I
as pessoas preferem
os legumes e frutas
mais bonitinhos
lustrosos e grandes
sem machucados
inchados e plenos:
ou seja
aqueles
impregnados de veneno
II
quando há
impreenchíveis vazios
conteúdos de nada
e vergonhosas cagadas
é que se ostentam
as gordas fachadas
III
as pessoas gostam
de sorrisinhos simpáticos
musiquinhas alegres
balinhas de leite
e de mentiras docinhas
cobertas de enfeite
15 novembro 2013
13 novembro 2013
A Masturbação da Humanidade
um dia
humanidade
(ou ser humano)
no sonho de ser o que não foste
deixaste levas
de palavras em lavas
e promessas orgasmas...
agora?
larvas
não lavradas
pelas águas levadas
e livros largados
esporreados mal-lidos
e agora
a tua ilusão?
letra a letra
pelos esgotos
vão tuas palavras não-livres
de grão em grão
se esvazia tua ampulheta
e gota a gota
se extingue o gozo
da tua punheta
11 novembro 2013
Por que as pessoas não se admitem culpadas?
é, por que não
se admitem culpadas?
não se admitem nem para si
que por mais que se pensem de algo
não passam de vagos e de nadas
não passam de pés
empoçados na lama
não passam de pós
esperando por covas
não passam de trovas
não refletem
e não se refletem
mereceriam espelhos
e tundas de relho
se acham perfuminhos de frascos
que uma brisa faz em cacos
heroizinhos de fiascos
produtores de gases
homens que fazem
fezes
eu confesso-me que não-sou-me
bebi demais
e vomitei o que nem tinha
depois de um dia
que não fiz nada que prestasse
caí da cama de lado
acordei-me e concordo-me
culpado
10 novembro 2013
Planeta Terra no Séc. XXI: são recordes atrás de recordes (pena, que negativos)
O recente supertufão Haiyan, que devastou as Filipinas e pode ter deixado mais de 10 mil mortos, considerado pelos meteorologistas como o maior tufão já registrado, chegando a ter ventos de absurdos 400km/h, ultrapassando o limite da escala de tufões, que vai até 8 (o Hayan chegou a 8,1), engrossa a lista de recordes catastróficos que vêm assolando nosso planeta neste novo século. Alguns otimistas sorridentes acham que tudo não passa de "acidentes de percurso" e que a humanidade, apesar dos "percalços", caminha muito bem, obrigado. Já eu diria que são sintomas de uma lenta e insidiosa enfermidade planetária que levará a humanidade a um colapso total. Enfermidade obviamente causada pelos próprios humanos e sua civilização altamente evoluída.
Como as pessoas geralmente têm memória curta, vou cometer o ato louvável de lembrar de alguns recordes que nos encherão de orgulho:
1 - Em 2005, o sul dos EUA foi destruído por um dos furacões mais potentes e destrutivos da história, o Katrina.
2 - Em 2004, o tsunami mais mortal já registrado matou quase 300 mil pessoas no Sudeste asiático.
3 - Em 2011, o Japão sofreu o maior terremoto dos últimos dois séculos, chegando ao limite da escala Richter, 9.0, e causando um tsunami gigantesco que originou o desastre nuclear da Usina de Fukushima.
4 - Em 2005, a Amazônia brasileira sofreu a pior seca já registrada em sua história, que chegou a secar rios e regiões alagadas onde até então era considerado impossível a ocorrência de estiagens.
5 - O ano de 2010 é considerado o ano mais quente desde que se iniciariam as medições de temperatura média da Terra. E outros 10 anos do século XXI estão entre os mais quentes já registrados.
6 - Em 2004, o Brasil teve o registro do primeiro furacão a atingir a América do Sul, o furacão Catarina, que atingiu o Sul do Brasil.
7 - Em 2012, a Groenlândia sofreu um degelo recorde em suas geleiras, atingindo os absurdos de 97% de derretimento.
8 - O ano de 2007 é considerado o ano com o maior número de desastres naturais da história da humanidade.
9 - A ocorrência de desastres naturais aumentou 268% no Brasil após o ano 2000.
10 - Neste século, os prejuízos causados por desastre naturais já chegaram a 2,5 trilhões de dólares.
Vou parar por aqui, mas tem mais, muito mais, é só pesquisar. Quem quiser contribuir com algum recorde do tipo, por favor, deixe nos comentários. (Acima, as imagens impressionantes do maior tufão da história.)
