05 outubro 2020

Uma Ave Cantou na Madrugada

 uma ave cantou ontem na madrugada
eram quase 5h
de canto estranho antigo desconhecido
como se fosse um presságio um aviso um hino
(aquela ave realmente cantou de madrugada)
eu não soube que ave que era
eu que conheço tantas aves e tantos cantos
tantos sons tantas músicas tantos espantos
parecia não ser deste século milênio ou idade
soou pré-histórico não-existente algo de extinto
de coisas que morrem que partem desaparecem
parecia que vinha de florestas tombadas e paraísos perdidos
havia algo de fim havia algo de morte
um eco de tudo que foi e já não é
de tudo que é e não será
de tudo que será quando nada for
era como um grito um sangue um pranto
cheirava a sonhos ou de outros planetas
um último ou um novo sopro de vida
a morte e a donzela de Schubert
lacrimosa do Réquiem de Mozart
e foi no fim da madrugada
mas era só o começo do que anoitece
talvez fosse um bater de sino
talvez do fim do mundo
talvez do meu destino


03 outubro 2020

Breve Consideração sobre o Fim desta Humanidade

há sabedoria na natureza.
em todas as grandes extinções em massa
(e hoje já vivemos outra)
o objetivo final sempre foi
extinguir a espécie dominante 
para que outras novas espécies 
pudessem reinar.

29 setembro 2020

Os Homens que não amavam a Natureza

quem não ama a natureza 
não entende como alguém pode amá-la:
não vê valor em uma árvore 
(a não ser o da madeira)
não entende como uma onça pode ser útil 
(a não ser como pele e troféu)
vê em um rio só seu uso prático
(água e nada mais)
não vê na terra a não ser 
o que se arranca da terra
não vê nas matas a não ser o verde 
do dinheiro
quem não ama a natureza
não entende como alguém pode defendê-la 
sem ter algum interesse por trás
quem não ama não entende de amar 
não acha possível que se ame
sem querer vantagens 
quem não ama a natureza não vê nada
além de lucro e utilitarismo
e é tão baixo raso e pequeno 
que não entende que pode haver algo
maior  mais alto e grandioso.
e essa gente hoje está no poder. 


26 setembro 2020

Poema Torto

nós nos entortamos pelos destinos 
deformamos os paraísos 
tornamos tudo cinza e torcido
entre torturas e tortos risos
sonhos mortos e mais desgraças 
erros toscos e tantas pragas
nós somos os nossos nadas.

nós somos porcos entortecidos
entediantes repetitivos
destruidores de amor e alma
matamos corvos
torturamos anjos
nós somos nossos escombros
satã entre nossos ombros 
entre horrores e defeitos.
nós não temos jeito
somos casas  erguidas tortas
caídas capengas ruínas
restos rastos e fingicidas 
nós somos os homens tortos 
com objetivos torpes
que matamos a tudo em torno 
e uns aos outros. 
tornamos um planeta morto 
para, mentindo esgotos, 
fazer um mundo melhor
mas fizemos só algo torto
e cada vez pior.

nós somos só peidos 
levados pelos tornados
nós somos os homens tortos 
e (eu me olhando no espelho)
os entortados.

23 setembro 2020

Na Linha de Chegada

escrever é estar enchendo a cara 
no final da reta 
é ter chegado antes 
por nunca ter se dado ao trabalho 
de sair do lugar
(a chegada é o mesmo ponto de partida 
a humanidade anda em círculos...)
e contemplar já bêbado 
a chegada cágada
(sabem aqueles bichinhos simpáticos 
parecidos com tartarugas?
os cágados?)
aos trancos e aos rastejos 
do que resta 
dos humanos "sóbrios"
com seus cágados desejos.

escrever poesia então 
é um ato infame e vil:
é estar já inútil na linha de chegada 
sabendo que o primeiro que chegar 
(apavorido e abaforado)
será sempre um imbecil.


 

21 setembro 2020

Árvore é Passado


Poema escrito para o Dia da Árvore de 2015:

o que é árvore vai passando
porque vem passando o que é progresso.
abram alas
que o progresso quer passar
por cima de tudo
até não restar nada.
o progresso não tem sentido. 
a humanidade perdeu o sentido.
o homem atrofiou seus sentidos
de encontrar sentido
de fazer sentido
de ser sentido.

agora, qual sentido seguir?

a árvore passa
no sentido de que passou seu tempo
o progresso passa
no sentido de que dá passos
num passo a passo ao abismo 
com o qual em breve 
esta humanidade também
será passado.


