07 maio 2011

Concerto para Piano e Orquestra nº2 de Brahms, o Maior ( E os 178 anos do Compositor)

Há exatos 178 anos, nascia, em Hamburgo, Alemanha, Johannes Brahms, o meu compositor de coração, de alma, o meu favorito, o que está, para mim, sem desmerecer os outros, é claro, acima de todos. Mal saberia expressar o quanto sua música é a mim importante, o quanto me identifico com ela. Por isso, não posso deixar passar em branco a data de hoje.

Aproveito para comentar um pouco sobre o seu magnífico Concerto para Piano e Orquestra nº2, Op 83. Já falei dele aqui, mas agora comento um pouco mais. Com todo respeito a Beethoven, a Mozart, a Bach, o Concerto nº2 de Brahms é para mim o maior de todos. O que foi mais longe e o mais perfeito. Não que não existam outros concertos perfeitos. Os nº4 e 5 de Beethoven, os nº20 e 24 de Mozart, o primeiro de Bach (originariamente para cravo), para ficar apenas com alguns exemplos,  também são absolutamente perfeitos.

Porém, o de Brahms marca, na minha humilde opinião, uma evolução definitiva no gênero, um passo além de Beethoven, onde o equilíbrio absoluto entre piano e orquestra, em um rigor formal magistral, torna a obra algo como uma sinfonia com piano. É o  auge dos concertos para piano. Jamais superada. É uma obra típica de Brahms: conteúdo terrivelmente romântico organizado sob uma forma severa e impecável. Apaixonado e melancólico, sem ser melodramático, grandioso e poderoso, sem ser exagerado. Sempre firme, sempre forte, sempre denso, sempre sério, sem perder a ternura. 

O Concerto para Piano nº2 é uma obra dificílima, mas em nenhum momento vai em busca de virtuosismos de abusação técnica, Brahms detestava as exibições virtuosísticas. É uma composição séria, complexa e pesada sem jamais perder a grande beleza e originalidade de sua invenção melódica. Sua intensa profundidade e complexidade temática exige muita concentração do ouvinte. 

O meu movimento preferido é o segundo, de caráter violentamente trágico e atormentado, algo como um aprofundamento na tragédia com relação ao primeiro movimento, também trágico, poderoso e apaixonado, embora um pouco mais sereno e luminoso. O piano principia com uma força monumental e avassaladora, secundado pela angústia da orquestra. É música devastadora, de majestosa força sinfônica. Ao seu final desesperado, mas que jamais se curva, segue-se a impressão de que não sobrou pedra sobre pedra. O lento terceiro movimento, algo como uma série de variações sobre um único tema, onde o violoncelo tem papel preponderante ao lado do piano, é de uma tristeza quase palpável. A melancólica ternura outonal de seu princípio dá lugar a um sofrimento que nos dilacera. Por fim, o concerto finaliza de forma triunfante, contudo sem deixar de lado a tragédia que o acompanha do começo ao fim.

Deixo aqui um link para quem quiser conhecer os dois concertos para piano de Brahms, sob a regência de Leonard Bernstein. O nº1 é quase tão bom quanto o nº2. É música que está entre o que de melhor foi criado pela humanidade.

Finalizo com o humilde poema abaixo, que escrevi para homenagear Brahms em seu aniversário no ano passado:

7 de Maio de 1833


que importa
a esperança
que se fecha a cada porta
e o fracasso
que me ronda a cada passo?


que importa
o esfomeado sonho
que se alimenta
de um mingau medonho?

que importa
a vida e a morte
essas duas faces
da moeda da sorte?

que importa o que não veio
o que não tive
o que não pude?

que importa afinal
que eu não possa esperar
que tu me ames?

nada disso tem importância...
o que importa
é que existe Brahms.