08 novembro 2013
Poemeto para as Nossas Águas
e o barquinho limpinho
de papel
a flutuar tranquilo
sobre a vibração suave
do ondular das águas
para lá e para cá:
mar
de...
mer
da...
mar
de...
mer
da...
mar
de...
mer da...
07 novembro 2013
o homem que não muda
com a muda
de árvore
nas mãos miúdas
espera o homem
(que nunca muda)
mudar o mundo
o homem que não-muda
entre a merda e o medo
e a poesia muda
como quem observa
um morto
como sendo grave
a poesia em silêncio
como sendo árvore
05 novembro 2013
Três Chutes Não-Poéticos
I
a poesia
ocupa cada vez
menos espaço
porque o homem
já está saturado
esgotado
explodindo
de vazio
II
o que há de mais antiquado
que escrever
“sublimemente”?
primeiro
é contra as regras literárias
segundo
é contra os vazios humanitários
por isso a palavra
nem foi escrita
logicamente
III
há homens
que acham que dizem algo
dizendo
o que (não) tem a dizer...
poderiam poupar-nos
da sua fra(n)queza
03 novembro 2013
Não Voto em Filho da Puta*
prezado
senhor candidato:
com todo respeito
vou pegar o meu voto
e enfiar no teu rabo
de rato
não me venhas
com apertadinhas de mão
podres imundas infectas
de micróbios de corrupção
e das mais fedorentas melecas
no ranço do teu sorrisinho
de boca amarela e fingida
deixo o voto do meu catarro
mijo ressaca e sarro
tuas alegrezinhas
musiquinhas
ridículas
enfia
nos teus orifícios propícios
que eu sei muito bem
quais são as alegrias
das campanhas políticas:
queres
passeatas
carreatas
mamatas?
conchavos
conluios
canalhas?
tratados
tramoias
trapaças?
sobre a merda do teu santinho
apago meu cigarro vadio
ah, e senhor candidato
nobremente
vai à puta que pariu!
02 novembro 2013
Dois Palmos pra Dentro
algumas pessoas
tanto falam em conhecer-se a verdade
que a verdade
já não fala ao que eles conhecem
enquadram a verdade
em determinados quadrados
e desconhecem a que está
a algumas próximas quadras
passam pelas ruas
a perpassar passadas
e não percebem a verdade
pela qual passam a dois passos
das abertas palmas das mãos
largam flores e palmas
mas não apanham a verdade
que passaram a dois palmos atrás
ou perderam
a dois palmos pra dentro
29 outubro 2013
Fragmento Absurdo de Uma Existência Futura nº5 - Quatro Golpes de Pá na Cabeça
Não se podia falar
sobre o assunto. Nenhum comentário. Ninguém podia. Nem nas ruas nem em qualquer
outro local público. Até mesmo em casa era perigoso. Quem o fizesse seria preso
de imediato, caso fosse descoberto. O que não era algo difícil de acontecer, pois
os malditos agentes e espiões do governo estavam por toda parte. Havia escutas em todos os lugares. Era a lei
do novo governo mundial. Foi necessário centralizar o governo da humanidade
para, diziam eles, evitar que o pânico injustificado e errôneo se espalhasse
por todos os cantos do planeta e então imperasse o caos. Qualquer um que
falasse do assunto era considerado criminoso porque com sua irresponsabilidade
alarmista e desinformada estaria espalhando um pânico talvez fatal por entre a
população pouco esclarecida. Essa era a justificativa deles. Dos membros do
governo mundial.
Claro que o governo
mundial era formado por membros dos países ricos. Ou que se achavam ricos. A
interminável e crescente crise econômica, a cada dia agravada pela aniquilação
ambiental e pelas definitivas e radicais alterações climáticas, vem fazendo tabula
rasa das “potências” mundiais. Países subdesenvolvidos, desenvolvidos, em
desenvolvimento... Não faz mais sentido. Tudo faz parte da mesma merda.
Uma puta de uma
mentira, é claro. Primeiro que o caos já impera absoluto há muito tempo.
Segundo que o pânico não só é justificável como somente imbecis mantêm-se
calmos diante da situação absurda em que nos encontramos como espécie,
acreditando nas besteiras estúpidas dos governos e de suas ciências falidas.
Imbecis, ou então pessoas que alimentam uma indiferença suprema, como a minha.
Pouco me importa que a humanidade inteira apodreça. Talvez seja o que
merecemos. A civilização há tempos vem
cavando sua sepultura. Uma hora tem que cair no buraco que cavou.
