29 março 2016

Culto do Agora, de Therezinha Lucas Tusi


A poeta, sim, poeta, não poetisa, e amiga, Therezinha Lucas Tusi, falecida ontem, teve uma vida semelhante à sua obra: de simplicidade, sinceridade, de grande energia vital, de coração, de alma. E as melhores obras são as que se assemelham ao seu criador. E o tocante poema a seguir, de sua autoria, selecionado do seu livro "Afinidades", confirma minhas palavras:

Culto do Agora


Não tardemos jamais o gesto da mão
estendida a outra mão.
Quando para carinho,
quando para perdão.
Não calemos jamais a palavra sincera,
a palavra que encanta.
Não a deixemos morrer na garganta.
Não baixemos os olhos, se há neles ternura.

A mão que espera, o ouvido que escuta,
os olhos que buscam
quem sabe depois não estarão mais abertos.
O momento seguinte é tão incerto!


27 março 2016

A palavra vale mais do que o ato

é, vale mais
porque antes de qualquer ato
há algo 
que foi ditado
em palavras
naquilo que em nós
se pensa e sente

o ato
é filho do Verbo
e o Verbo é que alto

é a palavra que deixa o rastro
é ela que diz o “Faça-se.”:
quanto maior é a palavra
mais vasto é o ato
que obedece
à sua vontade
e o próprio som
é Verbo cristalizado

e só restará um som desolado
e uma palavra de fúria
quando o Faça-se
se fizer ao inverso

por isso deixo que tu vás
palavra
como aquela
(a ela)
do meu verso





25 março 2016

A NASA e o óbvio: colapso da civilização: exploração insustentável e desigualdade social

Já escrevi que nossa ciência atual é pródiga em provar o óbvio. E a ciência acaba de afirmar outra obviedade através de um estudo encomendado pela NASA (Agência Espacial Norte-Americana) e realizado pelo Centro Nacional de Síntese Sócio-Ambiental, dos EUA. Dessa vez, o óbvio, o evidente, o ostensível é que nossa civilização sustentada principalmente pelo consumo pode entrar em colapso total e irreversível dentro de pouco tempo.

Venho escrevendo sobre o assunto, ou utilizando o assunto como tema de poemas, contos, desde antes do ano 2000. A maioria das pessoas não se importam com isso. Acham que a civilização é eterna, assim como, inconscientemente, todo mundo pensa que nunca irá morrer. Não é preciso ser um gênio para dar-se conta que caminhamos rumo ao abismo, que nossa forma de vida é absurda e que não poderá se manter por muito mais tempo.

O estudo destaca que as principais causas do colapso futuro seriam a exploração insustentável de recursos naturais e o aumento da desigualdade na distribuição de renda. Esta desigualdade, velha conhecida dos brasileiros. não só é a principal causa dos problemas sociais, mas está intimamente relacionada a um consumo excessivo de recursos, segundo o estudo. Também é outra obviedade: pessoas que têm dinheiro demais acabam por consumir demais, gerando um mercado para toda série de quinquilharias supérfluas comercializadas à exaustão, tudo a preço da destruição planetária. 

O estudo da NASA afirma que as elites mundiais tendem a consumir cada vez mais recursos naturais, privando outras classes sociais desses recursos. Chegará o dia em que nem mesmo as elites terão recursos para si, recursos, diga-se de passagem, produzidas pelas classes mais baixas, que, depois, nem pode  usufruir do que produzem.

Uma civilização estúpida e predatória, onde os pobres sustentam os ricos, deve entrar em colapso o quanto antes mesmo. 

