21 abril 2016

Por que sou Contra o Impeachment, e o Poema que previu tudo

Sou um homem de posições. Abomino o "ficar em cima do muro", a prática covarde dos "amigos de todos", que, como se diz, não são amigos de ninguém. E, quando devo tomar uma posição, antes analiso quem está de um lado e quem está de outro. Claro que não é só isso que me levará a decidir. Mas ajuda bastante.  Infelizmente, a minha real visão política, já não pode mais ser implementada na civilização. 

Sou contra governos, sou um anarquista. E o verdadeiro anarquismo não é sinônimo de caos ou bagunça, é antes de consciência e liberdade individual. Mas hoje é uma utopia. Sendo assim, governos existem, e devemos nos posicionar dentro dos governos. Nesse sentido, sou totalmente antidireitista. E tenho, portanto, posições esquerdistas, embora não concorde com muita coisa dentro da esquerda. Ser de esquerda, não significa ser comunista, como pensam muitos que não aceitam posicionamentos contrários ao seu: "se é de esquerda é comunista." Isso não só é preconceituoso como é de uma ridícula ignorância. Ser de esquerda, no meu entender, é ser a favor das minorias menos favorecidas e a favor dos avanços sociais com humanidade, não com exploração. 


No caso do Impeachment, sendo golpe ou não, sempre me posicionei contra. Não por morrer de amor pela Dilma, mas por considerar muito pior colocar Temer e o PMDB no governo. E duvido, com toda força da dúvida, que Temer convoque novas eleições. E muito menos será "impedido" também. E esse meu posicionamento foi confirmado quando analisei quem estava votando A FAVOR do impeachment:

- Bolsonaros e outros estúpidos pregadores de crimes contra o ser humano, que deveriam estar atrás das grades.


- Fanáticos religiosos exploradores do desespero de um povo ignorante e acomodado, enriquecendo "em nome de Deus".

- Corruptos praticamente declarados, deslavados, caricatos, que num dia gritavam, choravam pelo "fim da corrupção" e no outro tinham a polícia em sua casa devido a essa mesma corrupção.

- Homens como Luis Carlos Heinze, que expressou abertamente, e foi apoiado, todo o seu ódio por negros, índios e homossexuais.

- Homens como Paulo Maluf, um ícone da roubalheira e da impunidade no Brasil.

- Defensores da perda de direitos do trabalhador, que votaram pela terceirização, pela destruição ambiental para favorecer empresas, que votaram pelo financiamento privado de campanha, que votaram pela isenção de impostos das igrejas, que votaram para favorecer os que querem plantar mais transgênicos e com mais agrotóxicos, que votaram pelo perdão de multas de grandes empresas...

Toda essa gente votou a favor do impeachment. Então, sou contra.

Além do mais, descobri que sou profeta, Três dias antes do impeachment, escrevi um poema que previa tudo:

aos Homens de Bem

tantos que se julgam grandes
mas não passam de bananas
e do mesmo cacho

tantos que se julgam rochas
mas não passam de farinha
e do mesmo saco

tantos que se levam a sério
mas não passam de balela
e de esculacho

tantos que desejam aplausos...
pois bem: palmas
a seu circu(lo) de palhaços


19 abril 2016

A Queda da Humanidade: meu 3º livro

Amigos, conhecidos perguntam-me, às vezes, sobre meu próximo livro e comentam que ele está demorando para sair. De fato, está, por uma série de fatores. O principal deles é que optei por não realizar simplesmente uma coletânea de poemas escritos durante alguns anos, como fiz com meu 1º livro de poesias, que reuniu cerca de 250 poemas escritos entre 2007 e 2010. Meu próximo livro está sendo uma obra construída com mais cuidado, com mais método, seguindo uma determinação, uma intenção unificadora, o que não significa que eu não possa abordar os mais variados temas. Muitos dos poemas que escrevi desde meu 2º livro, publicado em 2010, não serão aproveitados agora.

Ainda não tenho previsão de lançamento, mas muito provavelmente será em 2017. A maior parte dos poemas já considero finalizada. Outros precisam ainda ser reelaborados, e ainda há os que não foram escritos. Também há a questão financeira a ser considerada. O título, penso, já está definido: A Queda da Humanidade

17 abril 2016

O maior show de hipocrisia da história

Presenciamos um dos maiores shows de hipocrisia da história do Brasil. Talvez, do mundo. Ao vivo. Espetáculo, no mínimo, repugnante.

