17 agosto 2018

Estado x Capitalismo

Na minha visão original de mundo, não deveriam existir nem Estado nem Capitalismo. 
Porém, hoje, o Capitalismo é um fato irrevogável, e sua sede insaciável de lucro está, entre outros fatores, contribuindo decisivamente para a o esgotamento dos recursos naturais, para a poluição sem limites, para o desaparecimento das áreas naturais, levando à destruição o planeta e a humanidade. 

De modo que é necessário um Estado forte para que haja algum controle sobre o capitalismo nefasto e desenfreado de nossa civilização , e para que sejam promovidas a justiça, o bem estar e o desenvolvimento social dos povos. Assim como um mínimo de preservação ambiental. 


No Brasil, ao contrário do que as pessoas geralmente pensam, o Estado é fraco, fraquíssimo. Não acredita? Então, faça a comparação com outros países em situação melhor que a nossa:






15 agosto 2018

Soneto Romântico

gritos de gatos nas almas da rua
e pelas noites meus olhos furados
restos de veias por todos os lados
rastros de sangue daqui até a lua

denso de cosmos nos ares flutua
quartetos de Brahms se erguem pesados
Johann Goethe traz em faustos meu fado
vejo sonatas de Schubert nuas

cravado meu coração nas tormentas
e todos meus nadas num vendaval
em que se fúriam misérias sedentas

do Último Tempo me alarda um sinal
de uma história de Poe das mais violentas
em que o Sentimento é sempre fatal

(Na imagem, um dos muitos tigres de Delacroix.)


13 agosto 2018

Declaração Vazia

não há alguma nem nenhuma
nem há outra (outro) ou alternativa
nem do não lado de cá
nem no que não está por lá
nem vice-versa
nem daqui para ali
nem de mim para mim
nem de si para si
há o que se versa
há talvez a volta vasta
curva reta manca
ou largo lago claro
talvez um som um sim sem sol 
um voo um vão um raro
beijo por entre um lábio 
palavra em nota e tinta
o que eu pense e diga e sinta...

mas nenhuma ou alguma
não há
seja em gota ou em pá
há o que não é
e o jamais do que se veja
há o além do nada
e talvez o Nada Seja...

11 agosto 2018

Urgência

escrever uma palavra 
antes que a palavra acabe:
nem ao menos um poema 
que um poema nem mais há de ... 

mas viver uma palavra 
que ao menos não nem nada 
pois nem mesmo vai ser lida
malentendida entre a vida
mas sofrer uma palavra 
que já era no que foste 
e antes que o dizer se morra 
e antes que o amor se passe
(como se ele já não fosse)
dessangrar uma palavra 
antes que o humano acabe
(como se ele ainda fosse) 

te deixar uma palavra 
entre caos horror e calma
antes que se dane a vida 
e que se desescreva a alma

08 agosto 2018

Inexorável

aquilo que se faz:
sem paz
aquilo que não vem:
desdém
aquilo que não é:
nem fé

aquilo que se vai:
te foste
aquilo que se foi:
é foice
aquilo que não fui:
me fundo

aquilo que será:
já está
aquilo que não sou:
é som
aquilo que se erguer:
é o ser

06 agosto 2018

Constatações e Vírus

I- sim, o Não venceu. 
a vida tornou-se a negação da vida. 
vale mais um Puma® 
do que um puma 
cuida-se com carinho das máquinas 
esmagam-se sem pena as árvores 
há um trono para os robôs 
e uma patente para os humanos 

