11 outubro 2011

Marcha do Ocaso Perdido

além daquele eternus
sonhava um sol...

a céu que não descia
pairava um mas

aquém do verde negro
loucura em vão

azul velado em nuvem
cigarro à cruz

um álcool lento a lento
do que mais fiz

um vento em mão há Brahms
e um deus não vou

fumaça em lança estrela
gritar sem som

desejo insana a vida
fracasso e luz

sentir venena a rosa
tristeza o sim

há noite alenta espera
do que não sou

amém duele infernus
sonava um não

10 outubro 2011

...do Réquiem de Mozart

se fosse o ribombar de um sino
pela morte de um gênio
se fosse o choro de uma criança doente
e o rugido de um leão
no terrível das savanas africanas
e a tragicidade desolada
do som do tombo de uma árvore
e o clamor surdo
dos que morrem de fome no planeta
e a agitação jamais curvada
dos maremotos em oceanos
e a violência sem compaixão
da revolta de furacões
e o desabar indômito
de toda uma cidade por um sismo
e os coros apocalípticos
do Réquiem de Mozart
e a  capacidade sublime
das Sinfonias de Beethoven
atingir todo o universo...

se  eu conseguisse reunir
todos esses poderes sonoros
talvez eu fosse ouvido...

mas o meu poema
é só o meu poema...

07 outubro 2011

Os ideais da humanidade se limitam à posse de um apartamento, uma geladeira, um computador e um automóvel.

Entre os contistas e cronistas brasileiros, o mineiro Fernando Sabino (1923 - 2004), é um dos meus preferidos. Foi um notável observador do homem, do estado da humanidade, do cotidiano das pessoas, daqueles pequenos detalhes a que geralmente não damos muita atenção, mas que uma vez revelados nos indicam a realidade caótica em que nos encontramos. E algumas das viscerais observações de Sabino estão na crônica "O Ano Que Vem", do livro "A Cidade Vazia", de 1948, uma das primeiras obras do escritor. Vamos a alguns trechos da crônica, ainda incrivelmente atual:

"Os ideais da humanidade se limitam à posse de um apartamento, uma geladeira, um rádio e um automóvel. Há qualquer coisa de trágico nesse cerceamento do espírito, nessa canalização de sentimentos que exige, na sua prática, uma disciplina de verdadeira filosofia iogue: a felicidade está em repetir, cada um para si mesmo, da manhã à noite, "sou livre!", "sou alegre!", "sou feliz!" até que a ilusão de uma realidade perfeita baixe sobre todos."
(...)
"Ele dirá fatalmente entrando num apartamento qualquer: "That Beautiful!". Beautiful por quê? Não é um apartamento exatamente igual aos outros? A milhares de outros, com o mesmo banheiro de paredes imitando azulejos. Com a mesma sala de estar sem janelas, estrangulada no meio dos quartos. Com as mesmas paredes de madeira e com as mesmas reclamações dos vizinhos. (...) "What a wonderful car!" ele dirá  então, apontando para qualquer Chevrolet que lhe mostrem, enquanto lá nas fábricas um outro exatamente igual vai sendo lançado por minuto."
(...)
"Nada como exteriorizar um otimismo inexistente para fazer do conformismo uma ilusão de independência. Para fazer da vida algo que se gasta, com o dinheiro, na compra de imediatas e concretas fruições. Sou feliz, sou feliz - trancados no quarto, cercados de ruído, engaiolados em armações de aço, consumidos de uma insônia contra a qual as pílulas sedativas nada podem, o tédio e a solidão a espiar do canto, como dois demônios parados,, repetem até alta noite o refrão monótono de um dínamo esgotado que reacumula energia para as atividades do dia seguinte."

"O Ano Novo, onde está? O mundo continua o mesmo do ano passado, de todas as partes continuam chegando notícias de mortes, misérias, fome, guerra, sofrimento. Nenhum milagre aconteceu."

Alguém discorda do Sabino? Lá nos ideais da humanidade podemos substituir o rádio pelo computador. O resto continua igual. 

