nos primórdios do século XIX
fugia-se da realidade externa
nos primórdios do século XXI
foge-se da realidade interna:
o si mesmo foge do eu
o eu esconde o ser
faz-se tudo para não se encarar
escolhe-se um outro ou um algo para se pôr a culpa
e elimina-se um possível espelho
onde se veja que não se é nada
ninguém quer saber do si mesmo
enche-se de tudo
para não se ter de sentir nada
do nada que se sente
e que em realidade ainda é tudo
sem seu mundo interior
o homem deixa de ser um algo
e nessa fuga do que não se sabe
acabou des-sendo
do que nem pode ser
25 abril 2017
23 abril 2017
Antes que se dane a Vida
escrever uma palavra
antes que a palavra acabe:
nem ao menos um poema
que um poema nem mais há de ...
mas viver uma palavra
que ao menos não nem e nada
pois nem mesmo vai ser lida
malentendida entre a vida
mas sofrer uma palavra
que já era no que foste
e antes que o dizer se morra
e antes que o amor se passe
(como se ele já não fosse)
dessangrar uma palavra
antes que o humano acabe
(como se ele ainda fosse...)
te deixar uma palavra
entre caos horror e calma
antes que se dane a vida
e que se desescreva a alma
antes que a palavra acabe:
nem ao menos um poema
que um poema nem mais há de ...
mas viver uma palavra
que ao menos não nem e nada
pois nem mesmo vai ser lida
malentendida entre a vida
mas sofrer uma palavra
que já era no que foste
e antes que o dizer se morra
e antes que o amor se passe
(como se ele já não fosse)
dessangrar uma palavra
antes que o humano acabe
(como se ele ainda fosse...)
te deixar uma palavra
entre caos horror e calma
antes que se dane a vida
e que se desescreva a alma
21 abril 2017
Nem Sentido
o mundo de hoje é muito apertado:
não cabe o mundo interior
entre as vitrines da aparência
por isso não mais falo do que sinto:
a qual alguém pode interessar
o que um outro sente
se o alguém nem sente por si mesmo
e nem quer saber do outro?
(talvez, se estiver morto)
só há sentido no sentimento expresso
quando o outro o reflete e o encontra
expresso no seu ser
mas ninguém
nem se encontra no seu ser
nem reflete por si mesmo
nem se expressa o que não sente
e por Fim
nem sentido há algum
não cabe o mundo interior
entre as vitrines da aparência
por isso não mais falo do que sinto:
a qual alguém pode interessar
o que um outro sente
se o alguém nem sente por si mesmo
e nem quer saber do outro?
(talvez, se estiver morto)
só há sentido no sentimento expresso
quando o outro o reflete e o encontra
expresso no seu ser
mas ninguém
nem se encontra no seu ser
nem reflete por si mesmo
nem se expressa o que não sente
e por Fim
nem sentido há algum
18 abril 2017
Tempos de Caos
I - escrever em tempos de fim
é algo que não vale a pena:
se você escrever uma ideia
e ela estiver errada
você será odiado
pela ousadia e insensatez
de dizer merda
se você escrever uma ideia
e ela estiver certa
você será odiado
pela ousadia e insensatez
de dizer uma verdade
II - em tempos de caos
surgem dois tipos de pessoas:
os que dizem que do caos surgem os embriões
e os que dizem que do caos surge mais caos
eu digo que há dois tipos de caos:
o caos que surge pelos conflitos de grandes ideias
e o caos que surge pela ausência de grandes ideias
do último não sai nada
ou sai mais nada
em qual dos dois
se insere o nosso tempo?
é algo que não vale a pena:
se você escrever uma ideia
e ela estiver errada
você será odiado
pela ousadia e insensatez
de dizer merda
se você escrever uma ideia
e ela estiver certa
você será odiado
pela ousadia e insensatez
de dizer uma verdade
II - em tempos de caos
surgem dois tipos de pessoas:
os que dizem que do caos surgem os embriões
e os que dizem que do caos surge mais caos
eu digo que há dois tipos de caos:
o caos que surge pelos conflitos de grandes ideias
e o caos que surge pela ausência de grandes ideias
do último não sai nada
ou sai mais nada
em qual dos dois
se insere o nosso tempo?
