se eu escrever otimismos e autoajudas
não terei escrito coisa nenhuma
se eu disser que passarei a mão na cabeça do leitor
nem terei sido escritor
literatura não se faz com sorrisos e gestos de coraçãozinho
não se escreve sob céu azul
não se pensa sobre a vida assistindo a comédias românticas
literatura é o incômodo o soco no estômago
o ácido do limão o punhal revirando a ferida
a provocação para que se reaja
quero literatura que não me iluda com esperanças
mas que me jogue na cara a minha merda
que não me fale do meu sucesso ou qualidades
mas que me escancare meu verme e arranque minha máscara
a humanidade caminha para o abismo
porque ninguém quer enxergar o seu abismo particular
as pessoas reprimem sua dor suas debilidades seus erros
ao invés de aprender com eles
a literatura tem que me mostrar que o mal do mundo sou eu
que não é o meu vizinho mas sou eu quem destrói o planeta
quero literatura que me diga que estou morto
para que eu perceba que não vivo
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