24 outubro 2016

Massacre nas Estradas: 475 milhões de animais atropelados por ano no Brasil

Em minhas viagens semanais de Santa Maria para Santiago este ano, deparo-me, a cada viagem, com dezenas de animais silvestres atropelados na BR287. São graxains, gambás, aves de várias espécies, mão-peladas, furões, tatus, capivaras, anfíbios, preás, entre outros, em uma cena dantesca, desoladora. Dói-me ver os animais estrebuchados, esmagados, ou apenas encolhidos num canto da estrada, muitos deles de espécies em vias de extinção. Durante todo este ano, viajando todas as semanas, não atropelei nenhum animal. É porque não viajo a 130, 140, 160km por hora. Consigo avistar o animal bem antes e a tempo de desviar, ou reduzir a velocidade, se for necessário.

O problema do MASSACRE de animais silvestres nas estradas brasileiras tem dois motivos básicos: a falta de corredores de passagens para os animais, que não parece ser preocupação de nenhum governo, nem federal, nem estadual, nem municipais e, talvez ainda mais, as absurdas velocidades com que viajam alguns motoristas. O pior é que quase ninguém se preocupa com tal problema, mesmo que num choque com algum animal de grande porte, a morte não seja só a do ser atropelado.

Abaixo, um trecho sobre o assunto retirado do site da ANDA :

"Um estudo da Universidade Federal de Lavras (UFLA-MG) estima que cerca de 475 milhões de animais silvestres morram, anualmente, atropelados nas rodovias do país. Uma ferramenta criada pela instituição monitora as ocorrências, mas este número pode ser ainda maior.

Chamado de “Atropelômetro”, a ferramenta criada pela instituição para monitorar os atropelamentos de animais silvestres no país não para de rodar. De acordo com o pesquisador da Ufla, Alex Bager, a cada segundo, 15 animais morrem no país. A contagem é o resultado de décadas de estudos desenvolvidos com outros pesquisadores.

Para a bióloga Jaara Alvarenga Cardoso Tavares, o número é assustador. “Um número muito alto que muitas vezes a gente nem tem conhece quais são essas espécies que estão morrendo nas estradas. É um prejuízo enorme pra fauna.”


Já escrevi sobre o assunto:



Sobre a Tua Vida Esmagada

graxaim atropelado
(pela estrada):
nenhuma lágrima
de ninguém
teu sangue esparramado
(pela estrada)
é mancha do que era:
para quem passa rápido
(que é preciso ir e vir
a correr e a sorrir)
tu foste de outra era
e agora és nada

tu sendo um
és todos
que já não são
para que fosse
o progresso
(pela estrada
ao nada)
quem se importa
na pressa?
tua existência
num mundo moderno
é inútil
é um excesso

sobre a tua vida esmagada
(pela estrada
findada)
soprou um hálito
de so(risos)
a sonhar com beijos na noite
ou com sono de justos
ou em festas baladas
sobre a tua vida esmagada
(pela estrada
esvaziada)

eu mesmo...
fiz o quê?
nada
só um poema
que também é nada
para quem o lê
(pela estrada...)

22 outubro 2016

Eu Confesso

confesso que não presto
que não estou no que me esperam
que não sou pelo que é certo:
não sou homem de bem
sou homem de mal

confesso que não faço
confesso que nem tento
essa coisa de progresso
de construir carreira sólida
de me assegurar para a velhice
de me ser reconhecido
e coisas e tal

confesso minha angústia
admito que ainda sinto
que não tornei-me “descolado”
que não fingi felicidade
ou mentiras de alto-astral

mas confesso que me finjo
que me bebo escracho e minto
a suportar o insuportável
da convivência entre gentes
e a necessidade social

e confesso que escrevo:
escrever é isso
e ponto final

20 outubro 2016

Sem Grandeza

com o que me há sobra
de há alma
há salto
o que há de erro
o que há de queda
o que há fundar(me)
em água e sal

vi no que morre
o que há sombra:
há sempre nada
no que há de mais

e há os des(a)tinos
que há sinais
por onde há rasto
o meu há lento

e o teu há sopro
no não há mar


17 outubro 2016

Assassino, antes de tudo*

o homem
é antes de tudo
homicida:

de início
no desejo de ser o único
matou o próximo

depois
no desejo de tudo explicar
matou o mágico

no desejo de tudo tocar
matou o onírico

no desejo de ter o planeta
matou o anímico

no desejo de poder ver a tudo
matou o espírito

e por fim
no desejo de ser o único
matou o cósmico

agora sobrou só o (des)homem
que é antes de tudo
suicida

*Poema reelaborado republicado.




