21 novembro 2012

Cruz e Sousa e a Consciência Negra

20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. Infelizmente, meu dia de ontem foi bastante corrido e não tive tempo de postar nada no blog. Faço-o hoje. Mas sem realizar homenagenzinhas sem graça, atulhadas de lugares comuns e de hipocrisias. 

Aproveito para falar de Cruz e Sousa (que nasceu em 24 de novembro de 1861), o grande poeta negro, filho de escravos, o Cisne Negro, como ficou conhecido, um dos maiores poetas brasileiros e um dos maiores simbolistas mundiais. Se o catarinense Cruz e Sousa não foi um grande revolucionário da linguagem poética, como o foram Baudelaire e Rimbaud, talvez os dois maiores nomes do Simbolismo universal, o nosso simbolista foi sem dúvida mais sublime que o primeiro e mais humano que o segundo. Acrescentaria ainda que foi mais sincero que Verlaine, mais profundo que Mallarmé e mais autêntico que Valéry. Dito isso, não é necessário que eu diga mais nada sobre. 

Talvez apenas seria interessante acrescentar que Cruz e Sousa não faz parte da Academia Brasileira de Letras. Não o faz porque era negro? Ou porque era simbolista? O Simbolismo foi um movimento muito combatido pela crítica brasileira da época, que preferia os artificialismos do Parnasianismo. Os franceses e alemães, países atrasados, é que apreciavam o Simbolismo. Seja como for, ainda bem que o Sousa não fez parte dessa Merda  toda (em maiúscula mesmo, em um recurso simbolista) que se tornou a nossa academia de letras.

Deixo trechos do poema "Piedosa", comovente obra que Cruz e Sousa escreveu para sua mulher, também negra, Gavita Gonçalves, que lhe deu quatro filhos, todos mortos pela tuberculose, e que, por isso, enlouqueceu. Poucas obras em nossa literatura são tão tocantes como o poema abaixo. Comprovem:

Piedosa (Trechos)


Porque não é por sentimento vago,
Nem por simples e vã literatura,
Nem por caprichos de um estilo mago
Que sinto tanto a tua essência pura.

Não é por transitória veleidade
E para que o mundo reconheça,
Que sinto a tua cândida Piedade,
As auréolas de Luz dessa cabeça.


Mas sinto porque te amo e te acompanho
Pelas montanhas de onde sóis saudosos
Clarões e sombras de um mistério estranho
Espalham, como adeuses carinhosos.

Sinto que te acompanho, que te sigo
Tranqüilo, calmo desses vãos rumores
E que tu vais embalada comigo,
Na mesma rede de carinho e dores.

Sinto os segredos do teu corpo amado,
Toda a graça floral, a graça breve,
Todo o composto lânguido, alquebrado
Do teu perfil de áureo crescente leve.

Sinto-te as linhas imortais do flanco,
E as ondas vaporosas dos teus passos
E todo o sonho castamente branco
Da volúpia celeste desses braços.

Sinto a muda expressão da tua boca
Feita num doce e doloroso corte
De beijo dado na veemência louca
Dos céus do gozo entre o estertor da morte.

Sinto-te as nobres mãos afagadoras,
Riquezas raras de um valor secreto
E mãos cujas carícias redentoras
São as carícias do supremo Afeto.

Sinto os teus olhos fluidos, de onde emerge
Uma graça, uma paz, tamanho encanto,
Tão brando e triste, que a minha alma asperge
Em suavíssimos bálsamos de pranto.

Uns olhos tão etéreos, tão profundos,
De tanta e tão sutil delicadeza
Que parecem viver lá n’outros mundos,
Longe da contingente Natureza.

Olhos que sempre no tremendo choque
Dos sofrimentos íntimos, latentes,
Tem esse toque amigo, o velho toque
Original das lágrimas ardentes.

Ah! sé eu vejo e sinto esse desvelo
Que transfigura e faz o teu martírio,
O sentimento amargurado e belo
Que e já, talvez, quase mortal delírio...

Sinto que a mesma chama nos abraça,
Que um perfume eternal, casto, esquisito,
Circula e vive com divina graça
Dentro do nosso trêmulo Infinito.

E tudo quanto me sensibiliza,
Fere, magoa, dilacera, punge,
Tudo no teu olhar se cristaliza,
No teu olhar, no teu olhar que unge.