06 maio 2011

Poema Negro de Auto-Ajuda

se quiseres ser feliz
não espera
nada de coisa alguma ou algo
de isso ou de aquilo nem
do sol nem de Deus nem
de si e de ninguém
muito menos do que vem

lembra-te que esperança
rima com quem cansa
e que qualquer expectativa
não vale um cuspe qualquer
da tua saliva

quando tiveres uma esperança
executa-a entre a dança
com uma flecha entre a testa
ou enforca-a
ou dá-lhe um tiro
(na cabeça,
não te esqueças)
ou atira-a num rio
atada com um peso
e terás o  lírio-alívio
do confiante desprezo

quando disserem de ti
ou a ti
coisas que gostas de ouvir
acredita com toda confiança
que é mentira
e se ainda não é
um dia será
recorda-te que qualquer pessoa
(antes de prova ao contrário)
é má

lembra-te que se pensas
que não estás sozinho
é porque não olhaste bem
ao teu lado
e que tudo que nos sorri demais
está a um lábio
de dar errado

não espera
deixa o rio correr
ser feliz
é nunca esperar ser...

05 maio 2011

Um Enigma (Trágico)

quando a estrela não brilha
o sonho reflete ao contrário:

segredo jamais segregado
tornou-se o fim da glória de César
o que era de César
a César nunca foi dado

um adeus ao vermelho de sangue
da capa derramada no peito

se colocares ao espelho o que digo
verás que o que é dito não é o que é escrito
e não há outro jeito

é que a estrela caiu dentro em um lago
quando a colhi para ir mais ao alto

e quando a estrela é sem luz
o sonho reflete invertido...

o legionário caiu do cavalo
e o digo em palavras do fim ao começo
do sonho só o  s  é bonito...

se o beijo osculou-se de um corvo
em angelical adejo
sempre a maldição se assoma:
Nunca Mais um poema de roma.

03 maio 2011

Três Rápidas Considerações sobre EUA, Bin Laden e Al Qaeda

I – da Vingança

olho por olho
(dente por dente)
com tudo o que mordo
não estou satisfeito
(com tudo o que vejo
não me dou por contente)

II – do A(r)mor

o objetivo de todo homem
é a(r)mar
e ser a(r)mado

e um casa(r)mento perfeito
é aquele
em que um a(r)ma mais
e o outro a(r)ma melhor


III – da Disputa

quem mais ama?
Osa ama...
Oba ama...
seja em Meca seja em Roma

- mentira!
quem mais ama sou eu!
filho da puta

toma!

02 maio 2011

Crer em Nada

a minha melancolia
que é aquilo que vem e que ia
não me permite
crer nisso que aí está
e nesse inútil blábláblá
de intelectuais reais
dessa ilusão que se existe

só creio em que não pode ser
mais vale o que não há
de haver
se o que é é isso que é
é óbvio que não é
a verdade
então não
creio na humanidade

(uni)versar é tudo
que me resta
e é melhor insano
crer no que não existe
porque este ser humano
eu estou vendo
que não presta

30 abril 2011

Aquilo que Não Disse

não há nada que não
que já não tenha sido
que já não fosse dito
o que direi é a mesma coisa
daquilo que ainda não é
e os sábios deveriam saber disso
e não cairem (en)laçados
pela letra ao pé

 toda árvore que agora existe
(e quando lembro dela fico triste)
é ser que não sendo si sempre foi
desde a pele da cobra ao olho do boi
é repetição representada de outro outro
que  não está aqui para ser pensado
e a senti-lo há que ser maldito
ou um vale preso ao infinito

bom escrito é o que diz
aquilo que não diz
é como o professor
escrevendo ao quadro negro
sem ter na mão o giz
pois sabe-se que a árvore ali deixada
não é ela como sendo
a coisa imaginada
e o melhor verso
é o que nunca trata dela
mas o que apenas a pinta
(já que ela sempre foi pintada)
ao canto irreal de uma tela

29 abril 2011

Para Onde Vai o Dinheiro do que é Produzido no Brasil?

Essa é uma pergunta que sempre me fiz. E nunca ninguém me respondeu satisfatoriamente. Como pode um país que está entre as 10 maiores economias mundiais ter bolsões de miséria gigantescos?  Má distribuição de renda? Óbvio. Mas por quê? Por que a renda é má distribuída? De que adianta o desenvolvimento se ele não resolve os problemas sociais e ambientais? Obviamente, não é desenvolvimento, pode ser crescimento, assim como é um crescimento a proliferação das células de um câncer.

