02 março 2013

O que Ouve?


silêncio
no que há em torno
do que me vou tornando

observo
(silente)
o som oculto
que cultuo
em tudo
que  não se revela
(a chama que queima
surge do o quê da vela?)

aquilo que desejo
deseja de mim que algo
e por qual onde?
por que desejo um algo
que vejo
e após outro
que se esconde?
e o que desejo
por que silencia?

e o que é que calava
entre tua voz que sorria?

o que forma tornados em torno?
o que ouve naquilo que houve?
e qual o distante do longe?

há algo mais
ou de menos?
verbo que verba
silentes sinais
que algo há na tua voz
ou um vós
que não escutais?

01 março 2013

Poema Ridículo


I

de piada em piada
e em vazio
sobre vazio
ainda querem
que eu acredite
no brasil

II

de merda em merda
e de tempestade
em tempestade
ainda querem
que eu acredite
na humanidade

III

de cigarro em cigarro
e de fósforo em fósforo
só assim
para aguentar  o humano
e suportar o próximo

28 fevereiro 2013

Soneto Distante


sentido que existe além do meu corpo
leva-me a um algo distante pressinto
mais do que vida que mato e que minto
fora do tempo em que furio-me morto

olhei para o longe com um vasto absorto
e todo meu olho era um trago absinto
filtro de névoa onde houvesse um distinto
e o sonho não fosse um fétido aborto

findo este mundo, para onde o que digo?
que há de eterno entre o som dos olhares?
que é que se colhe da essência do trigo?

sentido que capta além dos pensares
como que sinto a que sinta contigo
quando no sangue vier te vingares?

27 fevereiro 2013

Santiago: Prefeitura Municipal embeleza o Centro e esquece os Bairros

Que quase toda a política é baseada na hipocrisia e na mentira todos sabem. Portanto, nem preciso falar a respeito. Irei apenas lembrar de que isso, pasmem! também acontece em Santiago!!! Que coisa, não?

Sim, meus amigos, o governo municipal de Santiago, ou o PP, durante o ano de 2012, COINCIDENTEMENTE ano de eleições municipais, preocupou-se muito em  asfaltar, enfeitar e atulhar de penduricalhos o centro da cidade, deixando tudo muito chamativo e vistoso aos olhos dos eleitores fascinados e dos turistas desavisados. Não culpo o governo municipal, pelo contrário, até acho que ficou tudo muito bonitinho, e não sou contra a beleza, obviamente. Afinal, vivemos a era da imagem. Muito embora me pareça que o serviço tenha ficado incompleto, não havia verbas para asfaltar mais ruas? 

Porém, quando se tratava de ruas de bairros, muitas sem calçamento, quem dirá asfaltadas, cheia de pedras e buracos, o governo do PP ficava na promessa: "ah, logo logo isso será resolvido, logo vamos calçar. Em novembro começaremos o trabalho de calçamento".  Deve ser em novembro de 2016, nas próximas eleições. As ruas continuam do mesmo jeito, até piores. E não são só as ruas, mas também terrenos e espaços da prefeitura, visivelmente mal cuidados e cobertos de matagal. 

E nem vou falar de algumas estradas no interior do município...

25 fevereiro 2013

do Assassinato


sonhar o sonho sem sê-lo
(ele é que o é)
nunca ser o sonho sonhado...
o sonho é o sonho
o que acontece é o que acontece
realizar o sonho
é asfixiá-lo
abaixo do esperado

que o sonho seja sonho
e não o desejo do que ele seja
por que querer
que o sonho desça de sua esfera
e construa prédios na terra
no meio da feira?
não passará de poeira

o sonho é seu próprio selo:
realizá-lo é desautenticá-lo
e perdê-lo

querer que o sonho
se concretize
é como aprisionar
a liberdade do cavalo:
insuflar esperança
e dar vida ao sonho
é assassiná-lo

24 fevereiro 2013

Dois Profetas

Manuel Bandeira escreveu o poema Nova Poética em 1949. Porém, creio que em 2013 o poema está ainda mais atual. E provavelmente o será ainda mais nos anos vindouros. Um poema profético. Cada vez mais a poesia, a arte, deixa de ser orvalho para ser nódoa. Cada vez mais assim é a nossa vida. Confiram:

Nova Poética

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito.
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco 
muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, 
salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:

É a vida.

O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas,
as virgens cem por cento e as amadas que
envelheceram sem maldade.

