04 novembro 2020

Não ter que dizer nada

aquilo que não. que não o quê?
que não tudo.
desde o lá ao agora que não está
ao que seja como sendo
o longínquo de um algo de dentro
o que nunca em nenhum momento
sonho que sona o meu real
o outro lado do que não o outro
além-me-ar estando aqui
pela sanga do teu quintal
flor que cheirou o meu gesto
sem tocar a minha mão
fuga drogada de um verso
ao voo do que não me fui
em estares de imaginação
o  mas do que me distância
e longos pelos teus anelos
olhos  no éter sem sê-los
que terminam em um nada
e começam em um fim
e ainda tem o outro lado
que é aquilo que sim.

01 novembro 2020

Poema de Finados (ou Um Réquiem)


Mozart morreu antes de terminar seu Réquiem
de certeza uma das músicas mais emocionantes comoventes
assombrosas já compostas nessa merda de mundo
até um cara com um coração de pedra esfarelenta
sentiria algum tipo de arrepio de pelos
ao ouvir alguns trechos rápidos
do sobre-humano Réquiem de Mozart.

Mozart finou-se antes de finalizar
a maior Música de Fim da história
ele escreveu sua própria Missa para os Mortos
e morreu aos 35 anos no abandono e na miséria
foi enterrado como indigente e se tornou imortal...
(a vida é uma puta de uma ironia)

adoecido de corpo e de incompreensão
Mozart já não podia suportar o peso
de escrever a música mais trágica de todos os tempos.
outros caras concluíram o Réquiem a partir de esboços de Mozart
mas as partes completadas apenas pelo Amadeus
já dizem tudo e fim de papo.

seu Réquiem é uma titânica súplica desesperada de ajuda
ao mundo a Deus ao universo
uma urgência em pânico daquele que aos 35 anos
era o maior gênio musical de sua geração.

mas o Réquiem de Mozart é muito mais do que 
uma poderosa súplica sobrenatural
é um monumento ao sentimento uma tentativa de salvação
da humanidade pela vivência da própria morte.
a gente se sente um pouquinho salvo
ao ouvir a mais dolorosa música
já arrancada do último amor
antes da Morte.

28 outubro 2020

Poesia não é para ser entendida

poesia é sensação, não é entendimento.
só fica o que for sentido
só fica aquele gosto de algo
nem que não se saiba do que é
(Poesia não é para ser entendida)
 que se sente e não se explica 
aura de alma que é só sugerida 
uma impressão um indício um vago pelo ar
(qual coisa é que faz sentido pela vida?)
a poesia é mais ser do que pensar

eu sou mas não estou 
na poesia que escrevo 
a poesia é como o beijo:
estraga se tentar explicar
é tudo que fica do que pode haver 
é a palavra mais forte a mais funda a mais pura 
a mais próxima do amor
pode ser trágica terrível mas é sempre bela
está no olhar da Sophie nos olhos dela
para ler poesia não há outro motivo
a não ser o de amar
seja lá o que for

essas palavras que digo
nem sei se estão comigo
assim como não sei se estarei vivo 
no meu próximo dia
mas se um deus ou deusa 
viesse nos falar 
só falará poesia.


26 outubro 2020

Não temos olhos para dentro

o gavião voa pelo céu azul
e paira no ar entre a corrente de vento
com suas asas abertas aproveitando o instante
e nós olhamos e achamos isso grande e belo

porque é a vida em seu estado puro
e a vida em seu estado puro é imensa e simples
e vivida a cada instante porque a vida é o instante
e não há outra vida a não ser o instante que se vive
e isso é simples e é grande e é belo

mas nós humanos estamos aqui
não sabemos nem ser simples nem grandes nem belos
sufocados numa existência complicada e pequena
não vivemos os instantes porque pensamos em outros instantes
que ainda não vieram e talvez nunca venham
e bem lá dentro no nosso íntimo no nosso ser
que é onde vive a vida
nós não alcançamos
porque não olhamos mais para dentro
mas só para o próximo desejo lá fora
a (não) ser alcançado.

23 outubro 2020

Cacem minha Alma

Peguem meus versos e matem a pauladas
sujem em fluídos de todas as mortes,
deixem aos pedaços pingando dos cortes,
e enterrem aos montes, não servem pra nada.

Joguem no lixo da Terra acabada,
cacem minha alma em covardes esportes,
juntem com a noite da antiga má-sorte,
deixem que caiam meus olhos da escada.

Aplausos à arte são risos mentidos,
e todo artista que se acha mui útil
já vê seu vasto nas ruas cuspido.

Homens só louvam imbecis, o que é fútil,
o verme e a merda. Tudo ânsia perdido
num ato morto de um sonho que é inútil.