Fonte: The Guardian

23 março 2016

o que mata não é a morte

o que mata não é a morte:
o que mata é a vida
que não é vivida

o que mata não é o trem:
é o trilho
do qual nunca se sai

o que mata não é o erro:
é o certo
que sempre se faz igual

o que mata não é a dor:
é o ter que ser feliz
só para mostrar que se é

o que mata não é a vida:
o que mata
é o que se acha que se precisa
para se viver




21 março 2016

Em nome de Bach, Beethoven, e de Johannes Brahms

Johann Sebastian Bach, nascido na Alemanha em 21 de março de 1685 (ou 31 de março, conforme o calendário em vigor na Alemanha na época) é considerado por muitos, ao lado de Beethoven, como o maior compositor de todos os tempos. Por ser anterior a Beethoven e criador de uma obra assombrosa seja em número, seja na forma, seja no conteúdo, que serviria de base estrutural para gerações futuras, inclusive em nossos dias, Bach é comparado a Deus. Mas não só por isso. É comparado a Deus pela insuperável profundidade psíquica de suas criações, e pelo teor espiritual único, inigualável, de sua vastíssima obra sacra. Suas composições, "O Evangelho Segundo Bach", como costumam ser chamadas, também em alusão às suas Paixões (obras que narram e expressam a Paixão de Cristo, sendo "A Paixão Segundo São Mateus" e a "Paixão Segundo São João" as maiores e melhores), são obras de um caráter verdadeiramente sobre-humano, monumentos ao amor universal, capazes de tocar até os mais empedernidos corações. 

Por isso também se fala na "Santa Trindade" da Música, sendo Bach o Pai, Beethoven, o Filho e Brahms, o Espírito Santo. Claro que isso se trata mais de uma brincadeira, fundamentada na grandiosidade e nas ligações artísticas desses três gênios (Brahms, por exemplo, é visto como o compositor que melhor soube combinar os estilos de Beethoven e de Bach). 

Foi pensando em tudo isso, e, claro, desejando fazer uma humilde, mas sincera, homenagem a Bach, é que escrevi, ano passado, o poema a seguir. Republico-o hoje, aniversário de 331 anos desse imortal gênio da música. 

Em Nome de Bach

Bach Nosso que estais nos Sons 
interpretadas sejam as Vossas notas
venham a nós os Vossos concertos
sejam erguidas  as Vossas cantatas
assim nas casas como nas almas

a Paixão nossa de cada dia
nos elevai hoje
perdoai as nossas supérfluas
assim como nós perdoamos aos que não têm te ouvido
e não nos deixeis ouvir música em vão
mas ensinai-nos a amar

em nome de Bach
Beethoven
e de Johannes Brahms

Amém.


19 março 2016

de meu resto de alma

um poema-não
não do tempo
de artes altas

de meu resto de(s) almas
só deixo nacos de nadas
de fim de festas
de sim de faltas

faz parte...
que a arte
agora é ínfima
ínfera inferna
de um vazio de peito
de um afundar de perna
inferiorda desinterna

ah deusa arte
adeus
quando te fores
de inf-arte




17 março 2016

da Arte de Não-viver


as pessoas confundiram viver
com o que se faz para viver:
vive-se para o meio
e nunca se chega a um fim

as pessoas confundiram vida
com o preço que se paga pela vida:
apenas se paga o preço
e não se vive

o objetivo da vida
tornou-se o cansaço
e o sentido
o descanso
para que se atinja de novo
o mesmo objetivo
a se cansar

ou seja
vive-se
para se preencher o vazio
de não viver





15 março 2016

Como destruir a Educação de um Estado em 10 lições (com Prof. Sartori)


1 – Dê aumento para si e para todos os seus, inclusive deputados e secretários, e em seguida congele e parcele os salários dos servidores públicos.

2 – Transmita a visão de que os professores são os carrascos da educação pública, de que trabalham pouco e não se sacrificam como deveriam por sua profissão, e que, aliás, ser professor é mais um sacerdócio do que uma profissão.

3 – Coloque a sociedade contra os servidores públicos, fazendo-a acreditar que sem os servidores o estado estaria melhor, e que eles são os responsáveis pelos aumentos de impostos.

4 – Mantenha as injustiças dentro do serviço público, com servidores recebendo  salários absurdos: alguns, absurdos de tão alto, outros, absurdos de tão baixo.

5 – Fique meses sem repassar verbas para as escolas, e que elas se virem do jeito que der.