#diadaarvore #árvore #arvore #poesia #poemas #destruicaoambiental #pantanal #amazônia #florestas #ofim

18 setembro 2020

A Palavra é o que Fica

o que vou deixar é o que foi escrito.
a palavra é tudo o que fica.
se for em som é palavra líquida 
se for em tinta é palavra sólida.

não ficará o que se pensa 
não restará o que se sente
nada será do que se fez
a vida um dia é morta 
o que foi construído será ruína 
o que foi corpo se apodrece 
o que era sonho então se esquece 
nada fica daquilo que é 
se abismam civilizações e humanidades 
o que é cedo será tarde. 
só a palavra permanece 
é ela que dá início a amor e universo:
no princípio é sempre o Verbo.

16 setembro 2020

A Era da Destruição

O trecho a seguir faz parte do texto A Era da Maldade,  que escrevi e publiquei em outubro de 2018. O trecho reflete perfeitamente o que estamos vivendo hoje com a catástrofe dos incêndios florestais criminosos,  causados na maior parte pela mão humana. A própria PF está investigando 5 fazendeiros (CINCO!) suspeitos de iniciar os incêndios para fazer pasto e lavouras. Que direitos esses ecocidas acreditam que têm em cometer tal atrocidade contra a nação?

"O egoísmo também  nos fala do lucro a qualquer custo. O custo é mais e mais destruição ambiental e exploração do trabalho humano. Vivemos uma nova era da impiedade e do medo, da ausência de compaixão e de solidariedade. Nosso coração morre a cada dia. Voltamos à era da redução das áreas de preservação ambiental, do massacre dos povos nativos, da liberação da caça e da aniquilação da vida selvagem, pois isso não tem valor para o neoliberalismo, a não ser o valor financeiro. A poluição desenfreada não terá limites, a vida será cada vez mais subjugada pelos meios de produção. Vivemos a era em que os recursos naturais, desde campos, florestas, até a água ficarão nas mãos de muito poucos, assustadoramente poucos."

O texto completo pode ser lido aqui .



13 setembro 2020

Quais as Causas das Queimadas Catastróficas no Brasil?


Afinal, quais as causas das queimadas catastróficas e sem precedentes na Amazônia e no Pantanal este ano? 

1) O Aquecimento Global,  que vem mostrando seus efeitos com cada vez mais força em todo planeta,  e cuja origem principal é a ação humana,  em particular a poluição e o desmatamento.

2) O clima anormalmente seco em grande parte do Brasil, que é intensificado pelo desmatamento. A retirada da cobertura vegetal, a qual se intensificou sob o desgoverno Bolsonaro, causa a perda da umidade da terra, que, por sua vez, diminui a formação de chuvas. 

 3) A ganância aliada à ignorância e até à maldade faz com que fazendeiros,  principalmente, se aproveitem da estação seca para pôr fogo na vegetação a fim de "limpar" a terra para em seguida ocupá-la com soja e/ou gado. Essa ação,  criminosa em tempos de seca, gera um avalanche de queimadas incontroláveis. E muitas dessas queimadas não são em propriedades particulares, mas em reservas patrimônios do povo brasileiro.

4) A política ambiental catastrófica do desgoverno Bolsonaro que, além de incentivar o desmatamento para a produção agro e para a  mineração, tem desmantelado e sucateado toda a estrutura dos órgãos ambientais,  deixando de aplicar as verbas previstas para este ano, dificultando trabalhos de fiscalização do IBAMA e tirando da chefia dos órgãos profissionais capacitados para colocar militares que não sabem o que e como fazer.  O Ministério do Meio Ambiente é chefiado por um total incompetente e verdadeiro inimigo das questões ambientais, um sujeito que  já foi condenado por beneficiar ilegalmente mineradoras,  que tem sabotado trabalhos de fiscalização,  perseguido funcionários do IBAMA e deixando de investir na própria área pela qual deveria prezar. Salles,  em acordo com Bolsonaro , aplicou somente 0,4% de toda verba destinada ao Meio Ambiente e cortou em 70% o investimento em brigadas contra incêndios florestais. Para o o próximo ano, este desgoverno acaba de REDUZIR ainda mais as verbas para a área ambiental.  E, assim, assistimos estarrecidos e impotentes  à destruição sem freios  das maiores riquezas desta nação.


