18 outubro 2019

Morte de uma Civilização

I - esta civilização 
ao passo que (des)anda
só tem um propósito 
só tem um destino:
(con)sumir

II – a morte de uma civilização
não é quando morrem todos
os que fazem parte dela
quando morre uma civilização
todos os que fazem parte dela
já estavam mortos

III – quando pessoas
puderem decidir quem vive quem morre
para que a humanidade ainda exista
é porque a humanidade
já deixou de existir

16 outubro 2019

A um Grande Amigo

gato quieto
sentado no meio do pátio
como se fosse no meio do cosmos

tu
que sentes tudo
sem perderes o gelo
eu sei que tu sabes
sem me dizer palavra:
olha por mim
como se eu te orasse
ora por mim
como se eu te houvesse

gato
tu és todo sentido
e indiferença
vês o sentido do todo
e o todo sem-sentido
da humanidade em sentença

no teu passo felino
há à presa perigo
porque nele há silêncio
e a quem te agride de pedra
tu respondes mistério

gato meu amigo
exemplo de homem
a ser seguido

13 outubro 2019

Alma Desescrita

escrever uma palavra
antes que a palavra acabe:
nem ao menos um poema
que um poema nem mais há de ...
mas viver uma palavra
que ao menos não nem nada
pois nem mesmo vai ser lida
malentendida pela estrada
me sofrer uma palavra
que já era no que foste
e antes que o dizer se morra
e antes que o amor se passe
(como se ele já não fosse)
dessangrar uma palavra
antes que o humano acabe
(como se ele ainda fosse...)

me restar uma palavra
entre caos horror e calma
antes que se dane a vida
e que se desescreva a alma

10 outubro 2019

Parafuso da Engrenagem

fazer parte da humanidade:
ser obrigado por lei
a viver de acordo com a lei
acordada por outros
da qual nem se fez parte
do acordo
depois eles vão querer te colocar
num trabalho
de preferência num que se canse muito
e se pense pouco
(pouco mais que um porco)
e não se tenha tempo nem ânimo nem alma
de se questionar

fazer parte da humanidade:
ter que ser produtivo
(não se questiona para quem
nem por qual motivo)
para manter funcionando a engrenagem
(como se funcionasse)
de uma civilização capenga
por um caminho de riso

fazer parte da humanidade
ter que aparentar o normal
parecer como os parecidos
aceitar o inaceitável
para ser aceito como todo mundo
e todo mundo como igual

fazer parte da humanidade:
ser condicionado a seguir o trilho
até o ápice do cansaço
para obter o direito do fracasso
e de morrer como um ganso
(a se puxar o gatilho)
não ser o que se é
para ter o que (não) se quis
e ter que ser responsável
para assumir a responsabilidade
de que foi por um tris
que não se foi feliz

fazer parte...
não.
fazer Arte

07 outubro 2019

Contribuição à Literatura Nacional

literatura do agrado
dessas que é amiga de todos
de mandar beijos aos quatro cantos
e acender vela a tudo que é santo
pode ser tudo
menos literatura

literatura sorriso
dessas de cana açúcar melado
que pinga calda em concursos-feira
entre a baba de plateias-fake
pode ser tudo
mas não é arte

ok pode ser muitas coisas:
sabujo – adulo – servílio
medíocre – pelego – ordinário
guarapa – laxante – excremento
até escravatura

tudo isso e mais o que se queira
menos literatura

05 outubro 2019

O Grandioso Cu dos "Sábios"


I - lá vão os “sábios”
do nosso tempo
com sua baba aba(o)stada
de sabão
falam e fazem espuma
julgam quem sangra ou noite ou fuma
mas mantêm firmes
enquadrados no sofá
os limites ilimitados
do ser cuzão

II – lá vão os "sábios"
posudos podados peidados
de tanto manuais cartilhas e bulas
solenes sensatos e pulhas
com algemas correntes cadeados
para prender a vida
nas suas (mori)bundas
e ensinar a quem vive
como se deve viver
e por fim lhe dizer:
“eu não tenho razão?”

