aqui não há nada a ser dito:
não me procure razões
naquilo que nem me soube
não queira que eu dê ou que eu tome lições
naquilo que nem me sonha
ainda que se diga coisa alguma
nunca será humano
permanecerá sendo o que nunca foi
pela miséria de coisa nenhuma
que este verso não seja nada
uma realidade noturna fora além nem existente
distante de tudo o que é
(como se alguma coisa fosse...)
nem dito para nem feito por
(seja lá o que for)
por que aqui alguma verdade
alguma filosofia alguma fé
no que nem é?
(seja lá o que amor)
não procure aqui uma mensagem
não queira saber se estou certo
não tente fazer ver os meus erros
há tanto outro tanto
eu mesmo sou outra imagem
do que nunca nem me vi
então que isso não passe
de um canto sem letra
ou de pintura sem cor
um cansaço que se lança
pelo lago alado do ar
pelo lado amargo da dança
(ou seja lá o que dor)
deixa este verso bem longe
de tudo que se aproxima
isso é só um aumento da dosagem
um longe rubro no horizonte
não passa de passagem
ao lá do que me esconde
e o que me resta da alma que tive
deixo aqui sendo noite em profundo
abismada e reerguida
num prenúncio minúsculo
de que depois de tudo morto
nisso que se chama mundo
em milênios voltará a Vida
27 fevereiro 2019
25 fevereiro 2019
De Mal a Pior
sempre é pior do que dizem
sempre há mais do que é dito:
a humanidade tem por princípio e precipício
não saber ou não deixar que se saiba
governo empresas trabalho
e todo diabo mais que o parta
são apenas controle:
controlar é decidir o que se pode saber
o que é o povo além de ignorância agradada?
para que o povo não saiba o que não pode
se passa a mão na sua cabeça
e dá-se um leitinho quente
para que ele durma e sonhe
porque só o sonho é sua vida real
até que um dia surge um gênio:
gênio é saber que há mais
onde não se suspeita de nada
e extrair desse nada
o que há de mais
ser gênio
não é ser grande na humanidade:
é NÃO ser a humanidade
mas estamos tão mal
que ou nem gênios surgem mais
ou nem mais ouvimos gênios
sempre há mais do que é dito:
a humanidade tem por princípio e precipício
não saber ou não deixar que se saiba
governo empresas trabalho
e todo diabo mais que o parta
são apenas controle:
controlar é decidir o que se pode saber
o que é o povo além de ignorância agradada?
para que o povo não saiba o que não pode
se passa a mão na sua cabeça
e dá-se um leitinho quente
para que ele durma e sonhe
porque só o sonho é sua vida real
até que um dia surge um gênio:
gênio é saber que há mais
onde não se suspeita de nada
e extrair desse nada
o que há de mais
ser gênio
não é ser grande na humanidade:
é NÃO ser a humanidade
mas estamos tão mal
que ou nem gênios surgem mais
ou nem mais ouvimos gênios
22 fevereiro 2019
O Mistério é uma Música
a música é um mistério
(mas só quando sendo música)
e como tal não se escuta
podê-lo ou sabê-lo
sem princípio ou precipício
está a sete notas acima na escala
ou sete palmos abaixo na terra
ou qualquer além que seja mais
verbo não-verbalizado
sem (des)entendimentos
equivocados:
é o que se é
para cada ser que o seja
à música
não há necessidade de selo
ela não se carta
não se mensagem:
quem ouve é que deve sê-la
e só a si cabe o vale
quer seja um algo ou um vago
ainda que a música
diga dizeres
não se pode dizer
que foi sendo como dito.
o que vale é o que som
infinital e arquetípico
absoluto
desanalítico
desde o canto do galo
o corte do violino
ao ritmo do galope do cavalo
é um elevado alto
escrito de não-dizer
que é mister misteriá-lo
e vivê-lo
(mas só quando sendo música)
e como tal não se escuta
podê-lo ou sabê-lo
sem princípio ou precipício
está a sete notas acima na escala
ou sete palmos abaixo na terra
ou qualquer além que seja mais
verbo não-verbalizado
sem (des)entendimentos
equivocados:
é o que se é
para cada ser que o seja
à música
não há necessidade de selo
ela não se carta
não se mensagem:
quem ouve é que deve sê-la
e só a si cabe o vale
quer seja um algo ou um vago
ainda que a música
diga dizeres
não se pode dizer
que foi sendo como dito.
