vê como tudo se perde
por entre os dedos
do que não vemos
vê como tudo se verte
por entre a vida
que nem é vista
e a água que corre
(como se fosse num porre)
nem percebemos
que já é areia...
lições
da poeira
quando vê-se que é
o que é já se foi
estamos sempre
um passo atrás
daquilo que passa
só somos
(só
somos...)
quando nem é mais
e deixamos que morram
antes que o corpo
as nossas almas
até então imortais
mas só de areia...
lições
da poeira
e o que sobra
é o papel do que fomos
aquela superfície maquiada
o pó da face
plastificada
e ficam ali as pessoas
sendo um móvel
de belo verniz
mas que por dentro
(num carcomer lento)
os cupins o deixaram em lasca...
aquelas pessoas
ainda vivas
que do que foram
só restou a casca
um balde vivo de poeira
castelos
de areia...