do Álvaro de Campos, que nunca existiu e valeu a pena. E eu me acordei.
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser cotidiano, ser nítido,
Ter um lugar na vida...”
Fernando Pessoa
Não, não possui. Talvez possua algum Equilíbrio, um equilíbrio sombrio, oculto, incompreensível, inacessível e absoluta e canhestramente ilógico. Mas um equilíbrio. E sempre acima de nossa mão. Por que deveria ser compreensível? Já alguns dirão que esse equilíbrio não existe. Eu não digo nada. Não gosto de dizer as coisas. Gosta de cantá-las. E de gritá-las. Mas não de dizê-las, dizer é tão fraco.
A Lua estava anômala ontem. Foi necessário que eu saísse às ruas naquele estado de sono que não era o sono. Era um sono em um estado alterado de consciência. Saí caminhando pelo dia não-diurno, sim, porque eu sentia um sono profundo e vertiginoso, algo como um desejo não-terráqueo nem fictício, mas dominado por todas as cores de beijos. Não, não sou sonâmbulo. Naquela praça, vi 4 homens lendo jornais. Jamais conseguiria defini-los, mas os defino: horríveis, todos eles: olhos esbugalhados, descabelados, tossindo, boca escorrendo sangue como um churrasco mal-assado, não falavam uns com os outros, não se movimentavam. Não sei se andei ou flutuei até eles, aliás, eu não sei nada. E pedi um jornal emprestado e li todas as manchetes. Horríveis, todas elas.
Como era mágico e salutar meu sono... Com as manchetes dos jornais fiz um poema, sem modificar uma só palavra. O poema mais trágico da história da humanidade. Sonhei... Não sei com o que sonhei, mas vivi o mais fundo possível o que sonhei. Que mais se pode fazer? E como saí das florestas felinas sem ter uma só palavra a dizer a ninguém, isso é que é de se admirar! E como senti os vapores nunca-vistos de tudo que tu me disseste aquele dia sem que me olhasses uma só vez nos olhos... E como olhei nos teus olhos com cheiros de músicas sem que tu me dissesses um só verbo divino ou caído.
Amanhã vai chover... Assim, percebi que a humanidade não vale a pena... Vale a pena aquele rio que nunca correu, aquela flor que nunca nasceu, aquela árvore que nunca cresceu, aquela música que nunca tocaram, aquele céu que nunca brilhou, aquele beijo que nunca se deram... Por isso voam aves de verde pelas ânsias perfumadas daquele inverno que nunca apagou sua luz. Nem a minha. Porém, o mais absurdo de tudo, algo realmente ilógico e que nunca me foi permitido entender é que a sociedade no fundo odeia os professores. Deve ser por que eles são os únicos capazes de melhorar seus filhos. Se o homem quisesse ser melhorado, eu não estaria aqui dormindo, sonhando e escrevendo.
Quantas estrelas caíram aquele dia do céu... Uma delas abriu ao meio minha cabeça, literalmente, e uns uivos-desejo flutuavam tensos ao longe, e perto de mim. Era uma noite sombria, mas tu não estavas sobre os altares. Como se iluminou todo o luar, como uma treva santa chocou-se contra os versos que uma águia largou do bico sobre a morte... Três mãos alucinadas ergueram-se de dentro de meu peito, e vi uma chuva de olhos com chifres brancos perfurarem todo meu coração, o sangue não-meu que lacrimejava ao espaço doente formou uma nuvem que aceleradamente ascendeu ao sonho onde eu dormia. Não esqueçam que eu estava dormindo, por favor, não percam o fio da meada. Corri. Tu não estavas lá. Tudo não estava lá.
E no Brasil odeia-se ainda mais os professores, e estou certo que isso é uma das principais características de nossa cultura, talvez a principal, aquela que define definitivamente o que é ser brasileiro, odiar um professor, afinal, sem isso o Brasil não seria Brasil. Mas um canto e um grito titânicos ergueram-se majestosos daquele planeta de luz que não vejo. Como soou apaixonado um violino de Brahms aos meus ouvidos, e todas as coisas se angustiavam de forma tão ciclonicamente sublime que um furacão passou pela minha cidade e arrasou com tudo, inclusive comigo. Por isso durmo e elevo meu coração na ponta de uma espada flamígera e atiro-o ao relâmpago que me beija... O fim é como o começo: “Sim, está tudo certo./Está tudo perfeitamente certo./O pior é que está tudo errado.” É do Álvaro de Campos, que nunca existiu e valeu a pena. E eu me acordei.
14 outubro 2008
Uma Lenda (e um Tributo a Brahms)
É manhã. Eu caminho pelo campo para descobrir o que é que me observa. E o campo é verde, vivo e vasto. Alguém, alguma coisa, algum ser, de forma permanente e misteriosa, oculto sob o invisível, vigia-me cheio de presságios... É aurora e o sol sobe. E a aurora é bela e fria. No céu imensamente azul, no céu estranhamente azul, uma grande ave paira sobre meus sonhos. É ela que me observa? Porém, quem é que toca a Sinfonia nº. 1 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, porém não sei de onde ela nasce.
Dos grandes e roxos olhos da ave eu fito a saudade. E a ave parte ao longe sob o sol que brilha e assim percebo que não é ela que me observa. O sol brilha. O orbe imperador nosso, doador de toda a vida, também mantém fixo seus olhos de luz, fogo e raio sobre minha consciência. Mas não é ele que me observa. À medida que caminho por entre flores e enxames de borboletas, vejo que o astro solar sobe no empíreo, cintila sobre a tranqüilidade escura e iminente das antigas folhas das árvores das matas que avisto ao longe. E a cintilar nas femininas árvores, o sol proclama com cristalinas trombetas que não é ele que me observa, porque ele somente o faz durante o dia, e quem me observa o fará eternamente... Porém, quem é que toca o concerto para piano nº. 2 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Vem uma névoa. Névoa densa e fria e longa e bela. Um céu nublado que amorteceu a luz solar. E o sol se mortifica em benefício à sombra. Um gelado estremecimento anímico traz consigo um inconcebível enigma... Que almas são aquelas que diviso flutuando invisíveis por entre a neblina? Uma dança de espectros assoma solene ascendendo em alto cedro negro. Espíritos brancos e pálidos valsam e miram meus olhos, mas não são eles que me observam, apesar de tão fantástico espetáculo. Quem é que berra dentro do bosque? Bosque em sonhos, sombrio. Contudo não sou eu que sonho...
É Tarde. Acho que parte minha inspiração, ainda que permaneça ouvindo tantos gritos e grunhidos e rugidos e urros e gemidos e lamentos e murmúrios e sussurros que caem e sobem, que vão e voltam, que voam e brilham, que crescem e morrem, que dançam e beijam na tarde em névoa da mata estranha. E sei que não são essas coisas que me observam. Há segredos e arcanos inacessíveis por trás de tão largo labirinto. Porém, quem é que toca o quarteto para piano e cordas nº. 3 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Ali corre um gato-do-mato. Escondeu-se atrás de um cipreste. Que nuvens etéreas se evolam daquele cipreste, carregadas da mais intensa paixão desesperada?... No entanto, a paixão não é minha. Acho que perco minha paixão. Sei que a vertigem em um dos galhos do cipreste mergulha na emotividade psíquica daquelas nuvens vermelhas que não sei de onde caem. Só sei que não existem ciprestes em nossas matas nativas... Portanto, não é nem o gato nem o cipreste que me observam. E nem mesmo aquele ser inclassificável que agora cruza montado em um lobo-guará. Porque eu o conheço. Avistando as longínquas colinas e coxilhas longas e adormecidas sob as nuvens densas, tensas, nervosas e carregadas, eu sei que não é ele. Seu sorriso não me engana. Eu, um cavaleiro de uma coroa perdida há muitos séculos, fitando os cavalos e as ovelhas pastarem ao longe... Sei que não pode ser ele.
Que inverno magnífico e trágico! Vejo teus olhos com febre nos horizontes. Olhos que choram e sangram lilases. Talvez sejam eles que me observam. Talvez eu esteja atingindo o ápice do segredo, o auge de todos os enigmas e mistérios... Porém, quem é que toca o Réquiem de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
A névoa se dissipa. Meu coração se acalma e segue batendo lento, muito lento, sublimemente lento, canhestramente lento. Já não sou mais eu. Sinto saudades do que não foi. Aqueles perfumes balsâmicos dos pântanos e arbustos já assombrados e alarmados surgem etéreos, enquanto o sol asfixiado em incensos desmaia cantando no chumbo, no verde, no rosa, no roxo do céu do crepúsculo romântico. Simultaneamente aos berros do sapo, uma lua titânica surge em plenilúnio, fantasmagórica e espectralmente, ascendendo rápido por entre céus e nimbos. Inauditamente amarela e dourada. Uma lua noturna nasce triunfante e lacrimosa. Quantos anseios e ânsias, e desejos e sonhos cavalgam com ela em dramático tropel? Meu Deus, quem é que me observa? E quantos fantasmas gemem e violinam no crepúsculo que avança? E quantos seres que não sei que seres são valsam nas nuvens avermelhadas, arroxeadas, acinzentadas e inflamadas na noite que ainda não é? Que Dança Fatal é esta que me alucina? É divina ou diabólica? Porém, quem é que toca o quinteto op. 30 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
E aquela lua onírica que me observa? E aquela lua de vinho? E o morcego ruflando? E a coruja agourando? Aquela lua de sangue... Aquela lua de lábio... Aquela lua de Eros... Aquela lua de alma... Aquela lua de olhos... Aquela lua que é tua. Mas não é ela que me vigia, que me contempla, que me observa. Aquela lua não é a lua. Não é o satélite da Terra. Aquela lua é um sinal, é um arcanjo, é um trono. Aquela lua é tua deusa! E dela pingam sonhos melancólicos. Gotejam grotescos sentimentalismos. Gotejam olhos e tristezas, tristezas que não têm fim... Olhos e tristezas góticas que se calamitam. Vejo fantasmas rubros ao redor da lua se abraçando sobre árvores velhas, estranhamente velhas, nunca-vistamente verdes. Meu Deus, quem é que me observa? Ainda não é noite, é quase. Subindo, eu fito uma lua menstruada de onde partem sussurros e músicas em surdina, e cantos de mortuários espíritos, e sonhos de amores fatais, e febres de corações inflamados, e tragédias de sublimes éteres do espaço infinito, da eternidade que assombra e apaixona, de beijos sangüíneos na boca, na língua, que pairam nos outonos tristonhos. Vejo olhos em todos os cantos, em todos os rios, em todas as matas, em todos os céus, em todos os seres! Meu Deus, quem é que me observa? E quem é que toca Brahms? Quem é que toca Brahms numa tempestade apocalíptica, a febre de Brahms, a fúria de Brahms, o sonho de Brahms! Meu Deus! quem é que toca, quem é que me observa? A Tristeza? A Tragédia? A Força? A Paixão? De Brahms? Que jamais se rende, que jamais se verga, que jamais se entrega!
Sim, porque vibra a Sinfonia nº. 4 de Brahms em meus tímpanos, e agora eu sei de onde ela nasce... É tu que tocas, é tu que me observas...
É Noite. E pela primeira vez sinto medo, pois estou no escuro da Noite e sei que é tu que me observas... Eu sigo meu caminho, olhando-te, e tenho medo...
Dos grandes e roxos olhos da ave eu fito a saudade. E a ave parte ao longe sob o sol que brilha e assim percebo que não é ela que me observa. O sol brilha. O orbe imperador nosso, doador de toda a vida, também mantém fixo seus olhos de luz, fogo e raio sobre minha consciência. Mas não é ele que me observa. À medida que caminho por entre flores e enxames de borboletas, vejo que o astro solar sobe no empíreo, cintila sobre a tranqüilidade escura e iminente das antigas folhas das árvores das matas que avisto ao longe. E a cintilar nas femininas árvores, o sol proclama com cristalinas trombetas que não é ele que me observa, porque ele somente o faz durante o dia, e quem me observa o fará eternamente... Porém, quem é que toca o concerto para piano nº. 2 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Vem uma névoa. Névoa densa e fria e longa e bela. Um céu nublado que amorteceu a luz solar. E o sol se mortifica em benefício à sombra. Um gelado estremecimento anímico traz consigo um inconcebível enigma... Que almas são aquelas que diviso flutuando invisíveis por entre a neblina? Uma dança de espectros assoma solene ascendendo em alto cedro negro. Espíritos brancos e pálidos valsam e miram meus olhos, mas não são eles que me observam, apesar de tão fantástico espetáculo. Quem é que berra dentro do bosque? Bosque em sonhos, sombrio. Contudo não sou eu que sonho...