15 outubro 2016

Por que o brasileiro pobre vota em ricos?

Dois pontos explicam, basicamente, o fato de o Brasil ser governado por oligarquias, ou seja, o fato de o povo eleger, geralmente, ricos e milionários para os cargos governamentais. Um país cuja maioria absoluta da população é formada por pobres ou pessoas de classe média (que, no fundo, também são pobres, no sentido de que não possuem o domínio sobre as riquezas) não poderia, em hipótese alguma, ter como representantes os ricos e os milionários. O que eles realmente representam?

É claro que somente o poder financeiro não explica suas vitórias na urnas. Os brasileiros poderiam se rebelar contra esse poder financeiro e não votar em ricos, No entanto não o fazem, pelo contrário. E aqui entra o primeiro ponto: brasileiro é patriarcal, necessita da figura do "salvador", do homem que "manda". Na visão do brasileiro, manda quem tem o controle do capital, seja em forma de grandes empresas, seja na forma de grandes propriedades rurais. Portanto, esses, para os brasileiros, são os que mandam. Essa cultura de "obedecer ao chefe" existe já na relação patrão-empregado.  Na visão do empregado brasileiro, o patrão manda porque pode mandar, quase como um desígnio divino, e o fato de ter "concedido misericordiosamente" um emprego a ele, o reles empregado, obriga-o a louvar o patrão como se fosse um semideus. "Deus-o-livre" dizer não ao patrão. E se ele se candidatar a um cargo público, naturalmente, muito naturalmente, deve ser eleito.

O outro ponto que explica a eleição dos ricos é que brasileiro tem síndrome de coitadismo, tem vergonha de ser pobre, e acha que não é. Tendo um salário um pouquinho melhor, já se sente rico. E se é rico, tem que votar em rico. Brasileiro sempre quer aparentar ser mais do que realmente é. Se tem uma camionete e 3 hectares de terra, já é fazendeiro, quase um latifundiário. Jamais se "diminuirá" escolhendo "não-ricos" para lhe governar. O resultado de tanto poder concedido às elites é um país com uma das maiores e mais cruéis desigualdades sociais do mundo, onde as classes altas controlam a quase totalidade das riquezas e dos meios de produção. E claro que tudo fazem para manter esse domínio. Uma das maneiras de se perpetuar tal controle é desmantelar a educação. A quem está no poder, não interessa que o povo tenha educação a ponto de questionar seus "desígnios divinos". Quer-se conservar os estado das coisas. Manter os "plebeus" longe dos privilégios dos "nobres".


13 outubro 2016

como é Acima é Abaixo

aqui
a água
é o melhor símbolo 
da alma:

está em tudo quanto há vida
sem que se perceba sua estada
está em tudo quanto é cíclico
sem que se perceba sua estrada

a água...
tão vital que nem se sente
tão presente
como algo que nem fosse existente
de subida e volta
como se estivesse ao sempre


a alma
é o melhor símbolo 
da água


11 outubro 2016

Os Miseráveis

em outros tempos
não havia RG
não havia CPF

hoje
sem um registro
nem existo
sem um cadastro
nem deixo rastro

não importa se sou humano
mas se estou fichado no plano...

somos apenas
registráveis
cadastráveis
numeráveis
incontáveis
miseráveis


08 outubro 2016

Resta Brahms

se tudo já foi dito
e nada tem adiantado
restam o tudo ou nada e o trago

se a vida perdeu sentido
e é estúpido o amanhã
restam os sentidos de Chopin

se tudo que foi arte
hoje é fim de caminho
restam a arte o fim e o vinho

se o mundo é uma taça vazia
e nem importa que tu ames
resta a taça resta tu e resta Brahms


