Dia 16 de dezembro de 2011, 241 anos de Ludwig Van Beethoven, um dos maiores gênios musicais de todos os tempos. Todo mundo já deve ter ouvido alguma música de Beethoven, mas os seus trios são pouco conhecidos. O que é uma grande injustiça. São obras de uma densidade e de uma profundidade espiritual assombrosas. Considero os trios para piano e cordas de Beethoven, juntamente com os esplêndidos trios de Brahms, como as melhores composições dentro do gênero.
Por isso, hoje, aniversário do mestre, comento brevemente sobre aquele que considero o melhor trio de Beethoven, o Trio para Piano, Violino e Violoncelo nº5, ou, como ficou conhecido, o Trio "Fantasma", composto em 1807, quando Beethoven estava com 37 anos e num período de imensa inspiração. Na verdade, o trio tem 3 movimentos, todos magníficos, mas a sua fama de fantasmagórico provém principalmente do misterioso, nebuloso 2º movimento, que principia e acaba envolto em uma névoa noturna carregada de magias, angústias e inquietações.
As melodias tensas e sinuosas, a densidade dos obscuros diálogos entre os três instrumentos, as atmosferas lunares e espectrais criadas, enfim, todo o movimento evoca a presença de seres de outras dimensões na sensibilidade do ouvinte. Há uma breve frase sombria que sempre se repete e vai sendo acompanhada por desenvolvimentos cheios de presságios e pressentimentos.
Mas quem comenta bem melhor do que eu sobre a obra é o grande contista alemão E.T.A. Hoffmann, um dos pais da literatura fantástica, e também compositor, embora de menor expressão. Hoffmann escreveu em seu ensaio "A Música Instrumental de Beethoven" sobre o "Geister" trio:
"Agora me sinto como se estivesse passeando pelas sendas tortuosas de um fantástico parque, entre uma vegetação estranha, árvores exóticas, flores maravilhosas. Estranhas figuras oníricas dançavam no ar, ora se perdendo em um ponto de luz ora se distanciando uma da outra; formando grupos, afastando-se por turnos, em meio a uma cintilante alegoria fantasmagórica. E a alma arrebatada escutava aquela linguagem desconhecida e compreendia o significado dos obscuros pressentimentos que a haviam invadido."
Fantástico, não?
4 comentários:
Lindo! Beethoven sempre está entre as memórias deste museu, tocando agora, inclusive! Belo post. Vou procurar o Trio para escutar.
Abraço.
Sim, fantástico! Os trios de Brahms são demais; e se acompanhados por um bom vinho, é melhor ainda. Hoffmann fez um belíssimo comentário de Beethoven. :)
Beijos, querido Reiffer!
Fantástico, sim, em todos os sentidos!
Maravilhoso o conteúdo desse post, Reiffer!
Abração.
Conheci ontem o seu blog e estou gostando bastante. Admiro muito a obra de Brahms, mas Beethoven e Bach são, incontestavelmente, os maiores mestres da música. Sobre os trios de Beethoven, são obras geniais, mas poucos intérpretes conseguem transmitir a verdadeira essência dessas obras.
Sempre discordei da catalogação do Trio Fantasma como #5, como muitos indicam. Na verdade, ele é, e sempre será, para mim, o #4. Esse erro ocorre em virtude do Trio op.11, cuja formação é para Piano, Clarineta e Violoncelo, ou seja, outra formação, mas a teimosia em querer mudar a clarineta pelo violino e inclui-lo neste grupo é o que causa esse erro de catalogação. Esse trio op.11 é belíssimo com a clarineta. Enfim, são seis os Trios para Piano, Violino e Cello: os três do op.1, os dois do op. 70 e o trio Arqueduque, op.97. Curiosamente, eu penso que um supera o seu predecedente, de modo que há sempre um aprimoramento na técnica de Beethoven. Acho até que o trio op. 70#2 é melhor que o trio Fantasma, apesar de bem menos divulgado. E a obra máxima é sem dúvida o último trio, o Arquiduque.
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