16 dezembro 2009

Eu Acredito em Papai Noel, Yeda Crusius, Marco Peixoto e Expresso Ilustrado


Como o Natal está chegando, quero, agora, solenemente, afirmar que acredito no Papai Noel. Sim, é verdade. Ele trouxe-me vários presentes quando eu era criança. Alguns invejosos insistem em tentar fazer-me crer que era meu pai vestido de Papai Noel, mas não... Era o bom velhinho sim! Eu apenas ainda não descobri de onde ele conseguiu os presentes, mas estou certo que vou descobrir em breve, pois pretendo adicionar o Papai Noel no msn, ou no orkut, se ele não quiser me passar o msn.


E além do Papai Noel, acredito na nossa querida governadora Yeda Crusius, sempre tão sincera, bondosa, pacífica e amiga do funcionalismo. Dizem que ela comprou uma casinha com dinheiro de campanha, que participou ou encobriu esquemas de corrupção, mas eu duvido. Para mim, que tenho um imenso coração sempre pronto a perdoar os erros humanos e perdoo os que falam mal da governadora, a Dona Yeda não fez nada disso, muito pelo contrário, ela está se sacrificando para colocar o Estado em equilíbrio e para acabar com as farras dos professores, esses desabusados, preguiçosos, que só sabem reclamar. Tudo bem, admito que não vejo equilíbrio em parte alguma no Estado, mas a culpa é minha. Eu fico só na internet e não acompanho os jornais. E na internet dizem que o aumento para os professores dado pela governadora é uma farsa. Mas que absurdo! Essa gente nunca está contente com nada. Querem decerto ganhar uns dois mil por mês! Só para dar umas aulinhas bestas para uns aluninhos que já sabem tudo? Pobre da governadora, só ela para aguentar tanta chateação. É uma santa!


E santo também é o deputado Marco Peixoto, grande homem, eu me orgulho de ser santiaguense como ele, e para mim tudo o que ele diz é verdade, pois eu o conheço, é um gaúcho do pampa, um homem de confiança, que honra o fio do bigode, mesmo que ele não tenha bigode. Ele não mente nunca! Isso é fato. Agora não queriam que ele fosse conselheiro do Tribunal de Contas do Estado... Mas por quê? Dizem que ele está ou esteve envolvido em algumas coisinhas meio ilegais, algumas continhas meio obscuras, uns envolvimentozinhos meio feinhos, mas isso quem é que não tem? Tais coisas é que deixam a vida emocionante. Mas mesmo assim, estou certo que ele não tem envolvimento nenhum. Sabem por quê? Por que ele já chegou a chorar no plenário. Que homem santo! Não te preocupa, estou contigo, Marcão! Mas quando eu te pedir, vê se me ajuda, né!


E acredito no jornal Expresso Ilustrado como um veículo de informação absolutamente confiável, que jamais omitiria uma informação da população santiaguense. Assim, se o deputado Marco Peixoto, ou qualquer outra pessoa, tivesse algum podre, todos nós já saberíamos. Estou absolutamente certo de que o ilibado jornal Expresso Ilustrado divulgaria. Tal jornal é a fina flor da sociedade santiaguense, e nele não há lugar para omissões, puxa-saquismos ou censuras. Sim, jamais alguém, seja quem for, será censurado por este jornal, baluarte e símbolo da democracia brasileira. Por mais que alguém diga certas verdades inconvenientes que não estão de acordo com a orientação deste pomposo veículo de imprensa, o que é absolutamente normal dentro do estado democrático, ele sempre permitirá a livre expressão humana em suas páginas. E viva Santiago!


Finalmente, acredito que todos os que acima mencionei, dentro de 50 anos, serão lembrados como grandes filhos da humanidade, terão suas vidas estudadas nas escolas e seus feitos glorificados aos quatro ventos.


Ah, e o Coelhinho da Páscoa está aqui comigo agora. Quem disse que ele não existe? Quem quer um ovinho?


15 dezembro 2009

Cruz e Sousa: o Maior Poeta Brasileiro


Considero Cruz e Sousa como o maior poeta entre os brasileiros. Estou certo que bem poucos, pouquíssimos, concordarão comigo. O Simbolismo, em nossas terras, não é visto com bons olhos, geralmente. Justifico minha opinião. Cruz e Sousa é um dos raros poetas no Brasil que conseguiu unir perfeição formal com uma expressão absolutamente profunda e original. Se considerarmos o contexto em que criou sua obra, dominada pelo artificialismo parnasiano, a obra angustiada e sincera de Cruz e Sousa surge de forma ainda mais surpreendente.


Para mim, o Poeta Negro é tão elevado quanto os grandes simbolistas franceses. Certa vez, um crítico de que não me recordo o nome, afirmou que se Cruz e Sousa fosse europeu e branco, seria tão reconhecido como os maiores simbolistas do mundo. Dizia ainda o crítico que o poeta brasileiro é mais sublime que Baudelaire, mais profundo que Verlaine, mais sincero que Mallarmé. E eu concordo totalmente.


O que mais impressiona foram as condições em que a obra de Cruz e Sousa foi criada. Não bastasse ele ser negro e sofrer com o preconceito que era muito mais intenso na época, ou mais evidente, pois hoje ele é mais mascarado, ainda sofria de tuberculose (doença que também vitimou três de seus filhos), sua esposa Gavita, que tanto amava, enlouquecera, e recebia um mísero salário da Estrada de Ferro Central do Brasil.


E foi assim que o "Cisne Negro" nos legou uma das obras mais autênticas de nossa literatura, intensamente espiritual, versos advindos da alma capazes de enternecer nosso coração. Uma poesia pulsante de luz e sombra, trágica, angustiada, inquietante, de incomparável musicalidade, mergulhada no mistério da vida e do universo. Abaixo, um de seus Últimos Sonetos.



COGITAÇÃO


Ah! mas então tudo será baldado?!
Tudo desfeito e tudo consumido?!
No Ergástulo d'ergástulos perdido
Tanto desejo e sonho soluçado?!


Tudo se abismará desesperado,
Do desespero do Viver batido,
Na convulsão de um único Gemido
Nas entranhas da Terra concentrado?!


Nas espirais tremendas dos suspiros
A alma congelará nos grandes giros,
Rastejará e rugirá rolando?!


Ou entre estranhas sensações sombrias,
Melancolias e melancolias,
No eixo da alma de Hamlet irá girando?!

14 dezembro 2009

Decepção

é como se fosse
a noite sem fim do Fim que me embriaga
esperanças que correm pelas luas claras
poções de sonhos das mais santas magas
olhos profundos das corujas altas
promessa em luz em catedrais mais vastas
cantos de ave em imensidões tão largas
rezas de anjo de pulsar tão gratas
amor em deuses por mais belas almas
enfim estrela alva iluminada...
é como se fosse tudo!

mas não é nada.

12 dezembro 2009

Otimismo (piada)

acredito
na humanidade...

o homem se a(pro)funda
no ato de merditar
e usa as folhas das árvores massacradas
pra bem limpar

... a consciência

a Merda
é o fruto
sublime
da humanidade:
é algo sólido
prático
concreto
palpável
bem material

é o nosso futuro
espe... rançoso

11 dezembro 2009

Projeto Pequenas Histórias

Fui convidado pela editora Cidadela, de Porto Alegre, para participar da coletânea do projeto Pequenas Histórias, a qual lançou dois livros dia 7/12/2009, um de contos e outro de poesias. Participo dos dois, com 5 contos e 7 poemas, uma vez que não houve ônus para os autores convidados na publicação do livro.

Venho então fazer a propaganda dos mesmos. Caso o leitor tenha interesse em adquirir um dos livros, ou os dois, pode fazê-lo através do seguinte link:
http://www.cidadelaeditorial.com.br/euautor.htm

Anexando ao pedido do livro o código Arte e Fim, o leitor obterá um desconto de 10%. Agradeço imensamente aos que se interessarem pelas publicações.

10 dezembro 2009

Escolha a sua Opção

não ter esperança
é sofrer à vista:
sofre-se um pouco
e depois passa
e até se pode ganhar um desconto...

ter esperança
é sofrer a prazo:
adiar a desgraça
com um cheque
de sonhos sem fundos
com um cartão de crédito
com limite de sorte excedido
para 30 dias
30 meses
30 anos...

mas um dia tem que se pagar
com juros
e acréscimos

escolha a sua opção...

09 dezembro 2009

I Fórum Latino-Americano de Literatura Contemporânea


Venho convidar a todos para participarem do I Fórum Latino-Americano de Literatura Contemporânea, que será realizado em Santiago nos dias 22, 23 e 24 de janeiro de 2010. O investimento para participar do evento é de apenas R$ 20,00, um valor baixo para um evento desta magnitude e que, obviamente, fornecerá certificados aos participantes. Confira o seu cronograma aqui publicado. Durante o evento, devo lançar meu segundo livro, Poemas do Fim e do Princípio, que contará com mais de 230 poemas selecionados dentro da minha produção dos últimos 5 anos. Maiores informações no site da Casa do Poeta de Santiago: www.casadopoetadesantiago.com.br

08 dezembro 2009

Aquecimento Global, Caos Planetário e a Cegueira Humana


O recente escândalo do "Climategate", como vem sendo chamado, onde haveria fraude nas medições de temperatura para que fosse intensificado os dados do aquecimento global, está sendo usado, mais uma vez, para justificar a continuidade infrene da destruição ambiental, como se uma possível fraude encobrisse todos os fatos gritantes que estão diante de nossos olhos.


Já cansei de citar em meus textos uma frase de um filósofo: "O homem não aprende as lições da vida nem a canhonaços." Não aprende nem vai aprender, até que desabe o teto sobre a sua cabeça, ou seja, quando já for tarde demais. A humanidade tem uma fé tão fanática nesta ciência equivocada, que se ela afirmar algo hoje, tudo é exatamente como ela afirmou. E se amanhã ela se desdizer completamente, então tudo passa a ser do outro jeito. E jamais direcionam seus olhos do corpo, da mente e da alma ao seu redor. O que são os homens? Nada mais que marionetes, que se comportam conforme o movimento das cordas. Os fanáticos da ciência costumam criticar os fanáticos religiosos, mas o grau de fanatismo é o mesmo, apenas oscilando em polos opostos.


Na verdade, não importa se há ou não aquecimento global, o certo é que o planeta inteiro passa por um descontrole climático nunca antes visto pela civilização, e que está aqui, diante de nós, e nós fingimos que tudo é natural, e que o homem não tem culpa nenhuma nisso tudo. E sabem por quê? Por que esse descontrole, esse caos, é lento, é progressivo, é insidioso, como um câncer que se manifesta lentamente, os seus sintomas surgem de vez em quando, e depois passam, e depois voltam, o indivíduo nem dá atenção, até que quando percebe a gravidade da situação, o câncer já tomou conta do organismo, e então é tarde demais. A humanidade é como a velha história dos sapos sendo cozinhados na panela de água quente. Os sapos não percebem a água esquentando, porque ela sobe muito gradualmente, quase que imperceptivelmente, até que quando se dão conta (ou até que quando não se dão conta), estão cozidos, estão mortos.


O que quero dizer com isso? Não, isso não é uma analogia ao aquecimento global. Quero dizer que o homem vem enganando a si mesmo, dando desculpas, buscando evasivas, escapatórias, fugindo à sua responsabilidade quanto à vida do planeta. Parece que era isso que todos estavam esperando, o "climategate", uma fraude ainda não comprovada em relação ao aquecimento global, para que todos pudessem "respirar aliviado" e se sentir livres para poluir, explorar e aniquilar o planeta como sempre vêm fazendo, afinal, "a ciência mentiu".