Políticos envolvidos e sendo investigados nos mais diversos escândalos de corrupção, como a bancada gaúcha do PP, votando, diziam eles CONTRA A CORRUPÇÃO. 

Políticos que sempre votaram contra a vontade do povo, sempre defendendo os interesses das grandes empresas, do agronegócio e das classes sociais mais abastadas, votando, diziam eles, pela VONTADE DO POVO.

Políticos vendidos, antiéticos, desonestos, eleitos e sustentados por sonegadores de impostos, votando, diziam eles, pela DECÊNCIA NA VIDA PÚBLICA. 

Políticos cansados de encontrar formas de burlar a lei para enriquecer ou para se favorecer na política, votando, diziam eles, pela LEI e pela CONSTITUIÇÃO.

Políticos que já deram show de preconceito, de discriminação, de intolerância, de autoritarismo, que apoiaram a ditadura militar, votando, diziam eles, pela DEMOCRACIA, pela LIBERDADE, pelos DIREITOS HUMANOS.

Políticos que só respondem à ganância, à mentira, ao egoísmo, à falsidade, à desumanidade, votando, diziam eles, em nome de DEUS e da FAMÍLIA.

Políticos que diziam querer tirar a presidente Dilma por corrupção, muito embora ela não esteja sendo investigada por nada, colocaram Michel Temer e Cunha na presidência, ambos sendo investigados por corrupção, e que, sinto informar, NÃO IRÃO CONVOCAR NOVAS ELEIÇÕES.

Dias sombrios aguardam a nação brasileira...



16 abril 2016

Perguntas de um Trabalhador que Lê


O título refere-se a um poema do poeta, escritor e dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898 - 1956). Abaixo, além do mencionado no título, há um outro poema do mesmo autor. Creio que tais obras são bastante adequadas ao momento pelo qual passa a nação brasileira:



Perguntas De Um Trabalhador Que Lê

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilònia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sòzinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

Bertolt Brecht

A árvore que não dá fruto
É xingada de estéril.
Quem examinou o solo?

O galho que quebra
É xingado de podre, mas
Não haveria neve sobre ele?

Do rio que tudo arrasta
Se diz que é violento
Ninguém diz violentas
Às margens que o cerceiam.

Bertolt Brecht

14 abril 2016

aos Homens de Bem

tantos que se julgam grandes
mas não passam de bananas
e do mesmo cacho

tantos que se julgam rochas
mas não passam de farinha
e do mesmo saco

tantos que se levam a sério
mas não passam de balela
e de esculacho

tantos que desejam aplausos...
pois bem: palmas
a seu circu(lo) de palhaços








12 abril 2016

Elefante Africano rumo à extinção: mais de 100 mil mortos em 3 anos


"De acordo com o Secretariado da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies em Risco da Flora e Fauna Selvagens (CITES), entre 2010 e 2012 cerca de 100 mil elefantes foram mortos em decorrência da busca por marfim. Além de serem vítimas do ainda ‘alarmantemente intenso’ tráfico de suas presas, elefantes têm se tornado alvos mais frequentes da caça ilegal." Fonte: ONUBrasil

E então, terei que acrescentar mais uma espécie a meu poema "Versos Inexistentes", que homenageia ALGUNS dos animais JÁ EXTINTOS pela humanidade atual.

Versos Inexistentes

Dodô
Emu-Negro
Foca-Monge
Asno-Sírio...

Leão-do-Atlas
Leão-do-Cabo
Zebra-Quagga
Ave-Elefante
Arau-Gigante
Íbis-Terrestre
Tigre-de-Bali
Tigre-do-Cáspio
Tigre-de-Java
Lobo-de-Honshu
Vaca-Marinha
Sapo-Dourado
Cervo-Schomburki

Gazela-Vermelha
Dugongo-de-Steller
Antílope-Azul
Raposa-das-Falklands...

Pombo-Passageiro
Lobo-da-Tasmânia...
Cabra-dos-Pirineus
Pato-do-Labrador
Jiboia-da-Ilha-Round
Rinoceronte-Negro...

Tartaruga-da-Ilha-Pinta
Lagarto-da-Ilha-de-Ratas
Wallaby-Rabo-de-Prego...