16 abril 2017
Aquele Sorriso Estúpido
quando saio às ruas pelas manhãs
percebo o quanto as ruas pelas manhãs
são um porre
(ah, quem dera fossem um porre):
aqueles montes de gente amontoada
que nem percebem que não passam de montes
aquelas gentes apressadas
estressadas
mecanizadas
esvaziadas
nadas
pra lá e pra cá como moscas tontas
a comprar merdas e pagar contas
seguindo aquela vida (f)útil
arrastando suas mori bundas
e afundando seus cus nos seus carros do ânus
com aquele sorriso estúpido
de quem contribui para o progresso
(ainda há quem acredite em progresso)
da sua cidade do seu país da civilização
certas de que estão certas
de que existe papai noel
desenvolvimento
e evolução
quando saio nas ruas pelas manhãs
me deploro com o que há-de:
que é o lembrar de que o que vejo
trará o futuro da humanidade
percebo o quanto as ruas pelas manhãs
são um porre
(ah, quem dera fossem um porre):
aqueles montes de gente amontoada
que nem percebem que não passam de montes
aquelas gentes apressadas
estressadas
mecanizadas
esvaziadas
nadas
pra lá e pra cá como moscas tontas
a comprar merdas e pagar contas
seguindo aquela vida (f)útil
arrastando suas mori bundas
e afundando seus cus nos seus carros do ânus
com aquele sorriso estúpido
de quem contribui para o progresso
(ainda há quem acredite em progresso)
da sua cidade do seu país da civilização
certas de que estão certas
de que existe papai noel
desenvolvimento
e evolução
quando saio nas ruas pelas manhãs
me deploro com o que há-de:
que é o lembrar de que o que vejo
trará o futuro da humanidade
13 abril 2017
de humanidade, ditadura, liberdade
I - o mais absurdo da humanidade
é haver gente que vê saída
para o absurdo da humanidade
II - têm razão os que querem a volta da ditadura:
acaba-se com os males por decreto:
se alguém fez um mal, ninguém viu, porque é proibido
e se ninguém viu, é porque o mal nem existiu
III - Liberdade não é só se dizer o que se pensa:
é pensar o que se vive
viver o que se sente
sentir o que foi dito
e saber o que está escrito
é haver gente que vê saída
para o absurdo da humanidade
II - têm razão os que querem a volta da ditadura:
acaba-se com os males por decreto:
se alguém fez um mal, ninguém viu, porque é proibido
e se ninguém viu, é porque o mal nem existiu
III - Liberdade não é só se dizer o que se pensa:
é pensar o que se vive
viver o que se sente
sentir o que foi dito
e saber o que está escrito
11 abril 2017
Vida Adiada
I - o que de ti me mostras
não é o que vejo...
o homem nunca está onde está:
ou é medo
ou é saudade
ou é desejo
II - aquilo que o homem faz
ele nunca faz
estando em cem por cento:
aquilo que o homem faz
ele o faz
já estando
(em querer ou em receio)
no próximo momento
III - as pessoas
pre-ocupam-se tanto
que nunca se ocupam
com o seu tanto
não é o que vejo...
o homem nunca está onde está:
ou é medo
ou é saudade
ou é desejo
II - aquilo que o homem faz
ele nunca faz
estando em cem por cento:
aquilo que o homem faz
ele o faz
já estando
(em querer ou em receio)
no próximo momento
III - as pessoas
pre-ocupam-se tanto
que nunca se ocupam
com o seu tanto
09 abril 2017
Perdendo Tempo
pergunta Fernando Pessoa:
“o que é o tempo para que eu o perca?”
ler um romance
no lugar de ganhar dinheiro
é perder meu tempo?