6 – Mantenha um clima de hostilidade contra os servidores, inclusive com ameaças de demissão caso “não se faça o que o patrão quer”.

7 – Terceirize a educação e a entregue nas mãos gananciosas e inconsequentes da iniciativa privada.

8 – Não só não cumpra a Lei do Piso Nacional, mas também inflija um arrocho salarial histórico, com garantias de que NÃO haverá aumentos por 4 anos.

9 – Não combata a corrupção (leia-se sonegação fiscal), que, se evitada, poderia aumentar a receita e possibilitar maiores investimentos em educação.

10 – E, por fim, após ter garantido as benesses a si e aos seus, construa um discurso de que a educação é prioridade, de que tudo o que está sendo feito é para o bem do povo gaúcho e que esse “bem” exige o sacrifício de todos (menos o do governo e seus deputados).


13 março 2016

"Onze anos como um tiro na cabeça. Eu tinha visto o emprego devorar os homens."


Cartas na Rua é o primeiro romance de Bukowski, e um dos seus melhores. É uma obra carregada de humor ferino e desprezo pelo estilo de vida americano e pela sociedade em geral. O livro conta as suas experiências como funcionário dos correios dos EUA, abordando temas como a exploração do indivíduo pela sistema capitalista, a solidão, a falta de sentido na vida e a mecanização do homem moderno. Tudo permeado de uma sinceridade cruel e de hilárias ironias. Ler Bukowski é dar-se conta de que a civilização que criamos não tem nenhum fundamento. A seguir, um trecho do romance, em que o "Último Maldito" reflete sobre os efeitos inúteis e destrutivos do trabalho:

"Onze anos! Não tinha dez centavos a mais no meu bolso do que quando entrara ali pela primeira vez. Onze anos. Embora cada noite tivesse sido longa, os anos passaram rápido. Talvez por se tratar de um serviço noturno. Ou por fazer a mesma coisa vez após vez. 


Onze anos como um tiro na cabeça. Eu tinha visto o emprego devorar os homens. Eles pareciam derreter. Lá estava Jimmy Potts do Posto Dorsey. Da primeira vez que cheguei lá, Jimmy era um cara musculoso em sua camisa branca. Agora estava liquidado. Colocava seu banco o mais próximo do chão possível e se agarrava para não cair. Vivia de tal maneira cansado que nem cortava o cabelo e usava a mesma calça há três anos. Trocava de camisa duas vezes por semana e caminhava bem devagar. Tinham-no assassinado. Estava com 55 anos. Faltavam sete para ele se aposentar.
- Nunca vou conseguir -  ele me disse.

Ou derretiam ou engordavam, enormes, especialmente na bunda ou na barriga. Era o banquinho, e os mesmos movimentos e a mesma conversa. E lá estava eu, sofrendo de tonturas e dores nos braços, pescoço, peito, por toda parte. Dormia o dia para conseguir descansar e estar apto ao trabalho. Nos fins de semana tinha que beber para esquecer a rotina. Eu pesava 83 quilos quando cheguei. Agora estava com 101 quilos. A única coisa que você mexia por ali era o braço direito."

(Na imagem, "Evening on Karl Johan Street" de Edvard Munch.)

11 março 2016

Lula e a Justiça Brasileira



A Justiça Brasileira é permeada de momentos vergonhosos. Vergonhas que datam de séculos. A condenação de Tiradentes, por exemplo, no século XVIII, salta aos olhos pelo absurdo da sentença, que condenou até mesmo seus netos. No século XX, salvo algumas louváveis exceções, nosso Judiciário não passava da rameira da ditadura militar, subserviente, covarde e conivente com os crimes cometidos em nome da “ordem”. Recentemente, juristas escandinavos tacharam de “inaceitável e absurdo” que magistrados brasileiros estivessem obtendo e “achando bom” tantas regalias, como o infame auxílio moradia, em um país onde a desigualdade social é revoltante.  E a desigualdade social é a origem de quase todos os problemas de uma sociedade. Logo eles, os magistrados, que deveriam dar exemplo de retidão e dignidade. Aqui em Santa Maria, no RS, temos o caso da boate Kiss, cujas decisões da justiça vêm causando uma onda de indignação.