Pato-de-Cabeça-Rosa
Periquito-do-Paraíso
Bandicoot-do-Deserto
Rinoceronte-de-Sumatra
Arara-Vermelha-de-Cuba...

deixei 34 versos
inexistentes
e mais uns outros
de adeus:
quem sabe
amigos extintos
um dia o meu destino
beberá vinho tinto
na presença
dos teus...



08 abril 2016

Vidas-Relógio

quantas vidas-relógio
você tem?
acordar na hora
dormir na hora
chegar na hora
comer
dentro da hora
passear
dentro da hora
cagar
dentro da hora

terminar
antes que o prazo acabe
ir comprar
antes que o mercado feche
ir no banco
antes que as 3 horas bata
ir pagar
antes que a conta vença
...
ufa! consegui...
morri.





06 abril 2016

de Lábios e de Lábios

o cheiro de vida
que há entre o beijo

o cheiro de sonho
que há pelo erro

o cheiro de paz
que há na tormenta

o cheiro de amor
que há entre o sangue

o cheiro da morte
que há entre os lábios





04 abril 2016

"O amigo de todos não é amigo de ninguém."

"Ter muitos amigos é não ter nenhum." Essa frase de Aristóteles sempre me chamou a atenção. Mas qual, afinal, o seu significado? Em geral, as pessoas a interpretam como a velha questão de que mais vale a qualidade do que a quantidade de amigos, e que ter muitos significaria que, na verdade, vários desses "muitos" não seriam amigos autênticos, seriam falsos, ou apenas conhecidos, enfim. Discordo dessa interpretação. Primeiro, porque é óbvia demais, segundo, porque, de acordo com esse entendimento, mesmo alguém não tendo tantos amigos como diz ou pensa, ainda assim teria alguns. Mas Aristóteles afirma que quem tem muitos não tem nenhum.

Uma outra interpretação possível seria a de que aquele que acredita que possui muitos amigo não sabe avaliar ou reconhecer o que é a verdadeira amizade. Consideraria como amigo qualquer tipo de relacionamento que, muitas vezes, seria apenas superficial ou momentâneo. De modo que, se fizesse uma análise profunda de suas amizades, poderia acabar por dar-se conta de que não possui nenhum amigo de verdade. Creio ser esse entendimento melhor que o primeiro, mas, ainda assim, falho, porque também poderia se reconhecer entre essas amizades "de superfície" algumas que fossem profundas e reais.

A melhor interpretação da frase de Aristóteles, a meu ver, é aquela que traz relação com frase semelhante, atribuída ao padre jesuíta e professor de filosofia, o francês Louis Bourdaloue (1632 - 1704). Afirma Bourdaloue, muito provavelmente influenciado pelo genial filósofo grego, que "O amigo de todos não é amigo de ninguém". Creio ser essa a melhor interpretação, porque a verdadeira amizade acarreta um posicionamento, uma escolha, é indissociável da lealdade, da fidelidade.  Nesse sentido, ser amigo de alguém, é também ser, se não inimigo, ao menos "não simpático" às inimizades de seu amigo. Quem é amigo de todos, não tem um posicionamento na escolha das amizades, logo não poderá ser leal e fiel a nenhum dos amigos, porque não terá um "lado". E como se confiar em alguém que pode ser amigo de seu inimigo? Não se pode estabelecer amizade com alguém em quem não se confia. O "amigo de todos" é mais ou menos algo como aquele que acende uma vela a Deus e outra ao Diabo. A expressão popular "Amigo da Onça" ilustra muito bem meu comentário.

02 abril 2016

10 sinais de que o mundo se aproxima da 3ª Guerra

1 - A xenofobia, o "orgulho de raça", agora aliado ao "orgulho de sexo", crescem e tomam proporções absurdas em muitos países, inclusive no Brasil.

2 - Passamos por um período de perda e de restrições dos direitos individuais, de um lado devido ao terrorismo, de outro, devido às frequentes crises econômicas, que fazem com que os governos sacrifiquem sempre o povo, o que vem causando ondas de indignações e de revolta em todo o mundo. Enquanto isso, grandes corporações tornam-se mais e mais gananciosas, aumentando a bomba da desigualdade social e dizimando os recursos naturais. 

3 - O desemprego é crescente, pois as empresas não querem abrir mão de seus lucros, logo, quem paga a conta é o trabalhador. Desemprego é sinônimo de desespero, que é sinônimo de atos radicais.

