quem busca a felicidade
jamais a encontra
e muito menos a encontra
quem a encontra na busca
a felicidade não se busca
porque não pode ser buscado
o que não está em um ponto
a ser alcançado
quem alcança o ponto almejado
logo vê o outro ponto mais adiante
e naquele ponto visto e não-chegado
mora a felicidade imaginada
e delirante
quem feliz futilmente se julga
apenas um largo gole de vinho
traga:
segura uma vela de chama fugaz
que a primeira ventania
fatalmente apaga
a felicidade
é como para o colecionador
o ato de encontrar
um raro selo:
só dura o momento do ato
só pode ser feliz
quem sabe que não pode sê-lo
de fato
30 janeiro 2010
29 janeiro 2010
Fernando Pessoa e seus Passos da Cruz V
Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 6º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "A Morte de Ofélia" de Millais.
Passos da Cruz - Soneto V
Tênue, roçando sedas pelas horas,
Teu vulto ciciante passa e esquece,
E dia a dia adias para prece
O rito cujo ritmo só decoras...
Um mar longínquo e próximo umedece
Teus lábios onde, mais que em ti, descoras...
E, alada, leve, sobre a dor que choras,
Sem querer saber de ti a tarde desce...
Erra no anteluar a voz dos tanques...
Na quinta imensa gorgolejam águas,
Na treva vaga ao meu ter dor estanques...
Meu império é das horas desiguais
E dei meu gesto lasso a algas mágoas
Que há para além de sermos outonais...
28 janeiro 2010
Sobre a Casa do Poeta: e-mail enviado a Júlio Prates
Prezado Júlio: a divulgação para a mídia não cabia a mim, não era minha função, e, com toda a sinceridade, não sei como ela foi feita. Apenas divulguei em meu blog, e convidei assim a todos os meus leitores, deixei isso bem claro em minhas postagens. Convites particulares para eventos desse tipo eu não mando e nunca vou mandar, pois entendo que convites individuais para essa categoria de evento não são necessários. E eu não afirmei que não houve envolvimento de recursos públicos em nenhum momento. Mas não fui eu quem os buscou, até porque, sempre que fui buscá-los como auxílio para meus livros, foram-me negados, enquanto para outros, foram dados. Para os seus foram dados? Faço a mesma pergunta que você me fez. Por que para uns sim e para outros não? Isso não é também uma panelinha? Por que você não fala também desse tipo de panelinha? Ou da panelinha do Expresso? Eu não ando atrás de ajuda de políticos para nada, não sou responsável pela busca de recursos dentro da Casa do Poeta. Sou o diretor de Literatura. Posso falar de qualquer político porque não tenho o rabo preso com nenhum deles. Falo inclusve de nosso prefeito atual: ele gosta muito de usar o nome de Terra dos Poetas, mas na hora de apoiar efetivamente os poetas que produzem em nossa terra, e eu não tenho medo de dizer que atualmente sou um dos poetas mais produtivos de Santiago e um dos que mais têm divulgação fora daqui, na hora de ajudar os poetas, ele não o faz. No meu caso, não o fez.
Você diz que é necessário dar ciência à sociedade da diretoria da Casa dos Poetas. Até onde sei, foi dado, de acordo com as possibilidades da Casa, inclusive financeiras. Só que a sociedade também não se interessa em saber. E você diz que não pode se enfiar nas reuniões da diretoria sem ser convidado. Claro que não, você não faz parte da diretoria. E eu não disse que você poderia participar delas. Disse que você pode participar de qualquer evento aberto, como cafezinhos literários e o fórum sem necessitar de convite individual. Pode participar e expor todas as suas opiniões sobre a Casa. Pode participar e se associar a qualquer momento, e uma vez sócio, pode formar uma chapa para formar uma diretoria para concorrer na próxima eleição. Se você tem argumentos contra a Casa, por favor, participe do próximo cafezinho e exponha seus argumentos para todos nós. Eu mesmo o avisarei de quando for ocorrer o próximo cafezinho. Gostaria muito que você participasse, pois admiro muito todo seu senso crítico.
Você diz que é necessário dar ciência à sociedade da diretoria da Casa dos Poetas. Até onde sei, foi dado, de acordo com as possibilidades da Casa, inclusive financeiras. Só que a sociedade também não se interessa em saber. E você diz que não pode se enfiar nas reuniões da diretoria sem ser convidado. Claro que não, você não faz parte da diretoria. E eu não disse que você poderia participar delas. Disse que você pode participar de qualquer evento aberto, como cafezinhos literários e o fórum sem necessitar de convite individual. Pode participar e expor todas as suas opiniões sobre a Casa. Pode participar e se associar a qualquer momento, e uma vez sócio, pode formar uma chapa para formar uma diretoria para concorrer na próxima eleição. Se você tem argumentos contra a Casa, por favor, participe do próximo cafezinho e exponha seus argumentos para todos nós. Eu mesmo o avisarei de quando for ocorrer o próximo cafezinho. Gostaria muito que você participasse, pois admiro muito todo seu senso crítico.