II- apesar dos percalços 
e dos acidentes de percurso? 
não, o pesar dos descalços 
 e do esgotamento dos recursos: 
continuamos os mesmos vírus de sempre 
eu mesmo nunca curei minha doença 
em que sou esvaído de sangue e de alma 
todos os dias 

mas a vida continua: 
ebola pra frente

04 agosto 2018

Acreditar em Gente

as pessoas não acreditam
no que creem como certo
acreditam no que precisam acreditar:
se é certo ou não
não há real interessamento

acreditam no prolongamento do que são
ou do que julgam como sendo:
acreditar é tentar ser
sendo-se ou não
e quase sempre não se é nada
ou se é em vão

tanto é
que se pode acreditar
em coisa qualquer
no que se quiser:
em paradoxos e contraditórios
em mudanças e inconstâncias
e tudo é válido e tudo pode
desde o fanático científico
o ridículo político
o enfático por bodes

de modo que acreditar
não é saber ou achar que se sabe:
é só a necessidade de se sentir alguém
um algo ou coisa ou sombra ou nada existente...

tanto que nem consigo
acreditar em gente

02 agosto 2018

Então, o Mundo Mudou?

"o mundo mudou!”
grunhem os deslumbrados despercebidos
mas não: o mundo imundou
na sua velhice
acrescentou-se o decréscimo
decretou-se o decrépito
os sinais asnais decadênticos
idênticos
às imundícies

o mundo inundou(-se)
de tanto quanto nada
o mundo afundou
nos buracos asfálticos
das quânticas faltas
da sua (des)estrada
em desespero
a um deserto em desastre

o mundo
tem o mesmo endereço:
o dinheiro é a entrada
e o Fim
é só o começo

31 julho 2018

O Começo do Fim de Bolsonaro

Infelizmente, o assunto de hoje é a participação de Bolsonaro no programa Roda Viva da TV Cultura.

Há dois tipos de pessoas que chamam a atenção. As grandes pessoas, por seus grandes feitos, criações, realizações e\ou pensamentos e os grandes medíocres, por seus enormes absurdos e imensas tolices. Este último é o caso de Jair Bolsonaro. Tanto que conseguiu uma legião de seguidores, uns por serem como ele, outros por estarem iludidos e não procurarem sair da ilusão. E é isso que preocupa e deve ser analisado, ainda que Bolsonaro não vença as eleições. E é quase certo que não vencerá, devido a sua flagrante ausência de inteligência. Vejam bem, ele perderá não tanto pelo que defende, mas porque é burro. E isso é o mais perigoso.

Ontem, assisti de 10 a 15 minutos à sabatina de Bolsonaro. Foi ao mesmo tempo hilário e deprimente a quantidade de bobagens e absurdos pronunciados por um só homem em tão pouco tempo. Nunca vi coisa igual. Nesses menos de 15 minutos,  escutei de Bolsonaro (paráfrases):

1) "É preciso, nas favelas, separar quem é bandido pra um lado e quem é povo pra o outro e atirar nos bandidos". Meu Deus, como alguém pode ter uma ideia dessas? Já estou imaginando os policiais: "O senhor é bandido? Passa pra ali que vamos lhe matar. E o senhor, é povo? Então vai pro outro. E fique aí."

2) Bolsonaro: "Eu tenho mais de 500 projetos!" 
 Jornalista: "Não, são 170, e só 2 foram aprovados." Bolsonaro: "Que seja!" . 
A isso, eu chamo de fanfarronice. Um fanfarrão é um cara que acha que faz e acontece, e todo mundo acredita, e, na verdade, não faz nada.

3) Jornalista: "O senhor é contra, e até agressivo, nas suas posições contra determinados grupos sociais, mas tem um grupo social que o senhor nunca é contra e nunca fala nada: os banqueiros."

Bolsonaro: "Eu não sou contra banqueiros, eles são trabalhadores". 
Aham, claro, vamos dizer isso para os milhares de pequenos agricultores brasileiros que perderam plantação, terra, casa, tudo, por dívidas com bancos, só para dar um exemplo. Com essa declaração, Bolsonaro quer dizer que é contra grupos sociais pobres e a favor dos ricos, e NADA fará para combater a desigualdade social, que é o pior problema brasileiro.

