08 novembro 2008

A Doença da Luz (ou O Relato de Carlos Walter Mann) - Cap. V

Meados de dezembro de 2024 - Acredito que o acontecimento derradeiro foi em dezembro, pelo menos foi o que posteriormente os senhores me relataram. Sinceramente, não sei como chegamos vivos até aquele dia. Recordo vagamente de que consegui abater um boi que surgiu em nossa propriedade, e foi comendo sua carne que sobrevivemos. O frio era insuportável, abaixo de -10ºC, com certeza, embora não houvesse como eu saber a temperatura exata. A água do poço estava congelada. Já prevendo que isso ocorreria, armazenamos dentro de casa grandes quantidades de água. Para nos aquecermos e cozinhar, fomos obrigados a queimar nossos próprios móveis. Creio que nos últimos dias chegamos a comer carne crua.

A maior parte da luz solar era impedida de chegar à Terra devido à interposição do imenso planeta vermelho. Os dias eram sombrios, desolados, nevoentos, e afligia-nos psicologicamente de forma arrebatadora. Passávamos a maior parte do tempo dormindo, por fraqueza e para conservarmos o que nos restava de energia. Mal consigo lembrar desses dias infaustos. Só sei que quando dormíamos, éramos assediados por pesadelos insanos e indescritíveis. Imagens nebulosas de horrores, de morte, de epidemias, de genocídios, de loucuras, de guerras, de catástrofes ambientais naturais e provocadas pela mão humana vinham-me à mente e à de Carolina, durante nosso sono perturbado. Creio que eram como visões do que aconteceu ou acontecia com o restante da humanidade.

Foi então que em uma noite de funesto silêncio, fomos acordados de nosso sono agourento por dois homens estranhos. Mal consigo lembrar-me do que vi, tamanho era nosso abatimento. Estávamos realmente próximos da morte. Eles carregaram-nos no colo até uma espécie de avião ou helicóptero desconhecido muito luminoso que estava nos fundos de nossa propriedade. Deitaram-nos em camas estranhas e nos deram algo igualmente estranho para beber, um líquido pastoso de sabor muito forte. Então, voltamos a adormecer quase que de forma imediata.

05 de janeiro de 2025 - Foi o dia em que acordamos. Enigmaticamente, dormimos de forma ininterrupta por duas semanas. Nossos sonhos agora eram povoados por visões de paz e de belezas deslumbrantes, em um ambiente desconhecido, porém livres de horrores e tormentos. Quando despertamos, não sabíamos onde estávamos. Então vieram até nós um homem e uma mulher altos e de bondosa aparência, com uma fisionomia um pouco estanha, no entanto. Deram-nos de comer e de beber. O lugar em que nos encontrávamos consistia em algo como uma pequena casa de madeira simples, muito limpa e organizada.


Era manhã, e o sol raiava lá fora com toda sua força e plenitude. A temperatura era agradável, e ouvíamos o canto de dezenas de pássaros, alguns conhecidos, outros não. Sentíamo-nos muito bem, tanto física quanto psicologicamente. Os terrores que havíamos vivenciado pareciam ser apenas pesadelos já superados... Não compreendíamos por que estávamos naquele local desconhecido, mas o casal que se encontrava conosco tranqüilizou-nos dizendo para aguardarmos que logo tudo seria explicado, ou pelo menos tudo o que deveríamos saber. Decidimos então esperar e não fazer nenhum questionamento por enquanto.

Após nos sentirmos revigorados pela nutritiva refeição, saímos do aposento e fomos conhecer os arredores. O lugar era como uma pequena cidade, talvez uma aldeia, aparentemente isolada entre belos montes cobertos por densas florestas por um lado e vastos campos verdejantes por outro. Avistávamos algumas pessoas nas pequenas ruas da aldeia, nenhuma conhecida. Ouvíamos vozes articuladas em outras línguas, entre elas o espanhol. Não divisávamos nas ruas nenhum tipo de automóvel, apenas carroças e charretes puxadas por cavalos ou bois. O clima era um tanto medieval e estranho, contudo, de profunda paz e serenidade. Sentamos em um gramado para conversarmos sobre o que presenciávamos.
(Continua...)

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