Sou um grande apreciador de William Blake (1757 - 1827), de sua literatura e de sua pintura. Blake era um gênio, um louco, um inspirado no sentido mais amplo e mais absurdo da palavra. Entendam-me como quiserem. Foi um dos precursores do Romantismo. Mas sua obra está além de uma classificação de período. Ainda hoje compreendê-lo é uma tarefa difícil, no mínimo. Foi um mensageiro de coisas para as quais geralmente não há mensageiros. Compartilho com os leitores o magnífico poema abaixo e o misterioso quadro "Satã Contemplando o Amor de Adão e Eva".
O Tigre
Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?
Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos ?
Sobre que asas se atreveu a ascender ?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo ?
Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração ?
E quando teu coração começou a bater,
Que mão, que espantosos pés
Puderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui ?
Que martelo te forjou ? Que cadeia ?
Que bigorna te bateu ? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores ?
Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação ?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou ?
Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?
William Blake