ouvir música
no lugar de ler o romance
é perder meu tempo?
se eu brincar com um gato
no lugar de ouvir verdades
perderei meu tempo?
se eu for buscar inspiração
perderei o meu tempo?
se eu entender toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
(que necessidade que há
de se sair da preguiça
para se entender a humanidade?)
perderei o meu tempo?
se o irreal é a perda do tempo
o real seria o seu ganho?
e como isso funcionaria?
a falsa felicidade de todos
veio do ganho de tempo?
ganharei o meu tempo
engendrando planos?
ou ganharei o meu tempo
fazendo o que sei que não quero
para ter o que penso que quero?
ganhar tempo é ser útil a mim
e à humanidade?
mas o que seria útil a mim
e à humanidade?
ser produtivo
é um ato falho.
não produzir nada de útil
é o mais difícil trabalho
“o que é o tempo para que eu o perca?”
ler um romance
no lugar de ganhar dinheiro
é perder meu tempo?
ouvir música
no lugar de ler o romance
é perder meu tempo?
se eu brincar com um gato
no lugar de ouvir verdades
perderei meu tempo?
se eu for buscar inspiração
perderei o meu tempo?
se eu entender toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
(que necessidade que há
de se sair da preguiça
para se entender a humanidade?)
perderei o meu tempo?
se o irreal é a perda do tempo
o real seria o seu ganho?
e como isso funcionaria?
a falsa felicidade de todos
veio do ganho de tempo?
ganharei o meu tempo
engendrando planos?
ou ganharei o meu tempo
fazendo o que sei que não quero
para ter o que penso que quero?
ganhar tempo é ser útil a mim
e à humanidade?
mas o que seria útil a mim
e à humanidade?
ser produtivo
é um ato falho.
não produzir nada de útil
é o mais difícil trabalho
07 abril 2017
Qual é a Solução Pronta para você?
Na era da SUPERFÍCIE e da VELOCIDADE em que vivemos, as pessoas buscam as "soluções" apresentadas como "prontas". Isso vai desde a alimentação (fast foods, comidas congeladas etc), passando pelas pesquisas na internet, pelos noticiários de TV até as escolhas RELIGIOSAS e POLÍTICAS. Raramente, uma questão, um ponto, um problema são analisados com profundidade e considerando-se seus inúmeros aspectos. Dá muito trabalho. Acaba-se sempre se deixando que outros façam esse "serviço sujo".
As pessoas não gostam de parar para refletir, para contemplar, para sensibilizar-se, para se colocar no lugar de outros, porque isso custa tempo e esforço psíquico. Poucos são os que conseguem, por exemplo, aprofundar-se em algum livro, em seu conteúdo, em suas entrelinhas, em geral o leem, SE O LEREM, com superficialidade e rapidamente, nem chegam a sentir e a refletir sobre o que leram. Ou então escolhem um livro fácil, que não exige esforço do leitor e onde todas as ideias, como sempre, já estão prontas, não se precisa construir nada. Mas, para a maioria, ler é "perda de tempo". Textos só serão lidos se forem "curtinhos", nada de "textões", como deverão considerar este meu.
Um exemplo nesse sentido, o das"soluções prontas", é o desejo de "ordem" dos brasileiros. É muito comum a opinião de que o Brasil precisa "entrar em ordem". Mas o que é entrar em ordem? Como se entra em ordem? Ordem, no seu sentido verdadeiro, em uma nação, somente surge da justiça e inserção sociais, com a redução das desigualdades, com oportunidades geradas para todos, com educação e cultura fortes, com liberdade de pensamento e expressão. A ordem é um processo de dentro para fora, gradual, lento, exigente, não pode ser imposta de forma externa.
Mas os adeptos das soluções prontas, que nunca analisaram a questão, querem que seja assim. Que a ordem seja "estabelecida" com opressão, com repressão, com mascaramento das desigualdades, com eliminação dos não-favorecidos, como se isso fosse resolver alguma coisa, a não ser alimentar mais e mais revolta, caos e violência. Mas custa se aprofundar e entender tudo o que está envolvido. É melhor, então, uma "solução" já prontinha e enlatada, tipo um Bolsonada e/ou uma ditadurinha militar.