Uma justiça em que não se confia , que não é imparcial, onde um lado da balança pesa mais do que o outro, não pode ser chamada de justiça. Ninguém, em sã consciência, vai levá-la a sério.
Agora, quando o assunto é Lava-Jato, até mesmo uma criança de 3 anos percebe a magnitude da parcialidade do que chamamos de Justiça Brasileira. Está claro, ostensível, escancarado, que a balança só pesa para um lado. Para agradar a opinião das elites e da grande mídia, condena-se de antemão somente uma pessoa, o ex-presidente Lula, como uma forma de se dizer: “Viu, eu não disse? Toda a culpa é de Lula e do PT.”

Obviamente, irão dizer que estou defendendo Lula e seu partido. É que vivemos um momento em que toda análise ou opinião que não diga “Toda a culpa é do Lula e do PT” é vista como defesa dos mesmos. Nunca votei no Lula, nem na Dilma, em um 1ºturno de eleições. Sempre votei em partidos menores e mais radicais. Votei no PT em segundos turnos, onde as opções eram, geralmente, PT contra PSDB. Nesse caso, não tenho a mínima dúvida de em quem votar.  E para falar a verdade, sou contra governos. Sou um anarquista, na minha visão, governos não deveriam existir, nem grandes empresas, nem grandes extensões particulares de terra. E quem acompanha meus escritos já deve ter se dado conta.

Portanto, não tenho porque defender o PT. Julgo, com o direito que tenho de opinar, o governo Lula como o melhor, ou menos ruim, governo que o Brasil teve após o golpe de 64. Teve erros? Muitos. Fez tudo o que se propôs a fazer? Não. Decepcionou? Sim. Houve corrupção? Óbvio. Mesmo assim, foi o melhor. E o motivo é muito simples: ninguém fez mais do que o governo Lula pelas questões sociais, pela redução da desigualdade, no Brasil, desde o governo de Jango. Até porque os demais fizeram muito pouco ou quase nada. Alguns não querem admitir o fato. Mas não deixa de ser fato.


Dito isso, vamos a outros fatos. Lula deve ser investigado? É ostensível que sim. Se for provada sua culpa, deve ir para a cadeia? Só um idiota diria que não. O PT tem culpa no cartório?  Acreditar no contrário é, no mínimo, uma ingenuidade. Só o PT? Todo mundo sabe que todos os grandes partidos estão envolvidos em corrupção, e não é pouca coisa, e não é de hoje. A corrupção nunca foi tão grande com o PT? Não sei. Porque a corrupção durante a ditadura era totalmente acobertada pelo próprio governo e pela mídia. E pior que acobertada: foi mantida às escuras pela censura, pela tortura, pela extradição, pela morte. E os escândalos de corrupção de outros governos, como o de FHC, Collor, Sarney já estão completamente esquecidos, as investigações não foram levadas até o fim, ou foram abafadas, a divulgação pela grande mídia sempre foi bem menor do que está sendo agora. Porque a grande mídia, somente um débil mental não sabe, defende os interesses das elites, pois a grande mídia é da elite. E as elites estão vibrando em ver o PT metido em corrupção, como elas, as elites, sempre estiveram. Foi assim que enriqueceram e se mantiveram no poder. As direitas, que defendem os interesses dos ricos (e que convencem muitos pobres a defendê-las), das grandes empresas, dos latifundiários, dos conservadores, daqueles que querem manter o status quo, porque esse status quo lhes favorece, sempre odiaram o PT. Porque afirmam, entre outras coisas, que o PT “dá” dinheiro para pobres. Não aceitaram perder o poder, que era seu desde a ditadura. 


