04 janeiro 2012

A Mediocridade de Michel Teló e a Vergonha Nacional

Amigos leitores, peço que acompanhem os textos abaixo:

"Nossa, nossa

Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia

Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego"


Como todos sabem, essa é a letra de uma "música" cantada por Michel Teló. Como todos também sabem, ele não é o único a cantar esse tipo de coisa. Os leitores conhecem a letra abaixo?
"Porque a sonzeira é bala
A mulherada é mara
Em cima da Saveiro
Mulherada rebola, bebe, dança se descontrola
Bebe, beijo ficar com desejo
Quer mais cerveja vai até embaixo
Já mostra o pedaço da sua calcinha
Vem uma cerveja e elas tão louca
E Nós bem mais louco com água na boca"
Essa é outra "música", cantada por Roberto Sales, muito conhecido da nossa querida juventude. Agora, leiam o trecho do poema abaixo:


Noite, que és a Beatriz que inspira e que conduz,
a ti suba o perfume, alucinante e forte,
da flor que, às minhas mãos, esplêndida, reluz!

É tua a febre ardente em que me torturei!
Tu me cinges de sombra e a sombra é quase a morte!
Noite divina e triste, a ti tudo o que amei!

São os dois tercetos do soneto "Final", do poeta gaúcho, do início do século XX, Eduardo Guimaraens. Alguém conhece Eduardo Guimaraens? Por que não conhecem? Por que a nossa mídia não divulga? Por que não divulga? Desnecessário mencionar sobre a abissal diferença de qualidade entre o poema e as letras imbecis acima. Também não vou exigir que a letra de uma música popular se aproxime de um poema clássico. Mas peguemos as letras do Roberto Carlos, do Engenheiros do Hawaí e comparemos com as do Michel Teló e do Roberto Sales e companhia ilimitada... Nem vou falar nada...

O que vou dizer é que depois do episódio lamentável (para nós, brasileiros, e para os israelenses) da dancinha ridícula dos soldados israelenses, há pessoas afirmando, pelas redes sociais, que devemos nos orgulhar de Michel Teló pois ele representa o Brasil lá fora. Meu Deus, orgulhar-se de uma porcaria dessa tipo? A que ponto chegamos?  Mas numa coisa devo concordar: Michel Teló representa mesmo o Brasil lá fora. Representa o que não presta por aqui, o que há de pior, de mais baixo, vulgar, de mais imundo. Representa o lixo cultural que é feito em nossas terras. A ignorância do povo brasileiro, a mediocridade musical que varre o Brasil de norte a sul, a falta de vergonha na cara, a degeneração psíquica de nossa juventude, a decadência mental e espiritual, representa perfeitamente a nossa VERGONHA mais lancinante. 

O que representa o que há de VALOR no Brasil, a nossa mídia não divulga, e o povo nem quer saber. Quem é quem fala em Villa-Lobos, que foi considerado um verdadeiro gênio musical do século XX pelos europeus? Quem é que conhece sua obra? E mesmo fora da música clássica, o que representa o Brasil é Tom Jobim, é Pixinguinha, é Nelson Gonçalves, o antigo samba de raiz, o próprio Roberto Carlos, várias bandas de Rock que têm qualidade, como o próprio Engenheiros, Legião Urbana etc. Agora, essa merda do Michel Teló? Devo me orgulhar disso? Ou quem sabe do Funk? Ou de um sentimentalóide barato como o Luan Santana? Ou dessas duplas sertanejas que só querem ganhar dinheiro e constituem uma ofensa ao verdadeiro sertanejo? Ou dessas bandinhas ridículas de pagode que surgem num dia e desaparecem no outro? Orgulhar-me disso? Eu sinto profunda vergonha e desprezo por toda essa degradação. 

É claro que não é só no Brasil que se produz lixo cultural, mas desgraçadamente  a nossa imagem lá fora está intimamente ligada a esse lixo produzido aqui. O Brasil é sinônimo de putaria. Michel Teló é música para putas e bagaceiras. Essa é a verdade, digam o que quiserem. Alguém vai me chamar de preconceituoso. Não estou nem ligando. Depois querem que sejamos patriotas... Assim, dessa forma? Entronizando tamanha miséria cultural? De que adianta ser a 6ª economia do mundo?  O Uruguai não está nem perto do Brasil no quesito economia, mas  culturalmente, e até socialmente, em termos gerais de seu povo,  dá um banho nos brasileiros, assim como a Argentina. 

