Manuel Bandeira escreveu o poema Nova Poética em 1949. Porém, creio que em 2013 o poema está ainda mais atual. E provavelmente o será ainda mais nos anos vindouros. Um poema profético. Cada vez mais a poesia, a arte, deixa de ser orvalho para ser nódoa. Cada vez mais assim é a nossa vida. Confiram:
Nova Poética
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito.
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco
muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão,
salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas,
as virgens cem por cento e as amadas que
envelheceram sem maldade.
Manuel Bandeira
Profético também é o poema a seguir do poeta alemão Heinrich Heine (na imagem acima), que viveu entre 1797 e 1856. Não é perfeitamente adequado para os nossos dias?
Acreditava antigamente
Que todo beijo que me tiram,
Ou que recebo de presente,
Fosse por obra do destino.
Deram-me beijos e beijei,
Antes com tanta seriedade,
Como se obedecesse às leis
Que regem a necessidade.
Agora sei como é supérfluo
E não me faço de rogado,
Vou dando beijos em excesso,
Incrédulo e despreocupado.
Heine
2 comentários:
Olá Al Reiffer,
Gosto das obras de Manuel Bandeira, do seu estilo mavioso, simples e direto.
"O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero."
Excelente, rs... A satisfação que segue o desespero é de tirar o fôlego!
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Não foi sem motivos que Heine foi tido como um subversivo... Aplausos! Aplausos!
Enigma
Olá, parabéns pelo blog!
Esta postagem ficou muito bacana.
Se você puder visite este blog:
http://morgannascimento.blogspot.com.br/
Obrigado pela atenção
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