4 - Grupos políticos radicais de esquerda e de direita, principalmente de direita, vem crescendo e acirrando o ódio de classes em praticamente todo o mundo. De um lado, as classes mais baixas lutam para manter ou ampliar os direitos duramente conquistados, de outro, as elites lutam para manter seus privilégios e reduzir ou até acabar com direitos das classes menos favorecidas.

5 - A ascensão de grupos minoritários e tradicionalmente discriminados vem ocasionando uma reação violenta e inconsequente dos grupos majoritários e conservadores.

6 - O radicalismo e o fundamentalismo religiosos estão mais radicais e mais fundamentais a cada dia que passa.

7 - A ameaça à democracia em inúmeros países cria as condições necessárias para o desenvolvimento de governos militaristas e belicistas.

8 - A destruição ambiental e o progressivo desaparecimento de recursos naturais já está causando conflitos armados ao redor do planeta.

9 - As armas de destruição em massa nunca foram totalmente desativadas, e a segurança das mesmas é constantemente colocada em dúvida. Quem garante que não podem ser usadas por grupos radicais? Ou mesmo por governos?

10 - O humanidade nunca esteve tão sem sentido, caótica, egoísta e desesperada.



31 março 2016

Escrever não vale a pena

não vale a pena:
1)o quê?
2)como?
3)pra quem?
4)por quê?

se tudo já foi dito
de tudo quanto é jeito
e mesmo que ainda diga
não há alguém que leia
e mesmo que ainda haja
não há alguém que viva
e mesmo que ainda vida
não há alguém que morra

eu mesmo não morri pelo que disse

escrever é um ato
de mim para si

mas se “tudo vale a pena
se a alma não é pequena”
escrevo para ver
se ainda a tenho


29 março 2016

Culto do Agora, de Therezinha Lucas Tusi


A poeta, sim, poeta, não poetisa, e amiga, Therezinha Lucas Tusi, falecida ontem, teve uma vida semelhante à sua obra: de simplicidade, sinceridade, de grande energia vital, de coração, de alma. E as melhores obras são as que se assemelham ao seu criador. E o tocante poema a seguir, de sua autoria, selecionado do seu livro "Afinidades", confirma minhas palavras:

Culto do Agora


Não tardemos jamais o gesto da mão
estendida a outra mão.
Quando para carinho,
quando para perdão.
Não calemos jamais a palavra sincera,
a palavra que encanta.
Não a deixemos morrer na garganta.
Não baixemos os olhos, se há neles ternura.

A mão que espera, o ouvido que escuta,
os olhos que buscam
quem sabe depois não estarão mais abertos.
O momento seguinte é tão incerto!


27 março 2016

A palavra vale mais do que o ato

é, vale mais
porque antes de qualquer ato
há algo 
que foi ditado
em palavras
naquilo que em nós
se pensa e sente

o ato
é filho do Verbo
e o Verbo é que alto

é a palavra que deixa o rastro
é ela que diz o “Faça-se.”:
quanto maior é a palavra
mais vasto é o ato
que obedece
à sua vontade
e o próprio som
é Verbo cristalizado

e só restará um som desolado
e uma palavra de fúria
quando o Faça-se
se fizer ao inverso

por isso deixo que tu vás
palavra
como aquela
(a ela)
do meu verso





25 março 2016

A NASA e o óbvio: colapso da civilização: exploração insustentável e desigualdade social

Já escrevi que nossa ciência atual é pródiga em provar o óbvio. E a ciência acaba de afirmar outra obviedade através de um estudo encomendado pela NASA (Agência Espacial Norte-Americana) e realizado pelo Centro Nacional de Síntese Sócio-Ambiental, dos EUA. Dessa vez, o óbvio, o evidente, o ostensível é que nossa civilização sustentada principalmente pelo consumo pode entrar em colapso total e irreversível dentro de pouco tempo.

Venho escrevendo sobre o assunto, ou utilizando o assunto como tema de poemas, contos, desde antes do ano 2000. A maioria das pessoas não se importam com isso. Acham que a civilização é eterna, assim como, inconscientemente, todo mundo pensa que nunca irá morrer. Não é preciso ser um gênio para dar-se conta que caminhamos rumo ao abismo, que nossa forma de vida é absurda e que não poderá se manter por muito mais tempo.