Mas, felizmente, esse lixo do Michel Teló, dentro de um ou dois anos terá se afundado em sua mediocridade, depois de ganhar o dinheiro dos trouxas, e ninguém se lembrará mais dele. Já brasileiros de real valor, como Villa-Lobos, Tom Jobim etc, jamais desaparecerão,  estarão sempre sendo cultuados por aqueles que ainda mantém algo vivo em seu interior.

02 janeiro 2012

Versos a Melodias de Tchaikovsky

sopro de rosas cantares e imenso
sono que paira e além do que penso
cedo de vida de tudo que existe

e eu sei que é tudo tão-triste...

sempre de eternos que a mim te infinita
alto e silêncio que líria e me fita
lago de céu em que tanto te assiste

e eu sei que é tanto tão-triste...

longes noturnos de sós que te aclaro
quedas de aurora ao felino e seu faro
astros em flores que tudo te abriste

e eu sei que é tudo tão-triste...

lábios destinos te mágoam e oriente
bosques segredos lacrimam e silente
e sonho de ser que tanto me fiz-te

..............................tanto tão-triste...

31 dezembro 2011

Feliz 2012!

É o que desejam todas as vítimas das tragédias ambientais que enfeitarão o "Ano-Novo".

29 dezembro 2011

A Graça de tanta Desgraça

outra manhã amanhecida
(a mesma manhã
bem amanhecida)
com o ranço e a gordura
de todas as outras manhãs
inutilmente amanhecidas...

as mesmas pessoas ridículas
aos mesmos trabalhos risíveis
na graça de tanta desgraça
ah se eu pudesse morrer de me rir
ah se eu pudesse viver de  me ir...

as mesmas pessoas de nada
nadando em pensamentos
de uma mente afogada
na merda
inflada de pensamentos
e nenhum que valha a pena
(pra onde te leva tua perna?)
sentimentalóides debilóides
(e outra manhã de lerda)
e certos de que são profundos...

pelos mesmos caminhos imundos
caminha para o seu sem-sentido
(com o cérebro coberto
com uma tanga)
a moça divinamente bela
( cuja alma é uma baranga)
cuja saliva é de cadela

desta amanhã amanhecida
de que chamam vida
quem me dera morrer de rir...

hora de ir dormir

28 dezembro 2011

dos Desígnios Universais

o Universo
em sua infinitesimal
miseriaecórdia
quando percebe
que não suportamos mais
a nossa dor de estômago
põe o Seu dedo
(ah, então não tinhas medo...)
em nossa cabeça
e dá uma paulada
para que conheçamos
que a dor de estômago
não era absolutamente
nada

27 dezembro 2011

Quem Disse?

I

nem toda palavra
deve ser dita
tanto para o bem...
tanto para o mal...
um poema não é um escrito:
é só um sinal

II

a melhor maneira de dizer
é dizer em segredo...
um verso que se diga
observa
mas nunca aponta o dedo

III

o que é de forma completa explicado
nunca é de forma completa sublime:
quando toda palavra é dita
nada funciona
desde a arte
até o crime


25 dezembro 2011

Minha Mensagem de Natal

talvez te desejasse felicidades
a felicidade que ânsia pelos dramáticos angelicais
anos-luz de desejos que se afogam
nos impossíveis das idades...
mas não vou te desejar felicidades.

talvez te desejasse saúde
a saúde que sol pelos campos em tons azuis
verdes-luz de paisagens que se somem
nas contradanças do alaúde...
mas não vou te desejar saúde.

talvez te desejasse amor
o amor que céus pelas lunáticas infinitais
beijos-luz de sonhar-te que se vagam
ao som da mais clara cor...
mas não vou te desejar amor.

não, não irei desejar...
nem felicidades
nem saúde
nem amor
nem paz
nem calma

eu só te desejo Alma.

23 dezembro 2011

À Sombra

- Então ele está vindo?