Manuel Bandeira


Profético também é o poema a seguir do poeta alemão Heinrich Heine (na imagem acima), que viveu entre 1797 e 1856. Não é perfeitamente adequado para os nossos dias?

Acreditava antigamente
Que todo beijo que me tiram,
Ou que recebo de presente,
Fosse por obra do destino.

Deram-me beijos e beijei,
Antes com tanta seriedade,
Como se obedecesse às leis
Que regem a necessidade.

Agora sei como é supérfluo
E não me faço de rogado,
Vou dando beijos em excesso,
Incrédulo e despreocupado.

Heine

22 fevereiro 2013

E Ela Falou o Seu Nome


Perambulava pela noite, mas era como se algo onírico. Um algo inflamado. Um algo de fatal pairava .  Instante de impossível suportar minha alma. Insatisfeito e irremediável. Um sonho medieval, ou alucinações inconformadas. E a escuridão sempre noturna. Vagavam entre longínquo. E ainda mais longínquo distanciava o que eu sentia. Todas tempestades. Invisível violência. O debater-se entre nuvens avermelhadas, febrentas repletas. Trovão e inconsolável. Foi então que a encontrei.

  Ela abrira a porta do antigo casarão. Sedutoramente a entrar. Aquele algo que me envolvia, como se não houvesse perigo, que é o que ocorre quando o perigo pressente. Aterrorizava-me a contemplação quando antes da porta, mas em interior a sublimação de magias do incompreensível. Hipnotizei-me. Aroma delicioso de desconhecido e delírio. Alucinógeno anatural.  Sobrenaturalidades inaladas. Atmosferas-auras e pesadelos, vidas e mortes, luz astral queimando pulmões. Ela carregava-me. Em ambíguos sentidos. 

Ambiente febricitante, e por entre estranhezas de luminosidades, meus olhos ardentes, lácrimas. Distinguiam coisas que não sei nomear. Tudo não possuía nome, aqui onde vida vivida ao dia. Não conhecemos aquelas coisas. Indizível arrancando meus cabelos. O absurdo... o Absurdo. Mas afirmo que vi. Infinitas. Meu coração que não era, em vertigens.  Perturbavam como devastação. Entorpecido como quando venenos ofídicos de éter. A céus e a infernos cada vez... ela dirigia meus olhos desvanecidos vapores.

Instante supremo insanidade espiritual. Refulgiu pelo mistério tempestuoso clarão de íris. Contemplar o que até então me fora incontemplável: face e olhos dela. Sobre-humana. E foi que a amei. Daquela face onde micaeles e lucíferes, olhos fundos de Desconhecido. Mudavam de cor, raios nucleares e flechas. De essência e de mônada.

Cantos e gritos canhestrando-se em demência. No porém, belos. Em excesso para suportáveis. Enlouquecia-se, como forma de penetrar. E aqueles seres nunca-vistos... Na tensidade de escuridão, escuro iluminado. Sinfonia de ciclônicos, vulcânicas em forma de relâmpagos. Um algo que se extasiava aos olhares.  Do fogo dela. Compreendi que estaria ligado.  Em maldição e sublime àquela mulher.  Para a eternidade finita ou infinita.

E desejava saber quem era. Qual mulher? Que mulher? Loucura de filtros feitiços? Cura de aumentar doença?  Arrastei o roxo do meu manto. Pisavam tortura e saudade. Enigmas arcânicos do que não. Abalo sísmico anímico. O que se oculta entre universos não versados.  Vapor sanguíneo de rosa e horror. Pesar e fronte ensandecida. E o desespero.

Esquisitas angústias de energias e abracei o coração daquela mulher, beijei, durante marcha fúnebre. Seus lábios em lava. Pelas janelas do meu transtorno, do inspirar sem limites, eu via a tempestade e o fim. Ao redor do meu ser e do que ela era erguiam-se as deleitosas ameaças e fantasmas, fulgurações de espectros e astros vermelhos. 

E num murmúrio, plenitude fantástica da demência, perguntei aos ouvidos da mulher.  Aos extremos cósmicos... Eu perguntei o seu nome. Disse-me, mas em furacão. Senti-me dessalvo. E o seu nome era Arte.  