Cruz e Sousa




20 novembro 2012

Um Bilhão de Litros de Agrotóxicos Despejados na Última Safra Brasileira

Já comentei no blog que o problema dos agrotóxicos é uma questão gravíssima para a qual raras vezes é dispensada a devida atenção. Os governos e a mídia pouco estão interessados no assunto. É que o país precisa produzir mais e mais alimentos. Se saudáveis ou não, pouco importa. Deve-se é abastecer-se as pessoas com farta comida. O "desenvolvimento" não pode parar. Proibir ou limitar o uso de agrotóxicos, para muitos, é um atraso, uma maneira inaceitável de "frear" o desenvolvimento do país, o progresso da nação. E de se deixar de lucrar. Um bom empresário não pode aceitar a redução dos seus lucros. Seria um imbecil, se o fizesse, um retrógrado. Como voltar atrás? E o meio-ambiente, e o planeta? Ah, está tudo bem com ele, como sempre esteve, a destruição ambiental é um mito. No mínimo, um exagero dos alarmistas.

Deixando de lado a ironia, finalmente leio no jornal  Correio do Povo algo sobre o tema, sem ser uma nota de rodapé. Abaixo,  transcrevo trechos do que está no Correio do Povo de 18/11, página 13:

"O Brasil  consumiu 1 bilhão de litros de agrotóxicos somente na última safra. Diluído na água, este volume de material nocivo ao ambiente e à saúde pública chega à conta de 100 bilhões de litros dispensados pela natureza e absorvidos pelas pessoas em alimentos, água, ar e contato com o solo. Entre os vetores da contaminação estão frutas, hortaliças e até o arroz e o feijão que ocupam o prato dos brasileiros todos os dias."

No congresso da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), foram apresentadas algumas pesquisas a respeito da tragédia dos agrotóxicos. Em uma delas, realizada pelo médico Wanderlei Pignati, conforme o jornal, "feita com mães lactantes em um município do Mato Grosso (...) o resultado de exames mostrou a presença de traços de mais de um tipo de agrotóxico no leite materno em 100% das mulheres examinadas".

Mais adiante, na mesma matéria: "Estes químicos são tóxicos e ficam no corpo humano e na natureza. O consumo ocorre em microgramas num tomate, alface, pimentão, derivado de soja ou milho, e diversos outros itens comuns da mesa brasileira. O problema é que o efeito cumulativo pode causar graves doenças. Cânceres, males hepáticos, danos cerebrais estão entre as potenciais manifestações consequentes do consumo de alimentos impregnados de agrotóxicos".

Mas de que adianta alertar sobre? No Brasil, parece ter-se eleito o cigarro como o bode expiatório, único culpado por todos os males da saúde da população. O resto deixa-se como está. Tanto é que a bancada ruralista quer AUMENTAR o uso de agrotóxicos. Está em outro jornal, no Sul 21. Deixo este trecho: 

"Em uma realidade onde os brasileiros consomem por ano uma média de 5,2 litros de agrotóxico e o país é líder mundial em insumos químicos na agricultura, a bancada ruralista tenta agora modificar a legislação do único estado que proíbe a comercialização de agrotóxicos banidos nos países de origem. Desde 1982, a Lei dos Agrotóxicos restringe a venda e distribuição das substâncias que não são liberadas nos países em que são produzidos. Porém, o deputado estadual Ronaldo Santini (PTB), apresentou o Projeto de Lei 78/2012 para retirar esta prerrogativa do estado gaúcho a fim de 'aumentar a competitividade do agronegócio'."  Parece piada. Quem dera fosse. Confiram aqui.

Bem, creio que não preciso dizer mais nada.


18 novembro 2012

Verdade Tóxica


quem dera
deixar um algo
última verdade tóxica
como se fosse um resto de trago
no sujo fundo de um vaso
ou a brasa de um cigarro
inflamado
sendo sangue cuspe catarro
quem dera tirar um sarro
amargo
deixando um algo
manejado à foice
avançando à bala
um tapa um soco ou um coice
um vasto travo de droga
espuma do que se afoga
antigo cheiro de ópio
ao largo
mijo e baba de sapo
peçonha e saliva de cobra
um frasco negro de coca
e uma alta dose no sangue
de sal...

quem dera deixar um algo
verdade última e tóxica
que te acordasse
e te fizesse mal

17 novembro 2012

A Polícia Militar e a sua Culpa nos Crimes em São Paulo - E a Violência da Brigada em Santiago

Abaixo, apenas transcrevo a 1ª parte do texto "Só o PCC ameaça Sâo Paulo?" publicado no jornal eletrônico Sul 21. O texto é de autoria de Antonio Martins. Os trechos em destaque (em vermelho) são de minha responsabilidade. 