- Sim, está se aproximando.

- Tens certeza?

- Absoluta.

- Como podes ter tanta certeza?

- É que é uma questão matemática, de cálculos que já foram realizados com certa exatidão. Além do mais, é o que dizem as antigas tradições.

- Ainda que tais tradições estejam perdidas no tempo?...

- Principalmente por isso.

- Sim, mas fora isso, se tu dizes que é também uma questão matemática, é algo que não pode ser contestado.

- Precisamente.

- Então me diz, se os cálculos já estão realizados, a data da vinda dele já deve estar determinada, não?

- Não, a data não, não há como prever a data de sua chegada, por mais que os cálculos estejam exatos, porque estamos lidando com números muito altos, cuja menor variação pode ocasionar uma alteração em muitos dias, até meses, talvez  anos. Poderíamos até mesmo falar em variações de décadas.

- Décadas?!!

- Sim, poucas décadas.

- E onde ele estaria agora?

- Isso eu não posso precisar, mas em algum lugar relativamente próximo. Entendes quando eu falo em “relativamente”, não é mesmo?

- Sim, sim, creio que posso compreender...

- Mas a questão não é tanto a data em que ele chegará. O que seria essa data para ti? Quando tu pudesses vê-lo ao vivo e em cores?

- Sim, naquelas cores fatais de que tu já me falaste...

- Sim, naquelas cores fatais, perigosas, sanguinolentas...

- Pois é, sim, eu acho que seria isso mesmo, vê-lo, digamos... pessoalmente.

- Entendo, mas tu tens que perceber o seguinte: a data a que me refiro não seria necessariamente essa, de vê-lo “pessoalmente”, creio que seria até mesmo antes, é uma questão relativa, mais uma vez. Isso a que tu te referes, de ver pessoalmente, de uma forma absolutamente clara, já seria um fato extremo, em que provavelmente tudo já estará consumado, ou a caminho definitivo da implacável consumação.

- Queres dizer que antes da sua chegada tudo já terá ocorrido?

- Sim e não. Talvez o mais importante já tenha acontecido, mas não tudo. Também não se pode prever, estabelecer com exatidão o que ocorrerá em tal momento, se será um pouco antes ou um pouco depois, mas o certo é que tudo ocorrerá no momento que for julgado como mais adequado. E tal pode ser dar quando se espera alguma coisa ou quando não se espera absolutamente nada. A segunda hipótese é a mais provável.
- E, como já me disseste, serão acontecimentos graduais?

- Exatamente, agora tu mencionaste uma palavra fundamental: “graduais”. Isso é essencial, compreender a questão da gradação dos acontecimentos. É algo que depende substancialmente do ponto de vista.

- Como assim, do ponto de vista?

- Se tu estiveres envolvido nos acontecimentos, terás dificuldade de perceber o seu desenrolar, a sua evolução. E quanto maior é o envolvimento, menor será a capacidade de percebê-los. Por isso, é vital manter  certo distanciamento. E quanto mais for possível esse distanciamento, tanto melhor. Claro que consegui-lo não é tarefa das mais fáceis.

- Admito que não estou entendendo...

- É um pouco complicado de explicar, mas vou tentar explanar melhor. Distanciar-se, não física, mas mental, psiquicamente, é, neste caso, mudar de ponto de vista. Nesta intrincada questão, todos nós, seres humanos, a princípio, partimos do mesmo ponto de vista quanto à sua chegada e aos acontecimentos que ela acarretará. E temos esse ponto de vista em comum porque estamos dentro dos acontecimentos. Somos partes dele. Suas vítimas. Por isso não os percebemos como deveríamos. No momento que desenvolvermos nossa consciência e nossa capacidade observativa (que, no fundo, consistem na mesma coisa), poderemos captar determinadas transformações que indicam claramente que os fatos estão realmente ocorrendo e que são causados pela chegada dele. Poderemos realizar inferências relativas a isso.