#pantanal #queimadasnopantanal

#forabolsonaro #forasalles #queimadas 

#queimadasamazonia #amazonia #catastrofeambiental #aquecimentoglobal

#incendioforestal

11 setembro 2020

Deploração

nós vamos destruir a tudo 
não vai sobrar pedra sobre pedra
nem planta sobre planta
nem prado sobre prado 
nem corpo sobre corpo 

nós vamos consumir a tudo
seja o que nasce cresce ou anda
o que voa nada ou canta 
folha por folha arrancada ao pó 
sangue por sangue derramado ao fogo

nós vamos assistir a tudo 
até ver as chamas subir pelos cabelos 
até que tudo que é deixe de sê-lo
de pétala em pétala arrancada ao túmulo 
olhar por olhar soterrado ao poço 

nós vamos fazer ruir a tudo 
não vai sobrar prato sobre prato
nem prazo sobre prazo 
nem lábio sobre lábio...

só pranto sobre pranto.




08 setembro 2020

Horrores e Risos

os homens acreditam que fazem
mas nada fazem:
têm a ilusão de que o que é feito
é feito por eles
quando o que é feito
é feito pelo que acontece com eles.

o que o homem faz
é se arrastar entre o que seria 
de uma forma ou de outra 
entre horrores e alguns risos
entre muitas desgraças e poucas alegrias
entre medos erros e cagadas
(seus autênticos feitos)
segue o homem pelo engano
de que do seu nada pode fazer a tudo.

mas é só um nada acontecido
que estaria onde está
de qualquer jeito:
coisas erguidas tortas
por uma humanidade tarda
com objetivos torpes:
explorar seus humanos toscos
para (dizendo) fazer um mundo melhor
que acaba sempre mais torto (e acaba).

o homem pensa que faz o seu feito
mas só larga um peido:
involuntário e (uma hora) inevitável
que acaba sendo só vento
desagradável
levado pelo tempo.

03 setembro 2020

Três Antipatias

I - os tempos são outros 
(e são os últimos)
e a poesia também.
não é só coisas belas:
são horrores 
e fracassos
e desastres 
e estrelas 

II - um poema
além de sublimes 
é dar nos dedos
e tirar sarro:
tragédias em segredo
deboches com cigarro

III - o mais corajoso dos soldados
é o que deserda.
o mais corajoso dos humanos 
é o que manda 
tudo à merda.

31 agosto 2020

"Teu Fúnebre Clarão"

já quase nada
nada a ser dito.
a quem?
a homens que não leem
nem as cartas do seu destino
se (r)indo em seu cagar
digo, em seu andar
infinito.

a homens que não lavam
digo,  que não leem
nem as palmas das suas mãos 
deixar uma palavra que fique?
ainda que desse 
não dá mais tempo
para piquenique

não há preço que pague
escrever para ninguém 
dizer como se não houvesse
olhar como se não soubesse
"teu fúnebre clarão que a noite alaga"

e eu já (a)paguei a tudo:
a minha tempestade
já está relâm...
paga.

28 agosto 2020

Nem Sinal

em breve mas nem o longe
só sangue no horizonte
em breve só o sempre
que será ontem
silêncio esgotado
no esgoto de uma fonte.
em breve mas nem o leve
só o calo das cordas
de um canto de ave
calado num eterno vago
de gelo de neve
pássaro passado
desmanche
de rio manchado
por entre óleos (machados)
no sorriso em corte
por entre olhos e braços
em breve mas nem rastro.
e da árvore que te arde
despencada a pancadas
de baques entre abismos
folha por folha abalada
em breve mas nem risco
mas nem riso
em breve mas nem cisco.
em breve mas nem nada 
e que nos leve afinal. 
só eterno desfeito
e a cova no peito
feita a pá e a enxada.
e em breve 
mas nem sinal.

