14 fevereiro 2019

Hipogrifo

viverá a minha voz ou meu verso 
no zumbido de alguma mosca
no zunido de algum mosquito
a azucrinar ouvidos  
não-existentes 
naquele quase silêncio 
dos malditos 
que é ainda mais que um grito
um além no quando 
que nem poderá ser dito 

ficará o meu nada 
no ruflar das asas 
de alguma barata 
no rangir escroto 
de algum gafanhoto 
no irritante estribilho 
do triunfo do grilo 

e será o meu verso no que me resto 
vitorioso como os artrópodes 
naqueles dias de vazio 
naqueles densos de mistério 
em que o planeta estará repleto 
de insetos 
e sobre o mundo 
de moribundos
no caos circunscrito
cairá o sopro das asas
do retorno
de um hipogrifo

12 fevereiro 2019

Praia Nublada no Inverno

não gosto de praia.
ou do que dizem ser praia:
tem gente nela.
nada contra quem gosta
e aceito a opinião oposta
mas tanto sol e sorrisos 
me desgastam.
prefiro o escondido da sanga
entre o perdido do mato
aqueles capões brabos
bugios roucos
peraus de cobras
e mosquitos da febre amarela

e estou falando sério:
meu gosto é de antigo
me neblino no mistério:
sou daqueles que não.
me sinto bem entre gritos de sapo
e berros de gavião.

não gosto de praia?
não é bem assim:
não gosto da ideia por trás dela.
se ainda fosse aquelas praias de tormentas
daqueles mares das pinturas de Turner:
há menos verdade no que se diz vida
do que naquela tela.

10 fevereiro 2019

Eu é que não presto

só uma pena de pato
no prato:
aquilo que sobrou do fiasco
e o emprego? no prego
e no poder? as pragas
tudo o que há de pútrido
pregando
nas pregas do povo

e pobre do próximo
se o próximo for pobre
pior se o próximo for preto
só lhe sobra o que for podre
se antes não for preso
mas "ame o próximo
como a si mesmo"

mas e a pátria?
que pátria?
a pátria é o patrão
o filho da puta
que tem pressa
de saciar suas (em)presas
com o sangue do planeta

mas isso é ser honesto.
eu é que não presto.

08 fevereiro 2019

Com Lucro e Sem Vida*

enquanto houver lucro 
não haverá vida
nem de quem paga
nem de quem perde
nem de quem lucra

enquanto houver lucro
só haverá o suco
do que é vivo sugado
enquanto houver lucro
não haverá o justo:
só seres e homens
a serem esmagados

enquanto houver lucro
não haverá paz
só haverá pás a cavar covas
só haverá a sede
insaciável
de quem quer mais
só haverá a sede
insaciada
de quem
não pode
e não tem nada

enquanto houver lucro
o homem será invólucro
de um monstro
o homem será a máscara
de um mundo sem nada
movido à máquina
ao trágico
e à morte

e é assim:
enquanto houver lucro
haverá o fim

(Poema reelaborado, escrito e publicado originalmente em 2015)

06 fevereiro 2019

Contabilizem as Lágrimas no Paraopeba

o Rio Paraopeba está morto. 
Como diria Cruz e Sousa: "Morto. Muito morto. Morto."
mas a Vale privatizada por FHC lucrou. 
quem é que lucra? quem é que paga?
E muito. Muito lucro. Muito. Contabilizem seu lucro.
a mineração lucrou. contabilizem seu lucro.
a mineração quer se expandir e elegeu um "presidente". 
contabilizem de quanto foi essa ajuda.
depois contabilizem o número de mortos.
contabilizem o número dos que vão morrer.
contabilizem o número de famílias aniquiladas.
contabilizem os milhares de peixes mortos.
contabilizem as milhares de aves mortas.
de mamíferos. de répteis. de anfíbios.
mortos. contabilizem.
contabilizem os quilômetros e quilômetros de Morte
que ainda virão rio abaixo.
contabilizem os outros rios que serão atingidos.
e riachos e córregos e sangas. contabilizem.
e mais poluição e mais mortes e mais dores e mais horrores.
vão contabilizando. contabilizem.
é só o que eles sabem fazer: contabilizar.
é só o que os milionários que estão no governo sabem fazer:
contabilizar.
contabilizar para tirar dos pobres e dar para os ricos.
para tirar da vida e dar para o lucro.
então não nos resta mais nada.
só contabilizar.
contabilizem.