"Ao descrever, num ensaio recente (breve em português, em Outras Palavras), a situação tormentosa vivida pela Grécia, o jornalista Paul Mason, da BBC, recorre à história da Alemanha, às portas do nazismo. Só uma sucessão de erros crassos, mostra ele, pôde permitir que Hitler chegasse ao poder. Mas havia algo sórdido por trás destes enganos. Embora não fosse conscientemente partidária do terror, a maior parte das elites alemãsdesejava o autoritarismo, pois já não conseguia tolerar o ambiente democrático da república de Weimar.

As circunstâncias são distintas: não há risco de fascismo no cenário brasileiro atual. Mas é inevitável lembrar de Mason, e de sua observação sobre a aristocracia alemã, quando se analisa a espiral de violência que atormenta São Paulo há cinco meses. Em guerra com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), parte da Polícia Militar está envolvida numa onda de assassinatos que já fez dezenas de vítimas, elevou em quase 100% o índice de homicídios no Estado e aterroriza as periferias.

Pior: a escalada foi iniciada (e é mantida e aprofundada) por integrantes da própria PM, a força que deveria garantir a segurança e o cumprimento da lei no Estado. Mas apesar de inúmeras evidências, o governo do Estado não age para refrear tal atitude. E a mídia omite, ao tratar da onda de mortes, a participação e responsabilidade evidentes da polícia. É como se tivessem interesse em manter, em São Paulo, um corpo armado, imune à lei e ao olhar da opinião pública, capaz de se impor à sociedade e diretamente subordinado a um governador cujos laços com a direita conservadora são nítidos.

Para ocultar o papel de parte da PM na avalanche de brutalidade, a mídia criou um padrão de cobertura. As mortes de autoria do PCC são noticiadas, corretamente, como assassinatos de PMs. Informa-se que o número de crimes deste tipo cresce de modo acelerado — já são 90 vítimas, este ano. Mas se associa a insegurança que passou a dominar o Estado apenas a estes atos. Também informa-se sobre parte das mortes praticadas pela PM — seria impossível escondê-las por completo. No entanto, aceita-se, sempre sem investigação jornalística alguma, a versão da polícia: morreram “em confronto”, depois de terem reagido.

Este estratagema permite silenciar sobre três fatos essenciais e gravíssimos: a) parte da PM abandonou seu compromisso com a lei e a ordem pública e passou a agir à moda de um grupo criminoso, colocando em risco a população e a grande maioria dos próprios policiais, honestos e interessados em cumprir seu papel; b) diante desta subversão do papel da PM, o comando da corporação e o governo do Estado estão, ao menos, omissos; c) procura-se preservar este estado, evitando, recorrentemente, caracterizar a atitude do setor criminoso da polícia e, muito menos, puni-lo.

Antonio Martins - Confira todo o texto aqui.

Aproveitando a temática da postagem, a qual se relaciona com os crimes cometidos por PMs, deixo, a pedido do amigo Vanderlei Almeida, um texto de sua autoria sobre as recentes suspeitas de agressões e de abuso de poder por parte de policiais militares em nossa cidade. Alguns policiais teriam agredido covardemente alguns meninos indefesos e, até onde se sabe, inocentes.  O caso está sob investigação.

"Hoje pela manhã, fiquei perplexo em ver os pais daqueles meninos que foram agredidos por policiais militares em nossa cidade, protestando contra a violência e o abuso de poder. Senti-me em outra cidade, onde a sociedade questiona atos de violência contra menores, contra a fome, enfim protestando contra a polícia do ESTADO. Historicamente falando, a polícia, os "guardas" foram criados para defender o Estado e não o cidadão. Mas também fiquei revoltado, em saber que só há manifestação quando filhos de uma classe social sofrem qualquer tipo de represália por parte daqueles que estão aí para nos proteger? E os filhos daqueles que não conhecem os seus direitos? Onde está a sociedade para se manifestar a favor também dos filhos de pessoas das classes mais baixas? No passado, na época da ditadura militar, onde vivíamos sem expressão alguma, sem direito algum, o Brasil acordou do golpe da censura do abuso do Estado, quando filhos de empresários começaram a sofrer represálias e serem torturados nos porões da ditadura. Precisamos ter a capacidade de entender que a lei e a justiça valem para todos e não apenas para uma minoria que se diz ter expressão. Precisamos urgentemente de pessoas que defendam nossos direitos, o direito de todos, enfim os DIREITOS HUMANOS."