20 outubro 2020

Nas Ruas de Santa Maria

o ato de caminhar pelas ruas
para quem vive é diferente de quem caminha
só pelo necessidade de caminhar 
ou pelo bem estar físico.
geralmente as pessoas caminham mortas:
ou afundadas no quem tem que fazer pelas ruas
ou afundadas na sua dita saúde
para que possam viver mais
estando mortas.

para quem vive caminhar é algo que vem de dentro:
como sentir que naquele canto da calçada
de qualquer rua do centro de Santa Maria
muita coisa já aconteceu, já houve almas ali
sendo felizes ou desgraçadas
e que tanta coisa poderia ter acontecido
e é triste o não ter sido.

as folhas rolando pelas ruas com o vento
são como facas que fere o que se olha
e fere mais ainda o que se sente
e o céu de amores e ausências se infiltra 
por entre prédios sacadas janelas e negócios
como vapores de um pântano de distâncias.

caminhar para quem vive é um ato de solidão.
e o porquê já está explicado.





18 outubro 2020

"Um urubu pousou na minha sorte" Augusto dos Anjos

 a Morte sempre esteve do meu lado
desde quando eu vivia antes de agora
pedi mas ela nunca foi embora
nem se comoveu por eu ter chorado

me olhou com seus olhos acastanhados
os cabelos pelos ombros afora 
sangue e mais sangue e mais sangue indo embora
por entre beijos de horrores e fados

hoje os dias só nos falam de morte
de tudo que parte acaba se finda
e resto de almas caçado em esporte

meus dias de vida resistem ainda
mas "um urubu pousou na minha sorte"
e a Morte... a Morte é sempre mais linda.



15 outubro 2020

Agora, estão Todos Mortos

Goethe disse que nunca conheceu um artista
tão enérgico e concentrado como Beethoven.
depois completou afirmando que
o mundo lhe deveria ser detestável e que  
"infelizmente, tem uma personalidade incontrolável".
Beethoven, que era fã de Goethe, bêbado mais tarde
não gostou dos elogios 
e mandou Goethe se foder declarando que ele, Goethe
gostava demais do ambiente dos ricos para um poeta.

sobre Van Gogh conta-se
que ele passava por episódios de profunda 
tristeza e isolamento (depressão, né)
tinha personalidade complicada (sério?)
e adorava discussões.
frequentemente causava apreensão em sua família
(que ele mandava à merda)
e só tinha amores impossíveis ou infelizes.

já Michelangelo, conhecido como "O Divino"
era desconfiado e antissociável.
tinha má digestão e dores de cabeças frequentes
o que o deixava ainda mais melancólico.
diziam os italianos que era terrível e passional 
e estava sempre puto da cara.

quanto ao borracho Edgar Allan Poe
o inventor do terror moderno
das histórias policiais e de crime
criador do poema mais perfeito da história
bom, esse era o pior.
não passava de um pinguço apaixonado 
com QI acima de 180.
como não tinha Quem lhe Indicasse
muito menos sorte ( que o diga O Corvo)
o gênio da literatura morreu na sarjeta
literalmente.





13 outubro 2020

Sorriso-máscara

aquele sorriso dos seres humanos 
salivando os dentes alvos e calvos
com lábios largos e vastos
já tocando nas costas

aquele sorriso distribuído nas ruas
e servido com bosta
de graça sem graça nenhuma
noticiado em jornais 
e em ditos progressos de governos 

sempre dando nas vistas
e nos nervos 
em telas de TV celulares capas de revistas

aquele sorriso da dita alegria da vida

de que não se duvida e a todos afaga
do ideal alcançado
da esperança elevada

aquele sorriso-máscara 

do que não adianta 
mais nada.

10 outubro 2020

Bunda Suja

ninguém assume seu próprio peido 
ninguém se olha no seu espelho 
muito menos no próprio poço 
todos só querem saber de "eu posso"
mas ninguém enxerga o "eu morro"

só queremos coisas leves 
sem preço retorno ou culpa
otimismos sorrisos sucessos 
existências fashion
e descoladas
onde pensar tornou-se um saco
e sentir tornou-se piada

queremos vidas de nada
em que se possa ter de tudo
e não se paga por nenhum ato
com os lábios até as orelhas
sem voltas sem consequências 