06 outubro 2011

Tens Certeza que Vês?

observa bem
(seja aqui ou além)
tens certeza que vês com atenção?
e ainda que tenhas
estás certo que tua atenção
é mesmo atenção?
como sabes que estás atento
se não podes saber
se o que passa
passa lá fora ou por dentro?

o que foi realmente que viste?
Deus indicando o seu Céu
ou  o Diabo com uma espada em riste?
olha bem
que o que tu atentamente olhas
dando de ti teu melhor
olha a ti de dentro de um olho
que te cerca por todo redor

e ainda mais atenção
há que se derramar sangrando
sobre aquilo que adeja
entre o que deseja
o teu coração

estar atento
é saber (o) que se pensa e se sente
a todo vasto momento
e olhar para o alto para o som para o mar
ou seja o mais o que for
e saber que sem ver o que lá está
há outro alto outro som outro mar
e outro mais o que for
e talvez então
se observares bem
esteja também
o Amor...




04 outubro 2011

Ninguém Pode Sabê-lo...

o teu Mistério
ninguém pode sabê-lo nem vencê-lo
rosto de mar que se esvai pelas tênebras
e lá onde as verdes vozes ciclonam
o teu mistério ninguém pode sê-lo

que se espalha pelo azul dos mais vastos
em beijos de folhas que serenam perfumes
água da noite que se luz no não-dito
e lá onde há um vasto verso de ave
o teu mistério ninguém pode vê-lo

ninguém pode ser o que vê sem ter sido
e nem pode saber se não vence o não-visto:
agora estou vago e do sol sinto um halo...

o teu mistério ninguém pode sabê-lo...
só misteriá-lo.

02 outubro 2011

Poema Cínico

aqui estou perdendo meu tempo
(mas como diria Fernando Pessoa:
o que é o tempo para que eu o perca?)
e com prazer perco meu tempo
aspirando pelo nariz o delicioso
veneno de um cigarro
despejando pela garganta o consolo
delirante de um vinho...

tocando em sonhos absurdos
buscando as antigas inspirações
que não inspirarão ninguém
entendendo toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
mergulhando no irreal da minha noite
que nada há de mais real
que o que pode ser imaginado...

aqui observo indiferente
a falsa felicidade de todos
que talvez seja ainda pior
que a minha autêntica tristeza...

enjoando de ser ser humano
engenhando aqueles planos
que por mais que façam sucesso
não me trarão sucesso algum...

lembro do tempo em que eu me esquecia
e escrevo algumas linhas
que são ainda mais esquecimento...
por que devo fazer alguma coisa à humanidade?
ser produtivo
é um ato falho
por isso é que não produzir nada
é o meu mais difícil trabalho.

30 setembro 2011

Sobre a Tua Vida Esmagada

graxaim atropelado
pela estrada
ninguém derramou uma lágrima
sobre teu sangue esparramado:
para quem passa rápido
tu és apenas um nada

tu sendo um
és todos
que deixaram de ser
para que fosse o progresso
ninguém se importa:
a tua existência no mundo moderno
é inútil e é um excesso

sobre a tua vida esmagada
soprou o leve da brisa
dos sorrisos dos que passam
pensando em um beijo na noite
ou em dormir com a consciência dos justos
ou numa festa pela madrugada
sobre a tua vida esmagada

eu mesmo...
eu fiz o quê?
nada
só um poema
que também será nada
para quem lê

29 setembro 2011

Planeta sendo Consumido pela Desertificação

Mas, como sempre, ninguém, ou quase ninguém, está ligando.  Se a maioria das pessoas estivesse se importando verdadeiramente com o fato, o fato deixaria de ser um fato. Porém, o fato é que segundo a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (CNUCD) – percebam que a questão é tão grave que a ONU criou uma convenção específica para a questão - A cada ano são perdidos 12 milhões de hectares de terras produtivas. 12 milhões. A cada ano.  E a CNUCD diz ainda o seguinte: "A cada minuto são perdidos 23 hectares de terras produtivas por causa da degradação". A CADA MINUTO! Já pararam para pensar? Aonde vamos chegar? O planeta se tornará um só Saara?