05 fevereiro 2019

do Nosso Tempo

I - a lei quer que você faça
uma posição de "Sentido!"
quando merda nenhuma mais
faz sentido

II – a vida de hoje perdeu tanto o sentido
que isso nem foi sentido

III – ainda há um sentido para esta civilização:
o caminho no sentido do abismo

IV – já eu, ressentido, tento encontrar meu sentido:
todos os meus sentidos
(sentidos pelas artes)
sentem que o fim se aproxima:
sinto muito.

03 fevereiro 2019

Simbolista

quero apagar mas apagar de um modo
que quando acorde já não seja eu todo:

todas aquelas coisas sossegadas
que do que esperam só recebem nadas

que sabem que ter é beber espuma
como quem olha para o céu e fuma

sentadas pelas beiras das estradas
essas coisas de tudo tão cansadas

a ver quem passa se matar nas curvas
e quem chega não encontrar nenhuma

a se aguardar num sol já quase posto
que não se acabem os invernos de agosto

que as noites vindas já não tenham fim
que sempre fosse sempre fosse assim

e que se achasse em sangue o amor já morto
ao soprar de asas de um voar de corvo

todas aquelas coisas sossegadas
que já viram Deus e só são fantasmas

que desceram para tomar um vinho
e quando viram vinha o Fim sozinho

02 fevereiro 2019

Carniça

“confia nos homens 
e em sua justiça...” 

dizia-me um mísero 
pagando seu dízimo 
em meio à imundícia

dizia-me um “justo” 
pingando seu cuspo 
em meio à cobiça

dizia-me um “santo” 
babando seu canto 
em meio à malícia

“espera dos homens 
só sua carniça...”

dizia-me um Corvo 
na carne de um morto 
fazendo justiça

31 janeiro 2019

O Deprimente Primeiro Mês de Bolsonaro

107 mulheres assassinadas por homens EM 2019, ou seja, em um mês. 99 mortos e 259 desaparecidos num desastre causado por uma mineradora PRIVATIZADA, enquanto o "presidente" defende a EXPANSÃO da mineração e da privatização. 
O ministro do Meio Ambiente foi CONDENADO por favorecer uma mineradora. O "presidente" foi eleito com o apoio de mineradoras, grandes empresas sonegadoras e ruralistas sedentos de agrotóxicos e devedores do governo. Dezenas de agrotóxicos altamente venenosos foram liberados por Bolsonaro.

Essas grandes empresas patrocinaram uma enxurrada de mentiras (fake news) e ameaçaram funcionários para votarem no Jair Messias. Com menos de um mês de governo, o "presidente" tem sua família atolada até o nariz por denúncias de corrupção. 

O ministério desse "presidente" é formado por corruptos, investigados ou já condenados, por loucas ( a Damares, quem é que coloca um ser sem nenhum fundamento desses em qualquer cargo? Só o Bolsonaro), ignorantes e racistas, e é uma cagada ou gafe atrás da outra.

O "presidente" tá mais perdido que o Bolsonaro na presidência: não sabe o que faz, só fala merda e mais volta atrás do que faz alguma coisa. E quando faz, só favorece aos ricos e aos já privilegiados. Nenhuma, NENHUMA medida, até agora, que favoreça os pobres e trabalhadores. Ruralistas invadindo e devastando reservas ambientais, e a caça de animais silvestres correndo solta (pior que antes).

E, agora, madeireiros invadem reservas indígenas para matar índios aos gritos de "Agora é Bolsonaro!". De fato, agora é Bolsonaro. E vocês estão vendo no que está dando. E é só o começo.

28 janeiro 2019

Ah, O Progresso

Poema escrito e publicado originalmente em 24 de janeiro de 2018.