É Tarde. Acho que parte minha inspiração, ainda que permaneça ouvindo tantos gritos e grunhidos e rugidos e urros e gemidos e lamentos e murmúrios e sussurros que caem e sobem, que vão e voltam, que voam e brilham, que crescem e morrem, que dançam e beijam na tarde em névoa da mata estranha. E sei que não são essas coisas que me observam. Há segredos e arcanos inacessíveis por trás de tão largo labirinto. Porém, quem é que toca o quarteto para piano e cordas nº. 3 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Ali corre um gato-do-mato. Escondeu-se atrás de um cipreste. Que nuvens etéreas se evolam daquele cipreste, carregadas da mais intensa paixão desesperada?... No entanto, a paixão não é minha. Acho que perco minha paixão. Sei que a vertigem em um dos galhos do cipreste mergulha na emotividade psíquica daquelas nuvens vermelhas que não sei de onde caem. Só sei que não existem ciprestes em nossas matas nativas... Portanto, não é nem o gato nem o cipreste que me observam. E nem mesmo aquele ser inclassificável que agora cruza montado em um lobo-guará. Porque eu o conheço. Avistando as longínquas colinas e coxilhas longas e adormecidas sob as nuvens densas, tensas, nervosas e carregadas, eu sei que não é ele. Seu sorriso não me engana. Eu, um cavaleiro de uma coroa perdida há muitos séculos, fitando os cavalos e as ovelhas pastarem ao longe... Sei que não pode ser ele.
Que inverno magnífico e trágico! Vejo teus olhos com febre nos horizontes. Olhos que choram e sangram lilases. Talvez sejam eles que me observam. Talvez eu esteja atingindo o ápice do segredo, o auge de todos os enigmas e mistérios... Porém, quem é que toca o Réquiem de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
A névoa se dissipa. Meu coração se acalma e segue batendo lento, muito lento, sublimemente lento, canhestramente lento. Já não sou mais eu. Sinto saudades do que não foi. Aqueles perfumes balsâmicos dos pântanos e arbustos já assombrados e alarmados surgem etéreos, enquanto o sol asfixiado em incensos desmaia cantando no chumbo, no verde, no rosa, no roxo do céu do crepúsculo romântico. Simultaneamente aos berros do sapo, uma lua titânica surge em plenilúnio, fantasmagórica e espectralmente, ascendendo rápido por entre céus e nimbos. Inauditamente amarela e dourada. Uma lua noturna nasce triunfante e lacrimosa. Quantos anseios e ânsias, e desejos e sonhos cavalgam com ela em dramático tropel? Meu Deus, quem é que me observa? E quantos fantasmas gemem e violinam no crepúsculo que avança? E quantos seres que não sei que seres são valsam nas nuvens avermelhadas, arroxeadas, acinzentadas e inflamadas na noite que ainda não é? Que Dança Fatal é esta que me alucina? É divina ou diabólica? Porém, quem é que toca o quinteto op. 30 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
E aquela lua onírica que me observa? E aquela lua de vinho? E o morcego ruflando? E a coruja agourando? Aquela lua de sangue... Aquela lua de lábio... Aquela lua de Eros... Aquela lua de alma... Aquela lua de olhos... Aquela lua que é tua. Mas não é ela que me vigia, que me contempla, que me observa. Aquela lua não é a lua. Não é o satélite da Terra. Aquela lua é um sinal, é um arcanjo, é um trono. Aquela lua é tua deusa! E dela pingam sonhos melancólicos. Gotejam grotescos sentimentalismos. Gotejam olhos e tristezas, tristezas que não têm fim... Olhos e tristezas góticas que se calamitam. Vejo fantasmas rubros ao redor da lua se abraçando sobre árvores velhas, estranhamente velhas, nunca-vistamente verdes. Meu Deus, quem é que me observa? Ainda não é noite, é quase. Subindo, eu fito uma lua menstruada de onde partem sussurros e músicas em surdina, e cantos de mortuários espíritos, e sonhos de amores fatais, e febres de corações inflamados, e tragédias de sublimes éteres do espaço infinito, da eternidade que assombra e apaixona, de beijos sangüíneos na boca, na língua, que pairam nos outonos tristonhos. Vejo olhos em todos os cantos, em todos os rios, em todas as matas, em todos os céus, em todos os seres! Meu Deus, quem é que me observa? E quem é que toca Brahms? Quem é que toca Brahms numa tempestade apocalíptica, a febre de Brahms, a fúria de Brahms, o sonho de Brahms! Meu Deus! quem é que toca, quem é que me observa? A Tristeza? A Tragédia? A Força? A Paixão? De Brahms? Que jamais se rende, que jamais se verga, que jamais se entrega!
Sim, porque vibra a Sinfonia nº. 4 de Brahms em meus tímpanos, e agora eu sei de onde ela nasce... É tu que tocas, é tu que me observas...
É Noite. E pela primeira vez sinto medo, pois estou no escuro da Noite e sei que é tu que me observas... Eu sigo meu caminho, olhando-te, e tenho medo...
09 outubro 2008
Sempre...
I
ah o ato oculto
de fechar os olhos
som
de sonhos sonho em alma
vou
e sono-me em descanso e réquiem
e já não sou-me
anoiteço e tecem-me
a lua o livre o longe
onde serei o ser no sempre
e meus versos serei eu contigo
no que deixo estou-me eterno
e ao não-ser meu ser te digo...
II
ah o ato alado
de abrir os olhos...
sol
de volta envolto em aura
sou
e vôo-me em coragem e Brahms
e no tudo fico-me
amanheço e criam-me
a luz o livro a lenda
onde serei o ser no agora
nos meus versos serei eu comigo
e no que deixo estou-te amando
e sempre em ser serei contigo
ah o ato oculto
de fechar os olhos
som
de sonhos sonho em alma
vou
e sono-me em descanso e réquiem
e já não sou-me
anoiteço e tecem-me
a lua o livre o longe
onde serei o ser no sempre
e meus versos serei eu contigo
no que deixo estou-me eterno
e ao não-ser meu ser te digo...
II
ah o ato alado
de abrir os olhos...
sol
de volta envolto em aura
sou
e vôo-me em coragem e Brahms
e no tudo fico-me
amanheço e criam-me
a luz o livro a lenda
onde serei o ser no agora
nos meus versos serei eu comigo
e no que deixo estou-te amando
e sempre em ser serei contigo
06 outubro 2008
Marcha Fúnebre
meus olhos-clima de fim
fim-lábio negro de lua
lua que rosa meus lagos
lagos de valsas aos gritos
gritos com sono no sangue
sangue de pulsos me selam
selam meus braços e caem
caem os abraços na luz
luz que te perco e me sonha
sonha em teu canto entre noite
noite tua alma me espia
espia orando e de beijos
beijos de fim nos meus olhos
fim-lábio negro de lua
lua que rosa meus lagos
lagos de valsas aos gritos
gritos com sono no sangue
sangue de pulsos me selam
selam meus braços e caem
caem os abraços na luz
luz que te perco e me sonha
sonha em teu canto entre noite
noite tua alma me espia
espia orando e de beijos
beijos de fim nos meus olhos
04 outubro 2008
03 outubro 2008
Homenagem
Meu grande amigo Oracy publicou mais uma homenagem a mim no jornal Expresso Ilustrado (o jornal de melhor conteúdo do Estado, diga-se de passagem). Agradeço então ao nosso maior poeta pela sua imensa preocupação comigo e por mais essa demonstração de como sou importante para ele, dedicando seu precioso tempo para me engrandecer perante a culta população santiaguense, tempo esse que ele poderia ter destinado a domar pulgas, por exemplo. Abaixo, está mais uma pérola de Dornelles:
"Vem de novo o exu sem mácula,
Poe dos pobres, nauseabundo,
Vem pregando o fim do mundo,
Esse Mordomo do Drácula."
Permita-me, amigo Oracy, uma pequena análise, nunca uma crítica. Vejamos o termo, "exu sem mácula". Incrível, sou algo absolutamente original, um exu puro, sem mácula! Isso existe? Só mesmo eu, gênio da literatura fantástica, para ser algo que não existe.
Agora, analisemos "Poe dos pobres". Nossa, Oracy, eu não mereço tanto. Comparar-me a Poe! Não chego nem aos pés de Poe, e o meu amigo me chama de Poe dos pobres, ou seja, sou o Poe do Brasil, dos brasileiros!!! Meu Deus! Assim vou ficar "me achando".
"Vem pregando o fim do mundo"... Quase isso: alerto sobre o fim dessa humanidade. Mas eu entendo, para um neoparnasiano como meu amigo Oracy, a rima está acima de tudo, tem que rimar com "nauseabundo."
E, finalmente, "Mordomo de Drácula". Bem, esse meu título já é clássico, já virou lenda, tanto que sou Mordomo com letra maiúscula. É a força da poesia de Oracy. Apenas uma correção, se me permitir, amigo: Drácula não tinha mordomo, é só ler o livro de Bram Stoker. Que pena, meu sonho era ser mordomo dele...
Ah, só não gostei duma coisa: essa rima de "Drácula" com "mácula", já está muito batida, é a 3ª vez que você a usa, Oracy. Que tal da próxima vez usar gárgula no lugar de mácula? Eu sei, não é perfeita, mas semanticamente ficará mais próxima de Drácula. Mas por favor, use Drácula, não posso deixar de ser seu mordomo.
Obrigado, Oracy, muito obrigado! Eu me divirto muito com você, sem dúvida, é merecido seu trono em Santiago: nosso maior piadista. E de lambuja, dono de um útil e expressivo circo, idolatrado pela profundidade da mídia. Definitivamente, o mundo precisa dessas comicidades. O que seria do mundo sem seus poemas morfológicos, por exemplo? Neles você usou a linguagem mais moderna possível, a saber, o miguxês, que é aquela com que os miguxos da internet se comunicam, enchendo as palavras de frescuras ultramodernas. Até pensei em fazer um poema para você, Oracy, mas não tenho talento suficiente, fiquei só no título, que seria: "Orassyh, mheuh mhayor mhyghuxu". Habhrassoz!
"Vem de novo o exu sem mácula,
Poe dos pobres, nauseabundo,
Vem pregando o fim do mundo,
Esse Mordomo do Drácula."
Permita-me, amigo Oracy, uma pequena análise, nunca uma crítica. Vejamos o termo, "exu sem mácula". Incrível, sou algo absolutamente original, um exu puro, sem mácula! Isso existe? Só mesmo eu, gênio da literatura fantástica, para ser algo que não existe.
Agora, analisemos "Poe dos pobres". Nossa, Oracy, eu não mereço tanto. Comparar-me a Poe! Não chego nem aos pés de Poe, e o meu amigo me chama de Poe dos pobres, ou seja, sou o Poe do Brasil, dos brasileiros!!! Meu Deus! Assim vou ficar "me achando".
"Vem pregando o fim do mundo"... Quase isso: alerto sobre o fim dessa humanidade. Mas eu entendo, para um neoparnasiano como meu amigo Oracy, a rima está acima de tudo, tem que rimar com "nauseabundo."
E, finalmente, "Mordomo de Drácula". Bem, esse meu título já é clássico, já virou lenda, tanto que sou Mordomo com letra maiúscula. É a força da poesia de Oracy. Apenas uma correção, se me permitir, amigo: Drácula não tinha mordomo, é só ler o livro de Bram Stoker. Que pena, meu sonho era ser mordomo dele...
Ah, só não gostei duma coisa: essa rima de "Drácula" com "mácula", já está muito batida, é a 3ª vez que você a usa, Oracy. Que tal da próxima vez usar gárgula no lugar de mácula? Eu sei, não é perfeita, mas semanticamente ficará mais próxima de Drácula. Mas por favor, use Drácula, não posso deixar de ser seu mordomo.
Obrigado, Oracy, muito obrigado! Eu me divirto muito com você, sem dúvida, é merecido seu trono em Santiago: nosso maior piadista. E de lambuja, dono de um útil e expressivo circo, idolatrado pela profundidade da mídia. Definitivamente, o mundo precisa dessas comicidades. O que seria do mundo sem seus poemas morfológicos, por exemplo? Neles você usou a linguagem mais moderna possível, a saber, o miguxês, que é aquela com que os miguxos da internet se comunicam, enchendo as palavras de frescuras ultramodernas. Até pensei em fazer um poema para você, Oracy, mas não tenho talento suficiente, fiquei só no título, que seria: "Orassyh, mheuh mhayor mhyghuxu". Habhrassoz!
02 outubro 2008
Tal Vez
eu amo...
mas afinal o que eu amo?
a luz de nadas
que pulsa em vinhos de vida essências?
talvez um sonho
de fogo verbo que corre em sangues?
um olho em anjos
que em eternos morre ao som de céus?
talvez um erro
que dorme em mortes de amor e noite?
segredo e medo
em lago e mares que vibram ao longe?
talvez um verso
de tudo aquilo que em flores paira?
um rio de cosmos
que nasce em beijos de Deus e Deusa?
mas o que eu amo ao final?
Tua Alma.
mas afinal o que eu amo?
a luz de nadas
que pulsa em vinhos de vida essências?
talvez um sonho
de fogo verbo que corre em sangues?
um olho em anjos
que em eternos morre ao som de céus?
talvez um erro
que dorme em mortes de amor e noite?
segredo e medo
em lago e mares que vibram ao longe?
talvez um verso
de tudo aquilo que em flores paira?
um rio de cosmos
que nasce em beijos de Deus e Deusa?
mas o que eu amo ao final?
Tua Alma.