Agora, porque um cientista mentiu, tudo o mais é mentira. Não confiam nos olhos de vocês? Eu confio nos meus. Não preciso que um cientista venha me dizer "verdades" que eu mesmo estou constatando. Não percebem alguns seres humanos o que salta aos olhos: o desequilíbrio do clima planetário, cada vez mais retumbante.


Eu aprendi, por exemplo, quando estudante do então 1º grau, que o clima do RS era um dos mais constantes do Brasil, com raros períodos de grandes cheias ou grandes secas, que havia aqui uma das melhores distribuição de chuvas do país. Eu aprendi isso. E meus pais e meus avós confirmam que as secas e as enchentes extremas aconteciam, mas era de vez em quando. Pois agora, não tem um ano que nós não tenhamos ou uma seca ou uma enchente de proporções catastróficas. Isso é mentira? Eu aprendi que na Amazônia nunca havia seca. Pois em 2005 houve a maior seca da história da Amazônia, que chegou a matar uma pequena parcela da floresta. E agora, em 2009, outra seca assolou a região. Isso é mentira? É mentira que as tempestades, tornados, ciclones no RS estão cada vez mais intensos? É mentira que nossos rios estão morrendo? Havia, por exemplo, sangas em que meu avô tomava banho quando criança e agora não existem mais. É mentira do meu avô? É mentira o registro do primeiro furacão da história do Brasil, que devastou RS e SC? É mentira a desertificação no interior gaúcho, onde o pampa está virando dunas? É mentira que tivemos a maior epidemia de febre amarela no interior gaúcho da história, que exterminou com os nossos pobres bugios? É mentira que o mosquito transmissor da doença se reproduz com o aumento do calor? É mentira que o RS passou de área livre para área sujeita a epidemias de dengue? E é mentira que o mosquito da dengue não se prolifera com o calor?


Eu nem vou falar no resto do mundo, vou só ficar no RS, porque o que divulgam as revistas e os jornais mundo afora deve ser tudo mentira. Deve ser mentira que os desertos avançam implacáveis na África e na Ásia. Deve ser mentira os pinguins que são encontrados em locais cada vez mais distantes para fugir do aquecimento na Antártida . Deve ser mentira a redução drástica da população de ursos polares pelo derretimento progressivo do polo norte. Quem sabe alguém vá até lá e grite nos ouvidos do urso da foto: "para com isso, não fica fazendo poses dramáticas, que eu sei que tu estás te fazendo para aparecer na foto!" Deve ser mentira a extinção maciça de sapos e rãs em vários países devido ao buraco na camada de ozônio. Deve ser mentira a redução em quase 1 terço de toda a vida nos mares. Deve ser mentira a proliferação de algas tóxicas devido ao calor excessivo nos oceanos. Deve ser mentira que cientistas russos vão evacuar um centro de pesquisas que explorava um campo de gelo que vai derreter e andar à deriva no oceano ártico ocidental.


Sim, tudo isso, e mais um pouco, deve ser mentira. O clima do planeta está perfeito. Ontem tivemos seca, hoje, enchente, e assim as coisas se equilibram. Não vai acontecer nada. "Homem!" grito do alto da minha tolice, "pode continuar a explorar, a devastar, a destruir, enfim, acabem logo com o planeta, é isso que todos vocês querem, a humanidade precisa do desenvolvimento, vamos lá, acabem logo com tudo". Apenas recordem que a morte é lenta e dolorosa. Vem aos pouquinhos, bem "devagarzinho..." E lembrem-se que o doente, logo antes de morrer, geralmente dá sinais de recuperação, falsos sinais. Parece que está bem, que vai se curar, e então morre. Lembrem-se que há 50 anos, falar em mudanças climáticas era um absurdo. Hoje é um absurdo NÃO se falar em mudanças climáticas. Mas hoje é um absurdo dizer que elas já estão ocorrendo e vieram para ficar. Mas daqui a 50 anos, será um absurdo dizer que o planeta NÃO está sendo destruído pelas mudanças climáticas.


07 dezembro 2009

Se a Alma Foi?

há quatro porquês
que faço-te a mim
e faço-me a Ti
de quatro porquês sem princípio nem fim
porque silenciar não posso
porque te gritar não devo
além de tudo que pergunto ao mundo
além do todo que responde e afundo
neste meu poço onde tudo posso
neste meu posso com um porquê no fundo
por que a vida se viver não há?
por que esta alma se a alma foi?
por que a arte se minha arte só?
por que meu sonho se teu beijo não?

só um olho em verbo
que nada ganha e tudo vê:
uma verdade em dúvida...
por quê?

05 dezembro 2009

Crueldade Contra Animais na UFSM - Parte II

O jornal Diário de Santa Maria publica neste fim de semana a notícia sobre a morte de um gato nas dependências da UFSM com procedimentos no mínimo cruéis por dois estudantes de Zootecnia, um da graduação e outro do mestrado. Segundo o jornal, o mestrando admite que matou o gato. Abaixo, confira a versão do próprio estudante sobre o caso, conforme foi publicada pelo jornal Diário de Santa Maria em seu site:

"Ele caminhava meio desengonçado, mal mesmo fisicamente. Aí, peguei-o para ver o que tinha. Peguei uma faca e fiz a sangria, para evitar que ele ficasse sofrendo. E quando fiz isso, não fiz questão de mostrar."
Esta é a versão de um dos estudantes. O leitor acredita nela? Bem, isso a justiça vai decidir. Mas vamos admitir que ela seja verdadeira. Se for, significa que um MESTRANDO em ZOOTECNIA (percebam amigos, mestrando em Zootecnia) vê um gato, segundo ele, mal fisicamente e decide ver o que ele tem, e vendo o que ele tem (afinal, o que é que o gato tinha? era doença ou era fome?) decide que o melhor para o gato é morrer, e morrer com uma sangria, e faz a sangria com uma faca!!! Meu Deus! Ele sangra o animal para morrer! Até eu, que sou um leigo em fisiologia animal, sei que não se mata um animal dessa forma quando ele está doente, um MESTRANDO EM ZOOTECNIA faz isso? Mas o que é que ele aprendeu em todo o curso? E no mestrado? Será que na UFSM não ensinaram a ele que existem métodos menos dolorosos e menos cruéis para se tirar a vida de um animal quando necessário?. O leitor acredita que ele não tenha aprendido isso? Eu não acredito. Ou então ele teve preguiça de ir buscar uma injeção letal que mata sem dor?
Percebam, amigos leitores, que mesmo sendo verdadeira a história contada pelo estudante, ela é um completo absurdo. Um zootecnista sangra um animal para ele morrer... E sem o sedar, ao menos. Ele não sabia que isso causaria uma dor e um desespero horríveis no animal? Vamos ver o que dizem os procedimentos e técnicas de eutanásia em animais, em seu artigo 14:


Art. 14. São considerados métodos inaceitáveis:

I - Embolia Gasosa;

II - Traumatismo Craniano;

III - Incineração in vivo;

IV - Hidrato de Cloral (para pequenos animais);

V - Clorofórmio;

VI - Gás Cianídrico e Cianuretos;

VII - Descompressão;

VIII - Afogamento;

IX - EXSANGUINAÇÃO (SEM SEDAÇÃO PRÉVIA)

X - Imersão em Formol;

XI - Bloqueadores Neuromusculares (uso isolado de nicotina, sulfato de magnésio, cloreto de potássio e todos os curarizantes);

XII - Estricnina.

Atentem, leitores, para o inciso IX: é um método INACEITÁVEL de eutanásia a exsanguinação sem sedação prévia. O mestrando sedou o animal antes de o sangrar com uma faca? Parece claro que não. Ele não sabia que deveria sedar? O MESTRANDO não sabia? Se não sabia, como chegou ao mestrado? Ou sabia e teve preguiça? Se teve preguiça, foi vergonhosamente negligente. Que profissional teremos no futuro? Ou sabia, mas quis ser propositalmente cruel? Queria se divertir com o sofrimento do gato? São perguntas que faço.

Então, amigos leitores, mesmo sendo verdadeira a história desse estudante, ela ainda é absurda, ainda é desumana, ainda é cruel. Sangrar um gato sem sedar, vendo o sangue escorrer, esguichar, espalhando o sangue por todo o local, seja ele qual for, estando o animal CONSCIENTE de tudo, sofrendo em desespero, sem nem ao menos ter certeza do que tinha o pobre gato, sem nem levá-lo para fazer um exame, sem nem tentar tratá-lo, sem nem tentar alimentá-lo, e ainda dizer que o matou por PIEDADE!!! Francamente...

04 dezembro 2009

Ainda sobre o Equívoco no Método Científico

O leitor Pablo fez um comentário bastante pertinente e oportuno sobre o texto abaixo, que merece uma nova postagem. Lembrou-me ele que devo reconhecer que graças ao método científico hoje podemos esperar uma vida de quase 80 anos, sendo que antigamente essa mesma vida não passava dos 30. Reconheço. Porém, com algumas ressalvas. Primeiramente, a média de vida era tão baixa em séculos anteriores porque havia alto índice de mortalidade infantil, o que trazia para baixo a média. Aqueles que sobreviviam aos primeiros anos de vida tinham uma expectativa maior, em torno de 50 a 60. Mas não há dúvida que a diminuição drástica no índice de mortalidade infantil é uma grande conquista da ciência.

Outra ressalva que faço é que mesmo nos dias de hoje há vários países da África e da Ásia em que a expectativa de vida não passa dos 30 anos. Até mesmo na América.
Não nos esqueçamos do 1 bilhão de miseráveis... Será que eles vivem 80 anos?

E uma última ressalva. Na Idade Média, por exemplo, um homem que vivesse 30 anos não teria vivido uma vida mais autêntica que um homem que hoje vive 80? Hoje vivemos sempre cheios de compromissos, sem tempo para nada, numa vida mecânica, robótica, sempre reclamando que a vida “voa”, que é como se um ano passasse como um mês e que 10 anos atrás “é como se fosse hoje”? Esses 80 anos não passaram como se fossem apenas 30? São questionamentos que deixo...

Mas tudo bem, reconheço sim, o aumento na expectativa de vida é uma conquista do atual método científico, negá-lo seria um absurdo. Mas percebam que no texto abaixo não neguei os avanços materiais e físicos da ciência com seu método. O que questiono é no que tais avanços tornaram o homem realmente melhor? Ou a ciência não é para tornar o homem melhor? Por que não, pergunto eu? Por que ela não pode modificar sua visão puramente racionalista e mecanicista para outra mais holística, que englobe outras capacidades e necessidades humanas.

Como afirmei abaixo, Einstein também questionava sobre isso, e não só ele, mas também outros grandes cientistas, como Carl Jung. Este afirmou que a ciência ocidental obscurece a visão quando apregoa que a única forma de conhecimento é o conhecimento racional. Por que a ciência insiste em sua visão mecânica das coisas? É isso que questiono. Creio que a ciência poderia ser mais e melhor se não se mantivesse arrogantemente nessa visão retrógrada. O pensamento medieval, ainda que com vários pontos em atraso, possuía um bem mais avançado que o atual: o de que o homem devia ver a si mesmo como uma parte integrada da natureza e não como seu dominador e explorador.