4) Jornalista: o senhor se queixa muito das fake news, mas é um dos que mais as espalham. O senhor espalhou que o jornalista (não lembro o nome) era um guerrilheiro, quando na verdade ele nunca foi, e está provado que não.
Reação do Bolsonaro: cara de nojo.

5) Jornalista: está na Wikipédia que o senhor não foi promovido no exército por que era muito autoritário, agressivo, intolerante, arrogante (e outras coisas que não lembro) com seus subordinados. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
"Ah, alguém deve ter botado lá."

6) Bolsonaro: "A solução para o desemprego no campo é os camponeses acharem outra coisa pra fazer."

E isso foi o que vi em menos de 15 minutos. Óbvio que há muitas outras barbaridades expelidas por Bolsonaro ao longo da fatídica 1 hora e meia do programa.  Como a da escravidão, em que afirmou que os portugueses "nunca pisaram na África" e que os africanos se entregavam para a escravidão por livre e espontânea vontade. E esse cara quer ser presidente. E, pior,  há quem vote. Felizmente, Bolsonaro começou a se enforcar com a própria corda.

29 julho 2018

Mundo de Plástico

essas vidas de plástico
prenhes de macio e mentira
em que somos só o plástico da superfície
cheios de cores e vazios de vida
artificiais e poluentes
petrolíferos e descartáveis
carburantes e recicláveis
saídos diretos da fábrica
moldados como sendo só máscara
já prontos trazidos da fôrma

não somos mais do que plástico
enterrados inúteis na terra
a desgraça de oceanos e rios
a tragédia de riachos e mares
assassinos de tudo que vive

pedaços de plástico pisados por Deus
não valemos coisa nenhuma
não somos mais que a sujeira
largada por imbecis
no meio do abismo da estrada...
o abismo
e mais nada.

26 julho 2018

Fuga

um verso
vazio
de nada
de adaga
de longe
largado
ao largo
ao vago
que sangra
em adágio
por água
que pedra
nenhuma
perturba
e afaga
nem nada
o (a)tinge
no lago
sem fundo
de selva
sem sonhos
de sopro
distante
que nada
infringe
nem sábio
só silvo
serpente
de sono
se esquece
se fogo
se ascende
e ao fim
não disse
nem algo
nem vale
nem verso
nem nada

24 julho 2018

Fim de Papo

à história
restam poucas páginas
à ciência
restam poucas mágicas
à palavra
restam poucas sílabas
aos senhores
resta pouca lógica
ao dinheiro
restam poucas fábricas
ao futuro
restam poucas dúvidas
ao amor 
restam poucas músicas
à esperança
restam poucos túmulos
aos humanos
restam poucas décadas

22 julho 2018

País de Palhaços

país de palhaços
de micos de mitos de mulas
panelas e patos e pulhas
palco aos estilhaços
de circo de cerca de esterco
cagadas de merda por todas as pias
lavadas de morte por todos os dias

país de palhaços
de patriotadas patotas patetas
inferno do pobre e do bicho
paraíso do lucro e do rico
país de burros
dos bundões machões e das bundas
dos estúpidos latifúndios
de capitalistas sem fundo

país das águas, de garças, desgraças
gigante adormecido por veneno
vagabundo moribundo
enforcado pelo resto dos cipós
das atlânticas matas:
de ti só amo aquilo que tu matas
pátria que nada disse nada ouviu nada viu
vai à puta que Brasil!