24 agosto 2020

Medo de Acordar

dormi com medo de acordar 

medo de acordar e tudo ter acabado
medo de acordar e nada ter acabado
dormi com medo
de ter medo de acordar
com medo de ter que acordar
com a corda no pescoço
dormi com medo de acordar
e ser só osso
de acordar e ser só isso
de dormir até o fim
de sonhar cair num poço
e de acordar e ser assim
de sonhar com coisas ruins
e acordar e elas são
de sonhar com coisas belas
e acordar e não serão
e ninguém aqui comigo
dormi com medo
de acordar e estar morto
de acordar e estar vivo

21 agosto 2020

Nós, estes Montes

a humanidade tem problemas
aos montes:
um deles é dar um jeito 
nos montes de gente
e amontoá-los de alguma forma:

prédios cidades favelas
lojas templos janelas
ruas praças e telas
e ali os montes de gente
enfiados nos montes
que amontoaram
(informações inúteis
quinquilharias fúteis
ilusões risíveis)

entre montes de moedas 
e sacos de lixos 
vão os montes humanos
governados  por montes 
e olham abismados os longes 
para o que restou dos mortos montes
devastados por nós 
estes montes 
de merda

19 agosto 2020

O Presidente mais Egoísta da História

Bolsonaro é o presidente mais egoísta da história brasileira.  Nunca faz nada pelo povo,  olha somente para sua própria bunda. Provas? 

Vamos começar pelo auxílio emergencial,  que de início ele não queria pagar. Depois, queria pagar só 200 reais, mas foi derrotado pela oposição e engoliu, puto da cara e sempre reclamando, os 600. Mas foi aí que percebeu que o povo estava gostando dos 600 reais (algo óbvio, para uma população que em parte mal consegue se alimentar)  e que isso poderia ser ótimo para sua reeleição.  Começou a espalhar a Fake News de que o auxílio de 600 é obra do seu governo e quer, agora, que o Paulo Guedes se vire para achar dinheiro que continue  bancando o auxílio. 

Então, o Guedes quer, por exemplo, taxar livros e vender estatais e riquezas nacionais a preço de banana para conseguir esse dinheiro, porque, dos ricos e privilegiados, Bolsonaro e sua corja nunca tiram nada,  só dão. 

Bolsonaro sempre age em interesse próprio, não tem uma gota de grandeza ou humanidade. No seu egoísmo estúpido, tira verbas das áreas de onde ele não espera votos ( da Educação,  da Ciência,  da Cultura,  das Artes, do Meio Ambiente, da Saúde) para dar para militares,  latifundiários, mineração e determinados grupos empresariais. 

E o Brasil que se foda.

17 agosto 2020

Temor da Morte

há os que temem a morte

porque não se conhecem.

há os que temem a morte

porque se conhecem.

há os que temem a morte

porque nada conhecem.

há os que temem a morte

porque não conhecem

que já estão mortos.

há os que temem a morte

porque só conhecem da vida

aquilo que morre.


dizem que as pessoas temem a morte

porque temem o desconhecido.

não. temem a morte porque temem a dor.

ninguém sabe se vai sofrer ou não 

depois que morrer.

esse é o grande medo.

temer o desconhecido 

é temer a possibilidade da dor.

e todo mundo teme essa possibilidade.

então no fundo 

não é nem a morte nem o desconhecido

o que se teme. 

o que se teme é a dor.

13 agosto 2020

Miniconto Metrificado

eu sinto o cheiro daquela voz de almas
entre palavras que não mais existem:
melhor dizer o que não tem sentido
e ouvir o sangue de esquecidos idos.


ali morri como se fosse um vago
e do sedento eu te acenei meus fins:
estava ao nunca sempre lá cantando
pelos presságios de um planeta doente.


então me disse o que de agora é morto
que tudo foi no que cantei sem nada.
fiz uma história em doze versos-febre:
fica pra sempre só o que não se entende.

10 agosto 2020

Bolsonaro, um Filho da Puta

 Ser FILHO DA PUTA  é isto:

ANTES: "O Brasil nunca vai chegar a 100 mil mortes por Covid,  vai ter no máximo umas 800, sigam suas vidas  normalmente,  pra que quarentena? Só idosos tem que ficar em casa, pra que fechar escolas?  Criança não pega, distanciamento social é bobagem, perder emprego é pior, blábláblá."

DEPOIS: " Eu não tenho culpa das 100 mil mortes, ninguém vai me responsabilizar, a culpa é dos governadores, é dos prefeitos,  é do STF, eu não tenho responsabilidade nenhuma.  Morreram? E daí?  Que a vida siga normal, eu não podia fazer nada, todo mundo morre, blábláblá."

Isso  é ser um filho da puta no grau mais elevado, categoria máxima de ser bosta.