A melhoria da distribuição de renda dos últimos anos é, na verdade, pífia, apesar do esforço do último governo. E isso é uma questão que governo nenhum resolve sem uma mudança de mentalidade dos indivíduos. Eu, às vezes, fico pensando desconsolado quando leio as notícias de jornais: empresas estatais têm lucro recorde, bancos estatais têm lucro recorde, país bate recordes de produção, país bate recordes de exportação e por aí vai. É tudo muito belo, mas e daí? Eu sou um brasileiro e não vejo benefício nenhum com todos esses recordes de produção. Pelo menos para mim, para minha família, para os que conheço, não. Servem para quê? Para quem?  Para ocorrer uma verdadeira distribuição de renda, não só no Brasil, mas em muitos outros países, deveria haver uma reforma moral, ética, mental, psíquica, enfim, não uma reforma de governo, mas do próprio ser humano. Coisa que, em meu pessimismo, duvido muito.

O texto abaixo não é uma resposta à minha pergunta, mas tem bastante relação com o que acabo de afirmar. Foi escrito por Caco Coelho, em sua coluna do último sábado no jornal "Correio do Povo". Não é o texto integral, mas apenas o trecho que julgo mais pertinente.

"O Brasil, desde sempre, adequou a divisão de suas riquezas ao privilégio de poucos. (...) A maior parte dos investimentos públicos, subserviente a esses princípios seletivos, sempre foi feita para aqueles que possuem mais. O princípio público nunca foi respeitado. No lugar de promover a coletividade, a maioria da população permanece tendo que dedicar o seu esforço para locupletar os mais abastados. Assim é o investimento em educação, onde a maior parte é destinada ao ensino superior. A este privilégio têm acesso aqueles que tiveram a oportunidade de estudar em escolas particulares, de frequentar cursinhos eletistas. (...)

Agora mesmo, foi divulgada a safra recorde de grãos de nosso Estado: 24 milhões de toneladas foram produzidas. O Rio Grande do Sul possui uma população de pouco mais de 10 milhões de pessoas, sendo que 3 milhões estão na linha da miséria absoluta, ou seja, não sabem o que vão comer na próxima refeição. Toda essa produção injetará na economia gaúcha mais de 13 bilhões de reais, o mesmo que o lucro liquido de um banco. Ou seja, o que representa a oportunidade de colocar por ano na mesa de cada cidadão o correspondente a quase duas toneladas e meia de grãos, é o mesmo que um grupo pode lucrar explorando o capital."

Quantas toneladas de grãos tiveram em sua mesa aqueles cadavéricos humanos da foto acima?

27 abril 2011

Sei que Algo Acontece...

sei que algo acontece...
o fundamental é o que está latente
o que não está simplesmente atrás
mas à frente
como consequência não-sólida
mas astralizada
o que se move como sopro e tigre
há passos de tudo
que se passa em passado
que ela se ergue em olho
levantado

qual sábio é que garante
que um vento que se veste inofensivo
lá em processos desvistados
não se tornará tornado furacão?
tudo o que hão não são o que são...

quando cai uma flor
há outro algo além da sua queda
e este outro nos envolve
em insondável onde:
há um ato que é fato
e há outro que se esconde

tudo traz um além-motivo
ainda que a ele (rindo)
não nos motivemos
mas ele sempre sorri
acima
do nosso riso...  

25 abril 2011

"Julgas que uma grande cidade dura para sempre?", diz Walt Whitman

Walt Whitman (1819 - 1892) é considerado um dos maiores poetas norte-americanos, muitos consideram até como sendo o maior. Não entrarei na questão se realmente  é ou não o maior, mas que sua obra é riquíssima e revolucionária não resta a menor dúvida. Em termos de forma, foi de fundamental importância para a poesia moderna, pois foi o responsável  pela introdução dos versos livres na literatura universal, feito de excepcional coragem. Em termos de conteúdo, também inovou no tratamento dos temas, abordando com profundidade e naturalidade a vida nas cidades, os progressos científicos, a democracia, a liberdade, sem esquecer, no entanto, as questões espirituais, o contato com a natureza, a elevação humana, a igualdade entre os indivíduos.