enfim aquela coisa
em que todo mundo caga
e ninguém lava a bunda

e a humanidade afunda

05 outubro 2020

Uma Ave Cantou na Madrugada

 uma ave cantou ontem na madrugada
eram quase 5h
de canto estranho antigo desconhecido
como se fosse um presságio um aviso um hino
(aquela ave realmente cantou de madrugada)
eu não soube que ave que era
eu que conheço tantas aves e tantos cantos
tantos sons tantas músicas tantos espantos
parecia não ser deste século milênio ou idade
soou pré-histórico não-existente algo de extinto
de coisas que morrem que partem desaparecem
parecia que vinha de florestas tombadas e paraísos perdidos
havia algo de fim havia algo de morte
um eco de tudo que foi e já não é
de tudo que é e não será
de tudo que será quando nada for
era como um grito um sangue um pranto
cheirava a sonhos ou de outros planetas
um último ou um novo sopro de vida
a morte e a donzela de Schubert
lacrimosa do Réquiem de Mozart
e foi no fim da madrugada
mas era só o começo do que anoitece
talvez fosse um bater de sino
talvez do fim do mundo
talvez do meu destino


03 outubro 2020

Breve Consideração sobre o Fim desta Humanidade

há sabedoria na natureza.
em todas as grandes extinções em massa
(e hoje já vivemos outra)
o objetivo final sempre foi
extinguir a espécie dominante 
para que outras novas espécies 
pudessem reinar.

29 setembro 2020

Os Homens que não amavam a Natureza

quem não ama a natureza 
não entende como alguém pode amá-la:
não vê valor em uma árvore 
(a não ser o da madeira)
não entende como uma onça pode ser útil 
(a não ser como pele e troféu)
vê em um rio só seu uso prático
(água e nada mais)
não vê na terra a não ser 
o que se arranca da terra
não vê nas matas a não ser o verde 
do dinheiro
quem não ama a natureza
não entende como alguém pode defendê-la 
sem ter algum interesse por trás
quem não ama não entende de amar 
não acha possível que se ame
sem querer vantagens 
quem não ama a natureza não vê nada
além de lucro e utilitarismo
e é tão baixo raso e pequeno 
que não entende que pode haver algo
maior  mais alto e grandioso.
e essa gente hoje está no poder. 


26 setembro 2020

Poema Torto

nós nos entortamos pelos destinos 
deformamos os paraísos 
tornamos tudo cinza e torcido
entre torturas e tortos risos
sonhos mortos e mais desgraças 
erros toscos e tantas pragas
nós somos os nossos nadas.

nós somos porcos entortecidos
entediantes repetitivos
destruidores de amor e alma
matamos corvos
torturamos anjos
nós somos nossos escombros
satã entre nossos ombros 
entre horrores e defeitos.
nós não temos jeito
somos casas  erguidas tortas
caídas capengas ruínas
restos rastos e fingicidas 
nós somos os homens tortos 
com objetivos torpes
que matamos a tudo em torno 
e uns aos outros. 
tornamos um planeta morto 
para, mentindo esgotos, 
fazer um mundo melhor
mas fizemos só algo torto
e cada vez pior.

nós somos só peidos 
levados pelos tornados
nós somos os homens tortos 
e (eu me olhando no espelho)
os entortados.

23 setembro 2020

Na Linha de Chegada

escrever é estar enchendo a cara 
no final da reta 
é ter chegado antes 
por nunca ter se dado ao trabalho 
de sair do lugar
(a chegada é o mesmo ponto de partida 
a humanidade anda em círculos...)
e contemplar já bêbado 
a chegada cágada
(sabem aqueles bichinhos simpáticos 
parecidos com tartarugas?
os cágados?)
aos trancos e aos rastejos 
do que resta 
dos humanos "sóbrios"
com seus cágados desejos.

escrever poesia então 
é um ato infame e vil:
é estar já inútil na linha de chegada 
sabendo que o primeiro que chegar 
(apavorido e abaforado)
será sempre um imbecil.


 

21 setembro 2020

Árvore é Passado


Poema escrito para o Dia da Árvore de 2015:

o que é árvore vai passando
porque vem passando o que é progresso.
abram alas
que o progresso quer passar
por cima de tudo
até não restar nada.
o progresso não tem sentido. 
a humanidade perdeu o sentido.
o homem atrofiou seus sentidos
de encontrar sentido
de fazer sentido
de ser sentido.

agora, qual sentido seguir?

a árvore passa
no sentido de que passou seu tempo
o progresso passa
no sentido de que dá passos
num passo a passo ao abismo 
com o qual em breve 
esta humanidade também
será passado.


#diadaarvore #árvore #arvore #poesia #poemas #destruicaoambiental #pantanal #amazônia #florestas #ofim

18 setembro 2020

A Palavra é o que Fica

o que vou deixar é o que foi escrito.
a palavra é tudo o que fica.
se for em som é palavra líquida 
se for em tinta é palavra sólida.

não ficará o que se pensa 
não restará o que se sente
nada será do que se fez
a vida um dia é morta 
o que foi construído será ruína 
o que foi corpo se apodrece 
o que era sonho então se esquece 
nada fica daquilo que é 
se abismam civilizações e humanidades 
o que é cedo será tarde. 
só a palavra permanece 
é ela que dá início a amor e universo:
no princípio é sempre o Verbo.