06 outubro 2016

à Ruína

há alma na ruína
algo de belo
no que se acaba
algo de denso
no que se perde

há alto na ruína
algo de vasto
no que se sangra
algo de imenso
no que se resta

há astros na ruína
algo de luz
no que agoniza
algo de fundo
no que se finda

há asas na ruína
algo de pássaro
na despedida
algo de música
no que se morre

há Arte na ruína

03 outubro 2016

Eleições 2016: Doria e o Brasil, o País dos Milionários

O poder financeiro mostrou de forma arrasadora toda sua capacidade de como levar consigo o povo, através de engodos e seduções. Fácil, muito fácil! Para isso existe a mídia, existe a propaganda. O Brasil elegeu 23 milionários para prefeitos no 1º turno. Segundo levantamento, das 37 cidades com mais de 200 mil habitantes que elegeram seus prefeitos no 1º turno, em 23 delas, os candidatos eleitos declararam patrimônio superior a 1 milhão de reais. Vittorio Medioli (PHS), de Betim (MG), é o mais rico dos prefeitos, com mais de 352 milhões (!!!) declarado em bens. O segundo lugar fica com João Doria (PSDB), o famoso empresário e apresentador de TV, agora prefeito da maior e mais importante cidade do Brasil, São Paulo. Doria declarou bens no valor de apenas 180 milhões de reais. Aliás, o PSDB é o partido que mais possui milionários entre os eleitos: 10 dos 23. Se todos os milionários que disputam 2º turno nas cidades com mais de 200 mil habitantes se elegerem, conseguirão chegar ao poder na maioria delas, em 59 das 92. Esses são os homens de bens, os legítimos, que, agora mais do que nunca, estão dominando completamente o Brasil.

O que isso significa? Por que, diabos! um pobre vota em alguém como Doria? O que acreditam que um super milionário (porque certamente sua fortuna é muito maior do que a declarada, só um ingênuo não reconheceria o fato), um megaempresário, um homem que dedica sua vida ao lucro irá realmente fazer para melhorar a vida dos pobres e miseráveis desse país? 

Retiro da Wikipédia o seguinte: Doria "É criador e presidente licenciado do Grupo Doria, que reúne seis grandes organizações, dentre as quais o Lide — Grupo de Líderes Empresariais, uma associação de 1700 empresas nacionais e multinacionais, que, segundo o site do Grupo Doria, respondem por 52% do PIB." Certamente, todos esses senhores sedentos do capitalismo estão preocupadíssimos em tirar da pobreza os milhões de brasileiros que nela se encontram, ou em melhorar socialmente a vida penosa do povo brasileiro, ou em preservar o nosso ameaçado meio ambiente...

Não é à toa que o Brasil é campeão em desigualdade social no mundo. Aqui, pobre vota em quem o explora. Aqui, 1% da população (os mais ricos) detêm 50% das riquezas. E a tendência será essa desigualdade aumentar. E é fato que está aumentando em quase todo o mundo. Lembrando que, entre 2000 e 2010, houve uma redução na nossa assombrosa desigualdade. Pouca, mas houve. Agora, não mais. No Brasil, acontecem coisas absurdas, como um médico cobrar 700 reais por uma consulta de 10 minutos. Isso, aqui, em Santa Maria. Que lei existe para impedir que isso aconteça? Nenhuma, por que são os ricos que fazem as leis. São os médicos (como um médico não ficará rico no Brasil cobrando um absurdo de 700 reais por consulta?), são os grandes empresários, são os senhores do agronegócio, são os pastores das igrejas neo pentecostais, entre outros. Rico apenas se preocupa com rico, quase sempre. A história o tem provado. E, como escreveu Balzac: "Atrás de toda grande fortuna há um crime." 

Doria, e outros milionários valeram-se de dois fatores: dinheiro e mídia. Dinheiro para controlar a mídia, que por sua vez controla o povo, que, ludibriado, concede ainda mais poder a quem tem dinheiro. E prossegue o círculo vicioso. E rumamos a tempos nefastos.

Quem ou quê está por trás de tudo isso?

01 outubro 2016

10 anos de O Fim

Este ano, o blog O Fim completou 10 anos de existência. Foi criado em 19 de agosto de 2006. De lá para cá, foram 1849 postagens. Esta é a de número 1850. Acabei deixando passar a data de seu aniversário de 10 anos, mas lembrando-me agora, republico a sua primeira postagem, que foi o poema "Menstruada", de certa forma, uma composição em homenagem às mulheres. 

Menstruada

má...guada
(des)manchada
em derramamentos
tu te purificas
(ex)pulsando
lágrimas de útero

choros sanguino
lentos
lentos
pelas tuas pernas

vermelhas pétalas
das (cho)rosas murchas
do jardim quente
do teu ventre em chuvas

quem absorve tuas dores
melan...
cólicas?

29 setembro 2016

Forca

I - que a força está nos detalhes
é fato conhecido
mas não tanto quanto
o de como a forca está nos detalhes

II
– aquilo que é dito o mal
não seria o mal
se fosse percebido como sendo
por entre o que é percebido
entre o que se diz principal

III – aquilo que é dito o bem
não seria o bem
se fosse percebido bem




26 setembro 2016

de mais triste

I – de tudo que veio
através do homem
somente a Arte
evitou que tudo fosse pior:
nada há de mais belo
do que a Criação

II – entre a morte
de um ser humano
e a de um animal
em vias de ser extinto
dói-me mais a última:
nada há de mais triste
do que a extinção