30 setembro 2008
Um Pouco Sobre Alienígenas e Narcisismo
“Ó hipócrita leitor, meu igual, meu irmão!”
Baudelaire
Já publiquei aqui no blog algumas pinturas antigas, de séculos atrás, onde ocorrem, de forma bastante evidente, alguns objetos voadores não identificados, sendo que vários se aparentam assombrosamente com naves espaciais. Acima, está o quadro "A Madonna e o Menino", de Fellippo Lippi (séc.XV). Tal fato é mais um forte indício de que o aparecimento de OVNIS não é algo exclusivo dos séculos XX e XXI. Para muitos, a existência de seres alienígenas é uma piada, uma alucinação de alguns (é incrível como algumas pessoas explicam como “alucinação” tudo o que não podem explicar, talvez pela comodidade: é “alucinação”, e pronto!), mas para mim é algo lógico, evidente.
Creio que a não aceitação de seres alienígenas é mais um capítulo da “novela” de nosso narcisismo. De fato, a humanidade é quase que cem por cento egoísta. E todos nós somos, em maior ou menor grau, narcisistas. Negá-lo é um absurdo, reflete uma total ausência de auto-observação. Acusar alguém de ser narcisista é, no mínimo, uma contradição e uma hipocrisia. A diferença, é que alguns estão conscientes de seu narcisismo, e lutam contra ele até onde é possível e necessário. Outros não.
No entanto, muitas manifestações mais amplas e gerais desse narcisismo não são percebidas ou comentadas. Adoramos nosso próprio umbigo individual ou coletivamente. Tal afirmação pode ser aplicada a um simples indivíduo que anseia por adorar-se de alguma forma, ou até mesmo a toda a civilização, desde os tempos em que se julgava a Terra como centro do universo. Hoje, sabemos que não somos o centro, contudo agora transferimos essa crença egocêntrica para a idéia de que a humanidade é a única civilização inteligente em um universo onde existe um número infinito de mundos. No fundo, permanecemos com o conceito de que a Terra é o centro do universo, apenas houve uma mudança de foco, do planeta para a sua humanidade.
E cremos que os extraterrestres, se existirem, necessariamente são seres que devem satisfações a nós, que são obrigados a responder aos sinais que enviamos ao espaço, que devem declarar abertamente a nosso povo de víboras altamente confiáveis: “Olá, nós estamos aqui!” Se não respondem, é porque não existem. Estamos seguros que somos os seres mais evoluídos e inteligentes do cosmos, dotados de uma insuperável auto-suficiência intelectual e científica, e jamais passaria por nossas mentalidades pequenas e arrogantes que um ser alienígena pudesse não estar interessado em fazer contato com uma civilização atrasada, decadente, perversa e suicida como a nossa, e que preferisse estudar-nos como se estudam animais: um animal não sabe que está sendo estudado...
Tal pensamento, o de que os extraterrestres para existirem devem entrar em contato conosco normalmente, de que devem satisfações a nós, é o grau máximo de narcisismo.
Baudelaire
Já publiquei aqui no blog algumas pinturas antigas, de séculos atrás, onde ocorrem, de forma bastante evidente, alguns objetos voadores não identificados, sendo que vários se aparentam assombrosamente com naves espaciais. Acima, está o quadro "A Madonna e o Menino", de Fellippo Lippi (séc.XV). Tal fato é mais um forte indício de que o aparecimento de OVNIS não é algo exclusivo dos séculos XX e XXI. Para muitos, a existência de seres alienígenas é uma piada, uma alucinação de alguns (é incrível como algumas pessoas explicam como “alucinação” tudo o que não podem explicar, talvez pela comodidade: é “alucinação”, e pronto!), mas para mim é algo lógico, evidente.
Creio que a não aceitação de seres alienígenas é mais um capítulo da “novela” de nosso narcisismo. De fato, a humanidade é quase que cem por cento egoísta. E todos nós somos, em maior ou menor grau, narcisistas. Negá-lo é um absurdo, reflete uma total ausência de auto-observação. Acusar alguém de ser narcisista é, no mínimo, uma contradição e uma hipocrisia. A diferença, é que alguns estão conscientes de seu narcisismo, e lutam contra ele até onde é possível e necessário. Outros não.
No entanto, muitas manifestações mais amplas e gerais desse narcisismo não são percebidas ou comentadas. Adoramos nosso próprio umbigo individual ou coletivamente. Tal afirmação pode ser aplicada a um simples indivíduo que anseia por adorar-se de alguma forma, ou até mesmo a toda a civilização, desde os tempos em que se julgava a Terra como centro do universo. Hoje, sabemos que não somos o centro, contudo agora transferimos essa crença egocêntrica para a idéia de que a humanidade é a única civilização inteligente em um universo onde existe um número infinito de mundos. No fundo, permanecemos com o conceito de que a Terra é o centro do universo, apenas houve uma mudança de foco, do planeta para a sua humanidade.
E cremos que os extraterrestres, se existirem, necessariamente são seres que devem satisfações a nós, que são obrigados a responder aos sinais que enviamos ao espaço, que devem declarar abertamente a nosso povo de víboras altamente confiáveis: “Olá, nós estamos aqui!” Se não respondem, é porque não existem. Estamos seguros que somos os seres mais evoluídos e inteligentes do cosmos, dotados de uma insuperável auto-suficiência intelectual e científica, e jamais passaria por nossas mentalidades pequenas e arrogantes que um ser alienígena pudesse não estar interessado em fazer contato com uma civilização atrasada, decadente, perversa e suicida como a nossa, e que preferisse estudar-nos como se estudam animais: um animal não sabe que está sendo estudado...
Tal pensamento, o de que os extraterrestres para existirem devem entrar em contato conosco normalmente, de que devem satisfações a nós, é o grau máximo de narcisismo.
28 setembro 2008
Não Sou Eu que Te Digo
ali onde sentem e pensam que eu estou
não sou eu que sinto e penso por ali
aquele que me vêem
não sou eu
ali vêem restos de céu
ali vêm rastos de inferno
e no vale onde me encontro
que não vale
porque nunca me encontrei
encontro todos que não eu
encontro nada que nem eu
e eu fui tudo que não fui
pois o ser que sou
de oculto dever ser
esse ser não é eu
mas é o que sou
tudo que me voa sobre mim
é ali onde me estou
e esses versos que te digo
sou eu que te escrevo
mas não sou eu que te digo
não sou eu que sinto e penso por ali
aquele que me vêem
não sou eu
ali vêem restos de céu
ali vêm rastos de inferno
e no vale onde me encontro
que não vale
porque nunca me encontrei
encontro todos que não eu
encontro nada que nem eu
e eu fui tudo que não fui
pois o ser que sou
de oculto dever ser
esse ser não é eu
mas é o que sou
tudo que me voa sobre mim
é ali onde me estou
e esses versos que te digo
sou eu que te escrevo
mas não sou eu que te digo
25 setembro 2008
Conhecimento Miserável
Barry Commoner, um dos maiores ambientalistas americanos e um dos primeiros a se preocupar com a questão ambiental nos EUA, afirmou: “Em minha opinião, a poluição ambiental reflete a falência da ciência moderna”. Não tenho dúvida quanto a isso. Sempre digo que a humanidade fracassou. Tivemos vitórias? Claro que sim. Beethoven foi uma delas. Goethe foi outra. Einstein, outra. Obviamente, também houve outras vitórias. No entanto, não foram suficientes para “salvar” a humanidade. No geral, caminhamos a passos rápidos e definitivos para a ruína final. É ostensível que o planeta não nos suportará por muito tempo. E poderíamos ter evitado. Se compreendêssemos antes o quanto ignoramos e desprezamos a alma do planeta, a nossa própria alma. Paguemos então o preço de nossos atos. Agora é tarde? Na minha humilde, trágica e radical opinião, sim. Virá outra humanidade depois? O tempo nos dirá.
De que nos serviu todo o conhecimento dito “científico”? Para nos enchermos dos maravilhosos bens que a tecnologia nos proporciona, e que só o dinheiro pode comprar? Existe sabedoria em uma ciência que só pode ser alcançada com o dinheiro? Em uma ciência que com todas suas quinquilharias tecnológicas em breve terá destruído nosso planeta? Sim, porque a ciência é o símbolo maior da humanidade. Se a humanidade se autoconsome, se comete um lento suicídio, é com seu maior instrumento: a ciência. Lógico que a culpa não é da ciência em si, mas do entendimento que os homens tiveram dela, do seu uso, da maneira como a humanidade encarou a ciência, como algo exclusivamente materialista, para domínio e usufruto egóico de suas potencialidades sobre a natureza, sobre o planeta. Não me saem da cabeça aquelas palavras cruéis, desumanas (ou demasiado humanas), perfidamente egoístas e materialistas de Descartes, aquele que foi um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento do pensamento “científico”: “o grito dos animais torturados em nome da ciência é como o som das máquinas de uma fábrica em funcionamento.” O que esperar de uma humanidade que pensa tal absurdo de seus irmãos menores? Só uma coisa: a destruição de toda a vida do planeta. E assim está sendo.
Agora a ciência quer provar a origem do universo com a construção do gigantesco acelerador de partículas. Condeno o projeto? Não. Condeno a arrogância da ciência, ao julgar que ela é o único caminho ao saber. Fico com a afirmação de Jung: “A ciência ocidental obscurece a visão quando apregoa que o único gênero de saber é o que está de acordo com ela.” Provavelmente, os senhores cientistas do referido projeto desconhecem que há milênios o Conhecimento Oculto, bem como algumas vetustas e esquecidas filosofias orientais, apregoa que houve um “big-bang” e uma expansão do universo. Einstein, no entanto, sabia disso. Preconiza tal Conhecimento que no início todas as coisas estavam unidas em um único conjunto, sem existirem. Então houve o que hoje chamaríamos de explosão, e que a expansão causada por ela seguirá até seu ponto máximo, quando então deverá regressar, o universo irá se encolher, até um ponto máximo de encolhimento, quando então voltará a “explodir” e se expandir novamente.
É o caráter cíclico de todo o universo, como o dia e a noite, como as estações, como todas as coisas, é o Eterno Retorno. Tudo volta e sempre voltará. Tudo. Isso já era de conhecimento dos antigos sábios. Mas é claro que a ciência jamais levaria um conhecimento não-mental, não-material a sério. Querem provas materiais, como se isso sempre fosse possível. Essa é a miséria da ciência: seu conhecimento alcança até onde alcançam suas máquinas. Até onde alcança o dinheiro. Por isso, é e será sempre pobre, tardio, limitado. Eu também já fui um fanático “científico”, mas percebi a esterilidade e impotência da ciência frente ao que eu mais queria saber.
E o Oculto dizia mais: dizia que durante o Dia Cósmico, ou na expansão do universo, tudo se separaria da energia original, e passaria a existir, inclusive materialmente. Segundo o próprio Einstein, energia não é igual à matéria? E na Noite Cósmica, no encolhimento do universo, tudo deixaria de existir e voltaria a se unir à energia original. Tudo voltaria ao “Seio de Deus”? Seria Deus essa energia original? E se todas as coisas provêm dessa energia, Deus não estaria em todas as coisas existentes? Enfim, seria Deus a união de todas as coisas que existem, muito além do Bem e do Mal? A esse período que abrange um Dia e uma Noite Cósmicos, os Antigos chamavam de Mahavantara, ou o Grande Dia. Quantos dias desses já vieram? E quantos virão?
Mas esse texto certamente será desprezado por muitos. Não é “científico”, não pode ser levado a sério. Porém, se os sabichões, junto com o restante da humanidade, que agora rirão de mim, entendessem o Equilíbrio Universal, não teriam destruído a vida na Terra, criando uma ciência que preconizou que poderíamos consumir infinitamente nosso planeta. Grande sabedoria... Mas é como sentenciou Goethe: “Na verdade, só se sabe aquilo que se sabe apenas para si mesmo.”
De que nos serviu todo o conhecimento dito “científico”? Para nos enchermos dos maravilhosos bens que a tecnologia nos proporciona, e que só o dinheiro pode comprar? Existe sabedoria em uma ciência que só pode ser alcançada com o dinheiro? Em uma ciência que com todas suas quinquilharias tecnológicas em breve terá destruído nosso planeta? Sim, porque a ciência é o símbolo maior da humanidade. Se a humanidade se autoconsome, se comete um lento suicídio, é com seu maior instrumento: a ciência. Lógico que a culpa não é da ciência em si, mas do entendimento que os homens tiveram dela, do seu uso, da maneira como a humanidade encarou a ciência, como algo exclusivamente materialista, para domínio e usufruto egóico de suas potencialidades sobre a natureza, sobre o planeta. Não me saem da cabeça aquelas palavras cruéis, desumanas (ou demasiado humanas), perfidamente egoístas e materialistas de Descartes, aquele que foi um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento do pensamento “científico”: “o grito dos animais torturados em nome da ciência é como o som das máquinas de uma fábrica em funcionamento.” O que esperar de uma humanidade que pensa tal absurdo de seus irmãos menores? Só uma coisa: a destruição de toda a vida do planeta. E assim está sendo.