Nessa superfície do planeta perdida a cada minuto, 23 hectares, seria possível se produzir, segundo a CNUCD, 20 milhões de toneladas de cereais. O curioso é que sempre se pensa no potencial econômico da terra, mas nunca na vegetação natural que ali poderia existir, nos animais selvagens que poderiam ali viver se a região não tivesse se desertificado.

Segundo a ONU, 2,3 bilhões de pessoas, em mais de 100 países, vivem em regiões áridas ou semi-áridas. E muitas dessas regiões áridas não são naturais, mas foram criadas pela ação humana, foram desertificadas. Aqui mesmo, no RS, temos fatais exemplos desse desastre. Aliás, aqui mesmo em meu município, Santiago, há árias desertificadas, pequenas, mas existem. E estão crescendo ano após ano.  Em Alegrete, já há até um verdadeiro pequeno deserto. Tem até nome: “Deserto de São João”. Com 940 hectares de área. Não é o deserto que virou mar, mas o pampa que virou areia. Calcula-se que a área total desertificada no RS esteja em torno de 3000 hectares.

O que causa a desertificação todo mundo sabe. Precisa repetir? Bem, algumas das causas precisam ser sempre lembradas, ainda que inutilmente. Plantar pinus é uma delas. O pinus suga água demais nas nossas terras. Mas continuam plantando, dá muito dinheiro, é ótimo para a economia, para o progresso, para o desenvolvimento da nação. Outra causa é o Aquecimento Global. Contudo, muitos dizem que ele nem existe, que é uma farsa. Então, para que nos preocuparmos? Não há com o que se preocupar. Deixemos que o Brasil vire deserto e queime em meio a magníficas secas recordes.

Que o diga Fernando Pessoa: “Pouco me importa. Pouco me importa o quê? Não sei. Pouco me importa.”

(Nas imagens acima, o pampa em seu estado original e o pampa desertificado.)

28 setembro 2011

a Quem Dorme

vou ver se durmo
volver-se só pelo não-dito
versar em névoas
tudo que me deixa aos olhos
descendo oculto
nunca develar-me sendo
a ver se pairas no que sou
tuas essências...

majestei-me às asas
fêminas sem destino
perdi-me em cânticos sentenças
que te foram...

lá que encontro as febres
que à noite em mim serenam
como luzes de um segredo
sempre em sangue e astro
encontro-me ao sopro
que não chegou me antes
a sonatar o meu sono
que sonhei-vertigem...

dormir é revolver-se um livro interno
dormir é resolver-se em esquecimento
um mortal fatal momento
no eterno...

(Na imagem, o quadro "Ophelia", de Millais.)

26 setembro 2011

Meu Mundo Humano

eu sempre esperei mais de ti
meu mundo humano
que não é meu
sendo meu também
para ver a altura suprema
dos teus arranha-céus
olhei para o fundo de um abismo
em que também me sou
e quando voei nas tuas naves
eu não me ergui do chão
e quando contemplei o verde
dos teus campos cultivados
o verde da minha esperança murchou
e quando na multidão das tuas grandes cidades...
tornei-me ainda mais sozinho
do que já estou
e ao saber das descobertas
da tua grande ciência
vi que ainda não tinha descoberto a mim
e todos os teus potentes veículos
não me levaram a lugar nenhum
e tudo o que construíram tuas indústrias
contribuíram com a minha destruição...

observei a tudo isso
profundamente entristecido
mas não chorei...

só a Arte me faz chorar.