20 julho 2018

de Música e de bebida

se tudo já foi dito
e nada tem adiantado
restam o tudo ou nada e o trago

se a vida perdeu sentido
e é estúpido o amanhã
resta a vida sem manhãs de Chopin

se tudo que foi arte
hoje é fim de caminho
restam a arte o fim e o vinho

se o mundo é uma taça vazia
nem mais importa o que tu ames
resta a taça (o que está dentro...) 
e resta Brahms

18 julho 2018

Doença da Observação

I - é preciso se ir contra os humanos
se queremos nos tornar mais humanos
só se faz algo pela humanidade 
quando se combate a humanidade

II - acreditar no ser humano
é uma doença da observação:
acreditar na humanidade 
é a ausência de se olhar no espelho

16 julho 2018

Definição Breve de Artista

ser artista é destruir-se:
só se alcança o sentimento alheio
destruindo o sentimento próprio. 
mas não por destruí-lo
e sim por excedê-lo
e além do excedê-lo
que é o esgotá-lo.

13 julho 2018

Receita de um Homem de Bem

se começa não se olhando no espelho
depois já nem vê
mais os próprios defeitos
e nem se faz mais nenhuma cagada
(fisiológica inclusive, na privada)

depois só vê em si qualidades
entre reais fictícias hilárias fiasquentas

então já é quase perfeito
e sabe que é rico não sendo
e sabe que pode nada podendo
e não fala palavrão nem fodendo

depois já se julga melhor que todos
capaz de tudo que é bom
capaz de nada que é ruim

de modo que já pode (e deve) julgar os outros
(os outros, aqueles inferiores)
e decidir quem presta quem não
(como um favor que faz à nação)

e quer aplicar punições castigos
sabe o que pode o que é proibido
“se não fizer aquilo que digo”

depois se puder matar
(visto que é homem divino)
tanto melhor:
“eu decido quem é bandido”

pronto:
está formado um herói da pátria 
um homem de bem:
bem fanático
bem ridículo 
e bem fodido

Finais da Copa 2018: palpites

Para a final da Copa, acertei França, errei Croácia. O jogo entre Inglaterra e Croácia foi um dos melhores jogos da Copa, equilibradíssimo e empolgante, com chances para os dois lados a todo momento. A Inglaterra dominou o primeiro tempo, a Croácia equilibrou no segundo e dominou na prorrogação. O que me surpreendeu, porque a Croácia vinha de duas prorrogações seguidas, mas superou o cansaço e derrotou a Inglaterra com persistência e muita garra. Embora meu palpite fosse Inglaterra, torci para a Croácia. 

Mas na final, vou manter minha coerência: vai dar FRANÇA. E também torço para a França. Acho que a Croácia já fez a sua Copa e atingiu o seu limite. A França vai muito mais descansada, conta com um time mais talentoso, mais rápido, é tão bem montada como a Croácia e tem a tradição a seu favor. E, como tenho dito: o time da França não vem cometendo erros.  Na disputa do Terceiro Lugar, aposto na Bélgica. Não há dúvida de que a Bélgica é mais time que a Inglaterra, assim como a França é mais time que a Croácia. No entanto, é claro, melhores times nem sempre vencem.

11 julho 2018

O Oprimido não se julga Oprimido

I - o oprimido não se julga oprimido
porque acostumou-se com a opressão:
oprimir é fazer-se acostumar
depois que se acostuma tudo se torna bom
e se vive só de pão.

II - opressão é convencer o oprimido 
de que ela não existe
a não ser de longe: 
o oprimido só vê os outros
como oprimidos.

III - “saber o seu lugar"
é o lema da opressão.

IV – o objetivo da opressão
não é mais fazer escravos.
escravos ainda estão vivos.
o objetivo atual da opressão 
é transformar pessoas em máquinas.

08 julho 2018

Paisagens (também) Rio-Grandenses

a desolação sem fim das lavouras de soja
o sangue (e o cheiro) dos zurrilhos esmagados nas rodovias
as matas ciliares que acabam em três metros
as dunas de areias dos rios assoreados
as fendas gigantes das erosões pelos campos
o colorido sujo dos plásticos na beira das sangas
as névoas cinzentas nos horizontes queimados
os desertos verdes das plantações de eucaliptos
o alastramento do caos das misérias urbanas...

a estátua do laçador enforcada num angico seco