Como disse, de minha parte, a Casa do Poeta estará sempre aberta a todos que quiserem participar. Mas convites particulares, em meu nome, ninguém vai receber. Se vai receber em nome de outros membros da diretoria ou da presidência, isso é com eles.
Sobre a Casa do Poeta de Santiago: eu não formo panelinhas.
Não sou homem de cobrar nada dos outros. E detesto que cobrem de mim. Os únicos que devem ser cobrados sem tréguas são os políticos, pois em sua maioria são parasitas que vivem e enriquecem à custa do dinheiro, do sofrimento e da ignorância do povo.
Dito isso, não concordo com cobranças para com aqueles que não foram ao Fórum de Literatura promovido pela Casa do Poeta de Santiago, entre outras instituições. Quem não quer ir, não vai, ninguém é obrigado. Eu mesmo não fui em vários eventos ditos literários. Se eu não quero, não vou.
Mas também não concordo com o julgamento do amigo Júlio Prates de que era necessáro convite particular para ir ao evento. O evento era aberto para todo mundo, nunca foi fechado ou eletista como ele afirma. Os convites particulares podem ou não ser enviados nesse caso. Não é algo imprescindível, muito pelo contrário, a maioria das pessoas que foram não receberam convites particulares. Eu, sendo parte da diretoria, não enviei convite para ninguém. Não sei se o presidente, o Pasini, enviou. Se enviou, ele tinha o direito, e eu não tenho nada a ver com isso. O Pasini tem o pensamento dele, e eu, o meu. Eu não o fiz porque julgo que seria uma forma de pressão para com a pessoa, e detesto pressões. Qualquer um era livre para ir ou não. O evento foi divulgado a todos, eu mesmo divulguei em meu blog várias vezes. Não era um lançamento particular de livro, que aí sim necessitaria de convite.
Quem quisesse participar, bastaria chegar ao local, fazer a inscrição, que seria muito bem recebido. E se quisesse vender seus livros ali, era só falar comigo mesmo, eu era o responsável para isso, junto com o Luiz Paulo Milani, outro membro da diretoria. Mas não enviei convites para tanto. A ninguém. Isso era aberto a todos os participantes do evento. Para que convites particulares para um evento que era aberto a toda a sociedade? Isso sim seria eletista.
E não sei por que essa história de que a Casa do Poeta é uma panelinha, se todos podem participar dos cafezinhos literários, e de qualquer outro evento, sem precisar fazer parte da Casa, sem precisar se associar, sem precisar de nada. Basta ir e expor sua opinião, o seu pensamento, o seu sentimento, a sua obra. E se quiser continuar a ir sem se associar, pode fazê-lo. E se quiser se associar, na hora mesmo isso será feito. Liberdade total e absoluta. Falta divulgação dos dias e horários dos cafezinhos? Talvez poderia haver uma divulgação maior por parte da imprensa, pois a divulgação é feita pela internet. Por que a imprensa não divulga? Panelinha é o que ocorre, por exemplo, no jornal Expresso Ilustrado, que possui a coluna Rotação Literária da qual fui proibido de participar pelo chefe do jornal. No entanto, o chefe desse jornal pode, tranquilamente, participar da Casa do Poeta.
Será que não gostam da diretoria da Casa do Poeta? Tudo bem, ninguém é obrigado a gostar dela. Se alguém quiser mudar a diretoria, basta se associar à Casa e compor uma chapa. Qualquer santiaguense pode fazer isso, basta se associar. A associação é muito barata, apenas três reais por mês. Não cobre nem as despesas da Casa. Qualquer um pode se associar, seja escritor ou não. Depois haverá a eleição. E todos os sócios votam. Quem não vai é porque não quer, não por falta de conhecimento, ou por qualquer outro impedimento. E se ainda não tinha conhecimento, agora está tendo. E se não quer ir, não serei eu que irei pressionar a fazê-lo. Nunca o farei.
Não posso admitir que afirmem que faço parte de uma panelinha. Detesto panelinhas, e sempre lutei contra elas. Lutei, sozinho diga-se de passagem, contra a panelinha formada pelo Oracy Dornelles e seus sequazes em torno da literatura em Santiago. Não será agora que formarei uma panelinha, ou que contribuirei para que ela se forme. Apenas não sou uma pessoa de andar atrás dos outros para que façam isso ou aquilo. Se alguém quiser participar da Casa do Poeta, de minha parte, será absolutamente muito bem recebido. Quem quer que seja. Inclusive o Oracy. Eu mesmo farei a associação. O convite está feito. Mas se não quiser, eu não irei correr atrás. E ponto final.