Vanderlei Almeida

16 novembro 2012

Teu Toque em Silêncio


teu olhar mudo
como se nem estivesse
toque surdo
de trompa
que quando tocas
tocas a todos
da hipocrisia
e da pompa

impassível
contemplador de horizontes
sobre montes de nuncas
e de impossíveis
sob toque de sinos
o tique-taque
invisível
dos destinos

as misérias humanas
não te tocam:
sutil
como um toque de mãos
ao final da tarde
tocas
sem fazer alarde...

Tu
intocável
Urubu

14 novembro 2012

da Frieza*


meu coração
se eu disser que tu estás mal
irão dizer
que sou melodramático
um ressentido
um egoísta
que só se importa
com seu próprio lado
e sua própria crista

meu coração
se eu disser que tu estás bem
irão dizer
que sou um água-com-açúcar
um enjoado
de poesia fraca sem graça
que não vale um tostão
daquelas
declamada em sorrisos
no meio da praça

e meu coração
se eu disser que tu sentes
o sofrimento do mundo
serei acusado
de ser falsamente profundo

então
meu coração
não sintas nada
mantém-te frio
entre a neve lerda
ou
melhor ainda
vai  à merda

* Poema republicado com outro título e algumas alterações. 

13 novembro 2012

Duas Contradições


I

não entendo
os que dizem que Deus existe
como quem o quer provar...

se Deus existe
sendo Deus
que necessidade Ele tem
que o digam?

quem diz
que Deus existe
diz apenas para si mesmo
e para os que já o dizem
para si mesmo

II

não entendo
os que dizem que Deus não existe
como quem o quer provar...

se Deus não existe
sendo Deus
que necessidade que há
de o dizer?

quem diz que Deus não existe
diz apenas para si próprio
e para os que já o dizem
para si próprio

(...)

até entendo
Deus existir
ou não existir...
só não entendo
se pregar
sobre o que se entende

12 novembro 2012

Mais um Silêncio


sentença silente de ocaso
surdo silvo de sino
sumo de selva sem ser
seráfico
som de sol
que se (es)vai

poesia selada sem vezes
segredo-sussurro sem asa
vazio sutil que se assoma
em seca saliva simbólica

necessário silêncio 
insentido soando e só sonho
sibilo-serpente não visto
sinal em sono-assonata
e à humanidade
a arte de não-dizer nada

09 novembro 2012

Aquele Sorriso


aquele sorriso
salivado de siso
dentes alvos
no sereno de à mostra
lábios largos
já tocando nas bordas

aquele sorriso
distribuído nas ruas
seja em sóis seja em luas
noticiado em jornais
sublimado em cientistas
sempre dando nas vistas
e nos gloriosos progressos
governamentais

aquele sorriso
da alegria da vida
do que se nunca duvida
e que a todos afaga
do ideal alcançado
e da esperança elevada...

máscara
do que se degrada

08 novembro 2012

Há Sempre um Crime


mantenha-te
atento
ao teu mim mesmo
e ao que te acerca

pois que
há um cerco
que te apressa
e um circo
de esterco
que te apreça

tenta-te
versa-te no teu adiante
que é sempre o passo
que traga
a todo instante
pro fundo

quanto a mim
que ao mundo
do meu lago
nenhuma onda
se afogue ou se abale 
quer por onde
eu vago
quer por onde
eu vale

(pre)
sinto-me
no que me vela
sem motivo ou alarde
que antes da queda
eu pegue
seja cedo
ou nem tarde

que sempre há um crime
entre um alarme
e um alerta
do que é sublime

Ainda Sobre o Estúpido Corte de Árvores na BR 287: Mais uma Contribuição de Weimar Donini

O amigo Weimar Donini envia-me e-mail onde acrescenta mais alguns argumentos lógicos e perfeitamente convincentes sobre o assunto em questão. Após uma contestação do blogueiro Rafael Nemitz em seu blog, o Weimar escreveu a argumentação no próprio blog do Rafael, que, até o momento, não a publicou. Vamos a ela:

A contestação de Rafael Nemitz:

"Penso que todas as manifestações devem ser respeitadas, as favoráveis ou as contra o corte das árvores. Elas não são culpadas pelos acidentes, porém colaboram para as mortes. No trecho de Santiago a São Borja, a maioria dos acidentes com saída de pista não foram fatais isso porque não existem árvores as margens da rodovia."