Que fique bem claro que não sou contra a ciência, somente um idiota é contra o conhecimento. Sou contra a maneira como a ciência é vista pelos cientistas e intelectuais em geral, questiono seu método, que para mim é realmente atrasado. Ninguém é obrigado a concordar comigo, obviamente. E o blog está aberto a outras visões.

Mas o que não se pode negar é a responsabilidade que recai sobre o corrente método científico na destruição do planeta, pelos motivos que mencionei abaixo. Claro que a responsabilidade não é só dele, mas sua parcela de culpa é imensa. A natureza sempre foi vista pela ciência como algo a ser explorado, algo a ser torturado até que nos contasse seus mais íntimos segredos. Tanta exploração levou-nos a que caminho? De nada adianta vivermos 80, 100, 200 anos se não houver um planeta para vivermos...

03 dezembro 2009

O Método Científico é Responsável Pela Destruição do Planeta?


Qual a relação entre o método científico em vigor e a destruição ambiental? Haveria alguma? Para mim está claro que sim. Antes de qualquer coisa, o que é método científico? Ou o que é ciência? Para que serve a ciência? Qual é ou deveria ser o seu maior objetivo?

A meu ver, a ciência deve buscar a verdade, o conhecimento sobre as coisas, sejam elas materiais ou não. E utilizar tal conhecimento para melhorar a humanidade. Mas o que vemos hoje? Vemos uma ciência cujo objetivo maior tornou-se apenas desenvolver técnicas ou fazer descobertas para tornar nossa vida mais cômoda ou mais “saudável”, ainda que esse “saudável” seja um tanto discutível. E ainda que essas “conquistas científicas” somente sejam acessíveis aos que têm condições financeiras de bancá-las. E o mais de 1 bilhão de miseráveis do mundo? O que a ciência faz por eles? No que a ciência contribuiu para tornar o homem melhor? O mundo melhor? A ciência não serve para isso?

Então, para a ciência, somente o que é mensurável, material, e adquirível materialmente é que pode e deve ser científico? É o que diz o método científico? Então, ao meu entender, o método científico está equivocado. Quem disse que ele deve estar necessariamente correto? Pois eu estou o contestando. O método científico é como a ciência atua, e para mim a ciência está atuando de forma equivocada.

O próprio Einstein condenava essa visão materialista e racionalista da ciência, inclusive não foi com esse método, ou unicamente com ele, que Einstein chegou à Teoria da Relatividade. Einstein, segundo suas próprias declarações, chegou a essa genial teoria inicialmente através da imaginação, através de uma sensibilidade artística que trouxe geniais insights ao cientista, os quais mais tarde se transformaram em uma teoria revolucionária. Einstein foi antes de tudo humano, sensível, não somente frio e racionalista. Não é à toa que uma das frases mais célebres de Einstein é esta: “A imaginação é mais importante que o conhecimento.”

Este método científico em vigor é absolutamente mecânico. Assim construiu uma ciência mecânica, que não está preocupada, comprometida com o verdadeiro desenvolvimento humano. De onde provém o atual método científico? Em grande parte, ele é oriundo da filosofia de Descartes. Descartes pensava que tudo era material ou explicável pela matéria, que tudo era mecânico, mensurável, que o universo inteiro poderia ser reduzido às leis físicas já conhecidas, e que o homem poderia fazer o que quisesse com o planeta e com os seres nele existentes, inclusive torturá-los em prol da ciência, pois não haveria alma nenhuma neles. Descartes afirmou: “o grito dos animais sendo torturados em prol da ciência é como o som do funcionamento de uma fábrica”.

Um absurdo? Um método um tanto atrasado? Pois é o método que ainda está em vigor na ciência. E o seu resultado está diante de nossos olhos. Uma civilização que destrói seu planeta a passos largos, afinal foi ensinada pela ciência com seu método que a natureza deve ser explorada ao máximo, pois ela não teria alma e nós, os homens, seríamos seus donos. Esse é o resultado mais elevado deste método científico.

02 dezembro 2009

dos Fins

dos Fins descendo
desci descendente e desço
em queda
livre a serviço

mal sei o que soube em fim
mal vim de saber não sendo
mal sendo me vou e toco...
de sina em sinos
ao som me ensino
silencio
e sinto...

vela em crepúsculo
de chama à morte
aos Fins a(s)cendo...

01 dezembro 2009

Crueldade Contra Animais na UFSM

Um ato de barbárie foi cometido dentro dos limites da UFSM, no departamento de Zootecnia. Trata-se da morte com requintes de crueldade de um gato indefeso por indivíduos que ainda não foram identificados com provas claras, embora existam suspeitos...
O animal, que vivia na dependências da UFSM, foi covardemente capturado e teve sua garganta cortada. No entanto, não morreu. Lutando desesperado pela vida, conseguiu escapar. O gato saiu caminhando e esguichando sangue para todos os lados, tudo sob os risos de alguns indivíduos, que se divertiam com o impiedoso espetáculo. Até que foi recapturado e teve sua cabeça decepada enquanto ele AINDA VIVIA.


O que devo comentar sobre isso? Apenas digo que a UFSM é uma universidade séria e respeitada, e estou certo de que dará uma punição exemplar a esses indivíduos, para que episódios vergonhosos como esse jamais se repitam. Quem foram eles? Quem foi envolvido no crime? Por que motivo o gato foi morto? É claro que a culpa não é do curso de Zootecnia, mas dos indivíduos que cometeram a atrocidade ou foram cúmplices dela. E o curso e a universidade devem tomar alguma providência. É seu dever. Caso contrário, se não houver a identificação e punição dos culpados, quantos atos desse tipo poderão vir a ser perpetrados? Atos como esse não podem ser abafados. Maus tratos a animais é crime previsto em lei, com pena de 3 meses a 1 ano de detenção. Que a lei seja cumprida. E ponto final.


Sugiro que escrevam a este e-mail, para a obtenção de informações: lovatto@smail.ufsm.br

Bateram em Tua Porta...

bateram em tua porta
e tu não atendeste
foi alguém ou foi algo
e tu nunca soubeste
e tu nunca tentaste
e tu sempre temeste
o que foi que perdeste?
pela noite descendo
bateram em tua porta
mas não foi duas vezes
e teus olhos fechaste
e de novo dormiste
é tão cômodo o sono
do qual nunca acordaste
é tão cômoda a vida
como não se findasse
mas a noite caía
e tão alta era a treva
e tão firme a batida
sinfonia em Beethoven
e tu nunca a ouviste
nem pensaste na morte
mas bateram na porta
e saber não quiseste
te viraste de lado
e o olhar não provaste
que o temor era forte
e o final te falava...

mas tu não atendeste

29 novembro 2009

Schubert - Um Gênio Não Reconhecido


Alguns leitores, após lerem a postagem sobre a trágica canção "Der Atlas" de Schubert, pediram-me para que escrevesse algo mais sobre o compositor. Prometi que o faria. Cumpro agora o prometido.

Franz Peter Schubert nasceu em 1797, em Viena, na Áustria. Foi um dos pioneiros do Romantismo na música, porém, quase que no anonimato, nunca tendo sua genialidade reconhecida em vida. Vida que foi curta, pois Schubert morreu em 1828 , com apenas 31 anos de idade, demonstrando uma precocidade raras vezes conhecida no mundo musical, comparável à de Mozart.

Com apenas 17 anos de idade, Schubert, que é considerado o maior compositor de lieder (a canção clássica) da história, compôs o famoso lied "Gretchen am Spinnrade", um dos maiores lieder de todos os tempos. Já na adolescência, Schubert prova toda a sua assombrosa facilidade para a criação de melodias e dá mostras da veia trágica que lhe possibilitaria a criação de sublimes obras-primas no final de sua existência.

A sua capacidade criativa era infinita, espontânea, poética, lírica, viva de inspiração. Pode-se dividir sua obra em duas grandes fases: a 1ª, ainda classicista e fortemente influenciada por Mozart, e a romântica, onde a influência de Beethoven se torna preponderante. Assim, Schubert é um dos compositores responsáveis pela transição do Classicismo para o Romantismo, dando continuidade à revolução beethoveniana. É na fase romântica que se encontra a grande maioria de suas obras-primas.

Porém, a imensa criação de Schubert foi silenciosa, sem a grandiloquência de Beethoven. Nunca atingiu reconhecimento em vida, ninguém o considerava um gênio, a não ser seus amigos mais próximos, e o próprio Beethoven, que antes de falecer reconheceu todo o raro talento de Schubert. Grande parte das obras máximas de Schubert nunca foram executadas durante a vida do compositor. Seu imenso sucesso em todo o mundo artístico só veio décadas depois. Suas músicas não lhe traziam uma renda suficiente para a sobrevivência, tendo que ser por várias vezes sustentado por amigos e familiares, morrendo na pobreza. No entanto, possuía um círculo de fiéis admiradores em Viena. Bem mais tarde, graças a esses amigos e a alguns músicos e musicólogos, sua obra foi resgatada, e Schubert tornou-se um dos maiores gênios do Romantismo.

Em 1822, com 25 anos, Schubert descobriu que estava com sífilis. A partir de então, como se a sombra da doença lhe intensificasse ainda mais a inspiração, Schubert passou a compor num ritmo febril. Ao mesmo tempo, aprofunda-se no Romantismo, iniciando sua última fase de criação, marcada pela produção de uma obra-prima atrás da outra, como se pretendesse deixar ao mundo o maior número possível de obras, pressentindo a aproximação da morte. As composições desse período caracterizam-se pela grande originalidade, pelo caráter trágico, melancólico e sentencioso, embriagado de um clima de fim, sem perder, no entanto, a espontaneidade e a beleza melódicas, que sempre caracterizaram as músicas de Schubert.

São dessa época a enigmática Sinfonia Inacabada, os terríveis últimos quartetos para cordas, as sublimes últimas sonatas para piano, de uma misteriosa originalidade, uma infinidade de lieder de absoluta maestria, além de uma série impressionante de outras obras-primas, como óperas, composições de câmara, composições sacras (entre elas a comovente Ave-Maria, capaz de enternecer o mais empedernido coração), as quais mais tarde serviriam de inspiração para inúmeros compositores, românticos ou não.

Em 19 de novembro de 1828, vítima provavelmente de febre tifóide, Schubert faleceu, deixando para um mundo um dos mais ricos legados da música clássica, sem nunca, no entanto, poder ouvir grande parte desse legado. Não por ter perdido a audição, como Beethoven, mas porque as obras nunca foram executadas.

28 novembro 2009

Não Gosto de Praia*

não gosto de praia
da praia infestada
de vazio humano
tal praia
é a profanação do mar

o que busco
é o oculto da sanga
entre o escuro do mato
como é escuro e oculto
o destino do meu olhar

com o que restou
do sopro livre de minha alma
quero o que restou
do vento livre destes campos:
o meu peito que nada espera
busca os capões brabos
peraus de cobras
onde há mosquitos
da febre amarela
há muito as febres me consomem
que eu só sou vacinado
contra o homem
e meu coração é uma tapera
quero me sumir pelos banhados
com os mistérios
que em mim somem
liberto de tudo que vi
quero me perder
por entre sapos
louco e bem longe de ti

até que se forme
a ventania em mim...
cumprir-se-á então
o que já está cumprido
do começo ao fim

*poema republicado com 2 versos a mais

27 novembro 2009

Campanha Publicitária - Casa dos Poetas

Hoje, dia 27/11, às 20h, na Câmara de Vereadores de Santiago, ocorre o lançamento da campanha de marketing do I Fórum Latino-americano de Literatura e II Encontro de Escritores do Mercosul, promovido pela Casa dos Poetas de Santiago. Infelizmente, não poderei estar presente, pois me encontro, desde ontem, em Santa Cruz do Sul. No entanto, desejo os votos de total sucesso ao evento, e que todo o pessoal constantemente presente em nossos "cafezinhos poéticos" também esteja lá apoiando essa importante realização.