(Na imagem, o quadro "Vênus Adormecida", de Paul Delvaux)

21 fevereiro 2013

A Arte não é Valorizada porque Provoca a Reflexão

Transcrevo trechos da coluna Crônicas da Cena, de Caco Coelho, publicada no jornal Correio do Povo em 16 de fevereiro:

"Nossa arte nunca foi valorizada, pois é uma característica da arte levar o cidadão à reflexão. Esse perigo que a arte pode provocar foi sempre o motivo pelo qual os governantes e, mais do que os governantes, a iniciativa privada e os donos do dinheiro dificilmente quiseram ter suas atividades vinculadas com o movimento cultural. Se não, por que a grande maioria das empresas não investe mesmo obtendo 100% de abatimento no imposto devido? 

No Brasil, durante os anos de chumbo da ditadura militar, que mandou no país por longos 20 anos, duas empresas de comunicação, uma rede de televisão e outra de mídia impressa, foram locupletadas com as benesses do poder em nome de subserviência editorial. Mais do que desconhecer problemas históricos, fomos levados a prestar atenção a fatos absolutamente desprezíveis, sem valor humano nenhum, nenhum."

Caco Coelho

O Big Brother e os que assistem ao Big Brother estão aí para provar o que afirma caco Coelho.

19 fevereiro 2013

Contra Governos e Leis e Autoridades


I

governo
é o empregado
pago e autorizado
por todo o povo
para mandar no povo
em benefício de alguns
que fazem do povo
um bando de nadas
e de nenhuns

II

lei
é estabelecer
que todos são iguais
desde que não
sejam os alguns
para que o povo
se iguale sempre ao povo
e jamais
se desiguale do seu nada
a lei é a ordem
e a ordem
é sempre se manter
dentro dos limitados
limites da estrada

III

autoridade
é o imbecil
escolhido entre imbecis
amparado por imbecis
aplaudido por imbecis
para tentar impedir
que os grandes
combatam os imbecis
(e acima de governo e lei)
ponham os pingos nos is


18 fevereiro 2013

A Pintura e os Extraterrestres

Há alguns anos, escrevi o seguinte aqui no blog:

Muito se tem falado sobre narcisismo. A humanidade é quase que cem por cento egoísta. No entanto, muitas manifestações mais amplas e gerais desse narcisismo não são percebidas ou comentadas. Adoramos nosso próprio umbigo individual ou coletivamente. Tal afirmação pode ser aplicada a um simples indivíduo, que anseia por adorar-se de alguma forma (todos nós nos adoramos sob determinado aspecto, em maior ou menor grau), ou até mesmo a toda a civilização, desde os tempos em que se julgava a Terra como centro do universo. Hoje, sabemos que não somos o centro, contudo agora transferimos essa crença egocêntrica para a ideia de que a humanidade é a única civilização inteligente em um universo onde existe um número infinito de mundos, e, portanto, de possibilidades. 

E cremos que os extraterrestres, se existirem, necessariamente são seres que devem satisfações a nós, que são obrigados a responder aos sinais que enviamos ao espaço, que devem declarar abertamente a nosso povo de víboras altamente confiável: “Olá, nós estamos aqui!” Se não respondem, é porque não existem. Estamos seguros de que somos os seres mais evoluídos e inteligentes do cosmos, dotados de uma insuperável autossuficiência intelectual e científica, e jamais passaria por nossas mentalidades pequenas e arrogantes que um ser alienígena pudesse não estar interessado em fazer contato com uma civilização atrasada, decadente, perversa e suicida como a nossa, e que preferisse estudar-nos como se estudam animais: um animal não sabe que está sendo estudado... 

Até acima meu texto repostado. Muitos afirmam que não existem provas da existência de extraterrestres. Em se tratando de provas materiais, admito. Mas e quais são as provas de que eles não existem? No entanto, há inúmeros indícios de que sim. Nem entrarei na questão das provas que se supõe ocultadas da população pela NASA e outras agências espaciais e instituições militares por motivos de segurança nacional. Há tais provas ou não? Claro que a Nasa, governos e militares negam. Seja como for, confiar-se cegamente em informações da Nasa, de governos e de militares é, para mim,  algo até mais absurdo do que se acreditar em extraterrestres.

Um dos indícios mais fortes são as construções de civilizações antigas como as dos egípcios, maias, astecas, incas, das antigas civilizações de Malta, e várias outras, onde permanece o mistério intrigante de como elas foram erigidas, se, até onde se sabe, exigiriam tecnologias avançadíssimas que não existiam na antiguidade. Basta que se pesquise sobre o assunto para se verificar que há fatos assombrosos na questão.