Não podemos ficar de fora dos acontecimentos trágicos, mas podemos identificá-los bem mais apropriadamente. Creio que com este exemplo deixarei mais claro: imagina uma pessoa que está se viciando em uma droga. Na grande maioria das vezes, como ela está por demais envolvida em seu vício, não irá perceber que está se viciando, a não ser quando surgirem os seus efeitos e consequências inconfundíveis e irrevogáveis. Mas quem está de fora, seus amigos, seus parentes, irão se dar conta, desde o princípio, que a pessoa está se viciando.

- Ah sim, agora começo a compreender...

- O problema da humanidade é permitir-se envolver-se demais pelas coisas que acontecem com ela, é como se deixassem se hipnotizar. E assim não percebem os acontecimentos, tornam-se vítimas de todas as circunstâncias. Quando forem dar-se conta, já será tarde demais.

- Sim, entendo... Mas... o que fará a humanidade?

- Talvez o melhor seja acostumar-se à sombra.

22 dezembro 2011

Morreste

morreste
e já não sabes
que não és o que foste
e talvez nem foste
aquilo que em ti te morreste
deixaste acabar-te os olhares
e quando olhaste ao acima
já te estavas abaixo
do palmo a palmo do sonho enterrado

morreste
e por morreres pensas que vives
te corroeste em tudo que é alto
te contentaste em varrer o teu pó
deixaste escorrer os teus astros
desbotaste todas tuas noites
naufragaste pelos teus castelos
e defecaste sobre teus lagos

e foi enquanto sorrias
por entre certezas suínas
lama no céu da tua boca
açúcar dentro em teu vômito

morreste
e agora já é tarde:
lá um sol  que não bate
queima um peito
que não arde

20 dezembro 2011

Papai Noel Canalha

papai noel
o que foi que me deste?
cada vez que recebo um teu presente
o meu viver pelo destino
se torna ainda mais doente

o que foi que nos deste?
cada um teu presente
é um roubo criminoso
de um planeta moribundo
para um homem decadente

olha para tua barriga
infestada da gordura extirparda
daqueles que morrem de fome
cada um presente teu
é um roubo (para os ricos)
de um planeta que se consome

touca de bandido
e saco de consumista
puxador de saco
dos que têm dinheiro
já os miseráveis
têm o nome riscado
da vergonha da tua lista

o que foi que me deste
papai noel?
só trouxeste mais pesar
com teu peso obeso
para a tormenta do meu céu...

19 dezembro 2011

Um Show de "Belas" Notícias pelo Brasil e pelo Mundo

- A presidente Dilma sancionou a lei que dá poderes aos municípios para atuar sobre a fiscalização ambiental, enfraquecendo a fiscalização do Ibama. Nas questões ambientais, a fiscalização federal é sempre mais eficiente, porque todos sabem que em municípios, principalmente nos pequenos, há muito apadrinhamento, "amizades" que se acobertam entre si, enfim, todos esses conluios que todos conhecemos bem. Se com o Ibama multando poucos são os que pagam, imagine sendo os municípios... Nem multa irão aplicar.

- Sabiam que as penas do mensalão vão prescrever? É, isso aí. Ou seja ninguém será punido. Alguma novidade em nosso país?

- Enquanto isso, no RS, o empresário Lair Ferst confirmou as denúncias de corrupção no Detran e afirmou que o dinheiro desviado era destinado ao PP e ao PMDB. O PP e PMDB nunca me decepcionam. Sempre espero o pior deles. 

- Agora os pais não podem dar uma palmada nos filhos. Os filhos não podem receber palmadas, mas podem bater em professores e espancar colegas.

- Nos últimos 10 anos, tivemos 9 secas no RS. E algumas das mais fortes da história. Quem  viaja pelo interior vê os nossos rios agonizando, assoreados, poluídos, com as margens devastadas. E o Novo Código florestal pretende diminuir a área de preservação de mata ciliar. E anistiar os desmatadores. "É justo, é muito justo, é justíssimo".

O BNDES planeja dar R$ 24,7 bilhões do nosso dinheiro para os bancos privados emprestarem aos contratantes que querem construir a barragem de Belo Monte. O banco concordou em não financiar projetos que causem danos sociais e ambientais irreversíveis, exatamente o que Belo Monte vai fazer, e está sendo investigado por infringir a legislação ambiental brasileira para acelerar a início das obras. Mas lobbistas estão pressionando o banco para poder colocar as suas mãos nos bilhões de reais agora. 