III - lá vão os “sábios”
(que mal conhecem
o perfume dos lábios...)
para colocar o ser
a consciência o cosmos
num rodapé de página
dos seus alfafarrábios

03 outubro 2019

Ajudando quem não gosta de mim a gostar menos ainda

não gosto de alho 
nem de cebola crua
nem de praia
também não gosto de verão
(a não ser pra ir pro mato)
não gosto de pipoca nem de levantar cedo
nem de Natal nem de Ano Novo
não gosto de funk nem de pagode nem de sertanejo
nem de fandango
nem de country
e acho um saco Semana Farroupilha
não gosto de azeite de soja
nem de olhar programas de TV
também não gosto de comemorações cívicas
nem religiosas
não gosto de comemorações em geral
não consigo ser participativo
e me incluir entre as gentes
não gosto de jogos eletrônicos ou online
ou de comédias românticas nem de berinjela
ou de comidas salgadas
não gosto de gente que está sempre de alto astral
e que tem uma mensagem positiva\otimista
(furada)
para qualquer situação
não consigo olhar para as pessoas
e sentir esperança (me incluo)
não gosto de dançar
(não gosto porque mal consigo)
não gosto de pessoas que não gostam
de animais
tenho extrema dificuldade de gostar de pessoas
que se acham boas iluminadas e justas
(porque sei que não são)
não gosto de festas e eventos sociais
não gosto de bajulação
não gosto de autoajuda e tudo do tipo
não gosto de tirar fotos sorrindo
nem de pessoas que só falam em dinheiro
ou que acham que a vida é sinônimo 
de trabalho e emprego
não gosto de roupas claras
ou de roupas largas
não gosto de Fabrício Carpinejar
nem de Martha Medeiros
não gosto de pregações do tipo "faça isso
não faça aquilo"
não gosto de pessoas que acordam cheias de ânimo
e que querem que você tenha
o mesmo ânimo que elas
não gosto de água com gás nem de refrigerante
mas gostei de deixar motivos
para que não gostem de mim

02 outubro 2019

Ronda

I – as formas de vida em risco
mas o que importa é o risco ascendente
dos gráficos dos lucros:
em breve um risco
de cabo a rabo
sobre o que é vida

II - o rodar do radar da Morte
a render futuros
e a rondar a humanidade

29 setembro 2019

A Humanidade está Acabada

não é que a humanidade irá acabar:
ela já o está.
tornou-se um algo
que deixou de ser
e não se avisou a si mesmo
o que há são indivíduos desfeitos
que não formam 
um todo de humanidade 
ou humanidade seja esse todo
de desfeitos e de acabados
de caóticos e desdestinados

não é que o homem irá acabar:
ele já o está.
tornou-se um algo
que deixou seu ser
tropel de mortos andantes
olhares vazados
desorizontes
sangue esvaziado
ausência de avantes

sonha o homem
que continua
que abre os caminhos
que pavimenta suas ruas
- mas -
só abre uns buracos abismos
onde enterra futuros
os sons e os sóis 
e as almas sem nada
nem nuas

26 setembro 2019

O Fracasso da Humanidade e o Meu

escrever é saber que não se presta
não que só escrevendo se saiba
(há quem escreva e não saiba de nada
que é porque na real não escreve)
mas escrever
é saber que o ser humano é lixo

escrever é saber que não se vale nada
que pessoa alguma vale merda nenhuma
a diferença é que quem escreve
percebe:
as outras se acham se enganam se iludem

sempre se agarram na miséria
de alguma máscara:
ou no trabalho e o trabalho passa a ser tudo
(que nem sabem o que fazem
quando estão de folga)
ou em alguma religião
que lhes rouba  dinheiro pensamento e liberdade
ou no dinheiro
que os torna um completo imbecil filhodaputa
ou vivem melecados e grudentos
de mensagens motivacionais
ou sorrisinhos babacas de otimismo paz amor
ou como aqueles fanfarrões cheios de papo na boca
e de merda na cabeça
com discursinhos vazios de direita merreca
e vivem convictos de que são SUCESSO!!!

já eu me olho no espelho
e penso na merda que é a humanidade
que eu faço parte dela
e sou responsável pelo que faz
esse amontoado de parasitas:
a humanidade é um fracasso
porque eu sou um fracasso.

a diferença é que eu escrevo sobre isso
e você não.