O estudo destaca que as principais causas do colapso futuro seriam a exploração insustentável de recursos naturais e o aumento da desigualdade na distribuição de renda. Esta desigualdade, velha conhecida dos brasileiros. não só é a principal causa dos problemas sociais, mas está intimamente relacionada a um consumo excessivo de recursos, segundo o estudo. Também é outra obviedade: pessoas que têm dinheiro demais acabam por consumir demais, gerando um mercado para toda série de quinquilharias supérfluas comercializadas à exaustão, tudo a preço da destruição planetária. 

O estudo da NASA afirma que as elites mundiais tendem a consumir cada vez mais recursos naturais, privando outras classes sociais desses recursos. Chegará o dia em que nem mesmo as elites terão recursos para si, recursos, diga-se de passagem, produzidas pelas classes mais baixas, que, depois, nem pode  usufruir do que produzem.

Uma civilização estúpida e predatória, onde os pobres sustentam os ricos, deve entrar em colapso o quanto antes mesmo. 

Fonte: The Guardian

23 março 2016

o que mata não é a morte

o que mata não é a morte:
o que mata é a vida
que não é vivida

o que mata não é o trem:
é o trilho
do qual nunca se sai

o que mata não é o erro:
é o certo
que sempre se faz igual

o que mata não é a dor:
é o ter que ser feliz
só para mostrar que se é

o que mata não é a vida:
o que mata
é o que se acha que se precisa
para se viver




21 março 2016

Em nome de Bach, Beethoven, e de Johannes Brahms

Johann Sebastian Bach, nascido na Alemanha em 21 de março de 1685 (ou 31 de março, conforme o calendário em vigor na Alemanha na época) é considerado por muitos, ao lado de Beethoven, como o maior compositor de todos os tempos. Por ser anterior a Beethoven e criador de uma obra assombrosa seja em número, seja na forma, seja no conteúdo, que serviria de base estrutural para gerações futuras, inclusive em nossos dias, Bach é comparado a Deus. Mas não só por isso. É comparado a Deus pela insuperável profundidade psíquica de suas criações, e pelo teor espiritual único, inigualável, de sua vastíssima obra sacra. Suas composições, "O Evangelho Segundo Bach", como costumam ser chamadas, também em alusão às suas Paixões (obras que narram e expressam a Paixão de Cristo, sendo "A Paixão Segundo São Mateus" e a "Paixão Segundo São João" as maiores e melhores), são obras de um caráter verdadeiramente sobre-humano, monumentos ao amor universal, capazes de tocar até os mais empedernidos corações. 

Por isso também se fala na "Santa Trindade" da Música, sendo Bach o Pai, Beethoven, o Filho e Brahms, o Espírito Santo. Claro que isso se trata mais de uma brincadeira, fundamentada na grandiosidade e nas ligações artísticas desses três gênios (Brahms, por exemplo, é visto como o compositor que melhor soube combinar os estilos de Beethoven e de Bach). 

Foi pensando em tudo isso, e, claro, desejando fazer uma humilde, mas sincera, homenagem a Bach, é que escrevi, ano passado, o poema a seguir. Republico-o hoje, aniversário de 331 anos desse imortal gênio da música. 

Em Nome de Bach

Bach Nosso que estais nos Sons 
interpretadas sejam as Vossas notas
venham a nós os Vossos concertos
sejam erguidas  as Vossas cantatas
assim nas casas como nas almas

a Paixão nossa de cada dia
nos elevai hoje
perdoai as nossas supérfluas
assim como nós perdoamos aos que não têm te ouvido
e não nos deixeis ouvir música em vão
mas ensinai-nos a amar

em nome de Bach
Beethoven
e de Johannes Brahms

Amém.


19 março 2016

de meu resto de alma

um poema-não
não do tempo
de artes altas

de meu resto de(s) almas
só deixo nacos de nadas
de fim de festas
de sim de faltas

faz parte...
que a arte
agora é ínfima
ínfera inferna
de um vazio de peito
de um afundar de perna
inferiorda desinterna

ah deusa arte
adeus
quando te fores
de inf-arte




17 março 2016

da Arte de Não-viver


as pessoas confundiram viver
com o que se faz para viver:
vive-se para o meio
e nunca se chega a um fim

as pessoas confundiram vida
com o preço que se paga pela vida:
apenas se paga o preço
e não se vive

o objetivo da vida
tornou-se o cansaço
e o sentido
o descanso
para que se atinja de novo
o mesmo objetivo
a se cansar

ou seja
vive-se
para se preencher o vazio
de não viver





15 março 2016

Como destruir a Educação de um Estado em 10 lições (com Prof. Sartori)


1 – Dê aumento para si e para todos os seus, inclusive deputados e secretários, e em seguida congele e parcele os salários dos servidores públicos.