26 novembro 2009

Esta é a Tua História (ou O Pesadelo) - Parte Final

Finalmente, o momento de deixar o escritório. Alívio. Poder pensar em outras questões... Talvez mais profundas... Talvez mais sublimes... Mas o que há de mais profundo e sublime que o trabalho? E aquele relatório, que não há maneira de concluir, não te abandona a racionalidade. E jamais se finda aquela angústia de ter que fazer o que tens que fazer pelo simples fato de que tens que fazer.

Eras o que pensavas enquanto conduzias dormindo o veículo pelas ruas povoadas. Dormindo não de dormir, embora com os sonhos já sonhasses. Com os sonhos não da vida, mas do sono. Pouco sono, aliás. Que o teu pesadelo voltará... Tu sabes. Mas os sonhos da vida... Estes não germinam na alma empedrada de compromissos.

Na avenida de intenso movimento, um acidente. O motorista da moto morreu. Contemplaste como se nunca morrerás. Com piedade do morto. E refletiste sobre o que iria acontecer com o motorista. Talvez nada. Talvez tudo. O homem pensa em tudo para ter uma vida cada vez mais cômoda. Mais tecnológica. Tecno lógica. Tudo deve ser lógico e confortável... Para isso o dinheiro. Para explicar tudo. Aliás, amanhã deves comprar um sofá novo. Dás duro. Mereces. Mas o motoqueiro morreu. O vermelho do sangue congestionando teus olhos. Para onde ele haverá de ir? Foi no que pensaste. Sabes? Não queres nem saber. Não sabes o porquê de saber? Rapidamente substituído pelos olhos da moça do escritório. Rapidamente substituídos pelo relatório de amanhã.

Chegaste. Belíssimo jardim ostenta tua casa. Mal pisaste nele desde que foi construído. Para não matar as gramas, argumentas para ti mesmo. Sabes que mente. Para não matar teu tempo. Tempo é trabalho. Exausto, a cerveja desceu aliviando teus músculos e nervos. Isso é reconfortante Principalmente antes da academia, para revigorar.

Tua esposa também chegou. Os olhos da moça do escritório são mais doces que o da tua esposa. Aliás, ela também está muito cansada. Até porque recém chegara da academia. Agora é a tua vez de ir. Beijo no rosto. Tchau. De carro para a academia. Por que não a pé? Ah, a violência. Estás certo. A violência das grandes cidades não combina com a preservação ambiental. Nada combina com a preservação ambiental. Principalmente o homem. Principalmente o mundo de que o homem necessita. Mas não é coisa para se pensar agora. É coisa para se pensar no nunca. Agora pensarás na academia, pois já estás nela. Não, pensas no relatório de amanhã, no sofá que irás comprar, no dinheiro que estão te devendo, no crescente da tua empresa. Estás conseguindo. Mesmo. Só não consegues o que não sabes que queres.

Academia é um saco, pensaste. Já não aguentas mais. Mas é necessário. Assim como trabalhar. Não fosse a academia, talvez a moça do escritório não teria te olhado. Ainda assim, terias bolso.

Em casa, outra vez, que alívio. Nas impossibilidades da vida, os rios límpidos e serenos emitem as vozes aéreas dançantes de tudo que não podes. E elas queimam rápido no teu sentir. Mas é noite, e a noite nunca tarda, e a noite é um réquiem. Descanso. Delicioso jantar escorreu mecânico pelo teu esôfago. Até te sentiste um pouco mal. O jeito foi deitares mais cedo na noite, mesmo com o medo do pesadelo... Na noite que convidava ao amor... Que espécie de amor? O que sentes pela tua esposa? Sentes? Ou o desejo que se intensifica pelo olhar da moça do escritório? Não sabes. Mas certamente era esse tipo de amor que a cumplicidade da lua, que a violência emocional em silêncio da noite te convida. O sonho...

Dormiste pensando em coisas importantes... No relatório de amanhã, por exemplo. No sucesso da tua vida, sem dúvida, plena de sucesso. Mas o pesadelo te despertou. Pesadelos têm por princípio despertar os homens que dormem. Agora, o silêncio da noite era fúnebre como a morte. Havia algo de estranho pairando no ar. Pensaste lento em coisas distantes. O pesadelo foi absolutamente misterioso. Mistério era tudo o que respiravas agora... Estavas certo que nele, alguém ou algo chamou teu nome. No pesadelo, tu não eras tu. Tu fingias que era feliz, mas sabias que não eras. Tentavas enganar a ti mesmo. Em outro momento de teu pesadelo, enlouquecias, eras o mais insensato dos homens, e então te sentias bem.

Acordava sempre imerso na dúvida. Alguma coisa esquisita vibrava em tua alma. Lembravas da música do pesadelo. Estavas certo que era Bach. Talvez não fosse pesadelo, talvez fosse um sonho mirífico. Alguém batia na porta, pesadas batidas. Não tinhas coragem de atender. Sinuoso e enigmático. Densificou-se o alimento de tua respiração. Algo de impalpável te alarmava.

O sopro das narinas em sono de tua mulher intensificava a tensão. Algum oculto flutuava no desconhecido da noite. O Desconhecido... Um sino soava como uma voz de fêmea. O mistério que te falava e que eternamente sustinha suas asas negras sobre tua alma. Que crescia e fitava-te nos olhos, em paroxismos e apoteoses, dizendo-te de tudo que nunca fizeste, que nunca tentaste, que nunca viveste, que nunca beijaste...

Mas amanhã é dia de trabalho. Deves dormir. Tentando esquecer o pesadelo, conseguiste. E horas depois, acordaste para o teu novo dia. Novo... Como seria o teu novo dia? Basta que releias esta história, que é a tua história...
(Na imagem, o quadro "Homem e Mulher Contemplando a Lua" de Caspar David Friedrich)

25 novembro 2009

Esta é a Tua História (ou O Pesadelo)


Esta é a tua história. E o teu sono foi regado de sonhos e pesadelos. Gotejou a lua nos teus desejos. Abriste os olhos com receio. Alguma coisa não estava correta. Por que sonhar e acordar, se não podes realizar nada do que sonhas? Mas os teus pesadelos eram demasiado reais. Desespero foi a primeira palavra que ensombreceu a tua mente, quando puseste o pé esquerdo no chão. Talvez tudo não estivesse correto. Fracassaste tão logo acordaste. Mas disso não te deste conta.

Olhaste pela janela. 7 horas da manhã. Raios de sol iluminavam teus olhos. De nada adiantaria. Fazias isso todos os dias, todas as manhãs o mesmo ato. Já estavas anestesiado e mecânico. Passado e futuro digladiavam-se em tudo o que sentias. Nunca o presente. E o presente é extremamente cruel. O presente é sempre extremamente cruel. Fracassaste em teu presente. Tens tudo. Mas no fundo não queres nada do que tens. O que realmente, ou iludidamente, queres é sempre o que não alcanças. Mas não sabes disso.

Abriste a geladeira, e ela estava abarrotada de coisas. Sem tempo para comer. Um suco escorregou sem graça pelo teu esôfago. A garganta continuou seca. A laranja não tinha culpa de nada, talvez pensaste.

A roupa que vestiste era impecável. Hoje precisarias de teu melhor terno. O trabalho dignifica. És um homem digno. As ruas pelas quais passavas agora eram de uma magnificência encantadora. Todos os dias o mesmo trajeto. Mal as viste. Exausto sem ainda estar, cansado sem cansaço, o cosmos falava pelo canto dos pássaros. Já estavas atrasado. O salário era alto, como não poderia deixar de ser. Sempre valia a pena o esforço, o sacrifício e a dedicação extremados. Imensidões de esperança despencavam de céu irrepreensivelmente azul. Já estavas no escritório.

Cumprimentaram-te de acordo com toda a necessidade do respeito que te é devido. Há muito tempo teus olhos não se enchiam de lágrimas. E assim permaneceram. Fitaste a vetusta figueira filtrada pelos vidros espelhados do escritório. O verde irradiava-se livre pela ascensão triunfante do dia. Fracassaste em teu emprego. Trabalhaste para ser livre. Mas te tornaste ainda mais escravo. Escravo de teu sucesso.

Afogado nos papéis, uma sede insaciável debatia-se em tua alma. Córregos, rios, mares, oceanos cintilavam pelo longínquo sob o crepuscular das estrelas. O olhar da moça que passou dirigiu-se aos teus. E tua assinatura era agora imprescindível. Em centenas de documentos que em verdade não diziam nada. Mas eram tudo. Lembras-te que há muito tempo não via olhos como aqueles? Reminiscências espirituais de estrelas que há muito séculos partiram. Tristeza. Um pequeno besouro chocou-se contra a parede envidraçada. E uma gota de tinta manchou o terno impecável.

Ninguém é impecável. Como é da natureza humana, e animal, a fome sempre chega. Ao meio-dia, o sol atinge o seu auge. Mas não há tempo para considerações. Em teu carro de modelo importado colocaste uma música da moda. Não te agradava realmente, mas não havia tempo para encontrar aquela em que pensavas há meses. Em um buraco furaste o pneu. Ficaste tenso. Já não estavas bem. Tens andado nervoso ultimamente, talvez seja devido aos pesadelos. Mas furaste o pneu. O azar e o imprevisto voam sempre tão alto que não dá para avistá-los. Descem suas asas negras sobre os minutos de calmaria. Mas não há tempo para divagações. Trocaste.

O restaurante era belo. E caro. E impregnado dos mais vários e lindos alimentos. Ao longe os pomares em jardins impactantes e comoventes aspergiam o pólen de suas flores pelos ares límpidos e vivos de borboletas. Ao longe... O restaurante era o mesmo de todos os dias. Não há nada de novo sobre a terra. Pediste o de sempre. Antes de entrar, porém, um pequeno gato roçou-te a calça. O felino fitou teus olhos. Sem tempo para sentimentalismos. Sem tempo para considerações. Comeste. E isso é tudo. É prático. Haveria algo de maior em cada molécula ingerida? Levantaste da mesa, teu terno estava maculado pela tinta da caneta. Aborrecido. O terno maculou tua alma. Pagaste. Dinheiro não é problema.

Problema eram os olhos da moça que entrara no escritório. Ela não trabalhava contigo. Onde estaria agora? Amanhã, tu terás reunião. “Lembras-te disso espírito da terra.” E depois de amanhã também. Quem sabe a moça retorne... Pelo acaso. Voltaste. Passaste pela mesma rua de sempre. A fronde das árvores evaporando-se em sonhos? Agora não há como lembrar. Principalmente de sonhos. Principiava a tarde. Era tarde. É sempre tarde. Irritou-te com as infinitas questões do trabalho. Sempre haverá problemas, e se os resolveres, surgirão outros. Até quando serás saudável? Esse é o infinito. Porém, vale a pena preocupar-se com eles. E irritar-te. E estressar-te. O estresse está na moda. Vale? Nas distâncias inatingíveis e somente imaginadas, ou contempladas através das ondas da TV, vales floridos e verdejantes, onde pequenas casas de rústica beleza e simplicidade espargem melodias de Bach, ou eram como que eternamente. Talvez lá houvesse cintilantes olhos como os da moça relampejante do escritório. Aquele dinheiro que não te pagam continua te tirando o sono. Teria o fato alguma relação com teu pesadelo recorrente? Sim, agora pensavas no pesadelo... Ele voltará...