Mentiras deslavadas,
falsas verdades, silêncios impostos a força (com subornos, ameaças, prisões ou
mortes, por exemplo), versões distorcidas, engenhosas histórias inventadas,
farsas escancaradas, belas e luminosas teorias sem pé nem cabeça, ocultação de
fatos, enfim, o arsenal para manter a população sob controle não tem fim. Mas começa a ruir, e as coisas
começam a se acelerar. Há coisas que já não se pode esconder.
Principalmente,
depois daquele colossal terremoto em terras do Primeiro Mundo. Ou do ainda
chamado “Primeiro Mundo”. Mais de 400 mil mortos. Que se sabe. E mais algumas
dezenas de milhares de desaparecidos. Talvez centenas. Foram pegos de
surpresa. Não paravam mais de achar
corpos. Até que desistiram de procurar. Procurar mais seria fazer a população
se chocar e sofrer desnecessariamente. Diziam. Já estavam mortos mesmo, fazer o
quê? Que importava encontrar ou não agora seus corpos.
A ciência, já em
franca decadência, não havia previsto nada. Ou, se previu, escondeu,
acreditando que conseguiria evitar o pior. Eles sempre tentam evitar o pior. Ou
melhor, dizem que tentam evitar o pior. E que trabalham em prol do bem da
humanidade. Tudo fachada. Conversa fiada
para os palhaços. Trabalham para manter o status quo das coisas. Ou
seja, dominantes e dominados, os que produzem e os que consomem, os que lucram
e os que pagam. E consumir, basicamente, é o grande ideal da humanidade do século
XXI. Poder consumir sempre e mais. E os que produzem convencem muito bem de que
se deve consumir sempre e mais. Mas uma hora tinha que explodir. Só ninguém, ou
quase ninguém, esperava que fosse do jeito que está sendo. Os filhos-da-puta
ainda tentam mascarar com inúmeros atos sórdidos. Mas não está dando. Ele já
está muito perto.
Bom,
mas eu falava naquele terremoto. Aqui na cidade miserável onde vivo também
houve um. O primeiro da história nesta região. Não foi, obviamente, tão intenso
quanto aquele na Europa. Mas matou gente, centenas delas, soterradas pelas ruínas
de prédios. Minha casa não chegou a ser afetada. Mas me ofereci como voluntário
para ajudar a socorrer os milhares de feridos. Cheguei a resgatar, ou tentei
resgatar, uma menina de não mais que seis anos de idade dos escombros. Sua
perna direita estava presa por umas ferragens gigantescas. Não havia como
tirá-la dali. Eu estava sozinho. Chovia. Tive que serrar sua perna na altura do
joelho. Eu havia trazido algumas ferramentas de casa, entre elas minha serra de
açougueiro. O sangue esguichava na minha cara. Os berros da menina eram
insuportáveis. Serrei a perna e tirei-a de lá. Carreguei-a sangrando por quase
um quilômetro em busca de ajuda médica. Não encontrei nenhuma. Pensei em levá-la
para minha casa. Mas seria inútil, eu não poderia fazer nada e ela morreria em
poucas horas. Então, exausto, larguei seu corpo e disse a ela. “Mocinha, não
tem jeito, nem eu nem mais ninguém pode te ajudar”. Ela ainda chorava, chamando
pela mãe, quando morreu.
Prossegui
caminhando pela região do desastre. Já quase mais ninguém ajudava a encontrar
sobreviventes. Talvez não houvesse mais. Parei quando uma mãe se escabelava
pelo filho morto esmagado. Gritava desesperada:
- Aqueles desgraçados, eles são culpados da
morte do meu filho, matem aqueles desgraçados, me ajudem, façam alguma coisa! Eles
são culpados, dizendo merdas, aqueles desgraçados, matem eles, sempre mentindo,
sempre dizendo que tudo está bem, que tudo está sendo controlado, mentirosos
filhos-da-puta, alguém mate aqueles desgraçados, pelo amor de Deus, ajudem uma
pobre mãe!
Então, em poucos
minutos, surgiram três homens com uma pá. Eram homens do governo. Agarraram a
pobre mulher pelos braços e pelos cabelos, arrastaram-na até um canto escuro. Não
perceberam que eu os observava. Mataram a mulher com uns quatro golpes de pá na
sua cabeça. Depois, encheram de ferimentos seu corpo e cobriram-no de barro. Assim,
ela pareceria ter sido tão somente mais uma vítima do terremoto. E a polícia não
investigaria mesmo.