24 setembro 2019

Sobre o Discurso Mentiroso de Bolsonaro diante do Mundo

O discurso de Bolsonaro na ONU, apesar de ter sido escrito por outros (já que o tal presidente mal consegue articular palavras,  imaginem escrever)  foi a tônica de sua campanha (e que tem sido seu desgoverno): descaradamente mentiroso, crivado de asneiras sem base e recheado das típicas declarações estúpidas da mais babaca extrema direita de quem se tem notícia.

Foi o discurso de um pseudopatriota, cuja "soberania" da Amazônia de que fala consiste em entregá-la a madeireiros,  garimpeiros,  grileiros e à ganância sem freios de latifundiários do agronegócio, que só o que desejam é ver a floresta no chão.

Foi o discurso de um narcisista delirante e patético,  que tenta tapar o sol com a peneira do fracasso completo que está sendo seu desgoverno,  o discurso  de um louco completamente alienado e imbecil,  que tenta negar fatos,  a ciência,  a educação,  a verdade, no intuito inútil de esconder a sua perversidade e ignorância que beiram absurdos kafkianos.

Certamente, seu discurso totalmente fora da realidade e de fanfarrão de bolicho levou ao delírio a multidão (cada vez menor, diga-se de passagem) de seus cegos e fanáticos adoradores. 

21 setembro 2019

Eles Buscando Felicidade

felicidade não se busca:
não pode ser buscado
um ponto que não está em um ponto
que se alcance:
isso se chama cansaço

quem alcança o ponto desejado 
logo vê o outro ponto mais adiante
e naquele ponto visto e não-chegado
mora a felicidade imaginada falsa delirante
(que há outro ponto mais a frente
pelo qual morre toda gente)

quem feliz se julga
é só um largo gole de vinho que traga
segura uma vela
que a primeira ventania apaga

a felicidade (olha que é só o vinho)
é como para o colecionador
o ato de encontrar
um selo raro:
só dura o momento do ato

só pode ser feliz
quem sabe que não pode sê-lo
de fato

20 setembro 2019

Bosch, Schumann e Dante viam Demônios

olhando Bosch 
ouvindo Schumann 
lendo Dante 
não sei se o que escorre 
é a tua lágrima 
ou o nosso vinho 
ou este meu sangue

16 setembro 2019

Beethoven Berrando Bêbado

Beethoven aos 54 anos estava surdo
e era bêbado.
foi quando concluiu sua 9ª Sinfonia
a maior obra musical de todos os tempos
(de acordo com muitos).
ninguém aguentava Beethoven nessa época
nos 6 anos que ele levou para terminar
a 9ª Sinfonia.
o sobrinho medíocre que vivia com Beethoven
dizia que ele berrava como um louco
o tempo todo.
o que Beethoven berrava viria ser 
uma das mais emocionantes melodias já ouvidas.

diziam que Beethoven era um surdo alcoólatra acabado
e ele tentou reger a estreia da sua 9ª Sinfonia.
(foi a duração dessa sinfonia
que deu base à duração de um cd
quase 200 anos depois).
mas Beethoven estava tão surdo
que outro maestro teve que reger para ele.

teve um filme de 1995
"Minha Amada Imortal"
em que uma pessoa que odiava Beethoven
disse que ela não poderia mais odiar alguém
que fez uma música como a 9ª Sinfonia
(o que só pode ser invenção do filme).

hoje amam mais Beethoven pelo que ele fez
do que pelo que ele era
mas ele só fez porque foi o que era
e o que ele é
é na verdade o que ele fez.