As cédulas serão necessárias para o necessário investimento. E a tarde vai passando. Passando como se não passasse. Ou como se passasse de forma total e devastadora. E não deixaste nada de nada. Como se não fosse nada. Mas sendo tudo para ti. O tempo morreu. Foste tu que o mataste.
Amanhã, a parte final
(Na imagem, o quadro "O Pesadelo" de Füssli)

23 novembro 2009

Que eu sei muito bem...

enquanto falas falas
com teu sorriso mentido
ao cair lento
invisível da treva
no escuro
ao silêncio do verbo em trovão
melhor te conheço

que eu sei muito bem...
eu sou aquilo que vem...

então achaste mesmo
que o tenso do raio primeiro
fosse o encerrar da tormenta?
secreto medo nos olhos te leio...
a Tempestade ainda nem veio...

quer dizer que pensaste
que o intenso da tormenta inicial
fosse o findar do tufão?
há um aviso no teu lábio ao meio...
o Furacão ainda nem veio...

então tiveste certeza
que o denso do horror que desaba
fosse todo o horror já no fim?
tu sabes que em ti eu não creio...
o Horror ainda nem veio...

que eu sei muito bem...
eu sou aquilo que vem...

O que é Poesia?

é brasa inflamada
jogada num poço

chama de incêndio
acesa na chuva

lava vulcânica
jogada na antártida

e o poço e a chuva e a antártida
é o teu coração

21 novembro 2009

O que Fica...

que o tudo que sinto
seja mais forte mais vasto mais alto
que o nada
que me impele pra baixo

se alvejarem meu tigre
não apagarão a força
com que ele sangrou suas presas...

se flecharem minha águia
não apagarão o espaço
que percorreram suas asas...

se serrarem meu cedro
não apagarão a altura
que atingiram seus galhos...

20 novembro 2009

Schubert e a Canção mais Trágica do Mundo


Qual a canção mais trágica para você, leitor?


Na música clássica, a canção é universalmente denominada Lied (literalmente, canção, em alemão). Lieder é o plural. Trata-se de uma composição breve, de caráter lírico e melódico, geralmente para soprano ou tenor, com acompanhamento de piano, piano e algum outro instrumento, ou orquestra. O Lied também constitui uma união perfeita entre a música e a literatura, pois quase sempre a canção clássica possui como letra um poema composto por algum grande poeta. Goethe foi o poeta que mais teve poemas musicados.

O compositor austríaco Franz Schubert é considerado o responsável pelo desenvolvimento e ápice do Lied, seguido por Schumann, Brahms e Mahler. Pois Schubert compôs uma infinidade de canções trágicas. Muito difícil escolher qual a mais trágica. Qual a mais triste. E mais difícil ainda se compararmos com os lieder de outros compositores, principalmente Brahms.

No entanto, cheguei a uma conclusão quanto ao lied mais trágico. Fiquei entre vários de Schubert e alguns de Brahms, e decidi pelo lied "Der Atlas", que está no ciclo de lieder "Schwanengesang", D957, de Schubert. Esse não é o lied mais triste, nem o melhor. O melhor talvez seja o 1º lied das "Quatro Canções Graves" , "Denn es gehet dem Menschen", de Brahms. E o melhor de Schubert talvez seja "Gretchen am Spinnrade", com texto do "Fausto" de Goethe. Mas o lied "Der Atlas", com pouco mais de 2 minutos de duração, é, para mim, o lied mais trágico do mundo. Esse é o meu julgamento, obviamente subjetivo, como qualquer julgamento artístico.

"Der Atlas", ou "O Atlas" é um pequeno poema do poeta alemão Heinrich Heine, grande nome do romantismo. Atlas, é um personagem da mitologia grega que, devido ao seu desmedido orgulho, recebeu o castigo de carregar nas costas o mundo. É desse personagem mitológico que se originou a denominação dos atlas geográficos. Abaixo, está o poema de Heine, no original em alemão e com a tradução. Quanto à música de Schubert, eu espero ter despertado no leitor que ainda não a conhece, o desejo de buscá-la e conhecê-la.


DER ATLAS

Heinrich Heine

Ich unglücksel'ger Atlas! Eine Welt,
Die ganze Welt der Schmerzen muß ich tragen,
Ich trage Unerträgliches, und brechen
Will mir das Herz im Leibe.

Du stolzes Herz, du hast es ja gewollt!
Du wolltest glücklich sein, unendlich glücklich,
Oder unendlich elend, stolzes Herz,
Und jetzo bist du elend.

O ATLAS

Eu, desafortunado Atlas! Um mundo,
Todo um mundo de sofrimento devo carregar,
Carregar o incarregável, e no peito
Carrego um coração que quer se quebrar.

Ó, coração orgulhoso, bem tu o quisera!
Quisera felicidade, infinita felicidade!
Ou infinita miséria, orgulhoso coração,
Quisera tu! Agora és miserável.

(Na imagem, Schubert, aos 15 anos de idade)

19 novembro 2009

I FÓRUM LATINO-AMERICANO DE LITERATURA / II ENCONTRO DE ESCRITORES DO MERCOSUL.


A Casa do Poeta de Santiago, "Casa Caio Fernando Abreu", convida toda a comunidade regional para o lançamento da campanha de marketing do I FÓRUM LATINO-AMERICANO DE LITERATURA / II ENCONTRO DE ESCRITORES DO MERCOSUL.A campanha será lançada no dia 27 de novembro de 2009, sexta-feira, às 20h00min, na Câmara dos Vereadores de Santiago e o traje é esporte.
O evento internacional ocorrerá naquele mesmo local, nos dias 22, 23 e 24 de janeiro de 2010.Maiores informações podem ser obtidas no site da casa: http://www.casadopoetadesantiago.com.br/ .

18 novembro 2009

Na Praça Pública

O poema a seguir, cujo título está acima, é de José Régio, um dos maiores nomes do modernismo português. Melhor que comentar um poema, é deixar que o leitor o leia e tire suas próprias conclusões. Assim deve ser a arte. Não é para ser analisada. É para ser vivida e sentida. Não existe uma interpretação única e "correta" de um poema. Existe o que ela suscita em sentimentos e pensamentos no leitor. Nem mesmo o autor é dono de sua poesia. Ele é seu instrumento. Bem, vamos ao poema, que é o que realmente importa...
....
Subi ao púlpito negro
Por minhas mãos levantado;
Levantado
Por minhas mãos esgarçadas...
E, da tribuna mais alta,
Arrepelando os cabelos,
Gritei à malta:
“Eh, Camaradas!... Ouvi,
Que vou dizer-vos quem sou.”
Depois
Tudo o que penso de mim,
A minha boca gritou.
Gritou assim:
“Desde Jó
Que sofro as minhas feridas
E as minhas resignações.
Bastou: preciso falar!
Jó, deixa uivar os leões!
(Tens uma jaula no seio...)
Que este é o meu ar.
Estas vagas mãos caídas,
Estes vagos olhos fitos,
Este vago riso alheio,
- Não sei quem foi que mos deu!
Eu?!...
Eu sou um doido aos gritos,
Um que torce as mãos e berra,
Com olhos cegos de pó,
Com boca cheia de terra,
Com sangue roxo nas unhas,
Com micróbios nos pulmões...
Jó,
Abre a grade dos leões!
Camaradas!... Camaradas!...
Eu sou um velho realejo
Velhas valsas descoradas
Que farto já de esmoer,
Desandou,
E desatou a gemer
Coisas que ninguém no mundo
Lhe ensinara,
E que ele sempre guardara
No fundo
Lá tão no fundo!...
Eu?! camaradas!
Eu sou o esboço de Alguém
Que esteve quase a nascer
Mas não nasceu.
...Quem não me deixa ser eu?!
Viver
É, para mim, duvidar,
Desvairar,
Interrogar,
Procurar-me
Torturar-me
Agarrar fumo nas mãos
E acenar a uns meus irmãos
Que sinto perto, e não vejo
Por causa da multidão...
Sou um desejo
Que não tem satisfação!...
Embrião
Que nunca pode ser flor,
(É esta minha tragédia
E é esta a minha comédia)
Sou a linha do Equador,
Que fica entre Cá e Lá...
Senhor!
Meu Autor,
Criador nosso,
Culpado disso que sou!:
Ah, Camaradas!...”
E eu ia enfim, revelar-me...
Não sei que vento
Me levantava os cabelos
E me arrastava
Num turbilhão...
Todo eu era um alarme
Que vibrava
Abria-se-me a prisão!
Abriam-se
As minhas fontes fechadas!
Meus olhos doídos, fundiam-se
Em lágrimas que nasciam
Do coração...
Então,
Parei, sentindo risadas
Entre aqueles que me ouviam.
E as suas caras diziam:
- Que charlatão!
José Régio

17 novembro 2009

Sobre um Tema de Fernando Pessoa


“Aos que a felicidade é sol, virá a noite...”

Fernando Pessoa

é belo o sol
imperador classicista dos céus...
mas a peste romântica da tempestade
amargura do caos
violência de tigre que ataca
vem e não se detém:
finda-se a paz do sol
no desespero das nuvens
carregadas...

é belo o azul
dos céus inatacavelmente felizes...
mas a pata em silêncio do lobo da noite
decadência do olhar
peso do sonho que esmaga
vem e não se detém:
finda-se a paz do azul
no desespero das trevas
carregadas...

é belo o rio
sereno e límpido sob azul e sol...
mas violento e túrgido sob noite e chuva
vem e não se detém:
finda-se a paz do rio
no desespero das águas
carregadas...

é vão lutar
contra o que deve vir:
o Fim sempre vence...
então deita nas águas do rio
e deixa por elas ser
carregado...

(Na imagem, o quadro "A Tempestade" de Giorgione)

15 novembro 2009

E uma Ave que Voa...

aqui
como se não estivesse
como se tirassem o mundo
debaixo do meu sou
coruja que clama pela noite
e a noite amanheceu
como se fugisse o ar
ao meu erguer de asas
promessa branca
cumprida ao contrário
pacto de sangue
em sangue sem hemácias
descompactado
divino sorriso
só aberto em ironias
horizonte em mar
salgado
quando se tem sede
e uma ave que voa
na aurora da chuva
como se dissesse a deus...

14 novembro 2009

Limites

a formiga
no jardim
pensa que o mundo
é o jardim

o tubarão
no mar
penso que o mundo
é o mar

o periquito
no mato
pensa que o mundo
é o mato

o morcego
no escuro
pensa que o mundo
é o escuro

e o homem
no mundo
pensa que o mundo
é o mundo

12 novembro 2009

A Grandiosa Farsa de Yeda

Tu, amigo leitor, engoliste o pacote de reajuste dos servidores de Yeda e caíste na sua enganação, que tão pomposamente, prenhe de mentiras e hipocrisias, vem apresentando à sociedade? Eu não. E acredito que tu também não. No entanto, como a mídia vive manipulando o povo, e até mesmo os blogs estão estranhamente calados sobre o assunto, vamos à verdade, na forma de um divertido VOCÊ SABIA.

VOCÊ SABIA que o governo Yeda prometeu dobrar o salário da Brigada Militar, mas agora contempla os brigadianos com um reles aumento de 20%, e que continuam sendo os mais mal pagos do Brasil na área de segurança?