Não que o PT tenha sido um exemplo de esquerda. Mas foi melhor que qualquer governo direitista, com sua fachada de “ordem e progresso”, que tenha governado o Brasil nos últimos 50 anos. Por essas e outras é que a nossa justiça, que sempre foi elitista, direitista e conservadora, com raras exceções, quer agora colocar a culpa de tudo somente no PT. Que necessidade havia de Lula ser algemado para depor? Só a necessidade da mídia de mostrar um showzinho para os que não querem saber de justiça, querem saber de ver o Lula preso. Lula foi citado por delatores uma única vez. O que já é muito. Mas Aécio, apenas para ficar no “heroí” de muitos que dizem “lutar contra a corrupção”, já foi citado 5 vezes. Onde está o showzinho da “prisão” de Aécio? Eduardo Cunha, que queria o impeachment da Dilma, usando um termo popular, está mais sujo do que pau de galinheiro. Ainda não vi Cunha sendo levado a força e algemado para depor. A quase totalidade da bancada do PP gaúcho na Câmara foi citada na Lava-Jato. Alguém viu algum mandado de prisão preventiva contra algum desses nobres políticos? De modo que repito: a balança está pesando só para um lado. Nossa justiça continua fazendo seus fiascos. 



09 março 2016

mundotrágico

motosserras
motocerros
motossangas
matamorros
matassorros
matadouros

maremotos
maresmortos
maresmudos
mardemonstros
mardemedos
mardemerdas

amazônico
mal-ozônico
magrocórrego
agrotóxico
agrotúmulo

mundocômico

07 março 2016

Concordas?

de nada adiantam
os teus coros a quatro vozes
levados aos quatro ventos
já tantas vezes
já tantas fezes

ou os teus acordes
com cordas
no pescoço
ou as notas da tua missa
que a massa
nem mais nota

humanidade... é inútil:
tu nem acordas
nem tens concerto



05 março 2016

Nível dos mares está subindo e pode elevar-se em mais de 1 metro nas próximas décadas

A notícia divulgada em fins de fevereiro sobre os estudos de cientistas norte-americanos sobre a recente elevação do nível dos oceanos e publicados em revistas científicas dos EUA parece não ter chamado muito a atenção dos brasileiros, preocupados que estão em prender o Lula e deixar o Aécio solto. 

Sou um dos caras que mais enche o saco dos otimistas sorridentes bem-sucedidos, dos crentes na inocência e sublimidade do nossa magnífica e avançadíssima civilização. Agora tenho mais uma postagem para incomodá-los. Claro, eles vão dizer que é tudo mentira, um complô de alguns que estão interessados em acabar com a inocente indústria do petróleo e em denegrir a imagem humana para dar motivos à invasão dos alienígenas.


Bem, a seguir, alguns trechos da mentira deslavada (ou melhor, muito bem lavada nas águas dos oceanos):


"O nível dos oceanos subiu mais rapidamente ao longo do século XX do que nos três últimos milênios, devido às alterações climáticas, indica um estudo publicado na segunda-feira.

Entre  1900 e 2000, os oceanos e os mares do planeta subiram cerca de 14 centímetros, por causa do degelo, principalmente no Ártico, revelaram os autores de estudos publicados na revista científica norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Os climatólogos estimaram que, sem a elevação da temperatura do planeta observada desde o início da era industrial, a subida do nível dos oceanos teria correspondido a menos da metade observada nos últimos cem anos.

O século passado “foi excepcional em comparação com os últimos três milênios e a elevação no nível dos oceanos acelerou nos últimos 20 anos”, disse Robert Kopp, professor do departamento de Ciências da Terra da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, Estados Unidos.


Os investigadores também calculam que o nível dos oceanos pode aumentar “muito provavelmente" de 51 centímetros para 1,3 metro durante este século "caso o mundo continue a ser tão dependente de energias fósseis'."

Aqui, a notícia completa.