o que vale é o que som
infinital e arquetípico
absoluto
desanalítico
desde o canto do galo
o corte do violino
ao ritmo do galope do cavalo
é um elevado alto
escrito de não-dizer
que é mister misteriá-lo
e vivê-lo
20 fevereiro 2019
Quem que é Importante?
as pessoas se importam
com que elas importem
como se houvesse importância
em ser-se importante
e como se alguém que o é
em verdade o fosse
ser importante
implica em quem dá
a importância:
quem é importante
é importante para quem?
vermes, por exemplo
dão importância a vermes
não a águias
aliás as águias
os vermes nem as veem
e nem sabem que existem
com que elas importem
como se houvesse importância
em ser-se importante
e como se alguém que o é
em verdade o fosse
ser importante
implica em quem dá
a importância:
quem é importante
é importante para quem?
vermes, por exemplo
dão importância a vermes
não a águias
aliás as águias
os vermes nem as veem
e nem sabem que existem
18 fevereiro 2019
É só de Pão que vive o Homem
se tu não tiver pão
tu nunca irá parar pra pensar
porque o pão é o que importa primeiro.
então eles te tiram o pão
pra que tu só pense em pão
e não se importe com mais nada.
depois eles te dão o pão de volta
pra que tu sinta que pão é só o que importa
e te aquiete no teu canto.
mas quando teu corpo já tenha pão
tua alma precisará de vida
e vida é muito mais difícil:
e eles não querem que tu viva
só que tu sobreviva:
sobreviver é ter um emprego um patrão
para quem tu dá a tua vida
o teu corpo e a tua alma
em troca de pão
e de malemal um teto
mas na verdade tu é a teta
com que eles se mantêm ricos e gordos
eles te dirão que teu emprego é tudo
que nem há arte nem há alma
nem há alto nem há música
e que te importa a vida que há no mundo???
que só o dinheiro (que tu não tem)
é o teu senhor
que só o dinheiro (que tu nunca terá)
é o teu amor
e então tu vive de pão
em um quadrado com teto
em uma peça de blusa:
quando morrer já estará morto
e nem terá olhado ao alto
e nem terá de teu o chão
tu nunca irá parar pra pensar
porque o pão é o que importa primeiro.
então eles te tiram o pão
pra que tu só pense em pão
e não se importe com mais nada.
depois eles te dão o pão de volta
pra que tu sinta que pão é só o que importa
e te aquiete no teu canto.
mas quando teu corpo já tenha pão
tua alma precisará de vida
e vida é muito mais difícil:
e eles não querem que tu viva
só que tu sobreviva:
sobreviver é ter um emprego um patrão
para quem tu dá a tua vida
o teu corpo e a tua alma
em troca de pão
e de malemal um teto
mas na verdade tu é a teta
com que eles se mantêm ricos e gordos
eles te dirão que teu emprego é tudo
que nem há arte nem há alma
nem há alto nem há música
e que te importa a vida que há no mundo???
que só o dinheiro (que tu não tem)
é o teu senhor
que só o dinheiro (que tu nunca terá)
é o teu amor
e então tu vive de pão
em um quadrado com teto
em uma peça de blusa:
quando morrer já estará morto
e nem terá olhado ao alto
e nem terá de teu o chão
17 fevereiro 2019
17 de Fevereiro: Dia Mundial dos Gatos
Republico o poema a seguir, publicado originalmente em 27 de março de 2017.