Abaixo, deixo dois trechos de seu extenso poema "Canção do Grande Machado", onde realiza, entre outras, uma funda reflexão sobre a passagem do tempo, a transitoriedade de todas as coisas. Confiram:

Canção do Grande Machado (trechos)
Aquilo que dá vigor à vida dá vigor também à morte,
E a morte faz avançar tanto quanto a vida faz avançar,
E o futuro não é mais incertto que o presente...
(...)
O que pensas que resiste ao tempo?
Julgas que uma grande cidade dura para sempre?
Ou um estado industrial produtivo? Ou uma bem elaborada constituição?
Ou os navios mais bem construídos?
Ou os hotéis de granito e ferro?
Fora! Nada disso deve ser cultivado com afeto,
Eles cumprem o seu momento, os dançarinos dançam, os músicos tocam para eles,
O espetáculo passa...
(...)
O que são agora os teus ganhos financeiros?
O que podem fazer eles agora?
O que é agora a tua respeitabilidade?
O que é a tua teologia, instrução, sociedade, tradições, estatutos, agora?
Onde estão agora tuas zombarias sobre o ser?
Onde estão as tuas críticas sobre a alma agora?

Walt Whitman

23 abril 2011

e o Resto é Fim

deixo que o verso saia como ele foi
sem que eu pense em nada
para deixá-lo sendo o que ele não é
o verso nada tem a ver do que penso
a arte que por ele passa
vem do todo e nada tem de mim
é livre em seres que não tenho
é livro que se cala no que digo
é vento que se vaga não comigo
é lago que se nada no não-dito

deixo que passe o que se passa por mim
de que importa aquilo do que sinto?
de que sente o sangue que não tenho?
de que vale o vale que me afundo?

o verso é vasto longo e fundo
vai muito além do que está aqui
por que querer que ele fale de um eu?
por que o verso tem que ser o que é meu?

o verso é de mim o meu ser:
se o meu ser não fala por mim
deixo que o verso fale por si...
e o resto é fim.

22 abril 2011

13 Versos Fúnebres para a Sexta-Feira Santa

pois para a tristeza não há antídoto
e a vida passa como marcha fúnebre
que seja o que for e seja ou não válido
que só que me importa é teu gesto lânguido
ou só que me inflama é teu rosto sânguino,
e não religiões que vão-se tão rápido...
naquilo que morre sempre há um pórtico
e o que há de mais grave é sempre mais mágico:
fuga bachiana ameaça monárquica
e pulsa mistério além do que místico...

só busco de ti o que há no teu trágico
sinto algo de fim no teu olhar crístico

(Na imagem, o quadro "A Crucificação", de Grünewald)

20 abril 2011

Amanhecer (à) Tarde

(a)onde estão (vão)
os teus passos?
(meus laços)
que tantos (folhas de) outonos
deixaram passar aos meus pés
(onde é que tu és?)
onde estão (não?)
os teus traços?
que tantos (sonhos?) estranhos
(de estanhos)
agora cinzaram meus pós
(o que é teu após?)
onde estão os teus vagos?
(tu, vagas?)
demares derrios delagos  
que tanto sedaram meus tragos
(de sede de seda)
e agora selaram-me a sós
(quem é que sabe de nós?)
onde é que (in)pulsa teu dia?
(ah és tão-só (tão só...) melodia)
que tanto tornou-me (tornado) só vento
(é Brahms, Chopin ou olhares?)
teus olhos (in)versos sustento
onde é que hão teus passares?
(pesares...)
(próximo e tanto que afasta)
e tanto sem forma e sem nome...
(que fome...)

já basta.