03 março 2016

e eu rio

os humanos falam
em planos metas objetivos
e nem sabem
se estão vivos

querem chegar a um ponto
e quando chegam (se chegam)
é só isso
e pronto

o que a vida nos ensina
é que não somos nós
que levamos a vida:
é a sina

as pessoas babam
em planos metas objetivos
e eu rio:
não sabem que o único plano
é ao que nos leva as águas sábias
do rio

01 março 2016

de Quando Morreste*

quando morreste
não que tiveste morrido
mas nem soubeste
o que houveste de vivo
ou que nem és o que foste
e talvez nem foste
o que em ti te morreste:
não tiveste sede
e cedeste

acabou-te o olhar
bem antes do acima
(per)deste-o abaixo
a palmo por palmo
do sonho enterrado
errado

agora
(con)tentaste
em varrer o teu pó
(so)correm-te astros
pelo (v)entre das coxas
e vomitaste nas mesas
entre polenta e certezas
as (des)entranhas já roxas

e sorrias
como quem pensa que ama
deixando à mostra
pelo véu da boca
uma pérola de ostra
e um (re)pasto de lama

e nem há arte
que possa falar-te

*Poema reelaborado e republicado

28 fevereiro 2016

A Literatura feita no Brasil hoje: Chatice e Sorrisinhos

A literatura nacional encontra-se na sua pior fase. Os bons escritores e poetas, os realmente bons escritores e poetas, são raros. Na poesia, entre os mais conhecidos ainda vivos, são bem poucos os que aprecio. Gosto de Affonso Romano de Sant'Anna, Adélia Prado (até por ali), Ferreira Gullar da fase antiga (todos já bastante velhos). Gostava do Manoel de Barros, falecido há pouco, esse sim um grande poeta. Aprecio um pouco também Carlos Nejar, o que não se pode dizer o mesmo de seu filho, Fabrício Carpinejar, um chato de carteirinha. Mas nenhum desses poetas realmente me entusiasma. 

Considero a literatura feita hoje em dia no Brasil, de uma forma geral, claro que sempre há exceções, de uma convencionalidade temática entendiante, e mais ainda, de uma quase total ausência de força, de "pegada", de visceralidade.  Seja na poesia, seja na prosa. É tudo quase sempre muito certinho, comportado, "bonitinho", parnasiano ou piegas. Com algumas louváveis exceções (muitas vezes sem o devido reconhecimento), nossos escritores gostam de ficar passando mensagenzinhas positivas, "construtivas", em prol da "ordem e do progresso", da "edificação" da moral, do "saber levar a vida", enfim, aquela coisa de escrever com sorrisos e simpatia, que não funciona mais em nosso mundo caótico e decadente. Ou então, caem em intelectualismos vazios e insuportáveis. É tudo de uma chatice homérica.  

Faltam aos escritores e poetas brasileiros em geral a agressividade, a perturbação, a maldição, o marginalismo necessários para se dizer algo que valha nos nossos tempos. Falta a sinceridade do que se diz, é tudo infestado de pompas e artificialismos. Nossa situação nas Letras é dantesca. 

E a crítica literária no Brasil é mais imbecil ainda: premia esse tipo de literatura até a exaustão. É só ver quem faz parte da nossa magnânima "Academia Brasileira de Letras".  Olhem com atenção na foto acima: Sarney, Funaro, Roberto Marinho, FHC... É só ver quem são os escritores premiados por aqui. Por exemplo: a mediocridade de um David Coimbra, que só escreve merda. 


Em termos de literatura, nossos hermanos, os argentinos, nos dão de 10x0. Os brasileiros que escrevem deveriam seguir o conselho de Bukowski (um tipo de escritor que o Brasil nunca produzirá), que está em seu poema "então queres ser escritor?":


"a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças."

25 fevereiro 2016

do Lado Bom da Vida

o melhor da vida
é que tudo que fosse vivido
não fosse vivido como sendo
só aquilo que é
mas como algo que estivesse além
como se no momento que se vive
se vivesse um outro alto
mais profundo e mais do ser

como se no momento que se age
se sentisse que há um sonho
que só em sonho vem

ah quem dera eu pudesse
que em qualquer algo que eu faça
ou com qualquer alguém que eu fale
eu tivesse (somente em mente e alma)
os efeitos de uma taça

                             

23 fevereiro 2016

Bairrismo e Atraso


Desde janeiro deste ano, estou morando em Santa Maria. Percebo como os santa-marienses são menos bairristas que os santiaguenses. Não que não tivesse percebido o bairrismo santiaguense antes. É algo que salta aos olhos. Mas agora resolvi escrever um breve comentário a respeito. 