27 janeiro 2010
Poema Leve
minha obra que é nada leve
deixo que o furacão a leve
leve com tudo que a mim é nada
leve de nada que no fundo é tudo
que do todo não vivo me livro
como a mais trágica página
arrancada do mais trágico livro
que se apague essa funesta vela
o olhar sentença que meu sonho vela
arraste o meu peito em lava
às correntezas onde a água o lava
a água livre de lavado pranto
deixo que leve leve em descanso
a minha alma a nadar em vale
a minha a alma que nada vale...
deixo que o furacão a leve
leve com tudo que a mim é nada
leve de nada que no fundo é tudo
que do todo não vivo me livro
como a mais trágica página
arrancada do mais trágico livro
que se apague essa funesta vela
o olhar sentença que meu sonho vela
arraste o meu peito em lava
às correntezas onde a água o lava
a água livre de lavado pranto
deixo que leve leve em descanso
a minha alma a nadar em vale
a minha a alma que nada vale...
25 janeiro 2010
Imortal
imortal
amor
amor tal
amoral
mal
amortal
imorre douro
que morre
sem ouro
imoral
não d’ouros
não duras
aah amor tal
amor tão...
em vão...
aah!
ah mortal!
amor
amor tal
amoral
mal
amortal
imorre douro
que morre
sem ouro
imoral
não d’ouros
não duras
aah amor tal
amor tão...
em vão...
aah!
ah mortal!
23 janeiro 2010
A Lenta Morte da Mulher Bela - Final
Os gritos da bela mulher não eram reações desesperadas somente às suas dores excruciantes, mas ela reagia também às terríveis chagas que surgiam em todo o seu corpo e sangravam de forma inclemente, espargindo um sangue pútrido e mau-cheiroso, que se derramava por toda a cama, maculando os brancos lençóis e carregando o ar impuro de pestilentas emanações. As chagas desapareciam com o passar dos arrastados dias, mas sempre retornavam, cada vez piores, em cores mórbidas que iam do vermelho, ao roxo e finalmente ao negro.
E as pessoas ali respiravam aquela atmosfera mefítica, com uma imbecil tranquilidade sorridente. A mulher ardia em febre, e sua febre irradiava-se pelo ar, elevando a temperatura gradativamente. Ondas de enfermidade visivelmente partiam de seus entristecidos olhares de negras olheiras. Suas lágrimas não cessavam de escorrer como orvalhos de desgraça por seus miríficos cabelos negros. Sua face pálida e cadavérica implorava por misericórdia. No entanto, aqueles que viviam em seu quarto apresentavam um comportamento tão estúpido, tão indiferente, tão agressivo e miserável, que faziam, ainda que inconscientemente, com que a moléstia da mulher se agravasse ainda mais.
Em um instante soou um luto deprimente. E nas atmosferas ensombrecidas, mornas de enfermidade, densas de pesadelos, assomou pelo ambiente degradado a tensão desesperada de uma trágica marcha fúnebre. E suas notas noturnas vibravam como sinos agourentos de palpáveis maldições. Simultaneamente, adejaram pela janela as asas de um corvo que surgiu da noite distante, do espaço longínquo, e fitou seus olhos fundos de sentenças nas pessoas que ali no quarto estavam. O corvo assemelhava-se a um anjo. Trazia uma carta no bico.
Às vezes, os dias transcorriam em aparente serenidade. A serenidade funesta que antecede as mais devastadoras tormentas. E nos dias lentos, rastejantes, de tensão insuportável, relâmpagos e trovões, por vezes distantes, por vezes próximos, espargiam horrores e deixavam um odor ominoso pelo ambiente do quarto. E o clima obscurecia-se paulatinamente.
Ataques golfejantes de tosse assediavam os pulmões da bela mulher. Golfadas espessas de sangue espalhavam-se por todo o aposento. Um catarro amarelecido descia canhestramente de seu nariz. Ela debatia-se e revirava-se na cama inundada de um suor ardente, pegajoso e febril.
Pela janela semiaberta do quarto, uma estranha luminosidade avermelhada penetrou no ambiente de dúvidas e desesperos adejantes. A bela mulher desvairava, inebriada das mais absurdas catástrofes. Contorcendo-se de dor em todos os seus órgãos, ela levava as mãos amareladas e ressequidas, de veias proeminentes, à cabeça que latejava freneticamente.
Um sopro anômalo e rubro de sangue entrou com diabólica violência pela janela entreaberta. Tal sopro deve ter afetado a sanidade da bela mulher. Agonizante, como um furacão ela redobrou suas forças para erguer-se da cama sanguinolenta. Insana, descontrolada, enlouquecida, ela agarrou com suas mãos crispadas, de unhas crescidas e ensanguentadas, um por um o pescoço daqueles que viviam em seu quarto e os estrangulou com fúria alucinante. Nove dos dez moradores do quarto foram mortos dessa forma. Apenas aquela mulher que sinceramente tentava ajudar a bela enferma foi poupada. E, nesse instante, uma tênue fagulha de vida refulgiu em seus enormes olhos verdes. E o nome da bela mulher era Terra.