A mulher havia falado demais num lugar público. Mesmo que não houvesse
ninguém naquele merda de lugar devastado, sempre se corre o risco de alguém
ouvir. Eu, por exemplo, ouvi. Tive a sorte de estar escuro e de não me verem. É
como eu disse. Ninguém pode falar nada. Deve-se fingir que não se percebe o que
está ocorrendo. Mas não adianta mais. Ele já veio, já está visível. Não sei que
tipo de mentira estão dizendo agora, não tenho mais acompanhado as notícias
fajutas do jornais, todos controlados pelo governo mundial. Mas a farsa está
ruindo como aquele prédio ali adiante. Aliás, quando o prédio cair, aqui, deste
ângulo em que estou, dará para vê-lo, triunfante.
27 outubro 2013
da Partícula de Si Mesmo*
I
nossos intelectuais
estão certos
de que preveem o futuro
e antecipam o a frente
(...)
mas deveriam fazê-lo
acendendo
(antes)
uma vela
pelo escuro
do seu (v)entre
II
dizem
ter descoberto
a “partícula de Deus”
(o homem
procura a sabedoria
como se pescasse uma palha
em um palheiro
a esmo)
só lamento
o nunca encontrarem
a partícula
de si mesmo
III
perguntam-me
qual afinal
a minha esperança...
eu não escolho esperanças
eu espero o que vem
não espero
por exemplo
que tu - ser humano
me ames
e o que importa
é que existe Brahms
*Poema reelaborado e republicado
*Poema reelaborado e republicado
25 outubro 2013
O Artista deve ser Maldito
I
o artista
(poeta músico ou o diabo)
é sempre um egoísta:
quer que os outros
sintam as emoções
que são suas
os outros
não sentem nem as deles
os outros quase nunca
sentem nada
II
ou talvez o artista
seja aquele que desperta
as emoções dos outros...
alguns dirão
que é uma tarefa ingrata
eu direi
que é palhaçada
III
é por isso que o artista
(hoje mais do que nunca)
deve ser maldito:
uma pessoa só reage
(e mais se emociona)
quando provocada
24 outubro 2013
Uma Mensagem Deixada
os humanos deixaram-se
esqueceram-se
do que já nem se sabe
do que já nem foi
tanto não foram
que já agora não são
tanto não foram
que acabaram por não ir
fizeram tantas coisas
que mal chegaram a existir
formaram tantas cidades
onde não se viu viverem
ao quase nada
que sobrou da humanidade
deram o nome de arte
que é o que não foi
do não ser humano:
o homem não-sendo
só tendo a arte
para voltar ao ser
que se deixou
entre o cair
e o des-ser
21 outubro 2013
do Grande Homem
grande é somente
o homem
que funda sua obra
como sendo árvore:
desde a semente única
no nada do solo
até a folha última
no auge do topo
aqueles que sobem
no meio do tronco
(como que pegando atalhos)
para tentar fazer crescer
ou endireitar os galhos
acabam caindo de tombo
após alguns poucos
(ou alguns muitos)
estalos
e talhos
o homem
que funda sua obra
como sendo árvore:
desde a semente única
no nada do solo
até a folha última
no auge do topo
aqueles que sobem
no meio do tronco
(como que pegando atalhos)
para tentar fazer crescer
ou endireitar os galhos
acabam caindo de tombo
após alguns poucos
(ou alguns muitos)
estalos
e talhos
19 outubro 2013
do Momento Correto
o momento correto
para estar agir dizer
sobe sempre em curva
e nunca em caminho reto
só o percebem
aqueles que desviam
os olhos da reta
para contemplar a paisagem
em marcha lenta
como que se deliciando
com os detalhes da passagem
o momento certo
da ida volta ou revolta
nem é questão de ser esperto
mas de intuir
que aquela é a entrada justa
da incógnita de uma porta
avistada pelo longe
olhar para o lado
é o segredo:
o inimigo nos julga esquecido
e esquece de manter cuidado
e de compreender o medo...