A resposta de Weimar Donini:


"Respeitando a argumentação do blogueiro, mesmo por que ele é o dono do blog e, acima de tudo por considerar-me um ferrenho democrata, faço algumas considerações para que as reflita e considere:

O blogueiro não entende que os dois trechos (Jaguari/santiago) e (Santiago/São Borja) têm características bastante diferentes? Não percebe que enquanto uma é cheia de curvas e serras, a outra é praticamente plana, com longas e quase intermináveis retas? Isto não faz toda a diferença?

Se não fizer, relembro-lhe outro trecho que ele conhece muito bem, melhor do que eu. Um trecho onde não tem muita vegetação. Aquele ali, na chegada de Jaguari, que contorna o morro do Obelisco e passa pela ponte sobre o Rio Jaguari, indo em direção à São Vicente. Tem árvores ali?
E quantas dezenas de acidentes fatais ali ocorreram? E por quê aconteceram? Devido às árvores, devido aos morros ou devido ao rio? Nada disto! Aconteceram porquê é um trecho cheio de curvas perigosas, incompatíveis com determinadas velocidades, descendente e cheio de viadutos e pontes!

Reflita sobre isto! Que as verdadeiras causas de acidentes são as intrínsecas, não as extrínsecas.
Pode ser melhorado? Pode! E o Júlio Garcia apresenta uma. Mas querer retirar as árvores ou retirar os morros ou retirar os rios, me parece meio irracional."

Mais uma vez, o amigo Weimar está coberto de razão. A questão é para mim demasiado simples. Como muito bem lembrou o Weimar, há um trecho de curvas próximo a Jaguari que não possui árvores e é perigoso. Muitos, sabendo que é perigoso, diminuem a velocidade no trecho para dentro dos limites permitidos. Então, se nos locais em que há pinheiros julgam que há perigo, basta diminuir a velocidade para 80 quilômetros. Essa não é a velocidade máxima permitida? Então para quê querem correr a 120, 140, 160 em trechos que se sabe que devemos ter mais cuidado? 

07 novembro 2012

Sobre a Discussão Imbecil do Corte de Árvores nas Rodovias de Santiago

O amigo Weimar Donini deveria ter um blog. Já o disse a ele. Trata-se de alguém realmente consciente sobre os nossos problemas políticos e sociais e que, principalmente, sabe abordar os diferentes temas com uma argumentação ampla e inteligente. Sobre a discussão imbecil com relação ao corte de árvores ao longo da BR 287 no município de Santiago, eu nem vou dizer nada. Vou deixar que o Weimar fale a respeito. O seu texto, com a devida autorização do Weimar, foi retirado do blog O Boqueirão.

Diz o Weimar:


"Sou contra os cortes, e dou algumas razões (ratio):  

1) É um diferencial turístico deste trecho da estrada (ainda está mal explorada, é verdade);  

2) Apesar de não ser vegetação nativa, colabora para a qualidade do ar;  

3) Árvores não causam acidentes, via de regra (excepcionalmente uma ou outra, pela ação dos ventos e raios pode cair sobre a rodovia);  

4) Nunca vi uma árvore bater num carro. O contrário, vejo frequentemente;  

5) Se formos utilizar o falacioso argumento do comentarista (de que a derrubada das árvores salvará vidas), a proibição de comercialização de automóveis particulares salvará muito mais;  

6) Se não houver árvores onde bater, o acidentado despencará montanha abaixo e, por último, e não menos importante,  

7) Derrubar árvores é fácil. Qualquer um derruba. Quero ver é plantá-las, cuidá-las. Aí são poucos. Muito poucos. Pouquíssimos!"

Disse tudo, o amigo Weimar. É, mais uma vez, Santiago na contramão da história. Além de não se arborizar devidamente as ruas da cidade, quando temos um local que lembra as belas vegetações europeias, que é o caso dos trechos com pinheiros, querem cortar as árvores, para que alguns possam correr no dobro da velocidade permitida e sair da estrada para capotar barranco abaixo sem o perigo de bater em um pinheiro. É isso que eu chamo de liberdade. É como dizer a alguém: vai lá, anda a 150, 160, não tem mais pinheiros. Isso até parece ser piada, algum tipo de ironia, de deboche, porque não é possível tamanha burrice. É como resolver o problema das bicheiras no gado matando o gado. Só em Santiago mesmo. 