Gatos são Terríveis
I - cachorros são fáceis
gatos são difíceis
mesmo que não ame um cachorro
toda pessoa sabe
por que um cachorro merece ser amado
mas só sabe por que um gato merece ser amado
quem ama um gato
II – não posso reconhecer como um ser superior
o homem que considera os animais como seres inferiores
por eles não serem homens
III – saia para a noite
e contemple um lugar
sem um gato
depois
contemple o mesmo lugar
com um gato:
tudo se tornará mais profundo
14 fevereiro 2019
Hipogrifo
viverá a minha voz ou meu verso
no zumbido de alguma mosca
no zunido de algum mosquito
a azucrinar ouvidos
não-existentes
naquele quase silêncio
dos malditos
que é ainda mais que um grito
um além no quando
que nem poderá ser dito
ficará o meu nada
no ruflar das asas
de alguma barata
no rangir escroto
de algum gafanhoto
no irritante estribilho
do triunfo do grilo
e será o meu verso no que me resto
vitorioso como os artrópodes
naqueles dias de vazio
naqueles densos de mistério
em que o planeta estará repleto
de insetos
e sobre o mundo
de moribundos
no caos circunscrito
cairá o sopro das asas
do retorno
de um hipogrifo
no zumbido de alguma mosca
no zunido de algum mosquito
a azucrinar ouvidos
não-existentes
naquele quase silêncio
dos malditos
que é ainda mais que um grito
um além no quando
que nem poderá ser dito
ficará o meu nada
no ruflar das asas
de alguma barata
no rangir escroto
de algum gafanhoto
no irritante estribilho
do triunfo do grilo
e será o meu verso no que me resto
vitorioso como os artrópodes
naqueles dias de vazio
naqueles densos de mistério
em que o planeta estará repleto
de insetos
e sobre o mundo
de moribundos
no caos circunscrito
cairá o sopro das asas
do retorno
de um hipogrifo
12 fevereiro 2019
Praia Nublada no Inverno
não gosto de praia.
ou do que dizem ser praia:
tem gente nela.
nada contra quem gosta
e aceito a opinião oposta
mas tanto sol e sorrisos
me desgastam.
prefiro o escondido da sanga
entre o perdido do mato
aqueles capões brabos
bugios roucos
peraus de cobras
e mosquitos da febre amarela
e estou falando sério:
meu gosto é de antigo
me neblino no mistério:
sou daqueles que não.
me sinto bem entre gritos de sapo
e berros de gavião.
não gosto de praia?
não é bem assim:
não gosto da ideia por trás dela.
se ainda fosse aquelas praias de tormentas
daqueles mares das pinturas de Turner:
há menos verdade no que se diz vida
do que naquela tela.
ou do que dizem ser praia:
tem gente nela.
nada contra quem gosta
e aceito a opinião oposta
mas tanto sol e sorrisos
me desgastam.
prefiro o escondido da sanga
entre o perdido do mato
aqueles capões brabos
bugios roucos
peraus de cobras
e mosquitos da febre amarela
e estou falando sério:
meu gosto é de antigo
me neblino no mistério:
sou daqueles que não.
me sinto bem entre gritos de sapo
e berros de gavião.
não gosto de praia?
não é bem assim:
não gosto da ideia por trás dela.
se ainda fosse aquelas praias de tormentas
daqueles mares das pinturas de Turner:
há menos verdade no que se diz vida
do que naquela tela.
10 fevereiro 2019
Eu é que não presto
só uma pena de pato
no prato:
aquilo que sobrou do fiasco
e o emprego? no prego
e no poder? as pragas
tudo o que há de pútrido
pregando
nas pregas do povo
e pobre do próximo
se o próximo for pobre
pior se o próximo for preto
só lhe sobra o que for podre
se antes não for preso
mas "ame o próximo
como a si mesmo"
mas e a pátria?
que pátria?
a pátria é o patrão
o filho da puta
que tem pressa
de saciar suas (em)presas
com o sangue do planeta
mas isso é ser honesto.
eu é que não presto.
no prato:
aquilo que sobrou do fiasco
e o emprego? no prego
e no poder? as pragas
tudo o que há de pútrido
pregando
nas pregas do povo
e pobre do próximo
se o próximo for pobre
pior se o próximo for preto
só lhe sobra o que for podre
se antes não for preso
mas "ame o próximo
como a si mesmo"
mas e a pátria?
que pátria?
a pátria é o patrão
o filho da puta
que tem pressa
de saciar suas (em)presas
com o sangue do planeta
mas isso é ser honesto.
eu é que não presto.