Agora a ciência quer provar a origem do universo com a construção do gigantesco acelerador de partículas. Condeno o projeto? Não. Condeno a arrogância da ciência, ao julgar que ela é o único caminho ao saber. Fico com a afirmação de Jung: “A ciência ocidental obscurece a visão quando apregoa que o único gênero de saber é o que está de acordo com ela.” Provavelmente, os senhores cientistas do referido projeto desconhecem que há milênios o Conhecimento Oculto, bem como algumas vetustas e esquecidas filosofias orientais, apregoa que houve um “big-bang” e uma expansão do universo. Einstein, no entanto, sabia disso. Preconiza tal Conhecimento que no início todas as coisas estavam unidas em um único conjunto, sem existirem. Então houve o que hoje chamaríamos de explosão, e que a expansão causada por ela seguirá até seu ponto máximo, quando então deverá regressar, o universo irá se encolher, até um ponto máximo de encolhimento, quando então voltará a “explodir” e se expandir novamente.
É o caráter cíclico de todo o universo, como o dia e a noite, como as estações, como todas as coisas, é o Eterno Retorno. Tudo volta e sempre voltará. Tudo. Isso já era de conhecimento dos antigos sábios. Mas é claro que a ciência jamais levaria um conhecimento não-mental, não-material a sério. Querem provas materiais, como se isso sempre fosse possível. Essa é a miséria da ciência: seu conhecimento alcança até onde alcançam suas máquinas. Até onde alcança o dinheiro. Por isso, é e será sempre pobre, tardio, limitado. Eu também já fui um fanático “científico”, mas percebi a esterilidade e impotência da ciência frente ao que eu mais queria saber.
E o Oculto dizia mais: dizia que durante o Dia Cósmico, ou na expansão do universo, tudo se separaria da energia original, e passaria a existir, inclusive materialmente. Segundo o próprio Einstein, energia não é igual à matéria? E na Noite Cósmica, no encolhimento do universo, tudo deixaria de existir e voltaria a se unir à energia original. Tudo voltaria ao “Seio de Deus”? Seria Deus essa energia original? E se todas as coisas provêm dessa energia, Deus não estaria em todas as coisas existentes? Enfim, seria Deus a união de todas as coisas que existem, muito além do Bem e do Mal? A esse período que abrange um Dia e uma Noite Cósmicos, os Antigos chamavam de Mahavantara, ou o Grande Dia. Quantos dias desses já vieram? E quantos virão?
Mas esse texto certamente será desprezado por muitos. Não é “científico”, não pode ser levado a sério. Porém, se os sabichões, junto com o restante da humanidade, que agora rirão de mim, entendessem o Equilíbrio Universal, não teriam destruído a vida na Terra, criando uma ciência que preconizou que poderíamos consumir infinitamente nosso planeta. Grande sabedoria... Mas é como sentenciou Goethe: “Na verdade, só se sabe aquilo que se sabe apenas para si mesmo.”
23 setembro 2008
Algumas Grandes Frases para não serem Esquecidas...
“Os artistas estão, de fato, muito mais próximos da verdade que muitos cientistas.”
Richard Buckminster Fuller
“O mundo real escapuliu pelas malhas da rede da ciência.”
Alfred Whitehead
“Todas as coisas são metáforas.”
JohannVon Goethe
“Se queres compreender os milagres, deves começar por fazê-los tu mesmo.”
Ludwig Van Beethoven
“Na verdade, só se sabe aquilo que se sabe apenas para si mesmo.”
Johann Von Goethe
“O sábio chega à sabedoria sem erudição.”
Lao Tsé
“Se uma pessoa é porosa ou permeável o bastante para não acatar a noção de realidade aristotélico-tomista, que lhe é dada pela civilização ocidental, imediatamente entram em ação uma série de elementos, digamos fantásticos, que se tornam para ela tão naturais como somar dois mais dois.”
Júlio Cortazar
“A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver.”
Paul Klee
“Nada pode ser feito sem solidão.”
Pablo Picasso
“Convém fazer alguma loucura de vez em quando, para poder viver tranqüilo por um certo tempo.”
Johann Von Goethe
“Sustento que o sentimento religioso cósmico é a mais forte e a mais nobre motivação da pesquisa científica.”
Albert Einstein
“A psicanálise é uma doença mental que se considera seu próprio remédio.”
Karl Krauss
“O amor é um crime que não se pode realizar sem cúmplice.”
Charles Baudelaire
“A verdade é a melhor camuflagem. Ninguém acredita nela.”
Max Frisch
“A literatura é sempre uma expedição à verdade.”
Franz Kafka
“Cada ato de criação é antes de tudo um ato de destruição.”
Pablo Picasso
“Se as criaturas humanas tivessem sensibilidade, jamais ririam dos humoristas.”
Mário da Silva Brito
“A imaginação é a luz do mundo.”
Henri Van de Velde
“O artista é um tipo que pode ter duas opiniões fundamentalmente opostas ao mesmo tempo, e, apesar disso, continuar trabalhando.”
Francis Fitzgerald
“Nunca se deseja ardentemente o que somente se deseja pela razão.”
Duque de Rochefoucauld
“A música é uma manifestação superior à sabedoria da filosofia.”
Jean Cocteau
“A natureza nunca quebra suas próprias leis.”
Leonardo Da Vinci
“O homem que ouve a razão está perdido: ela escraviza todos aqueles pensamentos não suficientemente fortes para dominá-la.”
George Bernard Shaw
“Nada nos torna tão grandes como uma grande dor.”
Alfred de Musset
“O homem tem feito da terra um inferno para os animais.”
Arthur Schopenhauer
“Feliz aquele que chegou a conhecer as causas das coisas.”
Virgílio
“A melhor fonte de informações são as pessoas que prometeram não contar nada aos outros.”
Marcel Mart
“Só os pessimistas forjam o ferro enquanto está quente. Os otimistas confiam em que ele não esfrie.”
Peter Bamm
“Proibir algo é despertar o desejo.”
Michel de Montaigne
“Se a impressa não existisse, seria preciso NÃO inventá-la.”
Honoré de Balzac
“Fazer política é a arte de namorar homem.”
Rubem Braga
“A ciência se orgulha pelo muito que tem aprendido; a sabedoria é humilde pelo que sabe.”
William Cowper
“O homem é só um hóspede na Terra; sua vida, uma viagem limitada pelas tormentas.”
Vincent Van Gogh
“Perigoso é aquele que não tem nada a perder.”
Johann Von Goethe
“A felicidade está na ignorância da verdade.”
Giacomo Leopardi
“Não há delito maior que a audácia de se destacar.”
Winston Churchill
Richard Buckminster Fuller
“O mundo real escapuliu pelas malhas da rede da ciência.”
Alfred Whitehead
“Todas as coisas são metáforas.”
JohannVon Goethe
“Se queres compreender os milagres, deves começar por fazê-los tu mesmo.”
Ludwig Van Beethoven
“Na verdade, só se sabe aquilo que se sabe apenas para si mesmo.”
Johann Von Goethe
“O sábio chega à sabedoria sem erudição.”
Lao Tsé
“Se uma pessoa é porosa ou permeável o bastante para não acatar a noção de realidade aristotélico-tomista, que lhe é dada pela civilização ocidental, imediatamente entram em ação uma série de elementos, digamos fantásticos, que se tornam para ela tão naturais como somar dois mais dois.”
Júlio Cortazar
“A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver.”
Paul Klee
“Nada pode ser feito sem solidão.”
Pablo Picasso
“Convém fazer alguma loucura de vez em quando, para poder viver tranqüilo por um certo tempo.”
Johann Von Goethe
“Sustento que o sentimento religioso cósmico é a mais forte e a mais nobre motivação da pesquisa científica.”
Albert Einstein
“A psicanálise é uma doença mental que se considera seu próprio remédio.”
Karl Krauss
“O amor é um crime que não se pode realizar sem cúmplice.”
Charles Baudelaire
“A verdade é a melhor camuflagem. Ninguém acredita nela.”
Max Frisch
“A literatura é sempre uma expedição à verdade.”
Franz Kafka
“Cada ato de criação é antes de tudo um ato de destruição.”
Pablo Picasso
“Se as criaturas humanas tivessem sensibilidade, jamais ririam dos humoristas.”
Mário da Silva Brito
“A imaginação é a luz do mundo.”
Henri Van de Velde
“O artista é um tipo que pode ter duas opiniões fundamentalmente opostas ao mesmo tempo, e, apesar disso, continuar trabalhando.”
Francis Fitzgerald
“Nunca se deseja ardentemente o que somente se deseja pela razão.”
Duque de Rochefoucauld
“A música é uma manifestação superior à sabedoria da filosofia.”
Jean Cocteau
“A natureza nunca quebra suas próprias leis.”
Leonardo Da Vinci
“O homem que ouve a razão está perdido: ela escraviza todos aqueles pensamentos não suficientemente fortes para dominá-la.”
George Bernard Shaw
“Nada nos torna tão grandes como uma grande dor.”
Alfred de Musset
“O homem tem feito da terra um inferno para os animais.”
Arthur Schopenhauer
“Feliz aquele que chegou a conhecer as causas das coisas.”
Virgílio
“A melhor fonte de informações são as pessoas que prometeram não contar nada aos outros.”
Marcel Mart
“Só os pessimistas forjam o ferro enquanto está quente. Os otimistas confiam em que ele não esfrie.”
Peter Bamm
“Proibir algo é despertar o desejo.”
Michel de Montaigne
“Se a impressa não existisse, seria preciso NÃO inventá-la.”
Honoré de Balzac
“Fazer política é a arte de namorar homem.”
Rubem Braga
“A ciência se orgulha pelo muito que tem aprendido; a sabedoria é humilde pelo que sabe.”
William Cowper
“O homem é só um hóspede na Terra; sua vida, uma viagem limitada pelas tormentas.”
Vincent Van Gogh
“Perigoso é aquele que não tem nada a perder.”
Johann Von Goethe
“A felicidade está na ignorância da verdade.”
Giacomo Leopardi
“Não há delito maior que a audácia de se destacar.”
Winston Churchill
18 setembro 2008
Noite e Amor ( o mesmo poema abaixo, mas com os versos invertidos na ordem, do último para o primeiro)
e a minha língua alaga...
cala
solto beijo trago
ao largo
só teu beijo em lago
a tua flauta cala
cansa
que meu olho alcança
linda
tua língua líquida
a tua flauta lança
quando acendo velas
e a tua flauta vela
e a tua flauta fala
pelo sonho escuro
pelas tuas tranças
como um alvo anjo
e onde tu me danças
onde me lanço em canto
pela noite em claro
à rosa
bailas
pela sala em gala
nova
da tua lua nua
em lavas
a minha alma lava
celestial em treva
pra bem longe a alma
leva
pela noite leve
flores
a tua flauta aflora
lança
pela noite longa
flutua
louca
tua flauta dança
de lua
branca
minha fada
nua
flauta canta
tua
cala
solto beijo trago
ao largo
só teu beijo em lago
a tua flauta cala
cansa
que meu olho alcança
linda
tua língua líquida
a tua flauta lança
quando acendo velas
e a tua flauta vela
e a tua flauta fala
pelo sonho escuro
pelas tuas tranças
como um alvo anjo
e onde tu me danças
onde me lanço em canto
pela noite em claro
à rosa
bailas
pela sala em gala
nova
da tua lua nua
em lavas
a minha alma lava
celestial em treva
pra bem longe a alma
leva
pela noite leve
flores
a tua flauta aflora
lança
pela noite longa
flutua
louca
tua flauta dança
de lua
branca
minha fada
nua
flauta canta
tua
Amor e Noite
tua
flauta canta
nua
minha fada
branca
de lua
tua flauta dança
louca
flutua
pela noite longa
lança
a tua flauta aflora
flores
pela noite leve
leva
pra bem longe a alma
celestial em treva
a minha alma lava
em lavas
da tua lua nua
nova
pela sala em gala
baila
à rosa
pela noite em claro
onde me lanço em canto
e onde tu me danças
como um alvo anjo
pelas tuas tranças
eu me levo oculto
pelo sonho escuro
e a tua flauta fala
e a tua flauta vela
quando acendo velas
a tua flauta lança
tua língua líquida
linda
que meu olho alcança
cansa
a tua flauta cala
só teu beijo em lago
ao largo
solto beijo trago
cala
e a minha língua alaga...
flauta canta
nua
minha fada
branca
de lua
tua flauta dança
louca
flutua
pela noite longa
lança
a tua flauta aflora
flores
pela noite leve
leva
pra bem longe a alma
celestial em treva
a minha alma lava
em lavas
da tua lua nua
nova
pela sala em gala
baila
à rosa
pela noite em claro
onde me lanço em canto
e onde tu me danças
como um alvo anjo
pelas tuas tranças
eu me levo oculto
pelo sonho escuro
e a tua flauta fala
e a tua flauta vela
quando acendo velas
a tua flauta lança
tua língua líquida
linda
que meu olho alcança
cansa
a tua flauta cala
só teu beijo em lago
ao largo
solto beijo trago
cala
e a minha língua alaga...