Além disso, há as pinturas antigas. Acima, deixo uma, um detalhe de "A Madona e o Menino", de Fellippo Lippi, pintada no século XV. O que seria aquele objeto voador?.  Que cada um tire suas conclusões. Mas o leitor poderá conhecer diversas pinturas antigas onde há outros objetos voadores não identificados neste site: Arte Ufológica


16 fevereiro 2013

Um Breve de Sangue

desde
o morcego que lambe
o massacre no ringue
o cenário de açougue
a vingança de gangue

Cristo na cruz exangue!

o micróbio da dengue
as granadas e o tanque
até o lábio já langue...

o que importa é o Sangue.

14 fevereiro 2013

O Papa?


o papa é pedra
ou o papa é pouco?
o que tem sido o papa
além de papo?

aonde tem ido a igreja
além do poço?

se ao menos fosse pobre
se tivesse ao menos pena
se jamais tivesse preço
se ao menos fosse ponte...

deveria haver um prego
entre os pés do papa
(e na cara
dos padres
um tapa)

agora
a Carta XVI
(a do fracasso)
com o raio
demolindo a torre
a um passo...

se ao menos
o papa tomasse um porre
de verdade ou medo...

e
a-final
o papa é Pedro

(Na imagem, "A Crucificação de São Pedro", de Guido Reni)

13 fevereiro 2013

do Não Viver


I

o que de ti
me mostras
não é o que vejo,
o homem nunca está
onde está:
ou é saudade
ou é desejo

II

aquilo
que o homem faz
ele nunca faz
estando em cem por cento:
aquilo que o homem faz
ele o faz
já estando
(em desejo ou medo)
no próximo momento

III

as pessoas
pre-ocupam-se tanto
tanto
que nunca se ocupam
com o seu tanto

12 fevereiro 2013

Rápida Explicação sobre o O Homem que Tinha a Razão


Tendo em vista que alguns leitores me enviaram e-mails em que demonstram que não estão entendendo o espírito do texto publicado abaixo, levando-o a sério, ao pé da letra, esclareço: esse meio-conto na verdade é uma ironia, um texto completamente sarcástico, uma crítica debochada dirigida àqueles que se imaginam donos da verdade e que acreditam que podem determinar o que é correto ou não, segundo suas próprias opiniões e julgamentos subjetivos.

11 fevereiro 2013

O Homem que Tinha a Razão


Naquela tarde, concluí minha grande ideia revolucionária. Senti-me, então, preparado para conduzir a humanidade a um novo estágio na evolução. Sei que sou o homem correto para isso. Não que eu me considere um ser superior aos demais (não declaradamente, uma vez que conheço o imenso valor da modéstia, porque intimamente estou absolutamente seguro de minha superioridade), mas adquiri, através de longos anos de leituras e estudos os mais diversos e aprofundados, o conhecimento necessário para transmitir a verdade e a sabedoria a toda a humanidade.

O mais dificultoso em minha heroica tarefa foi determinar, entre tantos autores, escritores, gênios, artistas aqueles que apresentavam uma parcela da verdade e os que não sabiam de absolutamente nada. Necessitei ler muito, incessantemente. Lembro que em um ano devorei exatamente 191 livros. Minha capacidade de entendimento, e é mister que se diga a bem da justiça, é simplesmente fantástica. Um livro que um escritor levou cerca de 10 anos para escrever, vivenciando-o, sou capaz de entendê-lo quase que completamente em apenas 24h. De forma que pude ir determinando com absoluta e inquestionável segurança quais obras deveriam ser lidas e estudadas, no sentido de que seriam as únicas que nos ensinariam o correto, o universalmente correto, e quais obras deveriam ser descartadas por estarem completa ou parcialmente equivocadas ou por não acrescentarem nada à verdadeira sabedoria.

Preparei, com infinita paciência, esforço e dedicação, uma lista de todas aquelas obras literárias e filosóficas onde se pode encontrar a verdade. E mais: foi-me possível determinar com cirúrgica exatidão os trechos onde se encontrava alguma parte da verdade e os trechos onde ela já não estava tão presente. Foi um tremendo sacrifício, martirizei-me lendo sem parar e analisando livro sobre livro, mas valeu a pena, tendo em vista a imperiosa necessidade de minha missão.