18 outubro 2013
Para Um Rebelde*
rebelde com causa
sem causa
ou rebelde com cauda
de rato?
rebelde com calda
açucarada
de leite
de saco
escroto
escroto
rebelde com causa?
rebelde com calça
frouxa
frouxo
trouxa
engolindo os reais
(que diz ser o real)
dos outros
rebelde com calça
arriada
rebelde com calça
arriada
rebelde arcado
alcaide
curvado
com espinho na goela
e espinha dobrada
com o peso
do desprezo
do seu preço
rebelde sem calça
com o saco
sem bolas
que coça
e com o saco
de outros
que puxa
com cara
de puta
*poema reelaborado e republicado
17 outubro 2013
O Governo PP em Santiago e a Política da Aparência
A administração do PP em Santiago, e não é de hoje, vem sofrendo de um mal bastante comum nos nossos dias, principalmente quando se trata de Brasil: o da "Política da Aparência". É só em Santiago tal fenômeno? É ostensível que não. Mas como vivo aqui, falarei do que tenho visto em minha cidade. E seja como for, aqui se tem a forte impressão de que a "Política da Aparência" tem raízes bastante profundas, pois é muito bem vista pela sociedade em geral, preocupada, enfim, em ser contentada com o "belo" e com as "fachadas" pelos locais por ande mais se transita.
Aqui a política da aparência consiste em se investir no centro, enfeitando-o, deixando-o "ajeitadinho", e esquecendo-se do trabalho nos bairros, de nossos principais problemas sociais, como a ausência de oportunidades de emprego, como as questões ambientais, que vêm sofrendo um verdadeiro descaso por parte do poder público.
Enquanto as ruas centrais foram asfaltados (aliás, parece-me que não com um serviço de grande qualidade, pois já começaram a ficar esburacadas) e luminárias novas e canteiros de flores foram espalhados pelo centro, o que é bonito, sem dúvida, as ruas de muitos bairros continuam sem calçamento, tapadas de pedras e buracos, não obstante as seguidas promessas de campanha. Soube pessoalmente de casos de ruas onde se cobra IPTU, mas não se calça porque se considera de zona rural. Exatamente. Um morador foi reclamar que havia sido prometido durante a campanha política municipal o calçamento de sua rua. Disseram a ele que a rua não poderia ser calçada, pois estava em zona rural. Com o detalhe de que o morador ( e demais moradores) pagava IPTU a mais de 20 anos.
O acima citado é apenas um exemplo desse descaso com o que NÃO DÁ NA VISTA, mas existem vários outros. Esgotos a céu aberto, lixo acumulado nas margens das ruas e em terrenos baldios, cursos d'água totalmente poluídos, abarrotados de toda espécie de sujeira, esgoto doméstico despejado em arroios por não haver nenhum tipo de tratamento disponível, mau-cheiro espalhado por locais públicos... E todos eles afastados do centro. É que melhorar e deixar o centro bonitinho traz votos, é APARÊNCIA, e não é isso o que vale nos dias de hoje?
Logicamente que a questão ambiental é responsabilidade também da população. Mas e ela recebe a educação devida para saber como evitar a poluição? A Cidade Educadora é uma ótima ideia. Mas pergunto: está chegando aos bairros? A quem mais precisa? Que atividades estão sendo feitas, por exemplo, para amenizar a caótica situação ambiental da periferia santiaguense? Tenho a impressão de que a Cidade Educadora é apenas um negócio de e para as elites. Corrijam-me se eu estiver errado.
E o emprego? Há os que garantem que há aqui em Santiago emprego para todos. Que tipo de emprego? Aqueles que se entra "de favor" em alguma empresa que paga mal e depois se tem que aguentar o que vier para não ser despedido? Ou será que é aqueles empregos em que se paga bem, mas que se precisa de algum apadrinhamento para se obtê-lo?
Outro ponto são os investimentos em cultura. Existem? Talvez, mas como são feitos? Com bustos de escritores espalhados pelo centro e calçadas da fama apenas para SE DIZER TERRA DOS POETAS? Com casinhas enfeitadas? Não há uma maneira melhor de se investir esse dinheiro? Eu sempre fui um crítico de feiras de livros. Não só das de Santiago. Na minha opinião, o dinheiro investido numa feira, que é muito mais um espetáculo para o divertimento do povo do que para VERDADEIRAMENTE promover a cultura, poderia ser muito melhor aproveitado com, por exemplo, um auxílio efetivo aos escritores da terra, SEM NECESSITAR SER DO PARTIDO DA SITUAÇÃO OU SEU SIMPATIZANTE, e, talvez ainda mais, com a valorização do trabalho dos professores, que lutam incansavelmente para possibilitar um resquício de educação a nossos jovens das escolas municipais.
Mas tanto os governos municipais como as populações ignorantes preferem feiras de livros. Um espetáculo montado que me cheira a farsa. Houve uma feira do livro aqui em Santiago em que se pagou milhares de reais para uma palestrinha bem lugar-comum do Gabriel Pensador. E quem escreve aqui, na Terra dos Poetas, o máximo que consegue é um cantinho qualquer pra lançar seu livro. E ainda julgam isso o máximo. Desculpem-me, mas minha visão de cultura é outra.