13 setembro 2008
...
a
Evolução
não é não pode
ser eternamente eterna
nenhum dia se ilumina para sempre
não há noite que se afunde sem cessar
e o universo todo se expande ao seu auge
a seu extremo máximo de onde deve regressar
mas aos sábios otimistas é muito difícil
entender a mecânica grave e simples:
o humano é caduco e decadente
e já caem os dentes
da humanidade:
Involução
à
...
Evolução
não é não pode
ser eternamente eterna
nenhum dia se ilumina para sempre
não há noite que se afunde sem cessar
e o universo todo se expande ao seu auge
a seu extremo máximo de onde deve regressar
mas aos sábios otimistas é muito difícil
entender a mecânica grave e simples:
o humano é caduco e decadente
e já caem os dentes
da humanidade:
Involução
à
...
11 setembro 2008
06 setembro 2008
Poema Farto
estou farto de poeminhas sintéticos
de besteirinhas minimalistas
de piruetazinhas intelectuais
que falando pouco
não dizem nada
que o dizer da poesia
é o sentir
e eu já não sinto nada
em tantos cortes de palavras
que podaram a alma
e caparam o coração
se o Romantismo
libertou-me por dentro
e o Modernismo
me liberou por fora
irei me condenar agora
a uma prisão pós-moderna
esfriar meu sangue
no gelo estéril da mente
arrancar minhas asas
com a faca de cortar poemas?
se o leitor tem preguiça de ler
não é leitor
se não é leitor
não ama a poesia
se não ama a poesia
é melhor que nem leia
não farei piadinhas curtinhas
pra preguiçoso ler
não faço poemas
para serem entendidos
faço para serem sentidos
quem busca entender
não consegue sentir
não escrevo para inteligentes
escrevo para sensíveis
que por serem sensíveis
são mais inteligentes
que os que são só inteligentes:
a humanidade não precisa de inteligência
precisa é de alma
a poesia
dos últimos tempos
dispensará as brincadeiras do intelecto
para gravitar na gravidade
dos últimos tempos
da poesia
de besteirinhas minimalistas
de piruetazinhas intelectuais
que falando pouco
não dizem nada
que o dizer da poesia
é o sentir
e eu já não sinto nada
em tantos cortes de palavras
que podaram a alma
e caparam o coração
se o Romantismo
libertou-me por dentro
e o Modernismo
me liberou por fora
irei me condenar agora
a uma prisão pós-moderna
esfriar meu sangue
no gelo estéril da mente
arrancar minhas asas
com a faca de cortar poemas?
se o leitor tem preguiça de ler
não é leitor
se não é leitor
não ama a poesia
se não ama a poesia
é melhor que nem leia
não farei piadinhas curtinhas
pra preguiçoso ler
não faço poemas
para serem entendidos
faço para serem sentidos
quem busca entender
não consegue sentir
não escrevo para inteligentes
escrevo para sensíveis
que por serem sensíveis
são mais inteligentes
que os que são só inteligentes:
a humanidade não precisa de inteligência
precisa é de alma
a poesia
dos últimos tempos
dispensará as brincadeiras do intelecto
para gravitar na gravidade
dos últimos tempos
da poesia
01 setembro 2008
Pena de Morte
sem pena
a humanidade arrancou
as penas do planeta
devo agora
ter pena da humanidade...
ensangueviva
decandentriste
violetrágica
enquanto a Terra pena e morre...
romantinsana
erossombria
vampiritísica
o ser humano não vale a pena...
pesadeloso
enfebressento
agouritrófico
pois que se cumpra a pena...
lunanervosa
corvipressaga
fantasmagótica
sem pena.
a humanidade arrancou
as penas do planeta
devo agora
ter pena da humanidade...
ensangueviva
decandentriste
violetrágica
enquanto a Terra pena e morre...
romantinsana
erossombria
vampiritísica
o ser humano não vale a pena...
pesadeloso
enfebressento
agouritrófico
pois que se cumpra a pena...
lunanervosa
corvipressaga
fantasmagótica
sem pena.
28 agosto 2008
Poemas do Término e Contos do Fim 31
Já está sendo distribuída nos costumeiros pontos (em Santiago: Locadoras Fox e Classic, Biblioteca Pública, Sebo, Ponto Cópias, Biblioteca da Uri) a edição nº31 de meu zine. Este vem com o conto apocalíptico "Pela Última Vez", além de 6 poemas insensatos. O zine também pode ser encontrado em outras cidades, como Santa Maria/RS, Santo Ângelo/RS, Curitiba/PR, São Gonçalo/RJ, Goiana/PE, entre outras. Também pode ser enviado para qualquer cidade do Brasil e exterior gratuitamente, sendo apenas cobrada a taxa de envio.
25 agosto 2008
Receita Infalível Para Ter Sucesso na Vida
Bem, amigos, quero deixar minha contribuição para o progresso da humanidade, já que poemas e contos não servem para absolutamente nada, escrevo aqui algo bem mais útil. Vamos então a uma receita para se ter sucesso na vida, nada de muito novo, apenas um resumo prático para uso das pessoas em geral.
Dividirei minha receita em três pontos, que considero as condições fundamentais para se ter sucesso na vida, principalmente se a vida for vivida na Brasil, que é o país onde para tudo dá-se um jeito, mas também terá utilidade para as mais diversas regiões do planeta.
Obviamente, a primeira condição para o sucesso na vida é ter dinheiro, muito, de preferência. Bem, nesse caso, eu não preciso dar dica nenhuma, o dinheiro garante o sucesso por si só. Sim, se você possuir bastante grana, o sucesso está garantido, conseguirá qualquer emprego, o amor das mulheres, será respeitado, admirado e outras coisas mais. Claro, talvez essa “admiração” e “respeito” e “amor” sejam somente de fachada, hipocrisia, você sabe como é, as pessoas são interesseiras, mas devemos entender que essa é outra forma dos seres humanos terem seu merecido sucesso na vida , não devemos culpá-los, aliás, tratarei aqui também do puxa-saquismo, a 3ª condição para o sucesso.
Então, tendo dinheiro, fique absolutamente tranqüilo, seu sucesso está garantido. Por mais imbecil, ignorante, destituído de criatividade e imaginação, incompetente, inconfiável, estúpido que você seja, a sociedade olhará para a sua profundidade, quer dizer, para a profundidade do seu bolso, e abrirá suas portas com um sorriso no rosto.
Então, vamos para a 2ª condição. Bem, se você não tem dinheiro, deve possuir algum outro tipo de influência na sociedade. Geralmente a influência está indissociavelmente ligada ao dinheiro, mas há casos que não. Porém, digamos que você não possua nem dinheiro nem influência. Nesse caso, você deve ter um parente ou um amigo que tenha. Essa é a 2ª condição. Esse parente ou amigo vai lhe abrir as portas do sucesso. Apegue-se a ele, fale de seus problemas e ambições, diga que, como parente ou amigo, essa pessoa tem a obrigação moral de ajudar você. Assim é que se entra em empresas (mande um currículo para disfarçar, para dizer que você passou por uma “seleção” de mais de 1000 candidatos), que se entra em instituições públicas (esqueça os concursos, muitas vezes concursos são para enganar os trouxas). É assim que se obtêm as indicações mais diversas, tendo Q.I. Se você não possui o Q.I. antigo, já ultrapassado, o Quociente de Inteligência (que ninguém dá atenção), consiga o seu Q.I. contemporâneo, o Quem Indica, muito mais eficiente.
Então, aproveite o seu parente ou amigo rico e/ou influente, não desperdice essa chance de ser uma pessoa bem sucedida, por mais incapaz e idiota que você seja, o destino está do seu lado. Muitas vezes, quem possui Q.I, ou padrinho, como queiram, até acho esse termo mais doce e carinhoso, não precisa nem trabalhar, é só ir bater o ponto. E pronto!
Mas digamos que por fatalidade você não possua um parente ou amigo influente... Bem, aí as coisas se tornam um pouco mais difíceis para se obter o sucesso, mas não desista mesmo assim, seja otimista, pense positivo, as portas do mundo sempre se abrem para os otimistas. Mas é claro, você dever ir à luta, não espere que as coisas caiam do céu. Então, mãos à obra. O que você está esperando para ir puxar o saco de alguma pessoa rica e/ou influente? Ou está achando que só sendo inteligente, culto, competente, honesto, essas baboseiras todas, você vai conseguir o seu tão almejado sucesso na vida?
Puxar o saco é uma arte, das mais sublimes, eu diria. É preciso saber de quem puxar o saco, como fazê-lo, e em que momento. Tudo deve ser matematicamente planejado, calculado com mente fria, puxar o saco também exige talento e raciocínio lógico. O fingimento, a subserviência e a submissão, a falta de dignidade própria também são necessários. Quando for puxar o saco de alguém, nunca contrarie essa pessoa, ela deve ter sempre razão, mesmo que isso vá contra seus princípios. Aliás, esqueça esse negócio de princípios, ideais, isso é coisa de poetas retrógrados. Faça tudo o que a pessoa lhe mandar, bajule-a dia e noite, quem quer puxar o saco nunca pode dizer “não” ao bajulado. Claro, você pode falar mal dele, desde que seja pelas costas e com a certeza de que ninguém revelará o que você disse. Sabe como é, as pessoas são invejosas, queriam puxar o saco como você, mas não têm talento suficiente.
Ah, e não esqueça: estampe sempre um sorriso no rosto. Boa sorte!
Dividirei minha receita em três pontos, que considero as condições fundamentais para se ter sucesso na vida, principalmente se a vida for vivida na Brasil, que é o país onde para tudo dá-se um jeito, mas também terá utilidade para as mais diversas regiões do planeta.
Obviamente, a primeira condição para o sucesso na vida é ter dinheiro, muito, de preferência. Bem, nesse caso, eu não preciso dar dica nenhuma, o dinheiro garante o sucesso por si só. Sim, se você possuir bastante grana, o sucesso está garantido, conseguirá qualquer emprego, o amor das mulheres, será respeitado, admirado e outras coisas mais. Claro, talvez essa “admiração” e “respeito” e “amor” sejam somente de fachada, hipocrisia, você sabe como é, as pessoas são interesseiras, mas devemos entender que essa é outra forma dos seres humanos terem seu merecido sucesso na vida , não devemos culpá-los, aliás, tratarei aqui também do puxa-saquismo, a 3ª condição para o sucesso.
Então, tendo dinheiro, fique absolutamente tranqüilo, seu sucesso está garantido. Por mais imbecil, ignorante, destituído de criatividade e imaginação, incompetente, inconfiável, estúpido que você seja, a sociedade olhará para a sua profundidade, quer dizer, para a profundidade do seu bolso, e abrirá suas portas com um sorriso no rosto.
Então, vamos para a 2ª condição. Bem, se você não tem dinheiro, deve possuir algum outro tipo de influência na sociedade. Geralmente a influência está indissociavelmente ligada ao dinheiro, mas há casos que não. Porém, digamos que você não possua nem dinheiro nem influência. Nesse caso, você deve ter um parente ou um amigo que tenha. Essa é a 2ª condição. Esse parente ou amigo vai lhe abrir as portas do sucesso. Apegue-se a ele, fale de seus problemas e ambições, diga que, como parente ou amigo, essa pessoa tem a obrigação moral de ajudar você. Assim é que se entra em empresas (mande um currículo para disfarçar, para dizer que você passou por uma “seleção” de mais de 1000 candidatos), que se entra em instituições públicas (esqueça os concursos, muitas vezes concursos são para enganar os trouxas). É assim que se obtêm as indicações mais diversas, tendo Q.I. Se você não possui o Q.I. antigo, já ultrapassado, o Quociente de Inteligência (que ninguém dá atenção), consiga o seu Q.I. contemporâneo, o Quem Indica, muito mais eficiente.
Então, aproveite o seu parente ou amigo rico e/ou influente, não desperdice essa chance de ser uma pessoa bem sucedida, por mais incapaz e idiota que você seja, o destino está do seu lado. Muitas vezes, quem possui Q.I, ou padrinho, como queiram, até acho esse termo mais doce e carinhoso, não precisa nem trabalhar, é só ir bater o ponto. E pronto!
Mas digamos que por fatalidade você não possua um parente ou amigo influente... Bem, aí as coisas se tornam um pouco mais difíceis para se obter o sucesso, mas não desista mesmo assim, seja otimista, pense positivo, as portas do mundo sempre se abrem para os otimistas. Mas é claro, você dever ir à luta, não espere que as coisas caiam do céu. Então, mãos à obra. O que você está esperando para ir puxar o saco de alguma pessoa rica e/ou influente? Ou está achando que só sendo inteligente, culto, competente, honesto, essas baboseiras todas, você vai conseguir o seu tão almejado sucesso na vida?