05 abril 2017
dos Brasileiros e da Humanidade
I - o complexo de pequenez e de inferioridade
do brasileiro
é tão grande e tão superior
que ele precisa escolher alguns como mais inferiores
para humilhar oprimir eliminar e pôr a culpa
e assim se sentir superior
II - a humanidade se cansou
(assim como quem já assistiu
a tantos filmes de horror
que já nada mais choca ou surpreende):
coisa alguma
faz efeito algum
quando se chega a esse ponto
é preciso mudar a fundo
ou morrer e pronto
do brasileiro
é tão grande e tão superior
que ele precisa escolher alguns como mais inferiores
para humilhar oprimir eliminar e pôr a culpa
e assim se sentir superior
II - a humanidade se cansou
(assim como quem já assistiu
a tantos filmes de horror
que já nada mais choca ou surpreende):
coisa alguma
faz efeito algum
quando se chega a esse ponto
é preciso mudar a fundo
ou morrer e pronto
02 abril 2017
Mudanças climáticas: planeta tem RECORDE de DEGELO entre janeiro e fevereiro de 2017
Apenas reproduzo trechos de artigo de José Eustáquio Diniz Alves, professor e pesquisador da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE). O artigo foi publicado no site EcoDebate. Qualquer dúvidas sobre fontes ou maiores informações, basta clicar aqui. Ou pesquisar na internet por conta própria.
"O degelo global bateu todos os recordes em janeiro e fevereiro de 2017. Depois de três anos (2014, 2015 e 2016) de temperaturas muito elevadas, sem precedentes no Holoceno (últimos 10 mil anos), a desglaciação do Ártico, da Groenlândia, da Antártica e dos glaciares atingiu um recorde, como mostra o gráfico acima.
A tendência de queda é clara ao longo dos últimos 40 anos. A curva acima tem uma distribuição bimodal, pois o hemisfério Norte tem pico de gelo em fevereiro, quando o hemisfério Sul está no vale (mínimo de gelo), sendo que em julho a Antártica está no máximo de gelo e o Ártico no mínimo. O máximo do gelo global acontece entre outubro e novembro. Seguindo as curvas anuais (todas com este mesmo tipo bimodal de distribuição), nota-se que elas mostram uma tendência de queda em relação à média de 1981-2010, embora haja oscilações anuais de curto prazo, diferentes da tendência de longo prazo.
Porém, chama a atenção que o padrão de queda na extensão de gelo, desde setembro de 2016, não tem paralelo nos últimos 40 anos, quando se começou as medidas por satélite. A curva de 2016 sofreu uma queda abruta no último trimestre do ano (outubro a dezembro) e continuou batendo recordes de baixa nos dois primeiros meses de 2017.
Ao contrário do Ártico, a Antártica estava aumentando a extensão de gelo desde 1978. As causas deste aumento são complexas e envolvem a força dos ventos, as correntes marinhas, o ciclo hidrológico etc. Todavia, nunca, desde o início da medição por satélites, a extensão do gelo nos meses de janeiro e fevereiro, foi tão grande como em 2014 e 2015. Mas essa tendência foi revertida e a redução do gelo na Antártica foi enorme em 2016 e bateu todos os recordes negativos em 2017.
Uma das constatações do degelo é que uma imensa rachadura na plataforma de gelo Larsen C cresceu profundamente em dezembro de 2016 e falta pouco para que um imenso bloco de cerca de 5 mil km² (equivalente a área do País de Gales ou da Região Metropolitana do Rio de Janeiro) se desprenda da plataforma Larsen C.
Há duas maneiras pelas quais os glaciares perdem gelo: o derretimento superficial e a descarga de icebergs, conhecidos como partos. Antes de 2005, a massa perdida das geleiras nas ilhas da rainha Elizabeth foi compartilhada quase igualmente entre os dois, em 48% e 52%, respectivamente.