E as pessoas ali respiravam aquela atmosfera mefítica, com uma imbecil tranquilidade sorridente. A mulher ardia em febre, e sua febre irradiava-se pelo ar, elevando a temperatura gradativamente. Ondas de enfermidade visivelmente partiam de seus entristecidos olhares de negras olheiras. Suas lágrimas não cessavam de escorrer como orvalhos de desgraça por seus miríficos cabelos negros. Sua face pálida e cadavérica implorava por misericórdia. No entanto, aqueles que viviam em seu quarto apresentavam um comportamento tão estúpido, tão indiferente, tão agressivo e miserável, que faziam, ainda que inconscientemente, com que a moléstia da mulher se agravasse ainda mais.
Em um instante soou um luto deprimente. E nas atmosferas ensombrecidas, mornas de enfermidade, densas de pesadelos, assomou pelo ambiente degradado a tensão desesperada de uma trágica marcha fúnebre. E suas notas noturnas vibravam como sinos agourentos de palpáveis maldições. Simultaneamente, adejaram pela janela as asas de um corvo que surgiu da noite distante, do espaço longínquo, e fitou seus olhos fundos de sentenças nas pessoas que ali no quarto estavam. O corvo assemelhava-se a um anjo. Trazia uma carta no bico.
Às vezes, os dias transcorriam em aparente serenidade. A serenidade funesta que antecede as mais devastadoras tormentas. E nos dias lentos, rastejantes, de tensão insuportável, relâmpagos e trovões, por vezes distantes, por vezes próximos, espargiam horrores e deixavam um odor ominoso pelo ambiente do quarto. E o clima obscurecia-se paulatinamente.
Ataques golfejantes de tosse assediavam os pulmões da bela mulher. Golfadas espessas de sangue espalhavam-se por todo o aposento. Um catarro amarelecido descia canhestramente de seu nariz. Ela debatia-se e revirava-se na cama inundada de um suor ardente, pegajoso e febril.
Pela janela semiaberta do quarto, uma estranha luminosidade avermelhada penetrou no ambiente de dúvidas e desesperos adejantes. A bela mulher desvairava, inebriada das mais absurdas catástrofes. Contorcendo-se de dor em todos os seus órgãos, ela levava as mãos amareladas e ressequidas, de veias proeminentes, à cabeça que latejava freneticamente.
Um sopro anômalo e rubro de sangue entrou com diabólica violência pela janela entreaberta. Tal sopro deve ter afetado a sanidade da bela mulher. Agonizante, como um furacão ela redobrou suas forças para erguer-se da cama sanguinolenta. Insana, descontrolada, enlouquecida, ela agarrou com suas mãos crispadas, de unhas crescidas e ensanguentadas, um por um o pescoço daqueles que viviam em seu quarto e os estrangulou com fúria alucinante. Nove dos dez moradores do quarto foram mortos dessa forma. Apenas aquela mulher que sinceramente tentava ajudar a bela enferma foi poupada. E, nesse instante, uma tênue fagulha de vida refulgiu em seus enormes olhos verdes. E o nome da bela mulher era Terra.
(na imagem, o quadro "O Pesadelo", de Füssli.)
22 janeiro 2010
A Morte Lenta da Bela Mulher
A magnífica beleza daquela mulher deslumbrava a todos. Mesmo agora, gravemente doente, sua beleza ainda encantava. Mas um intenso sofrimento era plenamente visível em seu rosto de olhos fundos e encovados. Sua doença era verdadeiramente terrível, impiedosa, e, aos poucos, bem aos poucos, em uma extrema e quase imperceptível lentidão de brutal angústia, seu organismo ia sendo consumido pela absurda enfermidade. Era como a mais desolada e arrastada das marchas fúnebres.
Enfermidade que a definhava de uma forma digna da mais elevada comiseração. Seus sintomas algumas vezes surgiam, noutras, desapareciam por completo. Porém, quando retornavam, eram ainda mais violentos. Dores insuportáveis em todas as partes do corpo. Ela chorava copiosamente nestes momentos. Mas o que assombrava ainda mais era a inexplicável indiferença com que quase todos observavam a sua agonia.
Das dez pessoas que viviam em seu quarto, apenas uma delas sentia verdadeira piedade ao vê-la morrer de maneira tão lenta e sofrível. As outras aparentavam não se dar conta da devastadora desolação que acometia a bela e pobre mulher. No entanto, todos afirmavam que conheciam sua doença, que sabiam de suas causas a fundo e que possuíam a cura para a pavorosa e fatal enfermidade. Consideravam-se médicos de extrema perspicácia e inteligência. Havia até alguns que diziam que a doença não era grave, que seria facilmente curada e que exageravam no julgamento da intensidade de seus sintomas. Mas ainda não a haviam curado, apesar de todas as tentativas de fazê-lo, tentativas em realidade estúpidas, vergonhosamente insuficientes, enfim, absolutamente inúteis.
Todos os dez indivíduos também afirmavam com total segurança que conheciam o fato de que eles, todos eles, eram os responsáveis, os culpados pela bela mulher agora se encontrar enferma. Sim, a moléstia que a afetava foi causada pelas dez pessoas que viviam em seu quarto. Viviam em seu quarto e dependiam da bela mulher para tudo, para absolutamente tudo, inclusive para viver. Não viveriam sem ela. Daí então a urgente necessidade de curá-la. Se ela morresse, todos os dez morreriam com ela.