"há quem passe pelo bosque
e só veja lenha para a fogueira” (Tolstói)

há quem sente na grama dos campos
e só veja escavações para minérios
(ah, o progresso)

há quem observe uma cascata de águas
e só veja inundações para hidrelétricas
(ah, mais progresso)

há quem mire no olhar do tigre
como um inimigo a ser massacrado
e substituído o mistério que vem da vida
pelo lucro que vem da máquina
(tanto progresso)

há quem olhe para o céu
e só veja seca ou chuva
para a lavoura de soja
(quanto progresso)

arrebentar planeta e humanidade
para encher os cofres de um punhado
dos homens que fazem
dos homens de bem
(quanto cansaço)

amém

27 janeiro 2019

Dia de Ira (ao Réquiem de Mozart)













Hoje, 263 anos de Wolfgang Amadeus Mozart. Republico o poema a seguir:


Dies irae, dies illa
solvet saeclum in favilla

I - carta enviada ao destino
sem selo
vida esvaziada de humanos
sem sê-lo

II - algo estrago de raio e fogo
se gatilha no olho e no logus
relâmpago do tigre

III - homem com sede de fome
que há muito morreu de sua sede
e se perdeu de seu nome

IV - algo sangue no oculto do sol
se vermelha entre buracos de estrelas
sendo aves de outros planetas
ou graves de surdos sonetos

V - corvoos por todos os pânicos
carvões por todos os prados
cor vãs por todos os pratos
rãs-águas por todos os túmulos

se réquiam os destinos
por cartas marcadas
com o número 626
de Mozart

24 janeiro 2019

Poesia Pós-Vida

a minha poesia engasgada e asfixiada 
por um pedaço de plástico na goela
a minha poesia com as tripas de fora
e a cabeça esmagada numa rodovia
a minha poesia com a cabeça arrancada
e sendo mostrada em vídeos na internet
a minha poesia respirando agrotóxico
atolada na areia de um rio assoreado
do lado do sem fim de uma lavoura de soja
a minha poesia abatida a tiros
junto com seus quatro filhotes
a minha poesia com uma pata atorada
e a outra presa numa armadilha
a minha poesia espalhando rios de sangue
com a barriga aberta sobre uma praia
a minha poesia tombada por uma motosserra
e virando cinzas no meio do mato esvaído
a minha poesia transformada em esgoto
e em lixões sem fim a céu aberto
a minha poesia sem ar e sem penas
agonizando num pedaço de cano
para ser vendida para ricos
a minha poesia morta e com os pedaços arrancados
para servir de amuletos a milionários chineses
a minha poesia transformada em deserto
a minha poesia perdendo minha alma



21 janeiro 2019

Se Você Estiver no Rio Grande do Sul

a Mão da Morte está presente
para onde quer que se olhe:
eu poderia dar alguns exemplos
onde tocam os milhares de dedos
da mão infinita da morte

se você estiver no Ártico
você verá a mão da morte
no derretimento de titânicas geleiras
toneladas e toneladas de monumentos desmoronados

se você estiver na África
você verá a mão da morte
no massacre brutal de elefantes
milhares e milhares de gigantes assassinados

se você estiver no Sudeste Asiático
você verá a mão da morte
na devastação de exuberantes florestas tropicais
quilômetros e quilômetros de imensidões tombadas

se você estiver no Oceano Pacífico
você verá a mão da morte
em turbilhões e turbilhões de mares entupidos
de lixo e plástico
universos e universos de vida aquática
asfixiados por nossa quinquilharia

se você estiver na China
você verá a mão da morte
no peso dos ares cinzentos de poluição
céus e mais céus irrespiráveis de horror

se você estiver no Rio Grande do Sul
você verá a mão da morte
nos hectares e mais hectares de lavouras de soja
atulhados de venenos
campos e mais campos
que já não são mais campos nem matas nem nada
só a desolação sem vida de um deserto verde
de dinheiro

19 janeiro 2019

Presidente Bozoasno

um palhaço bagaço 
cagaço e arrego 
entre piadas e babacas
cagadas cloacas 
mamatas nas tetas 
patriota? 
um pateta 
entre patotas 
de patos 
um milico pinico 
hipócrita cômico 
de circo pocilga de charco 
um fraco um asco um asno 
um burro um tosco um bozo
um Fiasco.