18 abril 2011

Disse-me o Demônio

disse-me o demônio que não-sendo existia
sem ser falava a mim seu eu
que (ele) se vive por e de olhar e olhos
(dos outros)
fluidificando somente a si (dos olhos)
o que flui pelos magnetismos corrompidos
(ab)sorvendo o denso do amor
e o fogo das entranhas do brilho
inspirando o amargo do veneno
com a inspiração em amargamente vazio
do que fluiu com esperança a largando
essência do olhar desnobrificada
raio dessentimentalizado
de sol que se solidificou
e quedou em degener-essência

e agora o demônio sem ser
é que é em si o deixar do olhar
tomou à sua vista o esvaziado
a alma do olho é agora o que erra
e o Demônio
é o único homem sobre a Terra

(Na imagem, detalhe da escultura "Lúcifer" de Guillaume Geefs)

16 abril 2011

da Minha Arte

da minha (p)arte
poeta é olho
ser minha sina
ser fim sozinho
do meu espinho
poeta é nunca
que nunca seque
bater meu peito
do meu desfeito
poeta é pulso
fazer que sinta
ser tinta e nota
da minha porta
poeta é ir-se
tirar à lágrima
em anjo adejo
do meu desejo
poeta é lábio
que eu sempre sangue
teu beijo forte
de minha sorte
poeta é nada
querer que venha
o que partida
de minha vida
poeta é morte
olhar em tudo
virar em alma...

sem uma palma.

14 abril 2011

Poema para o Conto A Máscara da Morte Rubra de E.A.Poe

mesmo com sorrisos
o pulso não para de pulsar
como os pulsares
das galáxias distantes
que vivem luzem morrem
os pânicos instantes...

além da nossa pelo cosmos
há uma outra contradança
que não cessa não descansa
e nos alarma em hora em hora
se pulsa o baile aqui dentro
há um baile que sangra lá fora...

o passo a passo sangra aos poucos
de minuto a minuto
como a fumaça vagalenta
do sânguino charuto...

e há sempre aviso pregado
na porta do alegre do mundo
que (h)à noite em vertigem vigia
de segundo a segundo:

pulsares de relógio é o que resta
quando se tem de tirar a máscara
no enfim da festa...

12 abril 2011

Novo Código Florestal, Impunidade Eterna, o Fim das Florestas e a Minha Descrença

Dizer que o Brasil é o país da impunidade já virou um lugar comum. E eu detesto lugares-comuns. E é duplamente triste ter que usar esse lugar comum. Mas a prova maior de que o Brasil não sai nunca desse lugar comum é o novo Código Florestal. Aqui não se paga pelos crimes, ainda mais se for por crime ambiental. Já viram alguém preso por crime ambiental?

Aqui se faz e se perdoa. Desde que não se seja pobre. Ser pobre não tem perdão. Agora, querem anistiar os desmatadores com o novo Código. Criei um slogan para o Código do Mal do Rabelo: “Desmatar é humano, perdoar é Brasil”.  É inacreditável como a legislação brasileira contra crimes ambientais é mole. E querem amolecer ainda mais. Se alguém vende uma arma sem documentos, sem autorização, pode pegar até 8 anos de cadeia.  Se alguém desmata quilômetros de nossas florestas, causa queimadas que infestam nosso ar, massacra nossos animais, polui nossos rios, contamina nossa terra com agrotóxicos, enfim, acaba com toda a vida, nunca vai preso, o máximo que faz é pagar alguma multinha, isso quando paga. Geralmente, não paga.

E querem agora autorizar o desmate de 50% das propriedades rurais. Antes só se podia 20%. Mas ninguém respeitava, obviamente, desmatavam de 50% para mais. Agora, se o Código for aprovado, e se poder desmatar 50% por lei, irão desmatar uns 80%. Ninguém nunca cumpre a lei. Não é mesmo? Será o fim de nossas matas. O Fim.

E mais, querem diminuir as áreas de preservação das margens dos rios. Isso soa como uma piada de humor negro. Nossos rios já estão agonizando, assoreados, poluídos e querem diminuir a proteção de suas margens ainda mais. É inacreditável, simplesmente inacreditável. Hoje mesmo li no jornal Correio do Povo que “o rio Uruguai agoniza e que suas águas passaram à classificação 4 devido ao alto índice de contaminação por metais pesados e à presença de mexilhões dourados”, segundo o Movimento Transfronteiriço, que reúne entidades ambientais brasileiras, uruguaias e argentinas. O Movimento classifica o novo Código como “Um desserviço para o Brasil e para o meio ambiente”.