No entanto, após 2005, o derretimento da superfície tornou-se o principal contribuinte da perda de gelo: agora representa 90% das perdas totais na região. Eles passaram a derramar três gigatons de água anualmente para 30 gigatons – algo que tem sérias consequências. Enquanto a Groenlândia e a Antártida possuem a maior quantidade de água doce do mundo sob a forma de geleiras e lençóis de gelo, o Canadá também tem sua parcela significativa. O país é o lar de cerca de 20 por cento das geleiras do mundo e, como resultado, é o terceiro maior contribuinte para a mudança do nível do mar.
Enquanto a governança global está sobre ameaça devido ao crescimento do nacionalismo e do militarismo, o Acordo de Paris está sob ameaça. Mas o aquecimento não arrefece e o declínio do volume global de gelo é uma realidade inquestionável."
31 março 2017
Mandantes e Pensantes
I – onde há mandantes
não há pensantes
e vice-versa
II – a humanidade até combate
uma grande tirania
mas alimenta as pequenas
nossas vizinhas
do dia a dia
III – a melhor censura
não é proibir
as ideias surgidas
é convencer-se
de que elas nem devem surgir
não há pensantes
e vice-versa
II – a humanidade até combate
uma grande tirania
mas alimenta as pequenas
nossas vizinhas
do dia a dia
III – a melhor censura
não é proibir
as ideias surgidas
é convencer-se
de que elas nem devem surgir
29 março 2017
Alguns trechos "proféticos" do censurado "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley
A literatura universal, como arte, tem muito disto: antever verdades. Os exemplos são inúmeros. A obra "Admirável Mundo Novo", publicada em 1932 pelo gênio da literatura inglesa, Aldous Leonard Huxley, é pródiga em previsões pessimistas para a humanidade. Hoje, percebemos que Huxley estava certo em quase todas elas. O livro está entre os que mais foram proibidos e censurados durante o século XX. A seguir, alguns trechos da obra. As conclusões ficam a cargo dos leitores:
"Um desembarque na lua poderá ser de alguma utilidade militar para a nação que o conseguir. Mas em nada contribuirá para tornar a vida mais tolerável, durante os cinquenta anos que vamos dispender na nossa duplicação, para os bilhões de subalimentados que pululam na terra."
"A nossa sociedade ocidental contemporânea, apesar do seu progresso material, intelectual, dirige-se cada vez menos para a saúde mental, e tende a sabotar a segurança interior, a felicidade, a razão e a capacidade de amor no ser humano; tende a transformá-lo num autômato que paga o seu fracasso com as doenças mentais cada vez mais frequentes e com o desespero oculto sob um delírio pelo trabalho e pelo chamado prazer."
“Um Estado totalitário verdadeiramente eficiente seria aquele em que os chefes políticos de um Poder Executivo todo-poderoso e seu exército de administradores controlassem uma população de escravos que não tivessem de ser coagidos porque amariam sua servidão."
"Livraram-se deles. Sim, é bem o modo dos senhores procederem. Livrar-se de tudo o que é desagradável, em vez de aprender a suportá-lo. Se é mais nobre para a alma sofrer os golpes de funda e as flechas da fortuna adversa, ou pegar em armas contra um oceano de desgraças e, fazendo-lhes frente, destruí-las... Mas os senhores não fazem nem uma coisa nem outra. Não sofrem e não enfrentam. Suprimem, simplesmente, as pedras e as flechas. É fácil demais."
“Sessenta e duas mil repetições fazem uma verdade. Cremos nas coisas porque somos condicionados a crer nelas. Tal é a finalidade de todo condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social a qual não podem escapar.”