16 setembro 2020

A Era da Destruição

O trecho a seguir faz parte do texto A Era da Maldade,  que escrevi e publiquei em outubro de 2018. O trecho reflete perfeitamente o que estamos vivendo hoje com a catástrofe dos incêndios florestais criminosos,  causados na maior parte pela mão humana. A própria PF está investigando 5 fazendeiros (CINCO!) suspeitos de iniciar os incêndios para fazer pasto e lavouras. Que direitos esses ecocidas acreditam que têm em cometer tal atrocidade contra a nação?

"O egoísmo também  nos fala do lucro a qualquer custo. O custo é mais e mais destruição ambiental e exploração do trabalho humano. Vivemos uma nova era da impiedade e do medo, da ausência de compaixão e de solidariedade. Nosso coração morre a cada dia. Voltamos à era da redução das áreas de preservação ambiental, do massacre dos povos nativos, da liberação da caça e da aniquilação da vida selvagem, pois isso não tem valor para o neoliberalismo, a não ser o valor financeiro. A poluição desenfreada não terá limites, a vida será cada vez mais subjugada pelos meios de produção. Vivemos a era em que os recursos naturais, desde campos, florestas, até a água ficarão nas mãos de muito poucos, assustadoramente poucos."

O texto completo pode ser lido aqui .



13 setembro 2020

Quais as Causas das Queimadas Catastróficas no Brasil?


Afinal, quais as causas das queimadas catastróficas e sem precedentes na Amazônia e no Pantanal este ano? 

1) O Aquecimento Global,  que vem mostrando seus efeitos com cada vez mais força em todo planeta,  e cuja origem principal é a ação humana,  em particular a poluição e o desmatamento.

2) O clima anormalmente seco em grande parte do Brasil, que é intensificado pelo desmatamento. A retirada da cobertura vegetal, a qual se intensificou sob o desgoverno Bolsonaro, causa a perda da umidade da terra, que, por sua vez, diminui a formação de chuvas. 

 3) A ganância aliada à ignorância e até à maldade faz com que fazendeiros,  principalmente, se aproveitem da estação seca para pôr fogo na vegetação a fim de "limpar" a terra para em seguida ocupá-la com soja e/ou gado. Essa ação,  criminosa em tempos de seca, gera um avalanche de queimadas incontroláveis. E muitas dessas queimadas não são em propriedades particulares, mas em reservas patrimônios do povo brasileiro.

4) A política ambiental catastrófica do desgoverno Bolsonaro que, além de incentivar o desmatamento para a produção agro e para a  mineração, tem desmantelado e sucateado toda a estrutura dos órgãos ambientais,  deixando de aplicar as verbas previstas para este ano, dificultando trabalhos de fiscalização do IBAMA e tirando da chefia dos órgãos profissionais capacitados para colocar militares que não sabem o que e como fazer.  O Ministério do Meio Ambiente é chefiado por um total incompetente e verdadeiro inimigo das questões ambientais, um sujeito que  já foi condenado por beneficiar ilegalmente mineradoras,  que tem sabotado trabalhos de fiscalização,  perseguido funcionários do IBAMA e deixando de investir na própria área pela qual deveria prezar. Salles,  em acordo com Bolsonaro , aplicou somente 0,4% de toda verba destinada ao Meio Ambiente e cortou em 70% o investimento em brigadas contra incêndios florestais. Para o o próximo ano, este desgoverno acaba de REDUZIR ainda mais as verbas para a área ambiental.  E, assim, assistimos estarrecidos e impotentes  à destruição sem freios  das maiores riquezas desta nação.


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11 setembro 2020

Deploração

nós vamos destruir a tudo 
não vai sobrar pedra sobre pedra
nem planta sobre planta
nem prado sobre prado 
nem corpo sobre corpo 

nós vamos consumir a tudo
seja o que nasce cresce ou anda
o que voa nada ou canta 
folha por folha arrancada ao pó 
sangue por sangue derramado ao fogo

nós vamos assistir a tudo 
até ver as chamas subir pelos cabelos 
até que tudo que é deixe de sê-lo
de pétala em pétala arrancada ao túmulo 
olhar por olhar soterrado ao poço 

nós vamos fazer ruir a tudo 
não vai sobrar prato sobre prato
nem prazo sobre prazo 
nem lábio sobre lábio...

só pranto sobre pranto.