- eu mesmo. Satã, se preferir.
- e Lúcifer não?
- melhor não, ficou muito pop.
- bom, se tu diz que é, a essas horas da madrugada, foda-se, já vale uma conversa. mas então, Satã, o que fazes por aqui?
- por aqui onde? no bar ou no mundo?
- nos dois.
- no bar, vim, como tu, tomar uma dose de whisky barato. embora o teu seja ainda mais barato que o meu. como tu consegue beber essa gasolina? no mundo, porque me sinto tão à vontade quanto no Inferno. as diferenças são cada vez menores. como diria o poeta se referindo à noite: aqui é o meu lugar.
- entendi. e tem um lugar aqui no mundo que seja o teu preferido?
- tem, o coração das pessoas.
- e nesse lugar tu não dá de cara com Deus?
- cara, vou te responder assim: Deus é amor. eu, Satã, eu NÃO te amo. aqui tu tem duas afirmações. qual dessas duas afirmações tu acha que combina melhor com as pessoas em geral?
- é... parando pra pensar... mas as pessoas vão protestar, elas acham que amam e que têm Deus no coração.
- bom, aí é como escreveu aquele poeta bêbado (se bem que a expressão "poeta bêbado" é um pleonasmo" kkk), o Bukowski: "a multidão sempre esteve errada e sempre estará errada". a multidão é as pessoas. então...
- cara, faz de conta que isso é uma entrevista pra televisão. tu, sendo Satã, que mensagem deixaria pra humanidade, em poucas palavras?
- horror com horror se paga.
- foda! mais uma dose?
- óbvio, um escocês agora, eu pago.