17 janeiro 2019

Da Formação de Tempestades

sei que algo acontece.
o fundamental é o que está latente
aquilo que não mas que será à frente
que se move como sopro e tigre
que passa como nunca passado
e que se ergue em olho bem do teu lado

qual sábio é que garante
que um vento que se veste inofensivo
lá em processos desvistados
não se tornará tornado furacão?

há um outro nos envolve
em insondável onde:
há um ato que é fato
e há outro que se esconde

tudo traz um além-motivo
ainda que a ele (rindo)
não nos motivemos:
mas ele sempre sorri
acima do nosso riso

15 janeiro 2019

Posse de Armas: agora, Você tem Pênis

Uau! parabéns, você conseguiu, cara! Agora, por mais retardado e estúpido e impulsivo que você seja, se tiver mais de 25 anos, vai poder possuir arma de fogo. Veja bem, ter, não carregar a arma. Por mais pobre que você seja, vai poder pagar 5, 7, 10 mil reais por uma arma pra ter em casa. A geladeira, a televisão nova, o curso do filho, por exemplo, podem esperar.

Agora sim! A criminalidade no Brasil tá solucionada. Vai ficar mais fácil, por exemplo, matar o seu amigo filho da puta numa discussão. Matar a sua esposa, que não faz o que você quer, mais fácil ainda. Ameaçá-la, então, maravilha! Agora os lares vão funcionar!

O dia que você quiser se matar no impulso, beleza, vai ser um tiro! Ou o seu filho deprimido. Nem tem que pensar duas vezes. A bala entra num ouvido e sai pelo outro.

Ah, e o ladrãozinho que quiser invadir sua casa, esse não tem chance mais, você viu o cara, o cara tá morto. Ou ele, vendo que você tá armado, atira e mata você antes. Mas você atira bem pra caralho, né, vai pagar cursinho de tiro, sem galho! Ou vai treinar caçando vea..., digo, javalis.

Mas mesmo não podendo, você vai carregar a arma com você, né, eu sei. Você ou o seu filho de 17 anos. Vai chegar no bar armado, tomar uns tragos e mostrar pra todo mundo, que, agora, vão ter que te respeitar. Você vai querer mostrar que sabe lidar com uma arma, e se der um tiro por acidente e pegar em alguém, qual o problema?. Afinal, "SE MORRER ALGUNS INOCENTES, TUDO BEM!" Desde que o inocente não seja você ou o seu filho, né, beleza!

E se tiver no bar algum bandidinho que viu sua arma e quer pra ele, e vendo que você tá bêbado, vai te esperar na saída, você vai mostrar que é macho, vai sacar a pistola, e antes que posso puxar o gatilho, vai tomar uma facada no bucho, que nem o mito.

Você conseguiu, cara, você é show. Macho! E, agora, com pênis!

13 janeiro 2019

Para quem sabe o que são Flatos

os homens com suas moedas
se acham vastos
mas são só vasos

os homens com suas metas
se acham vultos
mas são só vulgos

os homens com suas armas
se acham forças
mas são só farsas

os homens com suas regras
se acham retos
mas são só ratos

os homens com suas naves
se acham fogos
mas são só fátuos

os homens com seus gases
se acham fatos
mas são só flatos

10 janeiro 2019

Preparação para o Nada

o homem não vive: só se prepara.
nasce. e se prepara para crescer
e crescer, dizem, é preparar-se para a vida
(que nunca se vive)
depois é estudar para se preparar
para mais estudo e para decidir
para que, depois, vai se preparar
com mais detalhes e dedicação

o depois é se preparar para trabalhar
que o trabalho é uma preparação
para outras coisas mais
que ou são nada
ou quando vêm não já bastam
e então se prepara para o que falta
que nunca deixa de faltar
e para que não falte o que faltará
a gente se prepara

e por fim se prepara para
quando se ficar velho
e quando se fica velho
se tenta se preparar 
para a Morte...

e no Fim
nunca estamos preparados

08 janeiro 2019

Vinho de Uvas Podres

eu não sou o que escrevo.
o que digo está em mim
como algo que eu vi e me ficou
ou como algo que busquei e me encontrou
ou a mim veio  como algo que me quis
mas não é onde me estou

não se pode me encontrar
pelo que deixei escrito:
o que escrevo é o que crio
a partir do que me destruo
é um resultado como aquele vinho
que se cria das uvas podres:
o que escrevo é a fermentação
do que me apodrece

do que se sente e o que se vive
do que se perde e o que se morre
do que não é e o que não vem
do que se passa e o que será

eu não sou o que escrevo.
mas em verdade tudo o que sou
é só o que escrevo.

