Dizer que o Brasil é o país da impunidade já virou um lugar comum. E eu detesto lugares-comuns. E é duplamente triste ter que usar esse lugar comum. Mas a prova maior de que o Brasil não sai nunca desse lugar comum é o novo Código Florestal. Aqui não se paga pelos crimes, ainda mais se for por crime ambiental. Já viram alguém preso por crime ambiental?
Aqui se faz e se perdoa. Desde que não se seja pobre. Ser pobre não tem perdão. Agora, querem anistiar os desmatadores com o novo Código. Criei um slogan para o Código do Mal do Rabelo: “Desmatar é humano, perdoar é Brasil”. É inacreditável como a legislação brasileira contra crimes ambientais é mole. E querem amolecer ainda mais. Se alguém vende uma arma sem documentos, sem autorização, pode pegar até 8 anos de cadeia. Se alguém desmata quilômetros de nossas florestas, causa queimadas que infestam nosso ar, massacra nossos animais, polui nossos rios, contamina nossa terra com agrotóxicos, enfim, acaba com toda a vida, nunca vai preso, o máximo que faz é pagar alguma multinha, isso quando paga. Geralmente, não paga.
E querem agora autorizar o desmate de 50% das propriedades rurais. Antes só se podia 20%. Mas ninguém respeitava, obviamente, desmatavam de 50% para mais. Agora, se o Código for aprovado, e se poder desmatar 50% por lei, irão desmatar uns 80%. Ninguém nunca cumpre a lei. Não é mesmo? Será o fim de nossas matas. O Fim.
E mais, querem diminuir as áreas de preservação das margens dos rios. Isso soa como uma piada de humor negro. Nossos rios já estão agonizando, assoreados, poluídos e querem diminuir a proteção de suas margens ainda mais. É inacreditável, simplesmente inacreditável. Hoje mesmo li no jornal Correio do Povo que “o rio Uruguai agoniza e que suas águas passaram à classificação 4 devido ao alto índice de contaminação por metais pesados e à presença de mexilhões dourados”, segundo o Movimento Transfronteiriço, que reúne entidades ambientais brasileiras, uruguaias e argentinas. O Movimento classifica o novo Código como “Um desserviço para o Brasil e para o meio ambiente”.
E a impunidade em nossas terras, obviamente, vai muito além da questão ambiental. Qual foi o militar que foi punido pelos crimes que cometeram durante a ditadura? Apenas querem que esqueçamos o que eles fizeram. Que perdoemos.
E os mensalões? Tem vários: o do PT, o do Dem, o do PSDB, do tempo do Fernando Henrique (que não foi divulgado porque a mídia brasileira é quase toda de direita ou centro-direita, inclusive aqui em Santiago). Houve punição para os “mensalistas”? E o caso do Detran aqui no RS? Quem foi, afinal, que pagou pelos roubos? Bom, e por aí se vai ao infinito. É tanta impunidade que não tem como lembrar de tudo...
E para piorar a impunidade, agora os juízes dos Estados onde faz muito calor só querem trabalhar das 9h até as 14h e não até as 18h, como está na lei. Nem os juízes querem cumprir a lei. Acham que são melhores que os outros trabalhadores? É até um deboche, uma gozação com o trabalhador que vai das 8h até as 18h (ou mais) trabalhando, faça chuva ou faça sol. E eles, os juízes, têm ar-condicionado em suas salinhas. De que calor eles reclamam? E ganham quantos salários-mínimos mesmo? Não lembro se são 2 ou 3. Pobrezinhos...
Depois querem que eu acredite no Brasil. Eu não acredito nesse “desenvolvimento” brasileiro. Nem com Lula, nem com Dilma, nem com Serra, nem com FHC, nem com o Papa, nem com o Diabo. E não acredito no “desenvolvimento” chinês, nem no americano, nem no europeu, nem no japonês, enfim, eu não acredito em nenhum tipo de desenvolvimento que é realizado às custas do fim da vida natural. É tudo uma farsa, uma ilusão, uma grande mentira que o tempo se encarregará de fazer desmoronar. Tragicamente.