VOCÊ SABIA que o “reajuste” de Yeda só contempla 14% dos professores, pois 86% deles estão nos níveis 5 e 6, que não ganharão 1 centavo de aumento?

VOCÊ SABIA que os professores aposentados foram excluídos do “pacote”?

VOCÊ SABIA que esse “reajuste” na verdade não é um reajuste? É somente um completivo para os que ganham menos de R$ 750,00. E é um completivo que não se incorpora ao salário, pois será descontado quando houver qualquer tipo de reajuste real. Não há nenhum índice de reajuste proposto aos professores, tudo foi enfiado goela abaixo sem nenhuma discussão. Isso foi tudo que o governo Yeda fez depois de 3 anos sem dar ao menos a reposição da inflação ao magistério.

VOCÊ SABIA que o novo plano de carreira incluído no “pacote” acaba com direitos adquiridos pelos professores, como promoções, triênios, avanços entre níveis e licença-prêmio? E que aqueles que não aderirem ao novo plano IMPOSTO e não discutido entre as categorias terão seus salários congelados?

VOCÊ SABIA que dizer que o piso do magistério vai passar para R$ 1500,00 é uma imensa mentira? Piso salarial é o vencimento básico de início da carreira, e sobre ele recairão os avanços e gratificações obtidos. Já para Yeda, piso é tudo isso somado. Ou seja, para ela, piso é o mesmo que teto. Significa que um professor que ganhe R$ 1500,00 devido a todo seus avanços, gratificações e conquistas não receberá 1 centavo de aumento, pois já está dentro do piso, que é o teto. Por que será que ninguém fala sobre isso?

VOCÊ SABIA que o tão propalado 14º salário é outro engodo? Primeiramente, afirma que somente irão receber o tal salário aqueles professores que merecerem. Mais quais os critérios desse merecimento? Provavelmente será puxar o saco do governo e não questionar suas decisões. Será um abono para os puxa-sacos. E ainda assim, segundo o próprio secretário da fazenda, “Se o Estado não estiver equilibrado, não tem prêmio.” Haha! Digam-me quando que o Estado está equilibrado?

Esse é o novo jeito de governar, através da mentira descarada, e com um poderoso mecanismo de marketing por trás. Mas há algo de novo nisso? Outra prova da grande farsa que é este governo incompetente e corrupto de Yeda é o trecho da rodovia entre Santa Maria e Paraíso do Sul. Passei por lá semana passada. Há um enorme cartaz que ostenta: Recuperação do trecho... blá, blá, blá. Mas a realidade que salta aos olhos, e ao carro, é uma buraqueira e desníveis vergonhosos.

Alguém vai me rebater?

11 novembro 2009

Eu sempre me espanto...


porque falam
no milagre da vida
e nas maravilhas do cosmos
aqueles que julgam
que o milagre da vida
e as maravilhas do cosmos
não passam
do fruto sem sentido do acaso
de um amontoado estúpido de átomos?

se a Lei existe ou não
por que deveria ela
desocultar-se de seus longínquos
atender mansa a nossos gritos
responder clara às nossas mentes?

crer no acaso
ou crer na Lei
não é certeza,
é crença:
não faz diferença

então
prefiro crer
que a beleza e o canto do pássaro
não são imagem e ruído ordenados
por absurdas coincidências

para mim
a beleza e o canto do pássaro
são beleza e canto!
e em tudo que vejo e ouço
eu sempre me espanto...

09 novembro 2009

A Dança Cósmica (Parte Final)

(Na imagem, o quadro "O Ancião dos Dias" de William Blake)

E eu tinha minha alma antes junto com Ele. Tinha-a antes do Bigbang. E após o Bigbang que tinha outro nome passei a existir. Mas eu já era. Desprendeu-se a minha alma do ventre do Todo que é Uno: a minha Mônada. O universo passou a existir, a se expandir. Iniciou o Grande Dia Cósmico. A que os ocultos antigos chamavam Mahavantara. O Grande Dia Cósmico que é a concretização do que estava latente no Cosmos, a germinação da semente, a expansão iniciada com o Bigbang, é o agora, somos nós. Está claro que esse dia chegará ao fim, e advirá a Grande Noite Cósmica. Que é o contrário. A retração, o encolhimento, o envelhecimento, a morte. Todas as coisas passarão a deixar de existir e mergulharão novamente no seio do Todo que é Uno. O universo irá se densificar, pois chegará a um ponto máximo em que não poderá mais se expandir: é a Noite. Então tudo voltará ao ponto inicial.

Eu estava lá com Ele. E nós vimos. O grande cíclico movimento, densificação extrema, todas as almas, as mônadas, as partículas elementares voltando ao ventre até formar o estado pré-bigbang. E assim justifiquei para mim mesmo o amor. O amor é perfeitamente lógico. Devemos amar-nos uns aos outros porque somos os outros. No fundo, somos a mesma coisa: fagulhas nascidas de e pertencentes a um Todo que é Uno. Éramos uma coisa só, um átomo titânico, antes do Bigbang. Continuamos essa mesma coisa só, ainda que transformados. E voltaremos a ser esse átomo titânico. Por isso o amor. Não amar é como um braço de um corpo detestar e prejudicar o outro braço do mesmo corpo.

Ao iniciar o Mahavantara, eu iniciei a aventura da existência. Como se fosse tudo simultâneo e em perfeito equilíbrio e dinâmica transcendente. Deixei o repouso sereno da Noite Cósmica, do estado pré-bigbang e mergulhei na dramaticidade do teatro da formação espiritual-física. Desci, criado, e ingressei na evolução. E fui um elemental mineral, um elemental vegetal, um elemental animal, e fui um Elemental humano e... Viria mais. Algo além da evolução mecânica. Mas se não se vai além da evolução, vem o outro lado da roda, a outra face da moeda, pela lei do Eterno Retorno, vem a involução. Dia e Noite. E assim sucessivamente, infinitamente, em intermináveis ciclos. Noite e Dia.

Bigbangs explosões expansões auges retrações densificações auges Bigbangs explosões expansões... E o Todo deixando de ser Todo e sempre sendo Todo e sempre sendo Uno. E todas as coisas passando a existir sendo criadas e se expandindo ao máximo e se retraindo e sendo descriadas deixando de existir mas sempre sendo até a retração-regressão máxima e todas as coisas...

Universos e mais universos nascendo e morrendo e tornando a nascer e tornando a morrer. Assim é conosco. Assim é o Cosmos. E quantos bilhões de anos ou trilhões ou quatrilhões compõem um Dia Cósmico? E quantos Dias e Noites Cósmicas já vieram e morreram e retornaram? Quantos Bigbangs? E quantos ainda virão? E eu vi tudo isso. Eu estava lá com Ele. Nós estávamos lá com Ele. Nós éramos Ele. E Ele é Deus.

08 novembro 2009

A Dança Cósmica

(Este conto foi escrito em 2003 e publicado em 2004 no jornal Letras Santiaguenses. Republico-o aqui com algumas poucas alterações e adequações ao meu estilo atual de escrita.)

Eu vi. Eu estava lá. E vi que no Princípio era o Verbo. Mas não vi o que era o verbo. Mas sei que era Ele, porque eu era Ele. Ali estávamos eu-Ele, e o Bigbang explodia. Principiava o universo mais uma vez. Ali, eu-Ele éramos todas as coisas não-feitas, não-formadas, nós e tudo mais éramos sem existir, no seio do Todo, sem formação, sem criação, mas sendo. Ali, antes do Bigbang, ou do Princípio do Mahavantara, como era seu nome para os antigos, estávamos extremamente densificados, numa vida não-vida, cujas sensações sem-sensações não se pode definir. Foi então que tudo principiou, e o Verbo fez-se. O universo explodiu no Bigbang novamente, e todas as coisas foram criadas, foram desdensificando, sendo feitas, passando a existir e não apenas ser.

Quando passei a existir, não era mais Ele, mas ainda permanecia com Ele. Numa época relativamente recente, que hoje diríamos que foi há milênios, descobri ocultamente que o Bigbang não é moderno. Do Bigbang já me disseram há milênios. É antigo, muito antigo. O que há de novo? O novo é o muito velho. Tudo retorna. Tudo é cíclico. A existência de todas as existências é regida pela lei do Eterno Retorno. Dinâmica infinita. O dia, ao chegar ao auge, regride em favor da noite. A noite, ao chegar ao auge, regride em favor do dia. O verão e o inverno se amam da mesma forma. O progresso da economia de um país regride ao chegar ao auge, em favor da recessão... A felicidade psicológica de um ser humano, ao chegar ao auge, regride em favor da dor... Por que com o universo todo seria diferente? “Assim como é acima, é abaixo”. Hermes Trimegisto.

Eu estava lá. Eu vi. Vi quando o universo, ao atingir o auge de sua densificação, não pôde mais continuar, e necessitou se expandir. Como é impossível à noite se intensificar a partir de certo ponto. Eu estava lá com Ele. E vi o universo explodir e principiar sua expansão. Vimos quando todas as coisas foram feitas. Era belo, sublimemente belo, ver todos aqueles sóis, planetas, cometas, luas, animais, plantas, homens, anjos, deuses... O Todo sob a vontade do Um. O Um sendo o Todo. Na verdade, seria mais preciso dizer que as coisas passaram e passam por profundas transformações, e não por criações. Pois antes já eram, apenas não existiam. Ou existiam em estados latentes. “Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.” Lavoisier.

Mas foi ali que eu-Ele contemplamos que a matéria é uma transformação da energia. E que ambas são a mesma coisa. Vimos com olhos de alma que lá no átomo, ou aqui no átomo, as partículas ínfimas que formam seus prótons e elétrons comportam-se como energia. E estão em terrível movimento. Têm vida. A vida que palpita em todo Cosmos, o espírito vibrante do Todo que é Uno. O Mistério da Dança Cósmica. Vimos que as partículas têm sua irmã gêmea. Que quando mexemos nessa partícula, a sua irmã, instantaneamente, muito mais rápida que a luz, também é mexida, ainda que esteja a anos-luz de distância...
(Amanhã, a parte final)

07 novembro 2009

Sede e Sede

quem tem sede
(a sede do corpo)
não tem sede de copo
tem sede de água:

então
quem tem sede
(a sede da alma)
que é a sede mais alta
não tem sede de corpo
(que é o copo)
tem sede de alma
(que é a água)

06 novembro 2009

Última Chance

preciso de mais uma chance
ao meu último adejo de asas
pra voar à Torre de Vênus
que quase cheguei há algum dia

ah! que eu quase fui alto na noite
ah eu quase passei do meu fim
eu quase beijei nos teus olhos
quase olhei nos teus lábios

mas caiu-me a lua em pedaços
mas quedou-me quieto teu canto
mas um raio incendiou-me de asas
mas um fogo encheu-me de sangue

que eu... e agora que tudo se oculta?
eu.. e agora que estrelas se inflamam?
e agora que matam-se os loucos?
agora no último lance?

preciso
da Última Chance...