27 março 2017
Gatos são Terríveis
I - cachorros são fáceis
gatos são difíceis
mesmo que não ame um cachorro
toda pessoa sabe
por que um cachorro merece ser amado
mas só sabe por que um gato merece ser amado
quem ama um gato
II – não posso reconhecer como um ser superior
o homem que considera os animais como seres inferiores
por eles não serem homens
III – saia para a noite
e contemple um lugar
sem um gato
depois
contemple o mesmo lugar
com um gato:
tudo se tornará mais profundo
gatos são difíceis
mesmo que não ame um cachorro
toda pessoa sabe
por que um cachorro merece ser amado
mas só sabe por que um gato merece ser amado
quem ama um gato
II – não posso reconhecer como um ser superior
o homem que considera os animais como seres inferiores
por eles não serem homens
III – saia para a noite
e contemple um lugar
sem um gato
depois
contemple o mesmo lugar
com um gato:
tudo se tornará mais profundo
25 março 2017
"Não tenho tempo"
no hoje
as pessoas existem por mais anos
e vivem menos tempo
tudo é rápido técnico prático
sintético robótico eletrônico
caótico raquítico caquético
já não se vive o momento
porque se está sempre
no momento seguinte
que só segue e nunca passa
a vida tornou-se
"o que se tem que fazer"
que só se faz e nunca chega
são tantos horários
que não há hora pra nada
as pessoas deixaram de contemplar:
quem não contempla não reflete
quem não reflete não percebe
quem não percebe nunca vive
enfim
(que já passei da hora)
alongamos nossos anos
encurtamos nossas vidas
as pessoas existem por mais anos
e vivem menos tempo
tudo é rápido técnico prático
sintético robótico eletrônico
caótico raquítico caquético
já não se vive o momento
porque se está sempre
no momento seguinte
que só segue e nunca passa
a vida tornou-se
"o que se tem que fazer"
que só se faz e nunca chega
são tantos horários
que não há hora pra nada
as pessoas deixaram de contemplar:
quem não contempla não reflete
quem não reflete não percebe
quem não percebe nunca vive
enfim
(que já passei da hora)
alongamos nossos anos
encurtamos nossas vidas
23 março 2017
A Queda da Humanidade
despencaste dos próprios tamancos
tropeçaste nos próprios barrancos
afundaste nos próprios buracos
não foste o ser que não serás
nem chegaste a ser o que não foste
daquilo que conseguiste desististe
o que fracassaste levaste adiante
puxaste a carta mais
baixa
do teu castelo de vento
quebraste o orgulho do teu salto
sem nem ter chegado ao alto
e eu
como nunca subi as escadas
deste teu palácio de pó
naquele dia de Queda
te olharei da sarjeta da estrada
sem nada e sem dó21 março 2017
Políticos passam. Artistas ficam.
Hoje, o mundo comemora os 332 anos de Johann Sebastian Bach, o Pai da Sagrada Trindade (Bach, Beethoven, Brahms), gênio absoluto da música, cultuado no mundo, mais que merecidamente, como um deus pelos amantes da música, da arte. Mas nem sempre foi assim. É o que nos demonstra, por exemplo, o seguinte fato ocorrido com o compositor alemão há quase 300 anos. Confiram:
Em 1721, Bach dedicou a Christian Ludwig, margrave de Brandenburg-Schwedt, uma espécie de prefeito da época na Alemanha, os seus 6 Concertos de Brandenburgo, uma das obras musicais mais geniais e sublimes já compostas. O próprio margrave havia encomendado as obras. Porém, o senhor Christian Ludwig não deu muita importância para os concertos. Possuía uma orquestra de má qualidade para as exigências de interpretação das obras e não se dignou a melhorá-la para que as obras pudessem ser executadas. Resultado: os concertos de Brandenburgo não foram executados na época. Ficaram lá, jogados. Certamente, o margrave deveria estar muito ocupado com seus afazeres de político. E Bach, quem era Bach?