- Enquanto isso, o Japão está usando o dinheiro que originariamente era para as vítimas do Tsunami para organizar uma frota baleeira com o intuito de? Caçar baleias, obviamente. 

- Segundo as mais recentes pesquisas feitas por cientistas, ao contrário do que alguns otimistas alardearam, o buraco da Camada de Ozônio continua crescendo ano a ano. E este ano atingiu um tamanho recorde, um dos maiores desde que se iniciou a sua medição.

- O Canadá abandonou o Procolo de Kyoto para não ter que pagar multas pelas suas emissões de carbono. Acusaram o governo canadense de ser "irresponsável". Só isso? E qual governo não é irresponsável? Ademais, o Protocolo de Kyoto já nasceu morto. 

E essas são apenas algumas poucas das nossas "belas" notícias. Tão somente acidentes de percurso que em nada interferirão no futuro cintilante que nos aguarda.

17 dezembro 2011

Nada a Ser Entendido

parar de dizer
e não falar nada com nada
nenhuma alguma a ser entendida
estendida
ou entediada

sono o vasto do campo
e verbo a música que é
que é nota e não-palavra
a minha amada de amada
e o campo é o que é o campo
e não se precisa explicá-lo
que sente-se mais a dor
do que o significado do calo

por isso é que não me calo
sempre um nada me resta há falar
o que vale
é que ao vale a cavalo
e além do que penso
(há música é o que não me canso)
o universo é mais denso
quanto te perco meu senso
entre o incenso e o que há de luar
(a isso que é vago te danço)

no Nada me hei de cavá-lo
tropas de névoas
e nuvens a se con-formar
em todas as eras
e tu que me esperas
nos parassempres do ar...

viver é sempre ter ido
e ser poeta é não fazer sentido

16 dezembro 2011

Beethoven e o Trio "Fantasma"

Dia 16 de dezembro de 2011, 241 anos de Ludwig Van Beethoven, um dos maiores gênios musicais de todos os tempos.  Todo mundo já deve ter ouvido alguma música de Beethoven, mas os seus trios são pouco conhecidos. O que é uma grande injustiça. São obras de uma densidade e de uma  profundidade espiritual assombrosas. Considero os trios para piano e cordas de Beethoven, juntamente com os esplêndidos trios de Brahms, como as melhores composições dentro do gênero. 

Por isso, hoje, aniversário do mestre, comento brevemente sobre aquele que considero o melhor trio de Beethoven, o Trio para Piano, Violino e Violoncelo nº5, ou, como ficou conhecido, o Trio "Fantasma", composto em 1807, quando Beethoven estava com 37 anos e num período de imensa inspiração. Na verdade, o trio tem 3 movimentos, todos magníficos, mas a sua fama de fantasmagórico provém principalmente do misterioso, nebuloso 2º movimento, que principia e acaba envolto em uma névoa noturna carregada de magias, angústias e inquietações. 

As melodias tensas e sinuosas, a densidade dos obscuros diálogos entre os três instrumentos, as atmosferas lunares e espectrais criadas, enfim, todo o movimento evoca a presença de seres de outras dimensões na sensibilidade do ouvinte. Há uma breve frase sombria que sempre se repete e vai sendo acompanhada por desenvolvimentos cheios de presságios e pressentimentos. 

Mas quem comenta bem melhor do que eu sobre a obra é o grande contista alemão E.T.A. Hoffmann, um dos pais da literatura fantástica, e também compositor, embora de menor expressão. Hoffmann escreveu em seu ensaio "A Música Instrumental de Beethoven" sobre o "Geister" trio:

"Agora me sinto como se estivesse passeando pelas sendas tortuosas de um fantástico parque, entre uma vegetação estranha, árvores exóticas, flores maravilhosas. Estranhas figuras oníricas dançavam no ar,  ora se perdendo em um ponto de luz ora se distanciando uma da outra; formando grupos, afastando-se por turnos, em meio a uma cintilante alegoria fantasmagórica. E a alma arrebatada escutava aquela linguagem desconhecida e compreendia o significado dos obscuros pressentimentos que a haviam invadido."

Fantástico, não?