05 novembro 2009

Estrela...

para Liziane Serafini

os fogos-fátuos da terra inflamada
nos vagas-lumes de uma estrela ao longe

os incêndios da tempestade em febre
nas fluídas chamas de uma estrela ao longe

velas elétricas de raios cósmicos
nos altos raios de uma estrela ao longe

lavas vulcânicas de bomba atômica
nos sóis em fúria de uma estrela ao longe:

meus lábios
nos teus

03 novembro 2009

Em Chamas

Sozinho, eu seguia pela estrada que parecia não ter fim. A cada passo que com absurdo pesar eu executava, uma nuvem negra de sangue surgia nos horizontes carregados de horror. A poeira da estrada desolada ardia-me nos olhos, como os resquícios de um sol que se filtrava pelo peso das nuvens. Quanto menos o sol brilhava, mais fatais eram seus raios. E a cada passo que eu dava, eu morria cada vez mais... Ao meu redor, para onde quer que eu olhasse, não havia nada. Nada! Absolutamente nada, devastadoramente ninguém. O mundo não estava ali. Mas isto era o mundo. Horizontes infindos de um nada que crescia como fungos na lama apodrecida. E sempre olhando à frente como o condenado contempla sua forca, eu contemplava o cosmos cada vez mais carregado.

O céu não estava no alto. Ou estava, e eu não o via. Ou ao alto estava, eu o via, mas ele não aparecia para mim. A cada passo que em delírio meu corpo sonhava que dava, surgia um rosto feliz com um sorriso esponjoso, rançoso e hipócrita em névoas claras pela imensidão do nada. Eles sorriam e queriam mostrar-me o caminho, dizer-me por onde ir, eles sempre sabiam de tudo, embora eternamente soubessem de nada. Em seu nada, aqueles rostos eram indescritivelmente horrendos. Eles surgiam como reação aos meus passos. E eu mal conseguia caminhar desde que os Outros vieram e cortaram-me as asas. Eu olhava para o alto e invejava os corvos que eternamente pairavam sobre minha existência.

Desde que podaram minhas asas, eu não consigo mais andar pelo mundo. Eu joguei pedras com o meu sangue derramado naqueles sorrisos imbecis. Eu soprei o furacão que devasta os meus pulmões nos olhos dos sensatos em suas vidas atoladas no nada. Eu beijei a boca quente da minha sublime tuberculose. Eu olhei para trás, para tudo o que havia percorrido, e contemplei extasiado os rastros roxos do meu sangue golfejado pela minha boca que nunca cessa de sentir.

Os rastros de sangue da sublimidade incomparável da minha tuberculose é que iriam salvar-me. Eu poderia voltar, jamais me perderia. As nuvens se intensificavam, caía chuva torrencial sobre meus sonhos. E eu os erguia cada vez mais alto, mais ao alto! Enquanto eles eram metralhados pelos sensatos que sorriam em seus rostos suspensos na nulidade do nada. Um banho de sangue e de lágrimas jorradas das almas de meus sonhos matou minha sede de tudo. Que a chuva era ácida. E eu jamais me contentaria com o teu muito que é miserável.

Ergui minha mão ao raio com um poema escrito com brasas nas minhas veias, e o raio o queimou. E sua fumaça ascendeu no fogo e impregnou as narinas de Deus. E os sorrisos dos sensatos, dos certos, dos felizes aplaudiram meu poema hipocritamente sem nunca o terem lido, pois Deus o queimou e respirou com suas narinas doentes. E eu era asfixiado pelo fumo de minha obra.

O aspecto repulsivo dos felizes com a coluna vertebral chafurdada na lama revoltou-me o estômago. Enquanto eu seguia sedento e avançava indômito em sofreguidão pela estrada por entre o nada, podia ouvir os berros desesperados dos gatos torturados pelos sensatos que sempiternamente assassinavam liberdades. O horror pairou mais denso e grave pelas atmosferas trovejantes. Na monumental infelicidade de sua felicidade, os rostos suínos (porque era nisso que agora se metamorfosearam) alimentavam-se das fezes que eles mesmos produziam em meio de seu nada que eu pisava indiferente e indignado.

Por entre a tempestade, caía a mais suprema das noites. Uma lua de absurdos donde partiam terríficos arcanjos imperou sobre minha desgraça. Extirpei de meu peito uma rosa de sangue febricitante para deixar nas mãos brancas do vulto gracioso que surgiu do nada. Acompanhava-me. Eu não estava morto.

Arranquei minha alma da tristeza e da revolta, fúria e melancolia, que fervilhavam no oceano de meus sentimentos. E com minha alma na ponta afiada da espada, fitei o que havia no lado escuro da lua. De um trovão mitológico, partiu uma flecha incendiada de olhares que causou fatal terremoto pela imensidade do nada de lodo. Um ciclone de desejos levou minha angústia poética ao auge enquanto ela gritava ao se debater em meus ventos. Um mar vermelho, de repente, cobriu todo o céu e a lua.

Meu olho imenso se abriu e dardejou aos céus como uma lança de liberdade insana. Alucinado, respirei fundo o veneno do ar que me oprimia e senti-me mais forte. Eu também era nada, mas alimentando-se do sangrar incessante de tudo o que eu sinto, minha Alma não morreu. Eu não deixei que a sepultassem no sem-sentido da vida dos certos. Minha alma, Em Chamas, vive, enquanto eu caminho com olhos sangrentos, desvairado, rumo à próxima Aurora...

02 novembro 2009

O Desastre da Legislação Ambiental Brasileira e o Otimismo de Maffesoli


Agora querem alterar a Legislação Ambiental. Para pior. Para poderem desmatar mais, inclusive a mata das margens dos rios. Para devastarem as parcas florestas que restaram nas propriedades rurais. Não querem ter limite nenhum. Querem acabar com tudo. E querem ser perdoados das multas que pagaram no passado ou que ainda têm que pagar. Por quê? Ora, porque os proprietários de terra têm o direito de fazer o que querem com ela, afinal são donos. O que tem a humanidade a ver com isso? Mas não querem desmatar para o lucro, longe disso. Querem fazê-lo para o desenvolvimento... Como soa pomposa essa palavra: DESENVOLVIMENTO. DE-SEN-VOL-VI-MEN-TO!!! Não é linda? Acho que é a palavra mais bela e poética da língua portuguesa. Parece que estou vendo os políticos encherem a boca, estufarem as bochechas para pronunciar o mais profundo lema da humanidade: “tudo pelo DESENVOLVIMENTO!

É como diria o pensador francês Michel Maffesoli, o mundo está melhor, está menos individualista. Haha! Quer dizer que ele pensou, pensou, e chegou a essa conclusão? Agora recebi a prova de como sou imbecil. É incrível, mas eu não consigo enxergar o óbvio: o mundo está menos individualista. Certamente devo ter sonhado quando li nos jornais que o número de famintos e desnutridos no mundo passou de 800 milhões para mais de 1 bilhão nos últimos anos. Ah, PENSANDO bem, só aumentou em 200 milhões! 200 milhões é só a população do Brasil. Isso não é nada! É só um acidente de percurso em nosso pomposo desenvolvimento...

Se eu pudesse dialogar com o senhor Maffesoli e outros pensadores pós-modernos do 1º mundo eu sugeriria: por que vossos países ricos, que não são individualistas, não ajudam de verdade aqueles países pobres que vocês tanto exploraram no passado? De vez em quando eles mandam umas esmolas, que rapidamente são repostas em quádruplo pelo lucro de suas multinacionais. Que não são individualistas.

Maffesoli é francês. A França não é individualista. Claro, enriqueceu tanto com suas colônias do passado (e ainda enriquece com suas multinacionais) que agora tem riqueza para todo mundo. Foram séculos de pirataria, pilhagem e roubalheira dos recursos naturais de países que hoje agonizam com 1 bilhão de famintos e desnutridos. 1 BILHÃO! Isso também é pomposo!

França, Inglaterra, Portugal, Espanha... Países que não são individualistas. Foram séculos devastando matas, poluindo rios, extirpando as riquezas das terras férteis e transbordantes de ouro e diamante do 3º mundo, à custa das lágrimas dos seus povos, da escravidão e do sangue derramado, à custa de seu suor inútil, de suas esperanças asfixiadas, de seus direitos renegados. Claro, agora não é mais preciso ser individualista. Agora todos são tolerantes e amiguinhos. Inclusive eu, inclusive você, amigo leitor. Não somos mais individualistas, desde que os problemas dos outros não atinjam o nosso próprio umbigo. 1 bilhão de famintos? E daí? Eu não tenho nada a ver com isso.

O intelectual Maffesoli disse que o homem deve sonhar. Concordo plenamente. Aliás, sonhar é o que mais faço na vida. Como escrevi em certo poema, não passo de um labirinto de sonhos. Eu só tenho uma dúvida: acho que em alguns anos vamos ter que sonhar no mundo da lua, porque não haverá mais planeta Terra para sonharmos...

31 outubro 2009

Sem Termos...

façamos um pacto
nos seguintes termos:

amemos sem termos
morrido
morramos sem termos
amado
e só por termos amado morramos

ao amor não há
adequados termos:
alto cardíaco pacto
de infinito amor:
impossível matemática
sem
termos...

30 outubro 2009

Otacílio e Madalena ou A Morte do Pampa (As Almas do Fantástico na História do RS - História 3ª) - Parte Final


Mas o que mais me impressionou foi quando entrei no quarto do casal. Ali estava a cama embolorada e úmida, carcomida por ratos, traças e outros animais que ali fizeram seus ninhos em meio a cobertores, lençóis, pelegos e travesseiros esquecidos. Fiquei imaginando os anos felizes em que ali Otacílio e Madalena viveram. Curiosamente, naquele ambiente ancestral, denso, insalubre, carregado, acabei perdendo todo o medo e receio que inicialmente sentira. Sentei-me ali no quarto, em uma cadeira que parecia ainda inteira o suficiente para suportar meu peso e refleti durante horas sobre aqueles seres fantasmais, sobre suas existências antes e depois da morte.

Em um momento, não sei por que motivo, talvez hipnotizado por minhas divagações absurdas e pelo clima sobrenatural que sombriamente me seduzia, tive a coragem de desligar a lanterna e mergulhar na mais tenebrosa escuridão. Nesse instante, meus pensamentos calaram-se, e o silêncio tumular invadiu minha alma de forma arrebatadora. Uma profunda tensão naquelas atmosferas tristes e envelhecidas pesou-me nos ombros...

Foi então que julguei ter escutado passos, e um sussurro feminino soou nos meus ouvidos cava e profundamente chamando meu nome. Julguei sentir o sopro de uma respiração nos meus cabelos. Alarmado, rapidamente liguei a lanterna. Mais uma vez, não vi nada. Talvez tenha imaginado o que ouvi... Contudo, decidi então manter a lanterna acesa até o amanhecer, aquele clima de tensão não era suportável sem algum tipo de luminosidade. E eu ali permaneci sentado no fúnebre quarto, divagando sobre assuntos que dificilmente ocorrem às pessoas comuns.

Refleti, por exemplo, em por que os fantasmas do casal deixaram de ser vistos há quase 30 anos, e por qual motivo aqueles que afirmavam tê-los presenciados eram, quase sempre, pessoas simples, camponeses sem nenhuma formação intelectual, formados apenas pela vida natural em seu ambiente destituído das convenções sociais. Pensei nisso, porque na década de 60, atraídos pelos muitos relatos, alguns estudiosos de assuntos paranormais dirigiram-se ao local para tentar avistar os espíritos, não obtendo, no entanto, permissão do antigo fazendeiro para entrar na casa. E tais estudiosos não viram ou pressentiram absolutamente nada no campo.

Cheguei à conclusão, dessa forma, que a capacidade de contemplar tais fenômenos é algo exclusivo do coração, da intuição, nada tem a ver com o acúmulo de teorias e de conhecimentos mecânicos na mente. Pelo contrário, quanto mais intelectualizado for o indivíduo, mais ele terá a tendência de raciocinar e tentar conceituar esses fatos, criando barreiras psicológicas que impedem que possa naturalmente presenciá-los.