08 fevereiro 2019
Com Lucro e Sem Vida*
enquanto houver lucro
não haverá vida
nem de quem paga
nem de quem perde
nem de quem lucra
enquanto houver lucro
só haverá o suco
do que é vivo sugado
enquanto houver lucro
não haverá o justo:
só seres e homens
a serem esmagados
enquanto houver lucro
não haverá paz
só haverá pás a cavar covas
só haverá a sede
insaciável
de quem quer mais
só haverá a sede
insaciada
de quem
não pode
e não tem nada
enquanto houver lucro
o homem será invólucro
de um monstro
o homem será a máscara
de um mundo sem nada
movido à máquina
ao trágico
e à morte
e é assim:
enquanto houver lucro
haverá o fim
(Poema reelaborado, escrito e publicado originalmente em 2015)
não haverá vida
nem de quem paga
nem de quem perde
nem de quem lucra
enquanto houver lucro
só haverá o suco
do que é vivo sugado
enquanto houver lucro
não haverá o justo:
só seres e homens
a serem esmagados
enquanto houver lucro
não haverá paz
só haverá pás a cavar covas
só haverá a sede
insaciável
de quem quer mais
só haverá a sede
insaciada
de quem
não pode
e não tem nada
enquanto houver lucro
o homem será invólucro
de um monstro
o homem será a máscara
de um mundo sem nada
movido à máquina
ao trágico
e à morte
e é assim:
enquanto houver lucro
haverá o fim
(Poema reelaborado, escrito e publicado originalmente em 2015)
06 fevereiro 2019
Contabilizem as Lágrimas no Paraopeba
o Rio Paraopeba está morto.
Como diria Cruz e Sousa: "Morto. Muito morto. Morto."
mas a Vale privatizada por FHC lucrou.
quem é que lucra? quem é que paga?
E muito. Muito lucro. Muito. Contabilizem seu lucro.
a mineração lucrou. contabilizem seu lucro.
a mineração quer se expandir e elegeu um "presidente".
contabilizem de quanto foi essa ajuda.
depois contabilizem o número de mortos.
contabilizem o número dos que vão morrer.
contabilizem o número de famílias aniquiladas.
contabilizem os milhares de peixes mortos.
contabilizem as milhares de aves mortas.
de mamíferos. de répteis. de anfíbios.
mortos. contabilizem.
contabilizem os quilômetros e quilômetros de Morte
que ainda virão rio abaixo.
contabilizem os outros rios que serão atingidos.
e riachos e córregos e sangas. contabilizem.
e mais poluição e mais mortes e mais dores e mais horrores.
vão contabilizando. contabilizem.
é só o que eles sabem fazer: contabilizar.
é só o que os milionários que estão no governo sabem fazer:
contabilizar.
contabilizar para tirar dos pobres e dar para os ricos.
para tirar da vida e dar para o lucro.
então não nos resta mais nada.
só contabilizar.
contabilizem.
Como diria Cruz e Sousa: "Morto. Muito morto. Morto."
mas a Vale privatizada por FHC lucrou.
quem é que lucra? quem é que paga?
E muito. Muito lucro. Muito. Contabilizem seu lucro.
a mineração lucrou. contabilizem seu lucro.
a mineração quer se expandir e elegeu um "presidente".
contabilizem de quanto foi essa ajuda.
depois contabilizem o número de mortos.
contabilizem o número dos que vão morrer.
contabilizem o número de famílias aniquiladas.
contabilizem os milhares de peixes mortos.
contabilizem as milhares de aves mortas.
de mamíferos. de répteis. de anfíbios.
mortos. contabilizem.
contabilizem os quilômetros e quilômetros de Morte
que ainda virão rio abaixo.
contabilizem os outros rios que serão atingidos.
e riachos e córregos e sangas. contabilizem.
e mais poluição e mais mortes e mais dores e mais horrores.
vão contabilizando. contabilizem.
é só o que eles sabem fazer: contabilizar.
é só o que os milionários que estão no governo sabem fazer:
contabilizar.
contabilizar para tirar dos pobres e dar para os ricos.
para tirar da vida e dar para o lucro.
então não nos resta mais nada.
só contabilizar.
contabilizem.