E a impunidade em nossas terras, obviamente, vai muito além da questão ambiental. Qual foi o militar que foi punido pelos crimes que cometeram durante a ditadura? Apenas querem que esqueçamos o que eles fizeram. Que perdoemos.

E os mensalões? Tem vários: o do PT, o do Dem, o do PSDB, do tempo do Fernando Henrique (que não foi divulgado porque a mídia brasileira é quase toda de direita ou centro-direita, inclusive aqui em Santiago). Houve punição para os “mensalistas”? E o caso do Detran aqui no RS? Quem foi, afinal, que pagou pelos roubos? Bom, e por aí se vai ao infinito. É tanta impunidade que não tem como lembrar de tudo...

E para piorar a impunidade, agora os juízes dos Estados onde faz muito calor só querem trabalhar das 9h até as 14h e não até as 18h, como está na lei. Nem os juízes querem cumprir a lei. Acham que são melhores que os outros trabalhadores? É até um deboche, uma gozação com o trabalhador que vai das 8h até as 18h (ou mais) trabalhando, faça chuva ou faça sol. E eles, os juízes, têm ar-condicionado em suas salinhas. De que calor eles reclamam? E ganham quantos salários-mínimos mesmo? Não lembro se são 2 ou 3. Pobrezinhos...

Depois querem que eu acredite no Brasil. Eu não acredito nesse “desenvolvimento” brasileiro. Nem com Lula, nem com Dilma, nem com Serra, nem com FHC, nem com o Papa, nem com o Diabo. E não acredito no “desenvolvimento” chinês, nem no americano, nem no europeu, nem no japonês, enfim, eu não acredito em nenhum tipo de desenvolvimento que é realizado às custas do fim da vida natural. É tudo uma farsa, uma ilusão, uma grande mentira que o tempo se encarregará de fazer desmoronar. Tragicamente.

11 abril 2011

Noturno

ali onde olhos
ao canto da noite
há um  outro canto de atrás
de um outro olho de noite
de um outro sinto inaceito
outro invisível de paz...

acimou-se a sensação
do que não é
como névoa que está sem ser
no gosto que não cheiro do café
para onde dirijo minha vista
visto todo onde que se esconde
há algo ali que nunca se alga
à superfície do oceano
onde me estranho
que ainda que não haja age alma
ali se alta um desígnio em denso
todo mistério saudade propenso
pelo além do que me acalma...

que o meu lugar é ali
no que não está
nem no cá nem que vi...

09 abril 2011

Nem Tu És o que És

verás que o ser de tudo que é
não é aquilo que demonstra ser,
o ser das coisas
não é o que elas são...

vê mais fundo
no alto fundo que não se olha
e verás que por trás do todo
há um outro outro além de tudo...

o que se mostra
não é o que está ali,
ninguém vê o que olha:
o que está ali
não pode ser tido como estado...

o que sabes não é o que conheces,
o tudo que pensas saber
é aquilo que há em ti
mas não em teu ser,
o que há em teu ser
talvez agora esteja longe
e esse longe talvez seja o real...

há sempre outro verso
em tudo que é reverso:
verás que quanto mais com a luz
universares pelo escuro
mais começo e fim
verás em faces a existirem...

nem tu és o que és:
teu eu não é teu ser,
talvez teu eu agora seja noutro abismo,
como um sismo,
talvez teu ser então te chame mais acima,
noutra rima...

08 abril 2011

Palavras Sem-Sentido sobre o Massacre de Estudantes no Rio *

ele as matou.
- não faz sentido -
(talvez sendo elas não sendo elas mas sendo)
e ele as deixou que ficassem
(aquelas)
com algumas baladas
- não há sentido -
matou porque elas
- não é sentido -
não o deixaram que ficasse
(com elas)
em algumas baladas


*Este poema foi composto antes de ser divulgada a notícia de que o assassino sofria bullying na escola, principalmente por parte das meninas. Segundo o que foi divulgado, o atirador era ridicularizado por colegas, e as meninas fingiam interesse no mesmo, para depois "dar um fora".

07 abril 2011

do Amor

o amor é a verdade
(sem) vista pelo espelho...

é um shakespeare tóxico
o amor é um paradoxo:

é fraco como a sorte
e forte como a morte