Porém, lamentavelmente, a tendência dos dias atuais é justamente essa intelectualização estéril de todos os fenômenos que a ciência não explica, como se todas as coisas do universo pudessem ser analisadas, medidas, quantificadas, esquecendo-se, desprezando-se os acontecimentos espirituais, além do raciocínio lógico. Por isso, hoje os sabichões do intelecto preferem ridicularizar tais histórias, afirmar desdenhosamente que são “contos de nossos avós”, como se pelo fato de essas pessoas não serem intelectuais, não podem então saber de nada, não merecem crédito.

E assim, esses senhores intelectuais foram aos poucos assassinando as almas da natureza, alastrando o vírus do ceticismo cego e estéril. Quando falo em almas, não me refiro somente a assombrações, mas às almas dos campos, das matas, dos rios, dos ares, das plantas, dos animais. Para esses senhores, nada possui alma, tudo é mecânico e material tão somente, tudo pode ser conceituado dentro do limitados padrões mentais, não há mistério algum por trás das coisas.

Por tais motivos, pensei, hoje só raras vezes se presenciam os fenômenos de aparições de almas, não só de pessoas falecidas, mas também dos elementais da natureza. Os homens bloquearam seus sentidos superiores devido ao acúmulo excessivo de teorias mecanicistas e agora duvidam e riem-se de tudo que não for “cientificamente” comprovado, como se ciência fosse sinônimo de mental.

Os homens afogaram seus corações no veneno das teorias intelectuais, e o resultado é que as manifestações da Alma do Mundo abandonam agora os homens. E assim é com o pampa gaúcho. O pampa morre, porque o homem mata sua alma. Toda a destruição ambiental que flagela o planeta é fruto desse desprezo que a humanidade dispensa às almas da natureza. É como se para a humanidade nada possuísse alma, nem mesmo ela. Então, se nada possui alma, o planeta também não possui. E o planeta morre, e com ele o pampa... Viciamo-nos a pensar em todo e qualquer ser vivo como se fosse uma máquina, inclusive o homem. Se nós, seres vivos, fôssemos máquinas, depois de mortos, bastaria “reparar o defeito” do organismo e religar à fonte de energia, que voltaríamos a viver. Assim podemos fazer com um carro ou com um computador, mas não com um ser vivo. Não podemos pôr de volta a vida.

Afirmo que todas essas assombrações e aparições misteriosas que tanto povoavam nossos campos também fazem parte da alma do pampa. E o desaparecimento desses fantasmas é outro sintoma de sua morte...

E nesses assuntos que ninguém mais pensa, ou pensa apenas para desprezá-los, eu pensava quando fui despertado pelo cantar dos pássaros. Já principiava a alvorada, embora o sol ainda não houvesse saído. Levantei-me da cadeira, despedi-me do quarto espectral e dirigi-me à porta. Como já iniciava a clarear o dia, desliguei a lanterna. E ao abrir a porta, assustei-me com o disparar de um cavalo mouro que partia rapidamente ao capão de mata. Havia um casal sobre ele...

29 outubro 2009

Otacílio e Madalena ou A Morte do Pampa (As Almas do Fantástico na História do RS - História 3ª)


Em uma das muitas estradas que cortam os vastos campos do interior de Santiago, durante o período de 1950 a 1981, os viajantes e moradores da região do vale do rio Itacurubi relatavam com alguma frequência a visão de um fantasma que surgia à beira de um capão de mata que circundava uma coxilha. Tratava-se de um gaúcho vestindo um pala cinzento, lenço vermelho, chapéu e botas pretas, aparentando ter em torno de 50 anos de idade. Geralmente, o fantasma era visto à beira da estrada, em pé, observando algum ponto indefinido à sua frente. Mas em algumas poucas vezes, via-se ele atravessando a estrada carregando uma mulher aparentemente adormecida ou morta em seus braços, usando um vestido branco. Alguns ainda afirmavam já ter avistado o fantasma em um belo cavalo mouro, com a mulher em sua garupa. O gaúcho era visto quase sempre às primeiras horas da noite, ou logo antes da saída do sol, ou seja, sempre durante os crepúsculos.

Segundo os moradores da região, as aparições tratavam-se do fantasma de Otacílio Vicente Marques, e a mulher que eventualmente o acompanhava seria sua esposa Madalena Marques. O casal viveu em uma pequena e rústica casa de alvenaria, cuja tapera ainda existe no local, durante a década de 40. Otacílio vivia do trabalho nas lavouras de sua pequena propriedade e criava algumas poucas cabeças de gado. De acordo com os moradores mais antigos do vale do Itacurubi, o casal levava uma vida tranqüila e modesta. Não possuíam filhos nem parentes próximos. Raramente recebiam a visita de alguns tios e primos relativamente distantes. Aparentavam viver felizes tendo apenas um ao outro, e a solidão da vida no campo não os molestava.

No entanto, o ano de 1949 surgiu com uma terrível tragédia para o casal. No mês de janeiro, Madalena nadava em um açude da propriedade, enquanto Otacílio buscava gravetos na mata. Foi quando este ouviu os gritos de Madalena que, com cãibras em uma das pernas, afogava-se nas águas profundas do açude.

Otacílio mal teve tempo de pular na água, já era tarde, sua esposa estava morta. Carregou-a nos braços de volta para casa e durante toda a noite chorou em desespero ao lado de seu corpo. No dia seguinte, nas primeiras horas da manhã, enterrou-a a cerca de 1 km da residência, ao pé de uma coxilha, sob a sombra de um imenso angico. Otacílio não suportou a dor da perda da esposa. Nas semanas subseqüentes viveu em uma profunda depressão, deixando de trabalhar e até mesmo de se alimentar. Foi encontrado morto em sua cama cerca de cinco meses depois da morte de Madalena. Foi enterrado ao lado de sua amada, sob a sombra serena do angico. Ela morrera com 39 anos, ele com 52.

Um tio idoso de Otacílio ficou como responsável pela propriedade e decidiu vendê-la a um fazendeiro das vizinhanças. Este optou por preservar a pequena residência com toda sua mobília, em lembrança e respeito à memória do casal.

Foi no ano seguinte, 1950, que o fantasma de Otacílio foi visto pela primeira vez no local anteriormente descrito. As aparições tornaram-se cada vez mais freqüentes durante a década de 50, a ponto de os moradores da região reunirem-se para a realização de orações às almas dos mortos. Durante os anos 60, as visões permaneceram constantes, contudo, a partir de 1970 principiaram a reduzir-se gradativamente, até que em 1981 ocorreu o último relato de alguém ter vislumbrado os fantasmas de Otacílio e Madalena.

Porém, devo dizer que fervilhava em mim o intenso desejo de contemplar aquelas almas... Tanto que em determinado fim-de-semana, decidi passar toda uma noite na tapera de Otacílio, na esperança de presenciar as aparições do casal... Facilmente obtive permissão do agora dono das terras, filho do antigo fazendeiro para quem o tio de Otacílio vendera a propriedade, para pernoitar na pequena casa já em semi-ruínas.

Cheguei àquelas terras misteriosas ainda durante a tarde. Permaneci próximo ao capão de mata à beira da estrada que ficava a algumas dezenas de metros da propriedade. No entanto, as horas passavam-se, a noite sombria de outono esfriava, e eu já não suportava permanecer imóvel em meu posto de observação: não surgira absolutamente nada.

Decidi caminhar até o sepulcro do casal, situado a pouco mais de 1 km de onde me encontrava. Conforme me aproximava, percebi que o clima psíquico tornava-se mais denso, concentrado, eu poderia jurar que alguma presença ignota influenciava nas sensações estranhas que me invadiam, porém não pude avistar os fantasmas. Entretanto, diferentemente do que se poderia pensar, não senti medo, não era algo assustador. Pelo contrário, sentia-me bem estando perto da sepultura do casal, apenas duas cruzes de ferro já enferrujado cravadas no chão. A brisa fria que soprava na coxilha era-me salutar, e uma profunda serenidade advinha daquele vetusto e venerável angico que ali se erguia como um solene guardião àqueles dois amantes.

Permaneci ali por algumas horas, passava já da meia-noite, e embora fosse uma noite fria e sem lua, a madrugada principiava bastante agradável, ao menos para mim. Porém, como não via nada de sobrenatural, conquanto minha intuição captasse algo de estranho, resolvi voltar para a residência e, pela primeira vez, entrar naquela casa sombria e inquietante.

Trazia comigo, é claro, uma potente lanterna, e detive-me quando dirigi seu facho à porta de madeira já semi-apodrecida que se encontrava entreaberta. Receei por um momento antes de entrar. Nunca soube de alguém que tivesse entrado na casa após a morte de Otacílio, com exceção de seu tio e dos vizinhos que foram velar o corpo. Nem mesmo o fazendeiro agora proprietário da residência o fizera. Confessou-me que nunca vira a assombração e que não acreditava muito em visões de espíritos, embora soubesse de vários relatos a respeito, inclusive o de seu falecido pai. Disse-me que seu pai nunca quisera entrar na casa, com receio de ser amaldiçoado pelo fantasma de Otacílio, e por isso também jamais pensara em destruí-la. Mas ele, o filho, afirmou que mal lembrava da casa e dos espíritos, que abandonara o local à ação do tempo, mais preocupado com seus outros campos. Pretendia, inclusive, ordenar a destruição da tapera e ali construir um galpão para armazenar parte da produção de suas lavouras.

Pensei exatamente nesse estado de abandono quando entrei na casa. Os móveis ainda ali permaneciam, aparentemente nunca foram alterados de lugar. Porém, apresentavam sinais de apodrecimento, o ambiente aparentava ser bastante úmido, e vários buracos no teto permitiam entreverem-se as estrelas. O cheiro de mofo e bolor era quase insuportável, bem como a poeira que se acumulava em todos os cantos, em todos os móveis. Alguns morcegos revoaram quando entrei, aranhas e suas teias estavam em todos os lugares, e alguns animais pequenos rapidamente moveram-se por baixo das mesas e cadeiras.

Direcionei o facho da lanterna para uma janela ao assustar-me com o som do adejo de asas de alguma grande ave. Era uma coruja-de-orelhas que voava pela janela parcialmente aberta.

O clima daquela casa era verdadeiramente tétrico e nada acolhedor. Suas paredes sujas e manchadas, algumas panelas e chaleiras muito antigas sobre o fogão à lenha, pelegos imundos jogados aos cantos, cadeiras de palha que apodreciam, armários caindo aos pedaços, cuias, copos e canecas embolorados, enfim, tudo o que ali eu via parecia ter surgido de dentro do próprio túmulo do casal, tamanha era a sensação de esquecimento funerário que me transmitia. Sentia ter penetrado em um local onde o tempo parou e que somente a morte e o mistério habitavam agora.

(Amanhã, a parte final)

28 outubro 2009

Suspiro de Lobo

às vezes
fico pensando
no que hei de pensar
e tentando achar
o que hei de fazer
mas por que
hei de pensar e fazer alguma coisa?

quem disse
que pensar é pensar
e fazer é fazer?
o melhor pensamento
é aquele que lua
sem ter que pensá-lo luar
a melhor das ações
é aquela que sol
sem ter que fazê-la solar

então deixo
que minha obra viva
quando há de viver
e durma
quando há de dormir
o mais é nada:

não desejo além
que minha obra seja
como um suspiro de lobo-guará
se ocultando na mata...