De modo que assombrava, era quase inacreditável a indiferença com que seus companheiros de quarto contemplavam a sobrenatural agonia que a passos de anômala marcha fúnebre levava aquela linda mulher a uma morte dolorosa e implacável. Algo realmente incompreensível. O que passaria pela mente dos cinco homens e das cinco mulheres que ali naquele quarto de doença viviam? O que passaria por seus sentimentos?
Talvez os moradores do quarto já estivessem tão habituados com a doença que causaram à mulher que já nem eram capazes de se emocionar com o vagaroso, lento, gradual sofrimento que ela irradiava. Havia ali somente uma pessoa que ainda agia intentando acender os sentimentos dos outros para que realmente tomassem consciência da iminente situação em que se encontravam. Porém, sempre inútil.
Mais e mais o clima reinante naquele quarto tornava-se pesado e nervoso. Sombras pesarosas iam surgindo dos cantos do ambiente carregado de densos espectros de ocaso. Lentamente, numa lentidão que parecia eterna. Em alguns momentos, luzes cintilavam em algumas pequenas reentrâncias quase ocultas que traziam consigo determinada esperança. Porém, em pouco tempo eram rapidamente subjugadas por nuvens escuras de uma fumaça de ignota origem.
Sistematicamente, a bela mulher em sua suprema agonia emitia gritos horripilantes, gemidos dilaceradores, que ensurdeciam e inflamavam os ouvidos dos seus companheiros de quarto, a ponto de sangrá-los. Mesmo assim, raramente se emocionavam, bem raramente...
Enfermidade que a definhava de uma forma digna da mais elevada comiseração. Seus sintomas algumas vezes surgiam, noutras, desapareciam por completo. Porém, quando retornavam, eram ainda mais violentos. Dores insuportáveis em todas as partes do corpo. Ela chorava copiosamente nestes momentos. Mas o que assombrava ainda mais era a inexplicável indiferença com que quase todos observavam a sua agonia.
Das dez pessoas que viviam em seu quarto, apenas uma delas sentia verdadeira piedade ao vê-la morrer de maneira tão lenta e sofrível. As outras aparentavam não se dar conta da devastadora desolação que acometia a bela e pobre mulher. No entanto, todos afirmavam que conheciam sua doença, que sabiam de suas causas a fundo e que possuíam a cura para a pavorosa e fatal enfermidade. Consideravam-se médicos de extrema perspicácia e inteligência. Havia até alguns que diziam que a doença não era grave, que seria facilmente curada e que exageravam no julgamento da intensidade de seus sintomas. Mas ainda não a haviam curado, apesar de todas as tentativas de fazê-lo, tentativas em realidade estúpidas, vergonhosamente insuficientes, enfim, absolutamente inúteis.
Todos os dez indivíduos também afirmavam com total segurança que conheciam o fato de que eles, todos eles, eram os responsáveis, os culpados pela bela mulher agora se encontrar enferma. Sim, a moléstia que a afetava foi causada pelas dez pessoas que viviam em seu quarto. Viviam em seu quarto e dependiam da bela mulher para tudo, para absolutamente tudo, inclusive para viver. Não viveriam sem ela. Daí então a urgente necessidade de curá-la. Se ela morresse, todos os dez morreriam com ela.
De modo que assombrava, era quase inacreditável a indiferença com que seus companheiros de quarto contemplavam a sobrenatural agonia que a passos de anômala marcha fúnebre levava aquela linda mulher a uma morte dolorosa e implacável. Algo realmente incompreensível. O que passaria pela mente dos cinco homens e das cinco mulheres que ali naquele quarto de doença viviam? O que passaria por seus sentimentos?
Talvez os moradores do quarto já estivessem tão habituados com a doença que causaram à mulher que já nem eram capazes de se emocionar com o vagaroso, lento, gradual sofrimento que ela irradiava. Havia ali somente uma pessoa que ainda agia intentando acender os sentimentos dos outros para que realmente tomassem consciência da iminente situação em que se encontravam. Porém, sempre inútil.
Mais e mais o clima reinante naquele quarto tornava-se pesado e nervoso. Sombras pesarosas iam surgindo dos cantos do ambiente carregado de densos espectros de ocaso. Lentamente, numa lentidão que parecia eterna. Em alguns momentos, luzes cintilavam em algumas pequenas reentrâncias quase ocultas que traziam consigo determinada esperança. Porém, em pouco tempo eram rapidamente subjugadas por nuvens escuras de uma fumaça de ignota origem.
Sistematicamente, a bela mulher em sua suprema agonia emitia gritos horripilantes, gemidos dilaceradores, que ensurdeciam e inflamavam os ouvidos dos seus companheiros de quarto, a ponto de sangrá-los. Mesmo assim, raramente se emocionavam, bem raramente...
Amanhã, o final.