05 fevereiro 2019
do Nosso Tempo
I - a lei quer que você faça
uma posição de "Sentido!"
quando merda nenhuma mais
faz sentido
II – a vida de hoje perdeu tanto o sentido
que isso nem foi sentido
III – ainda há um sentido para esta civilização:
o caminho no sentido do abismo
IV – já eu, ressentido, tento encontrar meu sentido:
todos os meus sentidos
(sentidos pelas artes)
sentem que o fim se aproxima:
sinto muito.
uma posição de "Sentido!"
quando merda nenhuma mais
faz sentido
II – a vida de hoje perdeu tanto o sentido
que isso nem foi sentido
III – ainda há um sentido para esta civilização:
o caminho no sentido do abismo
IV – já eu, ressentido, tento encontrar meu sentido:
todos os meus sentidos
(sentidos pelas artes)
sentem que o fim se aproxima:
sinto muito.
03 fevereiro 2019
Simbolista
quero apagar mas apagar de um modo
que quando acorde já não seja eu todo:
todas aquelas coisas sossegadas
que do que esperam só recebem nadas
que sabem que ter é beber espuma
como quem olha para o céu e fuma
sentadas pelas beiras das estradas
essas coisas de tudo tão cansadas
a ver quem passa se matar nas curvas
e quem chega não encontrar nenhuma
a se aguardar num sol já quase posto
que não se acabem os invernos de agosto
que as noites vindas já não tenham fim
que sempre fosse sempre fosse assim
e que se achasse em sangue o amor já morto
ao soprar de asas de um voar de corvo
todas aquelas coisas sossegadas
que já viram Deus e só são fantasmas
que desceram para tomar um vinho
e quando viram vinha o Fim sozinho
que quando acorde já não seja eu todo:
todas aquelas coisas sossegadas
que do que esperam só recebem nadas
que sabem que ter é beber espuma
como quem olha para o céu e fuma
sentadas pelas beiras das estradas
essas coisas de tudo tão cansadas
a ver quem passa se matar nas curvas
e quem chega não encontrar nenhuma
a se aguardar num sol já quase posto
que não se acabem os invernos de agosto
que as noites vindas já não tenham fim
que sempre fosse sempre fosse assim
e que se achasse em sangue o amor já morto
ao soprar de asas de um voar de corvo
todas aquelas coisas sossegadas
que já viram Deus e só são fantasmas
que desceram para tomar um vinho
e quando viram vinha o Fim sozinho
02 fevereiro 2019
Carniça
“confia nos homens
e em sua justiça...”
dizia-me um mísero
pagando seu dízimo
em meio à imundícia
dizia-me um “justo”
pingando seu cuspo
em meio à cobiça
dizia-me um “santo”
babando seu canto
em meio à malícia
“espera dos homens
só sua carniça...”
dizia-me um Corvo
na carne de um morto
fazendo justiça
e em sua justiça...”
dizia-me um mísero
pagando seu dízimo
em meio à imundícia
dizia-me um “justo”
pingando seu cuspo
em meio à cobiça
dizia-me um “santo”
babando seu canto
em meio à malícia
“espera dos homens
só sua carniça...”
dizia-me um Corvo
na carne de um morto
fazendo justiça
31 janeiro 2019
O Deprimente Primeiro Mês de Bolsonaro
107 mulheres assassinadas por homens EM 2019, ou seja, em um mês. 99 mortos e 259 desaparecidos num desastre causado por uma mineradora PRIVATIZADA, enquanto o "presidente" defende a EXPANSÃO da mineração e da privatização.
O ministro do Meio Ambiente foi CONDENADO por favorecer uma mineradora. O "presidente" foi eleito com o apoio de mineradoras, grandes empresas sonegadoras e ruralistas sedentos de agrotóxicos e devedores do governo. Dezenas de agrotóxicos altamente venenosos foram liberados por Bolsonaro.
Essas grandes empresas patrocinaram uma enxurrada de mentiras (fake news) e ameaçaram funcionários para votarem no Jair Messias. Com menos de um mês de governo, o "presidente" tem sua família atolada até o nariz por denúncias de corrupção.