14 setembro 2019

Resta Brahms

se tudo já foi dito
e nada tem adiantado
restam o tudo ou nada e o trago

se a vida perdeu sentido
e o sonho é um abutre exangue
restam a vida ou sonho e o sangue

se tudo que foi arte
hoje é fim de caminho
restam a arte o fim e o vinho

se o mundo é uma taça vazia
e nem importa que tu ames
resta a taça e resta Brahms

12 setembro 2019

Sobre a Tua Vida Esmagada

onça atropelada
(pela estrada):
nenhuma lágrima
de ninguém
só teu sangue esparramado
a tua alma derramada
(pela estrada)
é mancha do que era:
para quem passa rápido
(que é preciso ir e vir
a correr e a sorrir)
tu foste de outra era
e agora és nada

tu sendo uma
és todos
que já não são
para que fosse
o progresso
(pela estrada ao nada)
quem se importa
na pressa?
tua existência
num mundo moderno
é inútil
é um excesso

sobre a tua vida esmagada
(pela estrada findada)
soprou um hálito
de so(risos)
a sonhar com beijos na noite
ou com sono de justos
ou em festas baladas
sobre a tua vida esmagada
(pela estrada esvaziada)

eu mesmo...
fiz o quê?
nada
só um poema
que também é nada
para quem o lê
(pela estrada...)

10 setembro 2019

Você é Doente

a maneira dos que controlam a sociedade
poder controlar aquilo que não controlam
é determinar tudo que foge ao controle
como doença:

se você bebe além do social, você é doente
se você fuma, você é doente
se você não faz exames regulares com um médico
você é doente
se a você não interessa
ser alguém com um bom emprego 
que te dê um bom dinheiro
que te estampe como bem sucedido
você é doente
(mental)
se você pensa e se comporta fora do padronizado
e se interessa por coisas que ninguém se interessa
você é doente
(mental)
se você sente 
(se sente muito)
você é doente
se você não segue a regra geral
de estudar se formar trabalhar
constituir família
ser um pilar da sociedade
homem de bem
ter boa casa bom carro
acumular bens
achar que isso é tudo
e finalmente morrer
você é doente
(total)
se você não se sente 
vitorioso feliz alto astral sorridente
você é doente

eles querem que você seja um robô:
robôs não ficam doentes

07 setembro 2019

A Tempestade (De Novo)

o homem
(que já não tem reforma)
para hipocrisiar sua miséria
e na tentativa malinformada
de impedir que as forças se formem
formou toda forma de (de)formações:

desde patéticas técnicas inarmônicas
até mecânicas máquinas estúpidas
só para nos acomodar no nada
de nossas disformes fôrmas
inúteis nocivas vazias

e ainda se acha
(esse ser que se diz humano)
capaz de entender aquilo que se forma
com cálculos fórmulas
cossenos
a foder-nos

mas uma outra Força se levanta:
não há nada que possa contra
a formação da Tormenta

04 setembro 2019

Humanidade, Vai Dormir.

pra que seguir acordada
no final do teu dia
que não deu em nada?
caminhar para onde?
destruir mais o quê?
tu já caminha em círculos infernais
a matar a vida por onde passa
a voltar com um rastro de sangue 
sempre ao mesmo lugar

que sentido encontrou
em tudo que tu (não) fez?
florestas tombadas rios de imundícies 
animais extintos desertos venenos 
lagos de fezes horrores e medos
paraísos que se tornaram infernos 
abismos que se abriram cedo

seja o que for do que fores
humanidade
deixou em agonia teus filhos
arrancou os membros e furou os olhos
da tua mãe 
por um saquinho de moedas

e não há passo a ser dado
que em si já não tenha sido
nem há nada a ser dito
nem um feito a ser erguido
nem um algo acreditado:
só resta teu vasto cansaço
só resta tua casa em pedaços 
só resta tua alma vazia

Humanidade...vai dormir
que amanhã é outro dia

01 setembro 2019

Todos Nós Morremos

todos nós morremos
do tanto 
ou do nada
que fazemos

todos nós morremos
do muito que queremos
ou mais ainda
do muito que fugimos

todos nós morremos
da vida que levamos
ou da morte que vivemos

todos nós morremos
disso que a olhos vistos
disso que nem vemos

todos nós morremos
do que nos iludimos
do que muito sabemos

 e estamos todos mortos
(já abrimos abismos)
e nem percebemos

e estamos todos mortos
que é já o fim da Noite
e só após o sono
amanheceremos