06 janeiro 2019

O Óbvio

escrever é perceber o óbvio:
nada é mais difícil de ver
do que está diante dos nossos olhos

se colocarmos a página de um livro
muito perto de nosso campo de visão
não conseguiremos ler

dito isso
qualquer criança sabe
que após um tempo de muito calor e seca
de condições climáticas estéreis
de crescente pressão atmosférica
em que o abafamento o sufoco a opressão
se tornam insuportáveis
o resultado inevitável
são tempestades temporais tormentas tremendas
caos pânico destruição

porém sem essas tempestades
a vida não poderia continuar

mas não se percebe que é por algo do tipo
(só que muito maior)
por que passa a humanidade

a isso chamamos "O Óbvio"

de modo que
em tudo que escrevo
estou explicado

04 janeiro 2019

Palavras no Abismo

("A Parábola dos Cegos", de Bruegel)

não há mais palavras a serem ditas

a quem já ergueu a perna direita
para o passo a ser dado 
no vazio do abismo

não há mais palavras a serem ditas
não porque não há o que ser dito
(há tanto que é melhor calar)
é que não há o que ser entendido
no sentido de que não se entende
o significado do que está escrito

a palavra, que é o que diz
deixa de dizer
quando mesmo dizendo
o que se diz não é captado:
há comunicante mas não há comunicado

em outras palavras
a palavra se perde
e com ela a verdade:
a cada palavra que some
morre um pouco de fim e de fome
essa abismada humanidade

02 janeiro 2019

(Des) Governo Bolsonaro: Começou a Palhaçada

Alguns pontos, sobre esses dois dias do princípio do que será o pior governo da história do Brasil:

1) Bolsonaro, após a posse mais vazia da história, igual a sua cabeça, ao invés de reajustar o salário mínimo para 1006 reais, como era pra ser, fixou em 998. Por que, diabos, ele não deixou em 1006, apenas 8 reais a mais? Deve ser porque pobre não pode ganhar mais de mil reais por mês.

Depois do blablablá, da fanfarronice e da hipocrisia de sempre, segundo o que li hoje na imprensa sobre a posse, Bolsonaro mostra ao que realmente veio: para um governo CONTRA O POVO. Mesmo podendo dar o que estava previsto por Temer para o salário mínimo, que já era pouco, deu menos ainda. De 1006 reais baixou para 998. Foi o MENOR AUMENTO DOS ÚLTIMOS 24 ANOS. Agora entendi porque os poucos bolsonetes vaiaram Temer (afinal, o Bozo e o seu ridículo PSL foram os seus maiores apoiadores): Temer queria dar um aumento maior para o salário mínimo.

2) Falando em blablablá e em hipocrisia, ontem tivemos, na posse, discursinho em libras da 1ª primeira rama, digo, dama. Hoje, tivemos a extinção da Secretaria de Inclusão, que era a que cuidava, por exemplo, das pessoas surdas e com deficiência auditiva.

3) Para fazer jus à sua campanha, a posse do Bozonaro deveria ser por live, aqueles seus vídeos hilários, na internet, com ele em casa, apresentando atestado médico pra o Temer, e as notícias sobre a posse, todas fakes, enviadas por Whatsapp.

4) Bolsonaro decretou, hoje, que a demarcação de terras indígenas ficará a cargo do Ministério da Agricultura. Que está na mãos de ruralistas. Ruralistas odeiam índios, porque querem suas terras para devastar, explorar e lucrar em cima delas. Ou seja, palhaçada!

5) O Bolsobosta, hoje, também pôs um fim no conselho defensor de alimentação saudável e sem agrotóxico. Claro, pensando no povo.

6) Agora, é só aguardar o avalanche de merda que virá nos próximos dias, meses, anos, fruto da sua imensa e ilimitada bolsa de bosta que tomou posse, simbolicamente, ontem com ele. 
É como disse Dante Alighieri sobre o Governo Bozo:

"Deixai toda esperança, vós que entrais".