(na imagem, o quadro "Mulher Morta" de Reinhardt Sobye)
21 janeiro 2010
I Fórum de Literatura e Meu Primeiro Livro de Poesias
Amanhã, dia 22/01/10, às 19h, ocorrerá, na câmara de vereadores de Santiago, a abertura do I Fórum de Literatura e II Encontro de Escritores do Mercosul. Ainda é possível realizar inscrições. É uma ótima oportunidade para os amantes da cultura. E até para os que não a amam tanto. Para maiores informações: http://www.casadopoetadesantiago.com.br/ . Confira no quadro acima o cronograma do evento.
Meu primeiro livro de poesias, intitulado Poemas do Fim e do Princípio, seria lançado durante o evento, mas infelizmente, por motivos de forças maiores, isso não será possível. O livro não ficou pronto a tempo. Ele está, no momento, sendo preparado pela editora Livros Ilimitados e deverá ser lançado no final de fevereiro ou, no máximo, no início de março. Contará com 246 poemas escolhidos dentro de minha produção dos últimos cinco anos, de acordo com critérios de qualidade e de temática por mim estabelecidos. A publicação do livro será uma inovação em Santiago dentro do campo literário. Tal inovação será conhecida no dia de seu lançamento.
20 janeiro 2010
Fernando Pessoa e Seus Passos da Cruz (IV)
Continuo postando os sonetos de Passo da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html. Na próxima semana, o 5º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "Mignon" de Von Schadow.
Passos da Cruz - Soneto IV
Ó tocadora de harpa, se eu beijasse
Teu gesto, sem beijar as tuas mãos!,
E, beijando-o, descesse p'los desvãos
Do sonho, até que enfim eu o encontrasse.
Tornado Puro Gesto, gesto-face
Da medalha sinistra - reis cristãos
Ajoelhando, inimigos e irmãos,
Quando processional o andor passasse!...
Teu gesto que arrepanha e se extasia...
O teu gesto completo, lua fria
Subindo, e em baixo, negros, os juncais...
Caverna em estalactites o teu gesto...
Não poder eu prendê-lo, fazer mais
Que vê-lo e perdê-lo!... E o sonho é o resto...
Passos da Cruz - Soneto IV
Ó tocadora de harpa, se eu beijasse
Teu gesto, sem beijar as tuas mãos!,
E, beijando-o, descesse p'los desvãos
Do sonho, até que enfim eu o encontrasse.
Tornado Puro Gesto, gesto-face
Da medalha sinistra - reis cristãos
Ajoelhando, inimigos e irmãos,
Quando processional o andor passasse!...
Teu gesto que arrepanha e se extasia...
O teu gesto completo, lua fria
Subindo, e em baixo, negros, os juncais...
Caverna em estalactites o teu gesto...
Não poder eu prendê-lo, fazer mais
Que vê-lo e perdê-lo!... E o sonho é o resto...
18 janeiro 2010
Poema Inebriado
e que no além seja tudo aquilo
que caí de ser além de tudo:
me deixando em tudo que não fui
seja minha arte o além mais alto...
o além de mais belo
do vasto que andei
chama que te li
tragos do que busco
ave que clarei
sempre que te bebo
mais do que te vejo
sonho que não li
beijo do que vou
verso mais que flor
olho que me noite
nada do que sou...
lá me alto e passo
lá sou só o que sinto:
céu e vinho tinto
que caí de ser além de tudo:
me deixando em tudo que não fui
seja minha arte o além mais alto...
o além de mais belo
do vasto que andei
chama que te li
tragos do que busco
ave que clarei
sempre que te bebo
mais do que te vejo
sonho que não li
beijo do que vou
verso mais que flor
olho que me noite
nada do que sou...
lá me alto e passo
lá sou só o que sinto:
céu e vinho tinto
17 janeiro 2010
do Destino
o coelho sai tranquilo
da toca e...
de repente o lobo o abocanha
o lobo vai tranquilo
com o coelho e...
de repente o pega a armadilha
o caçador vai tranquilo
com o lobo e...
de repente o pica a serpente
(...)
e era um dia nublado
chuvoso e...
de repente saiu sol
ninguém esperava...
da toca e...
de repente o lobo o abocanha
o lobo vai tranquilo
com o coelho e...
de repente o pega a armadilha
o caçador vai tranquilo
com o lobo e...
de repente o pica a serpente
(...)
e era um dia nublado
chuvoso e...
de repente saiu sol
ninguém esperava...
15 janeiro 2010
Uma Pergunta:
mas o que foi que fizeste da tua alma?
quer dizer que a sabes
mas não a ouves?
quer dizes que a tens
mas não a lês?
quer dizer que a vês
mas não a pensas?
quer dizer que a amas
mas não a sentes?
de que adianta
noivar através das flores
se o perfume evapora
pela indiferença do nada?
de que adianta
luzir por entre olhares
se os sonhos escapam
pelo deixar cair das asas?
se achas que vives ter alma
é melhor que a esqueças:
pois só vive a alma
quem por ela morre...
quer dizer que a sabes
mas não a ouves?
quer dizes que a tens
mas não a lês?
quer dizer que a vês
mas não a pensas?
quer dizer que a amas
mas não a sentes?
de que adianta
noivar através das flores
se o perfume evapora
pela indiferença do nada?
de que adianta
luzir por entre olhares
se os sonhos escapam
pelo deixar cair das asas?
se achas que vives ter alma
é melhor que a esqueças:
pois só vive a alma
quem por ela morre...