III – campo, mato e morro
eu canto, mato e morro

24 setembro 2016

Deploração

cavar todos os dias
com pás
sem paz sem descanso
a cada instante
como se fosse adiante

cavar com o pé
o que não é
sendo diamante
a toda hora
como se fosse embora
cavar o pó
até o tesouro
de se estar só

cavar crise e cova
até cratera
até o outro lado
e à outra era
pisar na merda
que se faz ouro
rubis esmeraldas
e outras coisas
que além de almas
não valem nadas

e dar de comer aos porcos
que trocam 
tudo que é alto
por feijão no prato
e ter que partir
sem ter o nome na lista

e enfim um vulto
que no longe some
a morrer de fome:
eis a missa do artista

22 setembro 2016

Ver-me

as pessoas se importam
com que elas importem
como se houvesse importância
em ser-se importante
e como se alguém que o é
em verdade o fosse

ser importante
implica em quem dá 
a importância

vermes, por exemplo
dão importância a vermes
não a águias
aliás as águias
os vermes nem as veem


20 setembro 2016

O Idiota

"Não há, com efeito, nada mais aborrecido do que ser, por exemplo, rico, de boa família, ter boa aparência, ser bastante esperto e até mesmo sagaz e, todavia, não ter talento, nenhuma faculdade especial, nenhuma personalidade mesmo, nenhuma ideia pessoal, não sendo, propriamente, mais do que "como todo mundo". (...) Ter inteligência, mas nenhuma ideia própria; ter bom coração, mas sem nenhuma grandeza de alma; ter uma boa educação, mas sem saber o que fazer com ela etc. etc... Há uma extraordinária multidão de gente assim no mundo, muito mais até do que a muitos possa parecer. (...) Nada é mais fácil, para essa gente "comum", de inteligência restrita, de se imaginar original e até mesmo exceção, e folgar com essa ilusão, nunca chegando a perceber o equívoco".

Dostoiévski, em O Idiota

18 setembro 2016

Semana Farroupilha, Bairrismo e Atraso

A seguir, republico dois textos, apropriados, creio, ao momento. O primeiro foi escrito e publicado aqui no blog em 12 de setembro de 2013. O segundo, em 23 de fevereiro deste ano.  Apesar de as postagens estarem distantes no tempo, trazem uma relação de complementaridade.

Texto 1 (postagem original, aqui)

 - A Semana Farroupilha transformou-se em um desfile de agroboyzinhos nas camionetinhas do papai, enquanto gaúchos de verdade, os peões que trabalham duro nas estâncias e cultivam as verdadeiras tradições gaúchas (não para fazer bonito ou para aparecer, mas porque isso é o natural deles) não podem comprar um par de botas. Muito menos desfilar com um cavalo. É como retrata Cyro Martins na sua “Trilogia do Gaúcho a Pé.”

- Grande parte dos campos dos grandes estancieiros gaúchos é campo que foi roubado na época em que as fronteiras das terras não eram cercadas. É como diz o personagem Juvenal em “O Tempo e O Vento” do Érico Veríssimo, referindo-se ao estancieiro Amaral: “Todo mundo sabe que metade dos campos desse velho é tudo campo roubado!”

- Os agroboyzinhos gostam também de andar por aí enchendo a pança de cerveja e gritando o “Grito do Sapucai”, que é herança de nossos índios guerreiros. Mas os índios ou foram massacrados, ou estão em estado miserável em suas terras devastadas. De vez em quando, o governo tem a “bondade” de dar a eles um cantinho das terras de que eram donos. E os “gaúchos” pouco se importam. Melhor, mais “coisa de macho”, é se exibir em rodeiozinhos para algumas prendinhas chininhas.

- E já aconteceu de alguns “farroupilhas” bem pilchados “apreciarem” matar cavalos esgotados desfilando com bandeiras sob o sol do litoral pra mostrarem que são homens.

- E os nossos “pampeiros”, que dizem amar o pampa, amar a terra, são os mesmos que estão terminando com ela cobrindo tudo de soja, pinus e o diabo. E amando profundamente (as moedas da) sua terra, acabam com os rios, desviam água para plantações de arroz, infestam campos com pesticidas, massacram nossa fauna, causam erosões, assoreamentos, desertificação. E depois vão dançar o bugio em algum campo no qual exterminaram os bugios.

Texto 2 (postagem original, aqui)

Desde janeiro deste ano, estou morando em Santa Maria. Percebo como os santa-marienses são menos bairristas que os santiaguenses. Não que não tivesse percebido o bairrismo santiaguense antes. É algo que salta aos olhos. Mas agora resolvi escrever um breve comentário a respeito. 