Puxar o saco é uma arte, das mais sublimes, eu diria. É preciso saber de quem puxar o saco, como fazê-lo, e em que momento. Tudo deve ser matematicamente planejado, calculado com mente fria, puxar o saco também exige talento e raciocínio lógico. O fingimento, a subserviência e a submissão, a falta de dignidade própria também são necessários. Quando for puxar o saco de alguém, nunca contrarie essa pessoa, ela deve ter sempre razão, mesmo que isso vá contra seus princípios. Aliás, esqueça esse negócio de princípios, ideais, isso é coisa de poetas retrógrados. Faça tudo o que a pessoa lhe mandar, bajule-a dia e noite, quem quer puxar o saco nunca pode dizer “não” ao bajulado. Claro, você pode falar mal dele, desde que seja pelas costas e com a certeza de que ninguém revelará o que você disse. Sabe como é, as pessoas são invejosas, queriam puxar o saco como você, mas não têm talento suficiente.
Ah, e não esqueça: estampe sempre um sorriso no rosto. Boa sorte!
21 agosto 2008
Olhos Femininos
amo esses olhos
tão fundos
tão belos
étereos
tão graves
esses olhos
dessa cor...
amo teus olhos
serenos
imensos
intensos
tristonhos
esses olhos
dessa cor...
dessa coruja.
tão fundos
tão belos
étereos
tão graves
esses olhos
dessa cor...
amo teus olhos
serenos
imensos
intensos
tristonhos
esses olhos
dessa cor...
dessa coruja.
12 agosto 2008
Réquiem - Poemas ao Fim
Meu 2º livro, agora só de poemas, está concluído e deverá ser lançado dentro dos próximos meses. Os poemas que compõem o livro possuem uma temática em comum, ainda que dentro de um extenso âmbito de significação. Tais poemas abordam os tempos sombrios e catastróficos em que vivemos, uma visão crítica e pessimista de nosso futuro e da ação do homem em nosso planeta. Por outro lado, explora o mundo do sonho e do fantástico, como uma forma de compensação e única saída para uma época de ausência de valores humanos, de ideais, esperanças e de sentido para a vida. O eu-lírico expressa a crise existencial que permeia a humanidade neste início trágico de milênio, porém, ao mesmo tempo, procura situar-se além, distanciado-se dessa mesma crise como um observador indiferente. Os poemas que compõem este livro consistem em uma análise artística, um testemunho e uma fuga do clima de fim iminente que paira sobre a humanidade.
05 agosto 2008
Então é Só Isso?
mas então a humanidade é só isso?
essas cidades- tédio
cheias de bocas abertas?
de ruas duras onde se pisa o chão?
onde se estalam dentes
onde se atulham bolsos
onde se encruzam pernas
pra chegar a lugar nenhum?
mas então ser humano é ser só isso?
é ter o saber que explica tudo
menos o tudo que preciso saber?
é ter o conhecimento que explica a verdade
menos a verdade da qual preciso o conhecimento?
isso que vós sentis
é o máximo que podeis sentir?
é o máximo que podeis fazer
o máximo onde podeis chegar
o máximo que sabeis viver?
isso é tudo?
que decepção...
não foi só isso que vi
quando fitei o horizonte ao longe
quando sonhei pela noite em treva
quando ouvi aquele som de cosmos...
então dirão que esse mundo em morte
é o melhor dos mundos possíveis?
pois eu direi que é miseravelmente pouco
e eu teria razão
se eu não fosse desgraçadamente louco
essas cidades- tédio
cheias de bocas abertas?
de ruas duras onde se pisa o chão?
onde se estalam dentes
onde se atulham bolsos
onde se encruzam pernas
pra chegar a lugar nenhum?
mas então ser humano é ser só isso?
é ter o saber que explica tudo
menos o tudo que preciso saber?
é ter o conhecimento que explica a verdade
menos a verdade da qual preciso o conhecimento?
isso que vós sentis
é o máximo que podeis sentir?
é o máximo que podeis fazer
o máximo onde podeis chegar
o máximo que sabeis viver?
isso é tudo?
que decepção...
não foi só isso que vi
quando fitei o horizonte ao longe
quando sonhei pela noite em treva
quando ouvi aquele som de cosmos...
então dirão que esse mundo em morte
é o melhor dos mundos possíveis?
pois eu direi que é miseravelmente pouco
e eu teria razão
se eu não fosse desgraçadamente louco
28 julho 2008
à Inspiração de Poe
em Ti
tudo é alto e fundo
tudo é Céu e tudo é Abismo
vôo de anjo em asa de corvo
e tanto é fundo e tanto é alto
que é sempre oculto
o teu Oculto
de onde foi que arrancaste
a força dos teus escuros
a vida dos teus fantasmas
as garras das tuas visões
as febres da tua loucura
as luzes do teu grotesco
as sombras do teu sublime
os dantes dos teus infernos
as deusas das tuas alturas
os sonhos dos teus horrores?
pois tudo isso Tu arrancaste
dos Olhos dos teus Amores...
tudo é alto e fundo
tudo é Céu e tudo é Abismo
vôo de anjo em asa de corvo
e tanto é fundo e tanto é alto
que é sempre oculto
o teu Oculto
de onde foi que arrancaste
a força dos teus escuros
a vida dos teus fantasmas
as garras das tuas visões
as febres da tua loucura
as luzes do teu grotesco
as sombras do teu sublime
os dantes dos teus infernos
as deusas das tuas alturas
os sonhos dos teus horrores?
pois tudo isso Tu arrancaste
dos Olhos dos teus Amores...
10 julho 2008
Tarja Livros
Meu livro Contos do Crepúsculo e do Absurdo está sendo comercializado pela Tarja Livros. A seguir, o link referente ao mesmo: http://www.tarjalivros.com.br/detalheprod.asp?produto=24
Produzir Cada Vez Mais
Às vezes penso em certas bobagens, coisas realmente sem a mínima utilidade e que com toda certeza ninguém mais pensa, afinal, eu sou muito desocupado, e as outras pessoas devem trabalhar para ajudar a humanidade a produzir cada vez mais. E eu penso exatamente nisto: a humanidade deve produzir cada vez mais... Tais coisas me impressionam, eu sou muito impressionável, e devo ter uma mentalidade vergonhosamente atrasada, pois não consigo entender a profundidade dos objetivos humanos.
Por um lado, todos os países, todas as indústrias, todas as empresas, enfim, todos! desejam e buscam produzir cada vez mais; por outro lado, todos afirmam que o planeta está se esgotando e que deve ser preservado a qualquer custo, que não se deve mais desmatar florestas ou poluir os ambientes... Ou muito me engano, o que é bem provável, ou encontra-se nesses fatos uma escancarada contradição: produzir mais e mais e ao mesmo tempo preservar o planeta...
Todos os dias, acompanho pela mídia: “setor automobilístico comemora recorde na produção”; “safra brasileira é a maior da história”; “cresce demanda por combustíveis”; “ONU preocupada com a escassez de alimentos, deve-se plantar mais”... E por aí vai, é tudo e todos aumentando a produção! Busca-se mais petróleo, planta-se mais cana-de-açúcar, precisa-se de mais matéria-prima para as fábricas, de mais água para as lavouras, para as cidades, para as indústrias, de mais ouro, de mais ferro, de mais urânio, de mais papel, de mais madeira, de mais energia... E a população sempre aumentando, e precisando de mais terras, de mais áreas urbanas, de mais prédios, de mais casas, e áreas urbanas é sinônimo de poluição e degradação ambiental, e assim caminha a humanidade... E para cada criança que nasce precisa-se de mais alimentos, e então de mais lavouras, e mais terras, e mais águas. E com mais lavouras são menos florestas, e rios mais secos, e solo mais estéril e contaminado, e eu, enlouquecendo em meio a tantos absurdos, fico me perguntando atônito: onde vamos parar?
De onde vamos tirar tantas matérias-primas para dar o suporte necessário a tanto crescimento, a tanto “evolução”, a tanto “progresso”? Até onde alcança minha inteligência limitada, penso que todos os recursos naturais são retirados de nosso planeta, e nosso planeta não é infinito. E quando os recursos naturais acabarem, o que faremos? Vamos sobreviver em uma terra absolutamente devastada e vazia de tudo? Ou vamos ir para a Lua, ou para Marte? Por favor, sábios de nossa civilização, respondam-me, que eu sou muito ignorante.
A palavra “Progresso” parece sagrada para os homens, é o deus dos últimos séculos. Usando uma expressão de meus avós, “Deus o livre” falar mal do Progresso! É uma blasfêmia imperdoável. Tem-se que progredir, não importa a que custo, ou melhor, importa sim. Se o custo é alto e o lucro baixo... nesse caso o Progresso não vale a pena. Não importa nem mesmo o tipo de Progresso, ou quem sai ganhando com isso, ou até mesmo se o Progresso é verdadeiramente um progresso. O que importa é que a humanidade deve crescer, expandir-se, alastrar-se ao limite máximo possível, ou até não-possível, que a ciência deve criar mais e mais tecnologias para resolver os sérios problemas dos homens. Exemplo de um sério problema: enviar a minha imagem pelo celular para a pessoa com quem estou falando. Isso é um gravíssimo problema que a ciência deve dedicar-se ao extremo para solucionar. Inclusive, já solucionou!
Definitivamente, eu sou alguém de raciocínio muito lento. Ainda não entendi que existe o desenvolvimento sustentado, que é aquele desenvolvimento em que, por exemplo, o agricultor destrói toda a mata e deixa uma ridícula faixinha de árvores na beira dos rios. Ali, certamente, dá para viver toda a abundante fauna de qualquer região, e, por mais que chova, nunca o rio irá assorear. Ou então, desenvolvimento sustentado é quando uma fábrica polui toda uma região e depois doa 0,01% de seus lucros para ajudar a preservar a Mata Atlântica. Consciência ecológica!
Eu sou um retrógrado. Não quero que a humanidade se desenvolva. Pra que mais cidades, mais carros, mais fábricas, mais pessoas? Eu quero que se desenvolva o ser humano, aquilo que está dentro dele. Mas isso deve ser uma bobagem, afinal, ninguém dá bola! Melhorar a alma, seja ela o que for, mortal ou imortal, divina ou não-divina, não é Progresso. Progresso é encher os bolsos. Há outro objetivo em produzir-se cada vez mais?
Por um lado, todos os países, todas as indústrias, todas as empresas, enfim, todos! desejam e buscam produzir cada vez mais; por outro lado, todos afirmam que o planeta está se esgotando e que deve ser preservado a qualquer custo, que não se deve mais desmatar florestas ou poluir os ambientes... Ou muito me engano, o que é bem provável, ou encontra-se nesses fatos uma escancarada contradição: produzir mais e mais e ao mesmo tempo preservar o planeta...
Todos os dias, acompanho pela mídia: “setor automobilístico comemora recorde na produção”; “safra brasileira é a maior da história”; “cresce demanda por combustíveis”; “ONU preocupada com a escassez de alimentos, deve-se plantar mais”... E por aí vai, é tudo e todos aumentando a produção! Busca-se mais petróleo, planta-se mais cana-de-açúcar, precisa-se de mais matéria-prima para as fábricas, de mais água para as lavouras, para as cidades, para as indústrias, de mais ouro, de mais ferro, de mais urânio, de mais papel, de mais madeira, de mais energia... E a população sempre aumentando, e precisando de mais terras, de mais áreas urbanas, de mais prédios, de mais casas, e áreas urbanas é sinônimo de poluição e degradação ambiental, e assim caminha a humanidade... E para cada criança que nasce precisa-se de mais alimentos, e então de mais lavouras, e mais terras, e mais águas. E com mais lavouras são menos florestas, e rios mais secos, e solo mais estéril e contaminado, e eu, enlouquecendo em meio a tantos absurdos, fico me perguntando atônito: onde vamos parar?
De onde vamos tirar tantas matérias-primas para dar o suporte necessário a tanto crescimento, a tanto “evolução”, a tanto “progresso”? Até onde alcança minha inteligência limitada, penso que todos os recursos naturais são retirados de nosso planeta, e nosso planeta não é infinito. E quando os recursos naturais acabarem, o que faremos? Vamos sobreviver em uma terra absolutamente devastada e vazia de tudo? Ou vamos ir para a Lua, ou para Marte? Por favor, sábios de nossa civilização, respondam-me, que eu sou muito ignorante.
A palavra “Progresso” parece sagrada para os homens, é o deus dos últimos séculos. Usando uma expressão de meus avós, “Deus o livre” falar mal do Progresso! É uma blasfêmia imperdoável. Tem-se que progredir, não importa a que custo, ou melhor, importa sim. Se o custo é alto e o lucro baixo... nesse caso o Progresso não vale a pena. Não importa nem mesmo o tipo de Progresso, ou quem sai ganhando com isso, ou até mesmo se o Progresso é verdadeiramente um progresso. O que importa é que a humanidade deve crescer, expandir-se, alastrar-se ao limite máximo possível, ou até não-possível, que a ciência deve criar mais e mais tecnologias para resolver os sérios problemas dos homens. Exemplo de um sério problema: enviar a minha imagem pelo celular para a pessoa com quem estou falando. Isso é um gravíssimo problema que a ciência deve dedicar-se ao extremo para solucionar. Inclusive, já solucionou!