Na época, Bach não era reconhecido como o gênio musical que é hoje. Vivia de forma muito modesta, compunha copiosamente e dava aulas para sustentar sua numerosa família. Não enriqueceu com sua arte. Muitas de suas obras nunca foram executadas durante sua vida, várias se perderam. Bach era visto como um grande organista e cravista, mas não como um grande compositor. Julgavam-no como um compositor menor. Não entendiam seu gênio. Consideravam sua obra demasiado hermética, difícil, sombria, e até retrógrada. De modo que o pouco caso do senhor margrave, um ilustre político, não foi algo surpreendente.
Mas vejam só que ironia do destino... Quem hoje conhece o senhor Christian Ludwig? Na época, ele ignorou Bach. Hoje, o senhor margrave (ou prefeito, ou político, como queiram), só não é completamente ignorado porque é lembrado como aquele para quem Bach dedicou os Concertos de Brandenburgo... E o medíocre político nem se dignou a executá-los. Mas o político passou. Já quanto a Bach...
19 março 2017
Carne Fraca, Lucro Fácil, Vida Frágil
A denúncia da operação policial "Carne Fraca" gerou uma onda de indignação no país. Assim como as fraudes do leite, anos atrás. Isso tudo é uma ponta do iceberg. Crimes como esses, cometidos, em maior ou menor grau, contra a saúde dos brasileiros, são muito mais comuns do que imaginamos, seja em grandes, em médias e até em pequenas empresas. E não só com alimentos de origem animal, mas com praticamente todos eles. Basta analisarmos a trágica questão dos agrotóxicos e dos transgênicos.
Em grande parte dos casos, nem ficamos sabendo. Seja porque nem a polícia descobriu, seja porque houve algum tipo de corrupção envolvida que encobriu o caso, seja porque a mídia, muitas vezes de rabo preso com empresários cafajestes, mal divulgou. Eu mesmo soube de um caso em que um frigorífico de uma cidade gaúcha armazenava carne em um estado de conservação impróprio para o consumo humano, e a carne era distribuída de alguma forma. Não vi a mídia divulgando o ocorrido.
Além do mais, todos sabemos o quanto os partidos políticos e seus membros estão ligados, presos, à todas essas empresas que financiam suas campanhas. Muitas vezes, os políticos SÃO os próprios empresários cafajestes.
Alguns falam em um complô internacional para destruir a indústria brasileira da carne. É possível. Mas todos nós sabemos que quando se trata de lucro fácil, mesmo que seja um lucro sujo, criminoso, mesmo que esse lucro prejudique diretamente milhões de consumidores, grande parte dos empresários, grandes, médios e até pequenos, e não falo só dos brasileiros, não está nem um pouco preocupada em abrir mão dos escrúpulos para lucrar. Essa é a tônica do capitalismo.
É claro que o lucro é necessário, ninguém vai trabalhar e vender o seu produto pelo preço de custo. Mas, para uma enorme parcela do empresariado, não é suficiente lucrar para se ter uma vida satisfatória, a visão é que se deve lucrar o máximo possível, mesmo que isso signifique destruir pessoas e a vida no planeta. Quanto mais lucros, tanto
melhor, nunca há um limite, nunca se lucra o suficiente. É a doença do capital. E não venham com esse papo furado de que sou comunista, e toda essa baboseira sem argumentos. Não sou, nunca fui e nunca serei comunista, considero tanto comunismo como capitalismo como sistemas falidos. Mas o capitalismo é ainda mais daninho à vida e ao planeta. Seja como for, a dura verdade é que A HUMANIDADE ESTÁ FALIDA, e seu colapso é uma questão de tempo.
melhor, nunca há um limite, nunca se lucra o suficiente. É a doença do capital. E não venham com esse papo furado de que sou comunista, e toda essa baboseira sem argumentos. Não sou, nunca fui e nunca serei comunista, considero tanto comunismo como capitalismo como sistemas falidos. Mas o capitalismo é ainda mais daninho à vida e ao planeta. Seja como for, a dura verdade é que A HUMANIDADE ESTÁ FALIDA, e seu colapso é uma questão de tempo.