2 – Transmita a visão de que os professores são os carrascos da educação pública, de que trabalham pouco e não se sacrificam como deveriam por sua profissão, e que, aliás, ser professor é mais um sacerdócio do que uma profissão.

3 – Coloque a sociedade contra os servidores públicos, fazendo-a acreditar que sem os servidores o estado estaria melhor, e que eles são os responsáveis pelos aumentos de impostos.

4 – Mantenha as injustiças dentro do serviço público, com servidores recebendo  salários absurdos: alguns, absurdos de tão alto, outros, absurdos de tão baixo.

5 – Fique meses sem repassar verbas para as escolas, e que elas se virem do jeito que der.

6 – Mantenha um clima de hostilidade contra os servidores, inclusive com ameaças de demissão caso “não se faça o que o patrão quer”.

7 – Terceirize a educação e a entregue nas mãos gananciosas e inconsequentes da iniciativa privada.

8 – Não só não cumpra a Lei do Piso Nacional, mas também inflija um arrocho salarial histórico, com garantias de que NÃO haverá aumentos por 4 anos.

9 – Não combata a corrupção (leia-se sonegação fiscal), que, se evitada, poderia aumentar a receita e possibilitar maiores investimentos em educação.

10 – E, por fim, após ter garantido as benesses a si e aos seus, construa um discurso de que a educação é prioridade, de que tudo o que está sendo feito é para o bem do povo gaúcho e que esse “bem” exige o sacrifício de todos (menos o do governo e seus deputados).


13 março 2016

"Onze anos como um tiro na cabeça. Eu tinha visto o emprego devorar os homens."


Cartas na Rua é o primeiro romance de Bukowski, e um dos seus melhores. É uma obra carregada de humor ferino e desprezo pelo estilo de vida americano e pela sociedade em geral. O livro conta as suas experiências como funcionário dos correios dos EUA, abordando temas como a exploração do indivíduo pela sistema capitalista, a solidão, a falta de sentido na vida e a mecanização do homem moderno. Tudo permeado de uma sinceridade cruel e de hilárias ironias. Ler Bukowski é dar-se conta de que a civilização que criamos não tem nenhum fundamento. A seguir, um trecho do romance, em que o "Último Maldito" reflete sobre os efeitos inúteis e destrutivos do trabalho:

"Onze anos! Não tinha dez centavos a mais no meu bolso do que quando entrara ali pela primeira vez. Onze anos. Embora cada noite tivesse sido longa, os anos passaram rápido. Talvez por se tratar de um serviço noturno. Ou por fazer a mesma coisa vez após vez. 


Onze anos como um tiro na cabeça. Eu tinha visto o emprego devorar os homens. Eles pareciam derreter. Lá estava Jimmy Potts do Posto Dorsey. Da primeira vez que cheguei lá, Jimmy era um cara musculoso em sua camisa branca. Agora estava liquidado. Colocava seu banco o mais próximo do chão possível e se agarrava para não cair. Vivia de tal maneira cansado que nem cortava o cabelo e usava a mesma calça há três anos. Trocava de camisa duas vezes por semana e caminhava bem devagar. Tinham-no assassinado. Estava com 55 anos. Faltavam sete para ele se aposentar.
- Nunca vou conseguir -  ele me disse.

Ou derretiam ou engordavam, enormes, especialmente na bunda ou na barriga. Era o banquinho, e os mesmos movimentos e a mesma conversa. E lá estava eu, sofrendo de tonturas e dores nos braços, pescoço, peito, por toda parte. Dormia o dia para conseguir descansar e estar apto ao trabalho. Nos fins de semana tinha que beber para esquecer a rotina. Eu pesava 83 quilos quando cheguei. Agora estava com 101 quilos. A única coisa que você mexia por ali era o braço direito."

(Na imagem, "Evening on Karl Johan Street" de Edvard Munch.)