Definitivamente, eu sou alguém de raciocínio muito lento. Ainda não entendi que existe o desenvolvimento sustentado, que é aquele desenvolvimento em que, por exemplo, o agricultor destrói toda a mata e deixa uma ridícula faixinha de árvores na beira dos rios. Ali, certamente, dá para viver toda a abundante fauna de qualquer região, e, por mais que chova, nunca o rio irá assorear. Ou então, desenvolvimento sustentado é quando uma fábrica polui toda uma região e depois doa 0,01% de seus lucros para ajudar a preservar a Mata Atlântica. Consciência ecológica!
Eu sou um retrógrado. Não quero que a humanidade se desenvolva. Pra que mais cidades, mais carros, mais fábricas, mais pessoas? Eu quero que se desenvolva o ser humano, aquilo que está dentro dele. Mas isso deve ser uma bobagem, afinal, ninguém dá bola! Melhorar a alma, seja ela o que for, mortal ou imortal, divina ou não-divina, não é Progresso. Progresso é encher os bolsos. Há outro objetivo em produzir-se cada vez mais?
27 junho 2008
As Almas do Fantástico na História do RS
O conto abaixo é o 2º de uma série de 7 contos que estou compondo sobre acontecimentos fantásticos na história do RS. O 1º conto, O Horror no Campo, fui publicado na edição 30 do zine Poemas do Término e Contos do Fim, que está em circulação. Os contos são fundamentados em fatos reais de nossa história, no entanto, apresentam um desenvolvimento fictício. As histórias, apesar de relacionadas, são independentes entre si.
Os Urubus Demoníacos - História 2ª
No princípio da terceira década do século XIX, o tropeiro espanhol Esteban Velasquez cruzava os ermos pampas do extremo sul do Brasil à procura de um local agradável para seu repouso, após dias de extenuantes peregrinações solitárias, ou quase solitárias, se considerarmos a fiel companhia de seu cavalo.
Esteban encontrou então numa região absolutamente deserta de seres humanos, semi-oculto por duas imensas coxilhas, um pequeno e aprazível lago cercado por um frondoso capão de mata, um local realmente convidativo ao descanso. O tropeiro acercou-se do lago, desceu do cavalo e sentou-se distraidamente sobre a relva verdejante e macia à beira das águas límpidas e tranqüilas. Ali, ele podia observar, do outro lado do lago, as árvores imensas da pequena mata, onde dezenas de pássaros emitiam um alegre canto naquele princípio morno da tarde ensolarada.
As margens do lago não eram, como em outros casos, cercadas por arbustos e plantas que dificultavam a aproximação até as águas, pelo contrário, tão-somente havia um vasto gramado que se estendia até elas. Tanto que de uma das duas grandes bolsas que Esteban carregava sobre o cavalo, ele retirou um copo e o encheu com a água cristalina do lago e saciou sua sede. Após, dirigiu-se à outra margem, chegando à beira da mata, e ali, sob a sombra aconchegante das árvores, decidiu fazer seu almoço de charque com pão.
Tranquilamente o tropeiro comia e aproximou-se das águas para colher mais um copo d’água. E foi nesse instante que sua tranqüilidade alçou vôo para nunca mais voltar... Ao retirar o copo do lago, o que Esteban viu não foi aquela mesma água pura e transparente, mas um líquido avermelhado de coloração verdadeiramente sanguinolenta. Alarmado, o espanhol jogou fora a água vermelha e observou atentamente o interior do lago no intuito de encontrar algum cadáver, fosse de homem ou animal, de onde pudesse se originar o sangue que contaminava o lago. Porém, o que Esteban divisou foi algo que ultrapassava as barreiras do absurdo. As águas antes límpidas e translúcidas eram agora invadidas por um fluxo inesgotável de um líquido que possuía a cor e o cheiro de sangue.
O tropeiro percebeu que o sangue, se é que realmente o era, provinha do centro do lago e rapidamente contaminava toda a sua extensão, não restando sequer uma gota de água pura. Para ser mais exato, o misterioso sangue, cuja fonte era impensavelmente desconhecida e insondável, não apenas contaminou as águas, parecia mais ter tomado conta totalmente delas, era como se tivessem se transformado em líquido sanguíneo. Esteban, atônito e assustado, não conseguia formular nenhuma explicação para o que ocorria e, quando ainda observava o fluxo viscoso de sangue do interior do lago e sentia o seu cheiro nauseante, percebeu que o dia, antes ensolarado, rápida e ameaçadoramente principiou a escurecer-se. Com um vento quente e enfermiço, invadiram os céus da região pesadas nuvens de um lúgubre tom avermelhado. Em questão de minutos, todo o céu foi encoberto por densos e estranhos nimbos carregados por uma sinistra coloração escarlate e sangrenta.
Trovões cavernosos e relâmpagos obscuramente rubros expandiram-se pelos céus de sangue, e tudo indicava que em breve desabaria uma chuva torrencial. Nesse instante, o numeroso bando de pássaros abrigados na mata, que se calara no momento em que as águas do lago principiaram a tornar-se vermelhas, iniciaram a emitir não mais o canto alegre e harmonioso quando da chegada do tropeiro, mas um lamento lúgubre, arrepiante, um cântico de morte que assombrava e deprimia, algo completamente diverso e inadequado para o canto de uma ave.
Porém, esse canto fúnebre prolongava-se e aumentava de intensidade de forma progressiva, enquanto um desespero nervoso massacrava o espanhol, que já não podia acreditar que tais absurdos não passassem de perturbadas alucinações, tamanha era a impressão de realidade deixada por aqueles horrores.
Enquanto os hediondos lamentos das aves prosseguiam, e o lago já transbordava de sangue, as primeiras gotas de chuva caíram grossas e pesadas sobre o campo, sobre a mata e sobre Esteban. Contudo, não eram gotas de água, eram gotas de sangue. Sangue que escorreu pela face do tropeiro, e ele percebeu que era um sangue morno e pôde sentir seu gosto de ferro adocicado, enquanto a chuva sangrenta se derramava em sua boca. E aquele sangue, ao cair sobre o campo, queimava a grama e, ao cair sobre a mata, murchava as folhas das árvores. Ainda assim, os pássaros mantinham seu canto de desespero e profundo mau-agouro.
Porém, outras aves foram atraídas pelo cheiro nauseabundo do sangue... Um gigantesco bando de urubus assomou como uma mancha negra nos horizontes enfebricidos e numa velocidade diabólica atingiu a mata grunhindo e chilreando em um alarido insano e demoníaco. As aves pousaram próximo a Esteban, encharcadas de sangue e adejando triunfantes suas asas enormes na chuva infernal.
Aquele inexplicável espetáculo dantesco parecia não ter fim: a chuva continuava implacável caindo das sobrecarregadas nuvens vermelhas e emurchecendo a vegetação; o lago prosseguia transbordando seu sangue espesso, enquanto nos céus os odiosos trovões e relâmpagos atordoavam sem misericórdia a alma estarrecida de Esteban. Porém, o que mais aniquilava o espírito do tropeiro era a tortura ominosa do canto maligno dos pássaros, que agora parecia ser guiado pela não menos aniquilante gritaria satânica e debochada dos urubus. Foi só então que Esteban percebeu que seu cavalo não estava mais por ali, certamente fugira de tantos horrores.
O espanhol fitava os horizontes assustadoramente rubros e não distinguia nenhum sinal da tempestade de sangue acalmar-se. Não sabia o que fazer ou para onde ir. Decidiu entrar no capão de mata para abrigar-se ao menos parcialmente. Desvairado, rapidamente penetrou na mata, sempre atormentado pela histeria absurda dos urubus. Avançou aos tropeções, até que estacou perplexo ao encontrar enrodilhada à sua frente uma imensa serpente de um vermelho angustiantemente vivo e sanguinolento.
Sem que Esteban pudesse evitar, a serpente cravou as presas na sua perna, perfurando suas calças e inoculando um veneno provavelmente fatal. O tropeiro caiu e sentiu-se desfalecer, sabendo que a morte já o fitava, enquanto o ferimento da picada vertia sangue em infrene profusão. Minutos depois, Esteban jazia inconsciente no meio da mata, que mais parecia um banhado de sangue.
No entanto, passados alguns minutos, o tropeiro acordou. Não, não estava morto. Ele observou o local onde se encontrava, e não havia nenhum vestígio de sangue. Olhou para o ferimento de sua perna, mas não havia ferimento, não havia picada. Também não havia nenhuma serpente. O dia estava ensolarado como no princípio, nenhum sinal de chuva de sangue, nenhuma nuvem maculava o céu azul. Esteban, já à beira da insânia, saiu da mata e dirigiu-se ao lago. Encontrou suas águas puras e cristalinas como quando as viu pela primeira vez. Os pássaros ali permaneciam, porém entoavam seus cantos felizes e harmoniosos em honra a luz do sol. E Esteban não avistou nenhum urubu demoníaco por ali. Mas avistou seu cavalo no mesmo lugar em que o deixara.
Absolutamente confuso e caótico, porém acreditando agora que tudo não passou de uma funesta alucinação, ainda perturbado, Esteban montou em seu cavalo e partiu daquela região bela, mas de uma beleza maldita...
Não se sabe o que realmente ocorreu naquele local do pampa gaúcho, e o tropeiro Esteban Velasquez, buscando o esquecimento, como se isso fosse possível para sua alma profundamente traumatizada, jamais procurou saber. No entanto, o que se sabe é que cinco anos após o terrível acontecimento, teve início no RS a Revolução Farroupilha, responsável por um dos maiores derramamentos de sangue da história brasileira.
E o que também não se sabe é que no ano de 1890, o peão de fazenda Luiz Juvenal Soares relatou a amigos e familiares um canhestro caso assombrosamente semelhante ao ocorrido com o espanhol Esteban. Segundo as palavras do próprio Luiz Soares, o que ele viu consistia em “sangue, eu só via sangue pra tudo quanto é lado, e um bando de corvo pingando sangue que gritavam como uns diabo, parecia até que davam umas risada.” Naturalmente, ninguém deu atenção aos desvarios absurdos do rústico e simplório peão, até porque ele já estava apresentando alguns sinais de perturbação mental e dizia que sonhava com urubus enormes com espantosa freqüência. E ninguém relacionou as visões de Luiz Soares com o fato de, três anos mais tarde, em 1893, os vastos campos rio-grandenses terem sido palco de mais um brutal festim sangrento com a Revolução Federalista.
Conta-se ainda que poucos anos antes da Revolução de 1930, um colono italiano teria tido “visões inenarráveis de derramamentos sangrentos em uma região selvagem do interior gaúcho, o que o levou, horas depois de relatar o fato a sua esposa, a cometer suicídio”, segundo noticiado no rodapé de um jornal da época. Deixara uma breve carta de despedida, onde se lia o seguinte trecho: “não agüento mais sentir as asas desses corvos batendo na minha cabeça e essas risadas de demônios...”
Porém, o que não se sabe é que em novembro de 2007, alguém, que é melhor não identificar, relatou-me algo com ele ocorrido inquietantemente similar ao antigo caso de Esteban Velasquez. Porém, com uma sinistra variação: em lugar de sangue, o que esse alguém vislumbrou foi um repulsivo líquido negro, e o número de urubus demoníacos era maior, absurdamente maior, e seus deboches malignos e estridentes eram piores, bem, bem piores...
Esteban encontrou então numa região absolutamente deserta de seres humanos, semi-oculto por duas imensas coxilhas, um pequeno e aprazível lago cercado por um frondoso capão de mata, um local realmente convidativo ao descanso. O tropeiro acercou-se do lago, desceu do cavalo e sentou-se distraidamente sobre a relva verdejante e macia à beira das águas límpidas e tranqüilas. Ali, ele podia observar, do outro lado do lago, as árvores imensas da pequena mata, onde dezenas de pássaros emitiam um alegre canto naquele princípio morno da tarde ensolarada.
As margens do lago não eram, como em outros casos, cercadas por arbustos e plantas que dificultavam a aproximação até as águas, pelo contrário, tão-somente havia um vasto gramado que se estendia até elas. Tanto que de uma das duas grandes bolsas que Esteban carregava sobre o cavalo, ele retirou um copo e o encheu com a água cristalina do lago e saciou sua sede. Após, dirigiu-se à outra margem, chegando à beira da mata, e ali, sob a sombra aconchegante das árvores, decidiu fazer seu almoço de charque com pão.
Tranquilamente o tropeiro comia e aproximou-se das águas para colher mais um copo d’água. E foi nesse instante que sua tranqüilidade alçou vôo para nunca mais voltar... Ao retirar o copo do lago, o que Esteban viu não foi aquela mesma água pura e transparente, mas um líquido avermelhado de coloração verdadeiramente sanguinolenta. Alarmado, o espanhol jogou fora a água vermelha e observou atentamente o interior do lago no intuito de encontrar algum cadáver, fosse de homem ou animal, de onde pudesse se originar o sangue que contaminava o lago. Porém, o que Esteban divisou foi algo que ultrapassava as barreiras do absurdo. As águas antes límpidas e translúcidas eram agora invadidas por um fluxo inesgotável de um líquido que possuía a cor e o cheiro de sangue.