Mensalão, a Impunidade dos Governos de Direita e os Maiores Crimes de Corrupção no Brasil

O parágrafo abaixo, retiro do blog Interrogações, de Zatonio Lahud:


"A vida como ela é: quando Brizola foi governador do Rio de Janeiro a nefanda Rede Globo, que ele teve a 'petulância' de enfrentar, fez uma campanha insidiosa jogando sobre suas costas a violência que grassava no Rio, agora, na verdadeira carnificina que ocorre em São Paulo, o aliado "global", o governador paulista Geraldo Alckmin, é devidamente poupado. Bando de canalhas!
Aliás, Brizola foi o único, repito, o único!, político do Brasil a ter coragem de enfrentar a Rede Globo de peito aberto e sem a internet para contrabalançar e contestar o poder da Vênus Platinada."

Assim é a grande mídia brasileira (e muitas outras pequenas, bem pequenas, midiazinhas). Só se posicionam "contra" o governo, quando o governo é de esquerda. Quando é de direita e comete as suas incompetências, falcatruas e corrupções, calam-se vergonhosamente, escondem fatos ou, pior, distorcem a realidade. O escândalo do mensalão é um exemplo claro. Nem de longe foi o maior crime de corrupção do país, no sentido de montante de dinheiro desviado, como querem nos convencer. Houve outros que desviaram muito mais. Basta pesquisar a respeito. O blog Pátria Latina comenta sobre, aqui. No entanto, não se viu quase que pressão nenhuma da grande mídia brasileira para que esses crimes fossem realmente punidos. Eu nunca soube de nenhum outro caso de corrupção verdadeiramente punido no Brasil. E olhem que foram muitos e muitos e muitos escândalos.

Por que houve condenação só com o caso do PT? Eu acho ótimo que isso tenha ocorrido. Mas e o resto? Por que nossos juízes também não são rigorosos com os demais corruptos que infestam o PSDB, o PP, o DEM? O caso de desvio de verbas do DETRAN, por exemplo, aqui no RS, durante o governo de direita da Yeda, acabou como? E o mensalão tucano? Por que nem sequer foi investigado? Será que os juízes que condenaram os corruptos do PT foram "heróis" ou só agiram como agiram pela pressão da opinião pública, como sempre, condicionada pela influência da grande mídia? Tudo isso, para mim, é muito, mas muito suspeito.

Abaixo, um quadro que indica quais seriam os maiores crimes de corrupção do Brasil. O quadro está circulando em vários sites da internet. Não posso garantir que o quadro seja totalmente fiel à realidade, principalmente com relação aos montantes desviados. Mas que todos os casos de corrupção ali mencionados existiram e que praticamente não houve condenação alguma à grande maioria deles, disso não há dúvidas.


05 novembro 2012

da música quando Música


música
(e só)
quando Música
diz mais que a escrita
exatamente
por não dizer nada

escrever
é pôr a alma em limitada

música é verbo
não-verbalizado
sem vice-versas
ou (des)entendimentos
equivocados

e ainda que a música
diga dizeres
não se pode dizer
que foi sendo como dito...
o que vale é o que som
infinital e arquetípico
absoluto
desanalítico

música
é poesia purificada
poesia
música idealizada

03 novembro 2012

Adeus, Poesia


I

adeus poesia!

não vês
que o fim te bate a porta?
só os ainda vivos
não pensam
que tu estás morta

II

poesia
não serves para nada
sempre foste muito
para ser (f)útil

sempre foste sábia
para sermões

sempre foste alta
entre os anões


III

da tua carta
ninguém abrirá o selo.
melhor assim...
o que verdade
antes morrer
do que dizê-lo

02 novembro 2012

As Sentenças do Nobel da paz

O diplomata egípcio Mohamed  ElBaradei foi o vencedor do prêmio Nobel da Paz de 2005. ElBaradei é ex-diretor da AIEA, a Agência Internacional de Energia Atômica. No final de outubro, ele esteve em Porto Alegre, onde palestrou na UFRGS. O jornal Correio do Povo do dia 1º de novembro veiculou algumas de suas críticas e sentenças não muito otimistas. 