14 janeiro 2010
Letras Aos Corvos (Antologia)
A Editora Literata está realizando uma antologia de poemas góticos e grotescos, com a organização dos escritores Ana Carolina Giorgion e M. D. Amado, e a participação é aberta a qualquer poeta.
Terei a honra de ser o prefaciador do livro, e também serei um dos participantes. Para informações mais detalhadas, tais como o regulamento para participação, comunidade no orkut, acesse o site http://www.letrasaoscorvos.blogspot.com/.
13 janeiro 2010
Fernando Pessoa e Seus Passos da Cruz (III)
Continuo postando os sonetos de Passo da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html. Na próxima semana, o 4º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "Vênus" de Velázquez.
Passos da Cruz - Soneto III
Adagas cujas jóias velhas galas...
Opalesci amar-me entre mãos raras,
E fluido a febres entre um lembrar de aras,
O convés sem ninguém cheio de malas...
Opalesci amar-me entre mãos raras,
E fluido a febres entre um lembrar de aras,
O convés sem ninguém cheio de malas...
O íntimo silêncio das opalas
Conduz orientes até jóias caras,
E o meu anseio vai nas rotas claras
De um grande sonho cheio de ócio e salas...
Passa o cortejo imperial, e ao longe
O povo só pelo cessar das lanças
Sabe que passa o seu tirano, e estruge
Sua ovação, e erguem as crianças
Mas o teclado as tuas mãos pararam
E indefinidamente repousaram...
12 janeiro 2010
Eu Não Sirvo a Ninguém
como exemplo
não me siga
que eu a ninguém sou exemplo:
irias arrancar os cabelos
se visses o que trago por dentro
quanto mais belo é o que escrevo
mais de horrores me inundo...
eu não passo
de um vagabundo
e em todos meus passos
nos mais altos
abismos me afundo
o que eu faço da vida
não sei
sei
que meu peito estraçalhei
que quanto melhor é a Arte
mais grave é o enfarte
sou tão nada
que escrevo como escreveram
todos os poetas:
não passo de um triste
a minha própria alma
de tão funda
nem existe
construí catedrais inúteis
do que sinto
ergui minha alma
nos alicerces do que nunca vem
e tudo que digo
minto
do meu trono de miséria
olho-te cheio de orgulho e desdém
por isso não me siga
não me admire
que eu não sirvo pra nada
e não sirvo a ninguém.
não me siga
que eu a ninguém sou exemplo:
irias arrancar os cabelos
se visses o que trago por dentro
quanto mais belo é o que escrevo
mais de horrores me inundo...
eu não passo
de um vagabundo
e em todos meus passos
nos mais altos
abismos me afundo
o que eu faço da vida
não sei
sei
que meu peito estraçalhei
que quanto melhor é a Arte
mais grave é o enfarte
sou tão nada
que escrevo como escreveram
todos os poetas:
não passo de um triste
a minha própria alma
de tão funda
nem existe
construí catedrais inúteis
do que sinto
ergui minha alma
nos alicerces do que nunca vem
e tudo que digo
minto
do meu trono de miséria
olho-te cheio de orgulho e desdém
por isso não me siga
não me admire
que eu não sirvo pra nada
e não sirvo a ninguém.
10 janeiro 2010
Fatal
na minha boca
sangue de estrelas
sobre meus ombros
todo sol cai
tudo se esvai
lutando à luz do ocaso
trompas de arcanjos
cortam-me a testa
sobre meus olhos
vem todo céu
rasga-se o véu
olhando o fim pra sempre
rabos de raios
dando-me coices
na minha voz
pesa-me a lua
e a noite nua
amando a marcha e a morte
mundos não-críveis
trevas de luzes
cósmicos trezes
na minha alma
voou toda calma
se indo pelo Mistério
sangue de estrelas
sobre meus ombros
todo sol cai
tudo se esvai
lutando à luz do ocaso
trompas de arcanjos
cortam-me a testa
sobre meus olhos
vem todo céu
rasga-se o véu
olhando o fim pra sempre
rabos de raios
dando-me coices
na minha voz
pesa-me a lua
e a noite nua
amando a marcha e a morte
mundos não-críveis
trevas de luzes
cósmicos trezes
na minha alma
voou toda calma
se indo pelo Mistério
08 janeiro 2010
Não Melodio por Mim...
a final melodia que mais criei
é mais triste que tudo que crio
que é a melodia que não criei
que melodias não rio
mas melodias finais
é tudo que faço
e traço
fracasso
que não crio tudo que faço
só o que é cada vez mais trágico
e escuro
só traço o final mais puro
o estrago
a melodia que for mais triste
que é claro
não existe
e o final que for mais duro
e trago
o vinho que for mais largo
de cansaço
amarguro
e de sangue
na desgraça do braço
em pulso
foi com ele que (al)cansei o laço
errado
onde ando arrastando
o rastro
ondeando em vão
para lassar teu astro
na minha passada de vasto
em passados abraços
de finais e últimos
(com)passos...
