aqui estou perdendo meu tempo
(mas como diria Fernando Pessoa:
o que é o tempo para que eu o perca?)
e com prazer perco meu tempo
aspirando pelo nariz o delicioso
veneno de um cigarro
despejando pela garganta o consolo
delirante de um vinho...
tocando em sonhos absurdos
buscando as antigas inspirações
que não inspirarão ninguém
entendendo toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
mergulhando no irreal da minha noite
que nada há de mais real
que o que pode ser imaginado...
aqui observo indiferente
a falsa felicidade de todos
que talvez seja ainda pior
que a minha autêntica tristeza...
enjoando de ser ser humano
engenhando aqueles planos
que por mais que façam sucesso
não me trarão sucesso algum...
lembro do tempo em que eu me esquecia
e escrevo algumas linhas
que são ainda mais esquecimento...
por que devo fazer alguma coisa à humanidade?
ser produtivo
é um ato falho
por isso é que não produzir nada
é o meu mais difícil trabalho.
4 comentários:
Poema hedonista! Poema consciente! Poema vivo! Da vida, e de como ela nos parece ser...
Muito bom! Você manda muito bem!
Abraço!
e vamos vivendo...
bom.
beijos
Gostaria de ter escrito este poema, sensacional! Beijo
"lembro do tempo em que eu me esquecia
e escrevo algumas linhas
que são ainda mais esquecimento..."
Esta parte foi ótima.
Há tanto, que a gente se confunde no meio e acaba afogado, né.
Até o nada, hoje, não consegue ficar parado.
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