O ministério desse "presidente" é formado por corruptos, investigados ou já condenados, por loucas ( a Damares, quem é que coloca um ser sem nenhum fundamento desses em qualquer cargo? Só o Bolsonaro), ignorantes e racistas, e é uma cagada ou gafe atrás da outra.
O "presidente" tá mais perdido que o Bolsonaro na presidência: não sabe o que faz, só fala merda e mais volta atrás do que faz alguma coisa. E quando faz, só favorece aos ricos e aos já privilegiados. Nenhuma, NENHUMA medida, até agora, que favoreça os pobres e trabalhadores. Ruralistas invadindo e devastando reservas ambientais, e a caça de animais silvestres correndo solta (pior que antes).
E, agora, madeireiros invadem reservas indígenas para matar índios aos gritos de "Agora é Bolsonaro!". De fato, agora é Bolsonaro. E vocês estão vendo no que está dando. E é só o começo.
28 janeiro 2019
Ah, O Progresso
Poema escrito e publicado originalmente em 24 de janeiro de 2018.
"há quem passe pelo bosque
e só veja lenha para a fogueira” (Tolstói)
há quem sente na grama dos campos
e só veja escavações para minérios
(ah, o progresso)
há quem observe uma cascata de águas
e só veja inundações para hidrelétricas
(ah, mais progresso)
há quem mire no olhar do tigre
como um inimigo a ser massacrado
e substituído o mistério que vem da vida
pelo lucro que vem da máquina
(tanto progresso)
há quem olhe para o céu
e só veja seca ou chuva
para a lavoura de soja
(quanto progresso)
arrebentar planeta e humanidade
para encher os cofres de um punhado
dos homens que fazem
dos homens de bem
(quanto cansaço)
amém
"há quem passe pelo bosque
e só veja lenha para a fogueira” (Tolstói)
há quem sente na grama dos campos
e só veja escavações para minérios
(ah, o progresso)
há quem observe uma cascata de águas
e só veja inundações para hidrelétricas
(ah, mais progresso)
há quem mire no olhar do tigre
como um inimigo a ser massacrado
e substituído o mistério que vem da vida
pelo lucro que vem da máquina
(tanto progresso)
há quem olhe para o céu
e só veja seca ou chuva
para a lavoura de soja
(quanto progresso)
arrebentar planeta e humanidade
para encher os cofres de um punhado
dos homens que fazem
dos homens de bem
(quanto cansaço)
amém
27 janeiro 2019
Dia de Ira (ao Réquiem de Mozart)
Hoje, 263 anos de Wolfgang Amadeus Mozart. Republico o poema a seguir:
Dies irae, dies illa
solvet saeclum in favilla
I - carta enviada ao destino
sem selo
vida esvaziada de humanos
sem sê-lo
II - algo estrago de raio e fogo
se gatilha no olho e no logus
relâmpago do tigre
III - homem com sede de fome
que há muito morreu de sua sede
e se perdeu de seu nome
IV - algo sangue no oculto do sol
se vermelha entre buracos de estrelas
sendo aves de outros planetas
ou graves de surdos sonetos
V - corvoos por todos os pânicos
carvões por todos os prados
cor vãs por todos os pratos
rãs-águas por todos os túmulos
se réquiam os destinos
por cartas marcadas
com o número 626
de Mozart
24 janeiro 2019
Poesia Pós-Vida
a minha poesia engasgada e asfixiada
por um pedaço de plástico na goela
a minha poesia com as tripas de fora
e a cabeça esmagada numa rodovia
a minha poesia com a cabeça arrancada
e sendo mostrada em vídeos na internet
a minha poesia respirando agrotóxico
atolada na areia de um rio assoreado
do lado do sem fim de uma lavoura de soja
a minha poesia abatida a tiros
junto com seus quatro filhotes
a minha poesia com uma pata atorada
e a outra presa numa armadilha
a minha poesia espalhando rios de sangue
com a barriga aberta sobre uma praia
a minha poesia tombada por uma motosserra
e virando cinzas no meio do mato esvaído
a minha poesia transformada em esgoto
e em lixões sem fim a céu aberto
a minha poesia sem ar e sem penas
agonizando num pedaço de cano
para ser vendida para ricos
a minha poesia morta e com os pedaços arrancados
para servir de amuletos a milionários chineses
a minha poesia transformada em deserto
