Johann Wolfgang Von Goethe, o maior gênio da literatura alemã, e um dos maiores da literatura universal, expressou em sua obra-prima máxima, "Fausto", um dos pontos mais altos da arte, praticamente todas as questões essenciais que assombram a humanidade, cogitou sobre tudo, e expôs como raros o drama da eterna busca do homem pelo conhecimento. Mas o que seria o real conhecimento? Seria acumular leituras sobre leituras, investigar todas as coisas pelo alcance das ciências ou iriam ainda muito além? O texto abaixo, extraído do quadro II, Cena I do 1º Fausto, questiona tragicamente o terrível dilema. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "O Destino", de Hieronymus Bosch.
Fausto I - Quadro II - Cena I (Trecho)
Ao cabo de escrutar com o mais ansioso estudo
filosofia, e foro, e medicina, e tudo
até a teologia... encontro-me qual dantes;
em nada me risquei do rol dos ignorantes.
Mestre em artes me chamo; inculco-me Doutor;
e em dez anos vai já que, intrépido impostor,
aí trago em roda viva um bando de crendeiros,
meus alunos... de nada, e ignaros verdadeiros.
O que só liquidei depois de tanta lida,
foi que a humana inciência é lei nunca infringida.
Que frenesi! Sei mais, sei mais, isso é verdade,
do que toda essa récua inchada de vaidade:
lentes e bacharéis, padres e escrevedores.
Já me não fazem mossa escrúpulos, terrores
de diabos e inferno, atribulados sonhos
e martírio sem fim dos ânimos bisonhos.
Mas, com te suplantar, fatal credulidade,
que bens reais lucrei? Gozo eu felicidade?
Ah! nem a de iludir-me e crer-me sábio. Sei
que finjo espalhar luz, e nunca a espalharei
que dos maus faça bons, ou torne os bons melhores;
antes faço os bons maus, e os maus inda piores.
Lucro, sequer, eu próprio? Ambiciono opulência,
e vivo pobre, quase à beira da indigência.
Cobiço distinguir-me, enobrecer-me, e vou-me
com a vil plebe confuso, à espera em vão de um nome.
E chama-se isto vida! Os próprios cães da rua
não quereriam dar em troco desta a sua.