31 dezembro 2018

Planos Metas Objetivos

as pessoas falam
em planos metas objetivos
sucessos e conseguimentos
a serem atingidos
e nem sabem se estão vivos

querem chegar a um ponto
e quando chegam (se chegam)
é só isso
e pronto
(e surgem a miragem
do outro ponto)
e nunca se vive
o ponto em que se está

se tem coisa que a vida nos ensina
é que não somos nós
que levamos a vida:
quem leva é a sina

as pessoas babam
em planos metas objetivos
e eu rio:
não sabem que o único plano
é ao que nos leva as águas sábias
do rio

28 dezembro 2018

Maldição

não sei nunca saberei por que escrevo.
não há nada que eu ganhe no que faço
nem dinheiro nem glória nem abraço
nem curo meu mal e em nada me inscrevo

talvez seja assim meu último credo
único som que deixo como rastro
único sangue a valer meu cansaço
única forma em que sou meu segredo

vale tanto porque não vale nada:
o que vale não merece seu preço
só vale a vida que nos é não dada

escrever é conhecer que me esqueço
sentir o não-ser da vida alcançada
em que serei morto e em que permaneço

25 dezembro 2018

(Não)-Mensagem de Natal

 as pessoas querem de mensagem de natal
qualquer texto banal que fale de amor felicidade esperança 
um amontoado pré-determinado mecânico automático robótico de palavras positivas
votos vazios vazados de (in)verdades vagas
algo que fale em paz perdão jesus
a ser esquecido antes de ser lido
pretensas espiritualidades a serem estouradas com champanhes foguetes e peidos pós-ceia...

hoje quando acordei um sabiá cantava na janela
e eu prestei atenção no seu canto:
essa foi a minha mensagem de natal
e não poderia haver melhor

22 dezembro 2018

Eu não aprendi a viver

eu nunca aprendi esse negócio 
de "aprender a viver"
eles dizem: 
"você tem que aprender a viver" 
mas eu nunca entendi 
o que eles queriam dizer com isso
quando eles deram essa lição
eu devia estar cagando

eles determinaram exatamente como se deve viver:
eles criaram regras normas leis padrões modelos
teorias tratados cartilhas manuais e morais
coisas bem difíceis e complicadas
e eu na minha preguiça e irresponsabilidade
fiquei só lendo coisas inúteis como contos e poesias
e não aprendi o que deveria ter aprendido

agora estou aqui e não aprendi a viver.
eu achava que a vida fosse como escrever um poema:
você inicia, diz o que veio pra dizer
e termina em grande estilo ou nem tão grande assim

mas eu só aprendi a escrever poemas
(mal e porcamente)
e não aprendi a viver
não sei fazer outra coisa

uma época eu achava que viver
tinha a ver com se tornar melhor
mas eles já me provaram
que não é nada disso

e eu, burro, nunca consegui entender.



21 dezembro 2018

Escrever é um Ato Infame

se o cara escrever de verdade
matará de mentira sua fome.
se o cara escrever poesia, por exemplo,
terá um atestado de insanidade
de inutilidade para o desenvolvimento
de subversão e delinquência
e, óbvio, de miséria.
escrever é um ato ingrato.

se o cara escrever contos novelas ou romances
(muita gente ainda acha que romance é história de amor
e novela aquilo que passa na tv)
ou terá que ter muita sorte em conseguir uma boa editora
(algo como acertar na loteria)
ou ser bem apadrinhado
(o famoso Q.I. - Quem Indica)
ou escrever temas agradáveis desejados
que se desenvolvam de maneira banal e infantil.

se o cara escrever roteiro de filmes ou séries
poderá fazer muito sucesso

anônimo:
ninguém dá atenção pra quem
escreveu a história as ideias as falas
só se dá atenção aos atores que falam
e aparecem.

escrever é um ato falho:
quase sempre o cara que escreve
só é reconhecido em vida
se não escrever porra nenhuma.


18 dezembro 2018

Quatro Batidas na Porta (ou A Propósito da 5ª Sinfonia de Beethoven)

que foi que me trago no isso que deixo?
que preço que pago pelo sopro que largo?
quando uma palavra se fora
qual a palavra que volta?
o que me trará suas pancadas na porta?

o que é o destino
que se destina no que digo?
o que é que eu entrego
naquilo que me verbo?

no meu verso em que eu adejo
se alada doença ou um beijo?
ave algum canto pelo segredo
em que não sei do que for certo?
e daquilo que sinto o que é que é meu?

quem é que me sonha lá no que falto?
que deus que não sei 
me não sabe e por quem?
que fim e que som e que luz e que alto?
o que é que me vem?

se o espaço é curvo
o que é que é a volta?
o que eu espero do meu verso
quando vir bater na minha porta?