Segundo o jornal, o diplomata acredita que o Conselho de Segurança da ONU precisa passar por um profunda reforma. Acompanhe os trechos a seguir, retirados dos jornal Correio do Povo:

" O tratado de não proliferação de armas nucleares gerou resultados contraditórios: há hoje no mundo um estoque de 19 mil armas nucleares e os cinco países (EUA, China, Rússia, Reino Unido e França) do conselho modernizam em vez de diminuir seus arsenais".

"A atual superestrutura nuclear é ineficaz para enfrentar ameaças sérias à humanidade originadas pelas crises da economia, corrupção, fome e doenças". 

Chamo a atenção dos leitores para o GRAVÍSSIMO fato abaixo:

"O Nobel atacou a insensibilidade da mídia e das potências com os massacres bélicos. No Iraque, sabemos quantos soldados americanos morreram, mas se desconhece quantos milhares de civis iraquianos foram assassinados. Entre 1998 e 2008, 5,4 milhões morreram no Congo. É um fato dos mais graves à humanidade ignorado pela mídia e que não afetou a consciência das pessoas. Na Síria, há massacres e nada é feito".

Limito-me a comentar: cerca de 3 mil americanos morreram no ataque às torres gêmeas. 4,5 milhões foram mortos no Congo em 10 anos. Por que todos sabem e choram e se lamentam pelos alguns milhares de americanos mortos e ninguém sabe (nem se sabe, muito menos se lamenta) pelos milhões de congoleses mortos? Por quê?


01 novembro 2012

Filosofia Poética


I

coração de poeta
é pano
sempre em “valde”:
absorve tudo
e depois torce
no vazio
de um balde

II

chorar
é saber que se sabe
quando é muito cedo
ou quando é muito tarde

III

poeta
é quem não se desiste:
segue não sendo nada
enquanto os outros
se mentem felizes
ou nem são tristes

IV


vou à beira dos banhados
com o coaxar dos sapos
com o matraquear dos patos
com o não se ouvir dos gatos
abaixo de tempestades...

é o que faço
quando necessito ouvir verdades

29 outubro 2012

da Rebeldia*

rebeldes com causa
sem causa
ou rebeldes com cauda
de rato?

rebeldes com calda
açucarada
de leite
de saco...

rebeldes com causa?
rebeldes com calça
frouxa
frouxos
trouxas
engolindo os reais
(que dizem ser o real)
dos outros

rebeldes arcados
alcaides
com o peso do desprezo
do preço...

rebeldes sem calça
com o saco
sem bolas
coçando
e com o saco
dos outros
puxando

*Poema republicado com algumas alterações.

26 outubro 2012

A Linha Decadente (Final)


Agora, verifico que os vultos são soldados trajados exatamente como eu, soldados americanos com uniformes da Segunda Guerra Mundial, armados com metralhadoras. São dezenas, talvez 30 ou 40 soldados. Cada um se oculta atrás de algum tronco das mortas árvores gigantes. Percebo que me observam. Apesar de trajarem o mesmo uniforme que eu, sinto que são meus inimigos. Exatamente no momento em que decido se devo fugir ou enfrentá-los, sou abordado por dois dos soldados. Tenho a impressão de que já os conheço. Então, percebo que são meus vizinhos na vida real. Porém, assim como eu, ambos estão envelhecidos. Questionam-me se sou amigo ou inimigo. Digo que, se somos vizinhos, devemos ser amigos. Eles concordam. Alertam-me então que todos os outros soldados que estão ali desejam a nossa morte, e que devemos combatê-los. Respondo que estou preparado para o enfrentamento.  Sob as luzes das explosões e dos relâmpagos, somos surpreendidos pela presença de dezenas de soldados a poucos metros de onde nos encontramos

De forma desesperada, principiamos a correr e a disparar as metralhadoras em tudo o que se mexe. E matamo-nos uns aos outros. Acerto, ao menos, em cinco soldados. Um, deles, quase a queima-roupa. Sou lavado com seu sangue. Meus companheiros baleiam outros soldados, mas também são alvejados. Um na cabeça, morrendo na hora, e outro, no abdômen.  Verifico, porém, que os demais soldados não desejam matar exclusivamente a nós três. Matam-se a eles mesmos. De modo que permanecem vivos menos de dez soldados.