Aproveito para republicar o poema que escrevi em 2015, quando do desastre ambiental em Mariana, MG, causado pela empresa Samarco. No poema, "lucro" deve ser entendido como algo metafórico, é claro que não me refiro ao lucro normal e necessário de qualquer empresa, mas quando ele se torna a aberração que vem sendo decisiva na destruição do planeta e da humanidade.
enquanto houver lucro
não haverá vida
nem de quem perde
nem de quem lucra
enquanto houver lucro
só haverá o suco
do que é vivo sugado
enquanto houver lucro
não haverá o justo:
só seres e homens
esmagados
enquanto houver lucro
não haverá paz
enquanto houver lucro
só haverá pás a cavar covas
só haverá a sede
insaciável
de quem quer mais
só haverá a sede
insaciada
de quem
não pode
e não tem nada
enquanto houver lucro
o homem será invólucro
de um monstro
o homem será a máscara
de um mundo de faca
à máquina
e soco
e é assim:
enquanto houver lucro
haverá o fim
17 março 2017
O Politicusco (Poemito em Homenagem à Reforma da Previdência)
descobri uma nova subespécie de humano
ou sub-humano:
o politicusco
nome científico: homo caniens puxassaquos
trata-se de uma variação involutiva
que na adaptação à sobrevivência
preferiu a subserviência:
nunca enfrentam cara a cara
e aceitam ser os pau-mandados da homilha
os politicuscos
adotaram determinados comportamentos
do canis familiaris
ou seja
do cachorro
cusco
jaguara
cadela
guaipeca
que consistem
em baixar a cabeça
aos que lhe mostram moedinhas que quicam
andar com o rabo entre as pernas
balançar o rabinho
por exemplo
diante de governadores
e deitar de perninhas pra cima
diante de presidentes
e quando seus donos chamam
correm atrás
como poodles de madame
os politicuscos
só mordem os cuscos já pesteados
rengos capengas
mas quando o cusco é dos grandes
o politicusco levanta o rabo
para ser coxeado
ou sub-humano:
o politicusco
nome científico: homo caniens puxassaquos
trata-se de uma variação involutiva
que na adaptação à sobrevivência
preferiu a subserviência:
nunca enfrentam cara a cara
e aceitam ser os pau-mandados da homilha
os politicuscos
adotaram determinados comportamentos
do canis familiaris
ou seja
do cachorro
cusco
jaguara
cadela
guaipeca
que consistem
em baixar a cabeça
aos que lhe mostram moedinhas que quicam
andar com o rabo entre as pernas
balançar o rabinho
por exemplo
diante de governadores
e deitar de perninhas pra cima
diante de presidentes
e quando seus donos chamam
correm atrás
como poodles de madame
os politicuscos
só mordem os cuscos já pesteados
rengos capengas
mas quando o cusco é dos grandes
o politicusco levanta o rabo
para ser coxeado
15 março 2017
Homenagem ao Mestre
a esperança
(que tem por princípio
bater na cara a porta)
e o fracasso
que nos debocha a cada passo
que importa?
que importa
o que se chama sonho
este irmão de sangue
do horror e do medonho?
que importa
isso de vida e isso de morte?
aquilo vitória aquilo derrota?
se isso de vitória sucesso
talvez seja só acaso destino boa sorte?
o nada que não veio
a ausência que não tive
o inútil que não pude?
que importa?
que importa afinal
que eu não possa esperar
os meus desígnios os meus ditames?
não tem importância...
o que importa
é que existe Brahms.
(que tem por princípio
bater na cara a porta)
e o fracasso
que nos debocha a cada passo
que importa?
que importa
o que se chama sonho
este irmão de sangue
do horror e do medonho?
que importa
isso de vida e isso de morte?
aquilo vitória aquilo derrota?
se isso de vitória sucesso
talvez seja só acaso destino boa sorte?
o nada que não veio
a ausência que não tive
o inútil que não pude?
que importa?
que importa afinal
que eu não possa esperar
os meus desígnios os meus ditames?
não tem importância...
o que importa
é que existe Brahms.
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