A verdade é que Santiago é uma das cidades mais bairristas do RS. Os gaúchos em geral são bairristas. Para a grande maioria dos santiaguenses, tudo que é de Santiago, ou está em Santiago, ou é feito em Santiago, ou vem de Santiago, enfim, é o melhor que há. É claro que algumas vezes pode ser assim mesmo. Mas também é claro que muitas vezes não é. Mesmo assim, o bairrismo santiaguense não deixa ver, ou, se deixa, não quer admitir.

Considero o bairrismo uma qualidade mais negativa do que positiva. Não sou bairrista. Já fui bairrista pelo RS em dias passados. Deixei de ser. Não penso, como muitas pessoas, que bairrismo é necessariamente uma demonstração de amor pela terra. É, antes, uma ausência de senso crítico, uma cegueira, uma espécie de fanatismo, enfim, uma burrice.

O bairrista acaba por não ver ou não querer ver os defeitos da sua cidade, estado, região, enfim. Consiste num tipo de patriotismo utópico e estúpido localizado. Quem não vê os defeitos, ou se faz que não vê, não pode ou não quer corrigi-los. Se não os corrige, não avança, não sai do atraso, não percebe em que ponto as coisas podem ser melhoradas, não identifica onde estão os erros. E, se tudo é bom, se tudo está bem, para quê mudar? Uma pessoa que "se acha" tanto, que não percebe seus próprios defeitos, acaba, um dia, caindo, sendo vítima desses mesmos defeitos. 

O RS, os gaúchos, sofrem de um bairrismo crônico há décadas. E há décadas o RS vive uma inegável decadência sócio-econômico. Estou certo de que as duas coisas estão relacionadas. Falta autocrítica aos gaúchos, como falta aos santiaguenses. E, quando alguém, no meio de bairristas, realiza essa crítica, a percepção do que está errado, é mal visto, é criticado por querer mudanças, é, até mesmo, odiado.  Bairrismo é atraso.



15 setembro 2016

Virá a Guerra

quem tem o poder
nunca o quer perder
pode perder tudo o que pode
pode foder com todos que sofrem
mais jamais poderá não poder

quem tem o poder
perde honra perde sonho perde vida
perde o vasto perde o astro perde a alma
só não pode perder
o poder de comprar as almas

quem tem o poder
sabe que não tem nada
por isso a tudo quer
por isso a tudo mata:
quem tem o poder
só pode um único fim:
destruir a toda Terra
por isso é que antes de Marte
virá a Guerra




13 setembro 2016

Não Voto em Filho da Puta

O poema que segue não serve para todos os candidatos. Há, é claro, os candidatos decentes e íntegros. Mas para os que servem, e não são poucos, deixo aquele meu velho poema, agora reelaborado:
prezado
senhor candidato:
com todo respeito
vou pegar o meu voto
e enfiar no teu rabo
rico reto
de rato

não me venhas
com apertadinhas de mão
 tapinhas nos ombros
para futuras
mãozinhas nos bolsos...

no ranço do teu sorrisinho
de boca amarela e fingida
deixo o voto do meu catarro
mijo ressaca e sarros
e tuas alegrezinhas
felizinhas
musiquinhas
retardadas
enfia
nos teus orifícios propícios
queimados
de cagar churrascos

queres
passeatas
carreatas
mamatas?

conchavos
conluios
canalhas?

tratados
tramoias
trapaças?

com o teu santinho
apago meu cigarro vadio
ah, e senhor candidato
nobremente
vá à puta que pariu!

11 setembro 2016

O que é Literatura?*

Literatura
é saber a arte forte
e o homem fraco
e ser desde beijo
dado em ambos
os lábios
ou o bater em político
com a ponta
de aço
de um taco
ou de um troco

pode ser tiro
soco
traço
de bala
buraco
ou um brinde
e um acinte
de pé
junto a Baco

um dia abraço
um dia laço
um frasco
longínquo
no espaço
talvez tristeza
desprezo
cansaço
sem nenhuma
(anos) luz acesa
pela vida em cacos

pode ser sublime
ou crime
volvido em névoa
tabaco
ou ser tragédia
ou tédio
trago
lago
em honra ao vago

pode ser um bolso
vazio
as ruínas
de um casaco
ou droga
coca
sexo
mesmo
só tendo a noite
mesma
nem tendo nexo

pode ser chute
na bunda
de algum ricaço
palhaço
velhaco
pode ser sangue
sopro
vento
(a)tormentado

pode ser música
cósmico
ou túmulo
ou tóxico
pode ser alto
ou ainda mais baixo
desde sorriso
até risada
de algum macaco

em Fim
Literatura
pode ser tudo
só não pode
puxar o saco

*Poema reelaborado e republicado