Porém, por outro lado, não se pode condenar tanto o governo municipal pela "Política da Aparência". Afinal, é o que o povo quer. Rostinhos bonitos, ainda que almas podres. A humanidade toda é uma grande fachada. O homem é uma grande farsa.
14 outubro 2013
do Atraso do Mundo*
o que há de pior
são os que querem saber para todos:
“não olhe pela janela,
eu já olhei
e não há nada lá fora”
são como aquelas visitas
que te impedem de sair
por nunca irem embora
o que há de pior
(do que um energúmeno)
são os que querem
que calcemos os seus próprios sapatos
de menor número
nada atrasa mais o mundo
do que estar certo
de que o mundo
está certo
dentro dos limites
que ele tem
é como sempre pisar no seco
para nunca molhar o pé
os que criam
são os que veem o que não é
*Poema reelaborado e republicado
*Poema reelaborado e republicado
13 outubro 2013
Acidez dos oceanos é a maior já registrada e pode aniquilar com 60% da vida marinha
Um relatório do Conselho Nacional de Ciências dos EUA afirma que a poluição produzida pela humanidade, principalmente o dióxido de enxofre, o qual é absorvido em grande parte pelas águas marinhas, está tornando os oceanos cada vez mais ácidos em um nível "sem precedentes", reduzindo drasticamente sua porcentagem de oxigênio e ameaçando toda a vida marinha, já em grande parte afetada e reduzida, e, consequentemente, ameaçando também a existência da humanidade que depende dos mares para sua sobrevivência.
Afirma o Conselho: "A química do oceano está mudando numa taxa e numa magnitude sem precedentes, devido às emissões antropogênicas de dióxido de carbono. A taxa de mudança excede qualquer uma conhecida que tenha ocorrido nas últimas centenas de milhares de anos."
Um relatório do Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos adverte que "estamos expondo os organismos a uma pressão evolutiva insuportável. A próxima extinção em massa (de espécies) pode ter começado".
Um relatório do Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos adverte que "estamos expondo os organismos a uma pressão evolutiva insuportável. A próxima extinção em massa (de espécies) pode ter começado".
A acidificação dos mares, por exemplo, corrói recifes de coral, interfere na capacidade de algumas espécies de peixe em se localizar e pode prejudicar frutos do mar como mariscos e ostras, impedindo-os de produzir suas conchas. Isso, a princípio. Com o passar do tempo, prosseguindo o crescimento da acidificação, as consequências podem ser muito piores e amplas, ainda não totalmente conhecidas.
Cientistas afirmam que com oceanos mais ácidos e mais quentes, as espécies marinhas tenderão a migrar na direção dos pólos e para águas mais profundas, a diversidade de peixes e invertebrados hoje explorados pode diminuir 60% e os recifes de coral tropicais sofrerão uma redução colossal até 2050. Isso equivaleria a uma aniquilação de quase dois terços da vida marinha.
Alex Rogers, do Somerville College, da Universidade de Oxford, e um dos criadores do Programa Internacional para o Estado dos Oceanos, diz que “a saúde dos oceanos está a piorar mais rapidamente do que se pensava. Esta situação deveria ser motivo de grave preocupação para todos, dado que todos serão afetados pelas alterações na capacidade dos oceanos em suportar a vida na Terra".
Bom, que tal então pegar uma prainha para relaxar? A da foto acima está boa?
11 outubro 2013
Uma Pergunta...
“O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.”
não é mais do que um sonho num sonho.”
E. A. Poe
quem garante
que o real não é sonho
e que o sonho
é o que é?
há lagos em que o fundo
nunca alcança a existência
de nosso pé
o que existe existe
ou existe
porque eu penso que existe?
dependendo de como
e quando
se vê
a mesma flor
pode ser alegre
ou pode ser triste
e quem me dirá
que pensar é saber
se quando penso
há pensamentos
que pensam opostos em mim?
se eu pensasse certo
sobreviveria no nada do deserto?
só se sente
que o sonho é sonho
quando o sonho chega ao fim
e mesmo quando sinto
não domino o que vem-me aos sentidos
e até mesmo o vinho tinto
só é tinto
porque meus olhos humanos
o percebem assim
o que sinto e vejo
é algo que corre em todos
ou é só um desejo
de meu eu?
e isto é um verso
ou é só um nada já dito
perdido
em um sonho do universo?
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