é mais triste que tudo que crio
que é a melodia que não criei
que melodias não rio
mas melodias finais
é tudo que faço
e traço
fracasso
que não crio tudo que faço
só o que é cada vez mais trágico
e escuro
só traço o final mais puro
o estrago
a melodia que for mais triste
que é claro
não existe
e o final que for mais duro
e trago
o vinho que for mais largo
de cansaço
amarguro
e de sangue
na desgraça do braço
em pulso
foi com ele que (al)cansei o laço
errado
onde ando arrastando
o rastro
ondeando em vão
para lassar teu astro
na minha passada de vasto
em passados abraços
de finais e últimos
(com)passos...
07 janeiro 2010
"Eis o mal dos senhores, os políticos. Nem mesmo chegam a pensar em coisas importantes."
Acompanhando o intenso blog do Ruy Gessinger, li: "A Conta Está Chegando". Refere-se aos desastres ambientais que vêm assolando o RS, sendo o último a queda da ponte de Agudo pela devastadora enchente. Diz Gessinger:
"Mas a conta dos anos 70, do milagre soja-trigo, do desmatamento; a fatura do crescimento demográfico incontrolado ; a destruição de matas nativas e florestas ciliares não podia ficar impune. A Natureza se sente ameaçada, ela é um ser vivo, ela raciocina em termos de milênios, mas decidiu não ter mais paciência com esse serzinho ignóbil, com” suicidal tendences”. "
Faço minhas as suas trágicas palavras. A conta está chegando. E será alta, muito alta, altíssima! Mas não adianta avisar. Adianta? A destruição impiedosa e imbecil da natureza prosseguirá a passos de gigante. E virá a conta, em parcelas cada vez mais caras. E tanto não adianta avisar, que em 1928, eu disse em 1928!, quando ainda não havia preocupações ambientais reais por parte da humanidade, em seu livro "Contraponto", o genial escritor inglês Aldous Huxley advertiu sobre a desgraça que o "progresso" traria ao planeta. A seguir, um trecho da obra:
"Com essa agricultura intensiva, os senhores estão roubando ao solo o seu fósforo. Ele vai desaparecendo completamente de circulação. Depois, basta ver como os senhores deitam fora centenas de milhares de toneladas de anidrido fosfórico nesses esgotos! Derramando-o dentro do mar. E a isso os senhores chamam progresso. (...)
Eis o mal dos senhores, os políticos. Nem mesmo chegam a pensar em coisas importantes. Vivem a falar do progresso e deixam que todos os anos milhões de toneladas de anidrido fosfórico corram para o mar. É idiota, é criminoso, é... é o mesmo que tanger a lira enquanto Roma arde. Mais duzentos anos apenas e os depósitos se extinguirão. Os senhores julgam que estamos em progresso porque vivemos do nosso capital. Fosfato, carvão, petróleo, salitre, esbanje-se tudo! Eis a política dos senhores. (...)
O único resultado desse progresso dos senhores será que dentro de algumas gerações há de vir uma revolução verdadeira - uma revolução natural, cósmica. Os senhores estão transtornando o equilíbrio. Ao cabo, a natureza o há de restabelecer. E o processo será muito desagradável para os senhores. A queda será tão rápida como o foi a ascensão."
E essas palavras proféticas de Huxley já estão se cumprindo.
Para finalizar, republico um de meus poemas, escrito em outubro de 2009:
Enxurrada
olho para a humanidade
e rio
rio que me leva
leve
em suas correntezas
sem correntes
por que devo combater
o que não deve ser combatido?
o que não deve ser combatido
não deve ser combatido
por que já está vencido
o simplesmente é deixar assim
que tudo nasce
e corre ao Fim
não digo
que não irei com a enxurrada
digo que choveu forte vasto e além
e que a enxurrada vem...
olho para a humanidade
e rio
rio que me leva
leve
em suas correntezas
sem correntes
por que devo combater
o que não deve ser combatido?
o que não deve ser combatido
não deve ser combatido
por que já está vencido
o simplesmente é deixar assim
que tudo nasce
e corre ao Fim
não digo
que não irei com a enxurrada
digo que choveu forte vasto e além
e que a enxurrada vem...
06 janeiro 2010
da Sabedoria
uma nota sinfônica
sabe
por toda altura
acima
de cada letra filosófica
uma pintura mágica
filtra
sol e lua
avante
de quaisquer gases científicos
uma poesia trágica
rufla
suas negras asas
além
de toda poeira teórica
sabe
por toda altura
acima
de cada letra filosófica
uma pintura mágica
filtra
sol e lua
avante
de quaisquer gases científicos
uma poesia trágica
rufla
suas negras asas
além
de toda poeira teórica
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