A lista ainda não foi divulgada, mas o será em breve. Sim, porque não posso permitir que as pessoas continuem lendo escritos insensatos, fantasiosos, absurdos, que não dizem absolutamente nada, que não tratam do que é a verdade, do que é são, palpável, correto, do que é o real. Não posso permitir que pensem o que não deve ser pensando, que sintam o que não deve ser sentido, que elaborem conceitos, opiniões, ideias equivocadas, que não estejam de acordo com a exata visão de vida, que condiz, naturalmente, com a minha visão, uma vez que fui capaz de entendê-la e alcançá-la como nenhum outro homem, conforme está provado pelas opiniões irrefutáveis que tenho emitido sem jamais cometer o mínimo equívoco. Ou qualquer equívoco digno de nota, ao menos.

Através de minha missão histórica, finalmente, poderei estabelecer a minha opinião como a única universalmente aceita, que deve e pode ser aceita sem margens de erro, pois a terei comprovado de maneira definitiva, peremptória, através da validação irrefutável dos autores que concordam comigo. Sim, porque há muitos livros que foram escritos, conscientemente ou inconscientemente, para que a humanidade atingisse o grau de evolução atual do qual eu sou o responsável por, finalmente, estabelecer. E há muitos livros que foram escritos para que não atingisse. Existem obras perversas, daninhas, errôneas, que desejam nos levar à ignorância, como é o caso de muitos poetas degradantes.

Fui incumbido de determinar aos homens o que eles devem ou não ler e, assim, conhecer somente a verdade e tão somente a verdade, nenhuma outra baboseira escrita por algum suposto gênio, ou mesmo gênio em seu campo, mas que deve ser deixado de lado porque, segundo meu infalível julgamento, não nos acrescenta nada em termos de desvendamento da vida e do universo.

Vibro em pensar que em breve, muito em breve, toda opinião equivocada, fruto apenas de imaginações superexcitadas, deixará de ser emitida, qualquer pensamento em desacordo com o que justíssima e eternamente compreendi será banido, qualquer sentimento sem uma base racional que condiga com a minha, ainda que tido por verdadeiro, por mais belo e sincero que seja, não mais atrasará a humanidade rumo à Verdade (sim, em maiúsculas, pois eu tenho a Verdade das verdades).

Então, a humanidade saberá tudo o que deve saber, e tão somente o que deve saber, e eu serei coroado, como há muito já deveria o ter sido, o Grande Sábio Mor. E não haverá mais espaços para divagações absurdas, para fantasias impossíveis ou para sonhos de mentes doentias criadoras de castelos aéreos.

Imaginem se todos pensassem como eu penso, tudo estaria resolvido, e que mundo maravilhoso teríamos...


09 fevereiro 2013

Constatação

o olhar humano
do que agora humano
a olhar o nada
e o nada que olha a esse olhar
entre o nato óleo
do lago astral
derramado entre olho e nada
nada nada
entre um outro e um astro

o olhar sem astro
ou estrela ou estro ou rastro
o olhar sem lago
só raso e barro
a nadar em restos

e um olhar de nada
olho seco e óleo gasto
sem rio e sem raio
vazio desvasto
o olhar sem nada
a desastrar finais

e até mesmo
o que antes melancolia
já nem melancole mais...

08 fevereiro 2013

Poema Antipático para o Carnaval*


um poema feio
seco
prático
sem nenhuma
intenção grandiosa
a não ser
a de ser antipático

versos ranzinzas
tipo aqueles
de mancha em prazeres
talvez um relâmpago
pela janela de uma festa...
num mundo
sem poesia
é o que à poesia
ainda resta

essas coisas
que uma ou outra pessoa
(ou várias e muitas)
não aceita e protesta
não concorda e não gosta
coisas essas
como dizer
que certas culturas populares
(da forma como cultuam)
não passam de bosta

e se alguém
ainda não entendeu
serei mais claro
(pois há muita gente lerda):
sim
estou mandando
o carnaval à merda

e pouco me importa
que me critiquem
um ou dois
ou dez ou mil
serei ainda mais taxativo:
o carnaval
que val
à puta que pariu

*Poema reelaborado e republicado.

06 fevereiro 2013

De Sangue


E duas gotas de sangue.  Olhos avermelhados. À minha frente. Lago coagulado. Açouguento. Urubus gotejosos, dir-se-ia sujos de agoras, agourentos. Sempre fixos. Ou sentença ou sarcasmo. Provável os dois. Sentível, provável. Cheiro quente. De quando se sangra e sangue corre. Grasnar, galhar seco. Urubus rubros.

Ergo-me da grama derramada escarlate. Altos, nimbos laranja-estranho-decadente. Rúbido mórbido, com tendências ao negro. Trovão úmido sangue, como se inflamação nas veias. Sangrosas rosentas.

