O gênio da literatura francesa Honoré de Balzac (1799-1850) dispensa apresentações. É um dos maiores romancistas de todos os tempos e realizou em sua obra uma profunda e coerente união entre o romantismo e o realismo, sendo um precursor da escola realista. Escreveu quase uma centena de romances. Não conheço todos, mas entre os vários que li destaco como melhor, na minha opinião, o magnífico Ilusões Perdidas. Trata-se de uma obra monumental em todos os sentidos (a edição que possuo tem quase 700 páginas).
Pois nesse romance, entre outros temas, Balzac realiza uma profunda e devastadora crítica da mídia da época, particularmente dos jornais e seus jornalistas, mídia que se encontrava em definitiva ascensão. Crítica perfeitamente válida para nossos dias. O próprio jornalista Juremir Machado da Silva em sua coluna no jornal Correio do Povo afirmou, há alguns meses, que Ilusões Perdidas é a "bíblia da crítica de mídia" e aconselhou todos os estudantes de jornalismo a estudarem a obra de Balzac. Eu aconselho o mesmo.
Nesse livro, o romancista francês acusa de forma direta, sustentada e impiedosa a mídia jornalística de assassinar os verdadeiros talentos, de tentar impedir o desenvolvimento da genialidade, de manipular os interesses da sociedade para disseminar suas ideias egoístas, de entronizar tudo o que é medíocre, de fazer procriar a hipocrisia e a vaidade, enfim... a verdade é que Balzac odiava os jornalistas. Certamente, deve haver jornalistas bons e maus. Em Ilusões Perdidas, o estudante de jornalismo aprenderá a não ser um dos maus profissionais. Estou certo que a maioria dos jornalistas brasileiros não leu essa obra. A seguir , alguns dos trechos do livro a respeito do jornalismo:
"O jornal, em vez de ser um sacerdócio, tornou-se um meio para os partidos, e de um meio passou a ser um negócio. Não tem fé nem lei. (...) Um jornal não é feito para esclarecer, mas para lisonjear as opiniões. Desse modo, todos os jornais serão, dentro de algum tempo, covardes, hipócritas, infames, mentirosos, assassinos. Matarão as ideias, os sistemas, os homens, e, por isso mesmo, hão de tornar-se florescentes."
"O jornal pode permirtir-se o procedimento mais atroz, ninguém se julga pessoalmente conspurcado com isso. (...) Assim, digamos que o rei faça o bem. Se o jornal for contra ele, tera sido o ministro quem fez tudo, e reciprocamente. Se o jornal inventa uma calúnia infame, foi alguém que lhe sussurrou. (...) E pode, ao fim de algum tempo, fazer acreditar tudo o que quiser às pessoas que o leem todos os dias. Depois, nada que o desgoste será patriótico, e ele não errará jamais. (...) O jornal, governado pelos medíocres, servirá o próprio pai cru, sem mais tempero que o sal de seus gracejos, de preferência a deixar de interessar ou divertir seu público."
E isso é só um minúsculo exemplo do que há no livro. Se relacionarmos tais palavras não só com os jornais propriamente ditos, mas também com as revistas e com as redes de televisão dos dias de hoje não temos aqui a verdade nua e crua? É, o tempo mudou. Essa é a evolução...