A verdade é que Santiago é uma das cidades mais bairristas do RS. Os gaúchos em geral são bairristas. Para a grande maioria dos santiaguenses, tudo que é de Santiago, ou está em Santiago, ou é feito em Santiago, ou vem de Santiago, enfim, é o melhor que há. É claro que algumas vezes pode ser assim mesmo. Mas também é claro que muitas vezes não é. Mesmo assim, o bairrismo santiaguense não deixa ver, ou, se deixa, não quer admitir.

Considero o bairrismo uma qualidade mais negativa do que positiva. Não sou bairrista. Já fui bairrista pelo RS em dias passados. Deixei de ser. Não penso, como muitas pessoas, que bairrismo é necessariamente uma demonstração de amor pela terra. É, antes, uma ausência de senso crítico, uma cegueira, uma espécie de fanatismo, enfim, uma burrice.

O bairrista acaba por não ver ou não querer ver os defeitos da sua cidade, estado, região, enfim. Consiste num tipo de patriotismo utópico e estúpido localizado. Quem não vê os defeitos, ou se faz que não vê, não pode ou não quer corrigi-los. Se não os corrige, não avança, não sai do atraso, não percebe em que ponto as coisas podem ser melhoradas, não identifica onde estão os erros. E, se tudo é bom, se tudo está bem, para quê mudar? Uma pessoa que "se acha" tanto, que não percebe seus próprios defeitos, acaba, um dia, caindo, sendo vítima desses mesmos defeitos. 

O RS, os gaúchos, sofrem de um bairrismo crônico há décadas. E há décadas o RS vive uma inegável decadência sócio-econômico. Estou certo de que as duas coisas estão relacionadas. Falta autocrítica aos gaúchos, como falta aos santiaguenses. E, quando alguém, no meio de bairristas, realiza essa crítica, a percepção do que está errado, é mal visto, é criticado por querer mudanças, é, até mesmo, odiado.  Bairrismo é atraso.




21 fevereiro 2016

"Onde me encontro nada me convida"


Fernando Pessoa foi uma fonte inesgotável de poesia. Era, na poesia, algo como Mozart na música: a arte fluía desses gênios desde muito cedo (desde a infância) e de forma assombrosamente abundante, numa inspiração quase sem interrupções. Viveu quase que exclusivamente para a poesia como Mozart viveu quase exclusivamente para a música. Ainda hoje, são encontrados obras inéditas de Fernando Pessoa,  o maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores de todos os tempos. Abaixo um dos seus perfeitos e enigmáticos sonetos:

Quem me roubou...


Quem me roubou quem nunca fui e a vida?
Quem, de dentro de mim, é que a roubou?
Quem ao ser que conheço por quem sou
Me trouxe, em estratagemas de descida?

Onde me encontro nada me convida.
Onde me eu trouxe nada me chamou.
Desperto: este lugar em que me estou,
Se é abismo ou cume, onde estão vinda ou ida?

Quem, guiando por mim meus passos dados,
Entre sombras e muros que me deu
A súbita fusão dos mudos fados?

Quem sou, que assim me caminhei sem eu,
Quem são, que assim me deram aos bocados
À reunião em que acordo e não sou meu?


Fernando Pessoa (que na imagem acima está preparando a alma para criar mais arte.)

19 fevereiro 2016

A Humanidade é uma Piada

a humanidade
é uma grande piada
(se alguém de fora
nos observa
mais ri do que chora)

Deus é um irônico
o homem é um ridículo:
a ciência é como um lunático
que sonha em dominar o cósmico
sem ter limpado a própria bunda:
a ciência é dos histriônicos
o mundo é dos homúnculos

a humanidade
é uma gargalhada:
governos, autoridades
são mais babacas
do que o povo de palhaços
que vive de cagadas

o ser humano é uma piada
mais desgraçada
a cada ano
só não é piada
a arte
porque nem vem do humano