Uma granada explode ao meu lado e fico completamente surdo de um dos ouvidos. Lembro das granadas de minha mochila. Retiro duas, mas no instante em que vou lançá-las, sou ferido com um tiro nas costas, mas não mortalmente. Sinto uma dor dilacerante. Mesmo assim, ainda consigo lançar as granadas. Faço explodir três soldados. Pedaços de corpos caem aos meus pés. Restam apenas três homens. Eu, meu companheiro agonizante, ferido no abdômen, e um outro que se aproxima de mim com um punhal. Quando está a menos de três passos, comprovo, estarrecido, que se trata de meu irmão caçula, porém, muito envelhecido, aparentando ser mais velho do que eu. Ao perceber que sou que eu que estou ali caído, ferido nos pulmões, meu irmão se suicida, cravando o punhal na região do coração. Olho para meu vizinho ferido. Já está morto.

Tento erguer-me, conseguindo com imensa dor e dificuldade. Saio a perambular por aquele campo devastado, afundando os pés em poças de sangue e tropeçando em cadáveres ou em pedaços de cadáveres. Há vísceras por todos os lados. Quando surgem mais explosões e relâmpagos, fixo minha atenção na face dos mortos. Verifico, abismado, que todos eles, todos os soldados mortos naquela batalha, vários deles por mim, são pessoas conhecidas, e muito bem conhecidas. São todos ou meus parentes, ou meus amigos, ou meus vizinhos. No momento que me dou conta de que assassinei entes queridos, suicido-me com um tiro na cabeça.

No entanto, não sinto morrer, mas, imediatamente, vejo-me, ainda mais envelhecido, no alto de um prédio, um arranha-céu gigantesco ao absurdo, cujo topo aproxima-se da lua. O prédio tem sua base na Terra, mas o seu objetivo é atingir alguma região lunar. Sou um dos construtores do prédio. Ele ainda não foi terminado. Há muitos outros construtores, todos velhos, que, de forma frenética, robótica, quase desesperada eu diria, colocam mais e mais tijolos no prédio, de modo que ele cresce sem cessar. O ritmo é tão intenso que está quase tocando o solo lunar. Percebo que tenho um buraco em minha cabeça. Recordo-me do tiro que desferi em mim mesmo. Do buraco, escorre um filete de sangue. O filete possui um aspecto estranho, bizarro, pois desce em linha reta, absolutamente reta, e assemelha-se muito à linha vermelha do gráfico que descia no gráfico do teto do meu quarto.

Um dos construtores volta-se rapidamente para mim, gritando: “Pega o último tijolo e termina o prédio!” O tijolo está à minha esquerda. Então, percebo que se eu colocar o último tijolo no topo do prédio, este tocará o solo da lua. Cumpro a ordem dada pelo construtor. No instante absolutamente exato em que o tijolo toca o terreno lunar, sinto uma tremenda vibração que parece advir da base do arranha-céu situada na Terra. A sua estrutura entra em colapso e começa a desabar numa velocidade vertiginosa. Junto com o prédio, principio uma queda absurda e impossível. Impossível, não fosse tudo um sonho, do qual estou plenamente consciente. Como um foguete humano, sinto-me nem mesmo caindo, mas como se fosse arremessado por uma força desconhecida de volta para o meu planeta.

Tomado de indizível pânico, penetro incólume na atmosfera terrestre, dirigindo-me para uma grande metrópole que não sei definir qual é. Quando estou próximo dela o suficiente para observar com certa clareza suas construções, habitações, habitantes, enfim, toda a sua civilização, comprovo que tudo está desabado e em ruínas como o arranha-céu que ajudei a construir. Ao meu lado centenas, senão milhares, de seres humanos caem como eu, muitos deles já se esfacelaram no solo do planeta. Muitos outros caem acima de mim. Quando vai chegando minha vez de me espatifar no meio de uma rua coberta de escombros, desperto do sonho.

Todos esses acontecimentos oníricos que relatei já se repetiram em meu sono dezenas de vezes, com mínimas variações que não afetam em nada o teor do que ocorre. Quando narro minha história absurda para amigos e conhecidos (muitos deles presentes no sonho), ficam boquiabertos, não entendendo como alguém pode sonhar algo tão terrível e de forma tão clara. Perguntam-me se não estou chocado ou perturbado em viver frequentemente semelhante pesadelo. Respondo que o que me choca e me perturba é eles ainda NÃO terem sonhado com aquele gráfico sinistro e com sua linha avermelhada que sobe ao máximo para depois descer, a sua linha decadente.