Tempestade e encharco-me, vermelho. Bafo dos urubus, mas não carniça, sangue morno. Mulher menstruada, talvez, ali morta. Cinco passos. Escorre pelas pernas. Brancas magras magas. Bafo morno. Horizontes e horizontes montes devastados avermelhados. Febres fulvas, vulvas. Férvidas fulgurações fúnebres desfiguradas. Marcha.

Melodia flauta distância. Pulsação abaixo, mas reverberante. Sangue visível epiderme, pele esfolada. Sangue lento. Chuva sanguínea externa-interna. Urubus revoados ordenham.  Hordas. Passadas compassadas. Pelas poças. Som pegajoso-viscoso do pisar-se lagos. Marcha e céu congestionado. Sanguíneo denso.

Hemorragias de ave, coração à mostra. Despencam pelos caminhos. Peito aberto de ave, semelhança Cristo.  Gatos no cio ciciando. Corações de aves gotejo dentes. Caninos. Carnívoros. Caça de tigres. Saliva lobos. Dentes trituradores. Sangue canto. Boca suja. Meus olhos avermelhados.

Metralhadoras.  Rajadas vento encarnado. Minhas mãos alvermelhadas. Um sol de apocalíptico. Febre escarlatina de olhares. Um sol será? Meus olhos congestionados. Um sol de cor-cardíaco? Sorrio. E duas gotas de sangue. Goteja gota gotejo canto do lábio. Sanguino lenta esperança.

            

04 fevereiro 2013

História Mal-Contada


Quando floresta manhã radiante, estado espírito dos melhores. Alegria elevava-me, perfeitamente bem, ambiente puro, mistério e salutar.

Lentamente pela mata de um sol. Exuberância vegetação, canto de uma infinidade. Limpidez ares repletos névoa úmida. Névoas por entre virgem carregadas mistérios

Intenção até riacho cruzava vale. Lagartos, seriemas, bugios. Serpente espécie desconhecida, verde vermelho ao preto amarelo. Esconder-se vegetação.

Riacho de águas cristais. Magia ancestralidade. Animais antigos passado local onde? Homens de séculos ali estado? Tartarugas ocultas água.

Águas frias, mas banho minutos. Então estranho. Mais alguém mata, presença não prevista esperada. Nenhum som visão. Mas me perseguia. Angústia inquietude.

Tenso, sair da mata. Caminho volta, foi-me impossível. Nada encontrado, apesar. Floresta fosse tão extensa? Impressão prolongado, ausência claridade campo. Sensação seguido.

Horas mata infinita. Perdido. Perseguido. No porém, árvores tornaram afastadas imensas. Sem arbustos ou pequeno porte, apenas gramado. Verde absurdo. Muitas floridas.

Celestial beleza. Eu penetrava. E beleza superna. Em pontos verifiquei presença roseiras. Vermelho sangue. Sedutoramente. Ainda outros. Rosas violeta rosas rosa.

Inefável e fatal. Mata sem fim. Seduzia-me fatalidade exalava. E presença me perseguia. Quase material. Sopro de respiração cabelos. Feminino hálito. Fatal. Tranquilizei-me em estranho inexplicável. Invisível.

Insólito jardim. Temperatura morna, céu denso, entre nublado. Tensão de perfumes. Olho alto. Bando aves predominava negro. Pouso entre altos árvores. Havia flores. Não conhecia. Canto inefável e familiar. Bach? No porém... fatal. Hipnotizado vozes femininas. Regiões longínqua. Carregadas onírica. Sensualidade melancolia.

Torpor languidez.  Deitei-me grama perfume orvalho. Canto de penumbra vejo. Imagem mirífica. A que me perseguia. Bela feminina. Túnica sanguínea, assim rosas. Eu, embriaguez anímica. Cabelos negros, assim aves. Voz bachianamente. Olho violeta, olho rosa, assim rosas.

Sono e febricitante. Imagem enevoada. Bela fêmina próxima. O parecer de fantasma. Lábios ouvidos. Hálito rosas, seio nudez e veneno. Cantasse.

Sonho no teu desejo, disse-me. Preso jardim fatal. Tu buscaste, disse-me.

Beijo. Vinho. Fora, humanidade. Sair? Fora, homem em pesadelo. Decadência em lá. Dormência jardim.

Beijo além e despida fêmina. Ela, corpo, eu, falo. Veneno artérias. Sono. Nem digo.

(Na imagem, a "Vênus" de Eugène Duval)