a minha poesia perdendo minha alma
por um pedaço de plástico na goela
a minha poesia com as tripas de fora
e a cabeça esmagada numa rodovia
a minha poesia com a cabeça arrancada
e sendo mostrada em vídeos na internet
a minha poesia respirando agrotóxico
atolada na areia de um rio assoreado
do lado do sem fim de uma lavoura de soja
a minha poesia abatida a tiros
junto com seus quatro filhotes
a minha poesia com uma pata atorada
e a outra presa numa armadilha
a minha poesia espalhando rios de sangue
com a barriga aberta sobre uma praia
a minha poesia tombada por uma motosserra
e virando cinzas no meio do mato esvaído
a minha poesia transformada em esgoto
e em lixões sem fim a céu aberto
a minha poesia sem ar e sem penas
agonizando num pedaço de cano
para ser vendida para ricos
a minha poesia morta e com os pedaços arrancados
para servir de amuletos a milionários chineses
a minha poesia transformada em deserto
a minha poesia perdendo minha alma
21 janeiro 2019
Se Você Estiver no Rio Grande do Sul
a Mão da Morte está presente
para onde quer que se olhe:
eu poderia dar alguns exemplos
onde tocam os milhares de dedos
da mão infinita da morte
se você estiver no Ártico
você verá a mão da morte
no derretimento de titânicas geleiras
toneladas e toneladas de monumentos desmoronados
se você estiver na África
você verá a mão da morte
no massacre brutal de elefantes
milhares e milhares de gigantes assassinados
se você estiver no Sudeste Asiático
você verá a mão da morte
na devastação de exuberantes florestas tropicais
quilômetros e quilômetros de imensidões tombadas
se você estiver no Oceano Pacífico
você verá a mão da morte
em turbilhões e turbilhões de mares entupidos
de lixo e plástico
universos e universos de vida aquática
asfixiados por nossa quinquilharia
se você estiver na China
você verá a mão da morte
no peso dos ares cinzentos de poluição
céus e mais céus irrespiráveis de horror
se você estiver no Rio Grande do Sul
você verá a mão da morte
nos hectares e mais hectares de lavouras de soja
atulhados de venenos
campos e mais campos
que já não são mais campos nem matas nem nada
só a desolação sem vida de um deserto verde
de dinheiro
para onde quer que se olhe:
eu poderia dar alguns exemplos
onde tocam os milhares de dedos
da mão infinita da morte
se você estiver no Ártico
você verá a mão da morte
no derretimento de titânicas geleiras
toneladas e toneladas de monumentos desmoronados
se você estiver na África
você verá a mão da morte
no massacre brutal de elefantes
milhares e milhares de gigantes assassinados
se você estiver no Sudeste Asiático
você verá a mão da morte
na devastação de exuberantes florestas tropicais
quilômetros e quilômetros de imensidões tombadas
se você estiver no Oceano Pacífico
você verá a mão da morte
em turbilhões e turbilhões de mares entupidos
de lixo e plástico
universos e universos de vida aquática
asfixiados por nossa quinquilharia
se você estiver na China
você verá a mão da morte
no peso dos ares cinzentos de poluição
céus e mais céus irrespiráveis de horror
se você estiver no Rio Grande do Sul
você verá a mão da morte
nos hectares e mais hectares de lavouras de soja
atulhados de venenos
campos e mais campos
que já não são mais campos nem matas nem nada
só a desolação sem vida de um deserto verde
de dinheiro
19 janeiro 2019
Presidente Bozoasno
um palhaço bagaço
cagaço e arrego
entre piadas e babacas
cagadas cloacas
mamatas nas tetas
patriota?
um pateta
entre patotas
de patos
um milico pinico
hipócrita cômico
de circo pocilga de charco
um fraco um asco um asno
um burro um tosco um bozo
um Fiasco.
cagaço e arrego
entre piadas e babacas
cagadas cloacas
mamatas nas tetas
patriota?
um pateta
entre patotas
de patos
um milico pinico
hipócrita cômico
de circo pocilga de charco
um fraco um asco um asno
um burro um tosco um bozo
um Fiasco.
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