O tropeiro percebeu que o sangue, se é que realmente o era, provinha do centro do lago e rapidamente contaminava toda a sua extensão, não restando sequer uma gota de água pura. Para ser mais exato, o misterioso sangue, cuja fonte era impensavelmente desconhecida e insondável, não apenas contaminou as águas, parecia mais ter tomado conta totalmente delas, era como se tivessem se transformado em líquido sanguíneo. Esteban, atônito e assustado, não conseguia formular nenhuma explicação para o que ocorria e, quando ainda observava o fluxo viscoso de sangue do interior do lago e sentia o seu cheiro nauseante, percebeu que o dia, antes ensolarado, rápida e ameaçadoramente principiou a escurecer-se. Com um vento quente e enfermiço, invadiram os céus da região pesadas nuvens de um lúgubre tom avermelhado. Em questão de minutos, todo o céu foi encoberto por densos e estranhos nimbos carregados por uma sinistra coloração escarlate e sangrenta.
Trovões cavernosos e relâmpagos obscuramente rubros expandiram-se pelos céus de sangue, e tudo indicava que em breve desabaria uma chuva torrencial. Nesse instante, o numeroso bando de pássaros abrigados na mata, que se calara no momento em que as águas do lago principiaram a tornar-se vermelhas, iniciaram a emitir não mais o canto alegre e harmonioso quando da chegada do tropeiro, mas um lamento lúgubre, arrepiante, um cântico de morte que assombrava e deprimia, algo completamente diverso e inadequado para o canto de uma ave.
Porém, esse canto fúnebre prolongava-se e aumentava de intensidade de forma progressiva, enquanto um desespero nervoso massacrava o espanhol, que já não podia acreditar que tais absurdos não passassem de perturbadas alucinações, tamanha era a impressão de realidade deixada por aqueles horrores.
Enquanto os hediondos lamentos das aves prosseguiam, e o lago já transbordava de sangue, as primeiras gotas de chuva caíram grossas e pesadas sobre o campo, sobre a mata e sobre Esteban. Contudo, não eram gotas de água, eram gotas de sangue. Sangue que escorreu pela face do tropeiro, e ele percebeu que era um sangue morno e pôde sentir seu gosto de ferro adocicado, enquanto a chuva sangrenta se derramava em sua boca. E aquele sangue, ao cair sobre o campo, queimava a grama e, ao cair sobre a mata, murchava as folhas das árvores. Ainda assim, os pássaros mantinham seu canto de desespero e profundo mau-agouro.
Porém, outras aves foram atraídas pelo cheiro nauseabundo do sangue... Um gigantesco bando de urubus assomou como uma mancha negra nos horizontes enfebricidos e numa velocidade diabólica atingiu a mata grunhindo e chilreando em um alarido insano e demoníaco. As aves pousaram próximo a Esteban, encharcadas de sangue e adejando triunfantes suas asas enormes na chuva infernal.
Aquele inexplicável espetáculo dantesco parecia não ter fim: a chuva continuava implacável caindo das sobrecarregadas nuvens vermelhas e emurchecendo a vegetação; o lago prosseguia transbordando seu sangue espesso, enquanto nos céus os odiosos trovões e relâmpagos atordoavam sem misericórdia a alma estarrecida de Esteban. Porém, o que mais aniquilava o espírito do tropeiro era a tortura ominosa do canto maligno dos pássaros, que agora parecia ser guiado pela não menos aniquilante gritaria satânica e debochada dos urubus. Foi só então que Esteban percebeu que seu cavalo não estava mais por ali, certamente fugira de tantos horrores.
O espanhol fitava os horizontes assustadoramente rubros e não distinguia nenhum sinal da tempestade de sangue acalmar-se. Não sabia o que fazer ou para onde ir. Decidiu entrar no capão de mata para abrigar-se ao menos parcialmente. Desvairado, rapidamente penetrou na mata, sempre atormentado pela histeria absurda dos urubus. Avançou aos tropeções, até que estacou perplexo ao encontrar enrodilhada à sua frente uma imensa serpente de um vermelho angustiantemente vivo e sanguinolento.
Sem que Esteban pudesse evitar, a serpente cravou as presas na sua perna, perfurando suas calças e inoculando um veneno provavelmente fatal. O tropeiro caiu e sentiu-se desfalecer, sabendo que a morte já o fitava, enquanto o ferimento da picada vertia sangue em infrene profusão. Minutos depois, Esteban jazia inconsciente no meio da mata, que mais parecia um banhado de sangue.
No entanto, passados alguns minutos, o tropeiro acordou. Não, não estava morto. Ele observou o local onde se encontrava, e não havia nenhum vestígio de sangue. Olhou para o ferimento de sua perna, mas não havia ferimento, não havia picada. Também não havia nenhuma serpente. O dia estava ensolarado como no princípio, nenhum sinal de chuva de sangue, nenhuma nuvem maculava o céu azul. Esteban, já à beira da insânia, saiu da mata e dirigiu-se ao lago. Encontrou suas águas puras e cristalinas como quando as viu pela primeira vez. Os pássaros ali permaneciam, porém entoavam seus cantos felizes e harmoniosos em honra a luz do sol. E Esteban não avistou nenhum urubu demoníaco por ali. Mas avistou seu cavalo no mesmo lugar em que o deixara.
Absolutamente confuso e caótico, porém acreditando agora que tudo não passou de uma funesta alucinação, ainda perturbado, Esteban montou em seu cavalo e partiu daquela região bela, mas de uma beleza maldita...
Não se sabe o que realmente ocorreu naquele local do pampa gaúcho, e o tropeiro Esteban Velasquez, buscando o esquecimento, como se isso fosse possível para sua alma profundamente traumatizada, jamais procurou saber. No entanto, o que se sabe é que cinco anos após o terrível acontecimento, teve início no RS a Revolução Farroupilha, responsável por um dos maiores derramamentos de sangue da história brasileira.
E o que também não se sabe é que no ano de 1890, o peão de fazenda Luiz Juvenal Soares relatou a amigos e familiares um canhestro caso assombrosamente semelhante ao ocorrido com o espanhol Esteban. Segundo as palavras do próprio Luiz Soares, o que ele viu consistia em “sangue, eu só via sangue pra tudo quanto é lado, e um bando de corvo pingando sangue que gritavam como uns diabo, parecia até que davam umas risada.” Naturalmente, ninguém deu atenção aos desvarios absurdos do rústico e simplório peão, até porque ele já estava apresentando alguns sinais de perturbação mental e dizia que sonhava com urubus enormes com espantosa freqüência. E ninguém relacionou as visões de Luiz Soares com o fato de, três anos mais tarde, em 1893, os vastos campos rio-grandenses terem sido palco de mais um brutal festim sangrento com a Revolução Federalista.
Conta-se ainda que poucos anos antes da Revolução de 1930, um colono italiano teria tido “visões inenarráveis de derramamentos sangrentos em uma região selvagem do interior gaúcho, o que o levou, horas depois de relatar o fato a sua esposa, a cometer suicídio”, segundo noticiado no rodapé de um jornal da época. Deixara uma breve carta de despedida, onde se lia o seguinte trecho: “não agüento mais sentir as asas desses corvos batendo na minha cabeça e essas risadas de demônios...”
Porém, o que não se sabe é que em novembro de 2007, alguém, que é melhor não identificar, relatou-me algo com ele ocorrido inquietantemente similar ao antigo caso de Esteban Velasquez. Porém, com uma sinistra variação: em lugar de sangue, o que esse alguém vislumbrou foi um repulsivo líquido negro, e o número de urubus demoníacos era maior, absurdamente maior, e seus deboches malignos e estridentes eram piores, bem, bem piores...
23 junho 2008
Sentença
aquele Olho que me olha
nunca deixa de me olhar
um olho negro como um erro
um olho firme como um crime
um olho forte como a morte
como é fundo aquele olhar...
é tão fundo como o nada
é tão sério como o fado
é tão duro quanto a sina...
a que mistérios
me destina?
nunca sorri aquele olho
nunca pisca aquele olho
nunca muda aquele olho
aquele Olho
que me olha
nunca deixa de me olhar
aquele Olho
que me olha
nunca deixa de me olhar
nunca deixa
meu olhar
nunca deixa de me olhar
um olho negro como um erro
um olho firme como um crime
um olho forte como a morte
como é fundo aquele olhar...
é tão fundo como o nada
é tão sério como o fado
é tão duro quanto a sina...
a que mistérios
me destina?
nunca sorri aquele olho
nunca pisca aquele olho
nunca muda aquele olho
aquele Olho
que me olha
nunca deixa de me olhar
aquele Olho
que me olha
nunca deixa de me olhar
nunca deixa
meu olhar
12 junho 2008
Tristeza, tão-somente
Tristeza
pura e simplesmente
sim, aquela de Cruz e Sousa
velha tristeza nada original
tristeza há muito tempo triste
longa, roxa e fantasmal
tristeza de tudo
tristeza por nada
de tudo que é sublime
por nada desolada
tristeza em quintessências
que flui aos olhos dos séculos
lá dos milênios e eras
até a tristeza do agora
tristeza do Início
e que jamais vai embora
tristeza do ontem e do hoje
e que vai até o Fim
de tudo que se perde e chora
e que sai dos teus olhos
e se expressa por mim
tristeza dos grandes finais
cada vez mais perto de nós
tristeza que cresce e assombra
com sombrios adeuses na voz
tristeza-sentença
do que é e de tudo que virá
de tudo que foi e que morre
tristeza que ao futuro corre
tristeza que não basta
e nunca bastará
pura e simplesmente
sim, aquela de Cruz e Sousa
velha tristeza nada original
tristeza há muito tempo triste
longa, roxa e fantasmal
tristeza de tudo
tristeza por nada
de tudo que é sublime
por nada desolada
tristeza em quintessências
que flui aos olhos dos séculos
lá dos milênios e eras
até a tristeza do agora
tristeza do Início
e que jamais vai embora
tristeza do ontem e do hoje
e que vai até o Fim
de tudo que se perde e chora
e que sai dos teus olhos
e se expressa por mim
tristeza dos grandes finais
cada vez mais perto de nós
tristeza que cresce e assombra
com sombrios adeuses na voz
tristeza-sentença
do que é e de tudo que virá
de tudo que foi e que morre
tristeza que ao futuro corre
tristeza que não basta
e nunca bastará
05 junho 2008
Vão Vocês...
crer no possível mundo melhor
e ir pelo mundo em celestes sorrisos
e pregar que o mundo melhor é possível
em possíveis ciências celestiais...
os senhores podem ir, mas eu...
eu não agüento mais.
bater pelas portas com mãos de esperança
com faces de luz em vivas canções
e nas ruas erguer as bandeiras
à esperança-portas em que vós entrais
as senhoras podem ir, mas eu...
eu não agüento mais.
e olhar nos olhos com olhos de amor
em rostos felizes de felizes amores
levar a alegria em lindos olhares
olhares de amor a que vós alegrais...
vós todos podeis ir, mas eu...
eu não agüento mais.
ah os vossos sonhos
os sonhos vossos
já sonhei todos
os vossos sonhos
antes de serem vossos
e os sonhos meus
sonham sempre comigo...
mas usar os sonhos
pra sonhar nas ruas
em humanos ideais?
não não...
vão vocês!
que eu não agüento mais.
e ir pelo mundo em celestes sorrisos
e pregar que o mundo melhor é possível
em possíveis ciências celestiais...
os senhores podem ir, mas eu...
eu não agüento mais.
bater pelas portas com mãos de esperança
com faces de luz em vivas canções
e nas ruas erguer as bandeiras
à esperança-portas em que vós entrais
as senhoras podem ir, mas eu...
eu não agüento mais.
e olhar nos olhos com olhos de amor
em rostos felizes de felizes amores
levar a alegria em lindos olhares
olhares de amor a que vós alegrais...
vós todos podeis ir, mas eu...
eu não agüento mais.
ah os vossos sonhos
os sonhos vossos
já sonhei todos
os vossos sonhos
antes de serem vossos
e os sonhos meus
sonham sempre comigo...
mas usar os sonhos
pra sonhar nas ruas
em humanos ideais?
não não...
vão vocês!
que eu não agüento mais.
01 junho 2008
Segredo
nas asas do Fim de tudo que foge
nas vozes tormenta longa distante
nas nuvens que crescem aos gritos de corvos
em tudo que parte em fúria do vento
em tudo que voa em força desastre
em tudo que canta sentenças ao longe
meus velhos olhos que explodem em ciclones
meus olhos doenças com asas pesares
meus corvos olhos no cosmos malditos
lá onde as mortes arrancam com foices
lá onde os carmas orquestram ocultos
lá onde os deuses tempestam universos
é lá onde estou com meu luto segredo
nas vozes tormenta longa distante
nas nuvens que crescem aos gritos de corvos
em tudo que parte em fúria do vento
em tudo que voa em força desastre
em tudo que canta sentenças ao longe
meus velhos olhos que explodem em ciclones
meus olhos doenças com asas pesares
meus corvos olhos no cosmos malditos
lá onde as mortes arrancam com foices
lá onde os carmas orquestram ocultos
lá onde os deuses tempestam universos
é lá onde estou com meu luto segredo
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