25 setembro 2011

Tigre, de William Blake

Sou um grande apreciador de William Blake (1757 - 1827), de sua literatura e de sua pintura. Blake era um gênio, um louco, um inspirado no sentido mais amplo e mais absurdo da palavra. Entendam-me como quiserem. Foi um dos precursores do Romantismo. Mas sua obra está além de uma classificação de período. Ainda hoje compreendê-lo é uma tarefa difícil, no mínimo. Foi um mensageiro de coisas para as quais geralmente não há mensageiros. Compartilho com os leitores o magnífico poema abaixo e o misterioso quadro "Satã Contemplando o Amor de Adão e Eva".



O Tigre

Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?

Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos ?
Sobre que asas se atreveu a ascender ?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo ?
Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração ?

E quando teu coração começou a bater,
Que mão, que espantosos pés
Puderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui ?
Que martelo te forjou ? Que cadeia ?
Que bigorna te bateu ? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores ?

Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação ?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou ?

Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?

William Blake

23 setembro 2011

Ilógico

entre o tudo que não existe
dou-te este poema
vitoriosamente triste
ou que nem triste chegou a ser:
talvez o fosse
se eu me pudesse ver...

mas se minha tristeza
não é suficiente
talvez o seja
o olhar ao mundo
como morrer
e ser profundo

a minha humanidade
não me perdoa:
sou minha culpa
que te não voa

e o que me eleva
é o que não passa:
ah quem me dera
ser um veneno
na tua taça

e o horror divino
é sempre firme
em tudo há medo
e aponta um dedo:
sentir é crime

eu sou aquilo
que não me esquece:
sou como um sono
e tu minha prece

a minha palavra
não dará ensejo
a nenhuma lágrima
mas será um desejo
de organismo etéreo
despencando do que tristeza
ao ilógico do que mistério...

22 setembro 2011

Humanidade... Vai Dormir!

humanidade...
vai dormir!

por que queres continuar acordada
se já chegaste ao final do teu dia
e viste que ele não deu em nada?

por que queres caminhar ainda?
caminhar para onde?
caminhar para quê?
se de exausta caminhas em círculos
e tuas estradas voltam ao mesmo lugar?
a que progresso fatal queres ainda avançar?

humanidade...
vai dormir!
se não encontraste sentido na vida
talvez encontres sentido no sono
talvez sonhando sonhes teus sonhos
talvez fechando os olhares
vejas teus gênios cantando nos céus
e o amor que buscaste bailando nos ares...

talvez dormindo
recuperes tuas forças
e despertes animicamente renovada:
nada melhor que um dia após o outro
e uma nova aurora e um novo raiar...
dorme humanidade
que no estado em que estás
não podes mais continuar...

sou um pessimista?
não, sou alguém cansado
morrendo de sono...
por mais que eu faça
ali está sempre a desgraça
impávida
impassível
impossível
sempre a sorrir...

humanidade
faz como eu:
vai dormir.

Ainda Sobre a Semana Farroupilha

O jornalista Jorge Loeffler, editor do site Praia de Xangri-Lá (que vale a pena ser conferido) repercutiu meu post sobre a Semana Farroupilha do dia 15/09, bem como o texto abaixo sobre Análise Fisionômica... 

Loeffler faz o seguinte comentário:

“Recebi a indicação deste blog faz poucos minutos e confesso que me impressionou a coragem com que este jovem externa o que pensa. Fico imensamente feliz, pois nos dias de hoje a quase esmagadora maioria abandonou o hábito de pensar, deixando-se levar pelas malditas novelas e programas outros de baixíssimo nível da televisão. Pensar nunca fez e jamais fara mal à saúde de quem quer que seja. E o mais importante, pensar faz com que o seu cérebro não sucumba a certas moléstias que o paralisam politicamente, pois é incrível a verdadeira manada de eleitores que votam permanentemente em políticos que não valem nem mesmo que comem. E eu ia dizer o que cagam, mas a merda merece respeito e eles não. Pensem sobre isto enquanto vos desejo um restante de semana profícuo.”

21 setembro 2011

Análise Fisionômica, José Otávio Germano e mais uma do PP

Cheguei a uma conclusão que vai revolucionar a política mundial. Sempre suspeitei que eu era um gênio, agora tenho a prova definitiva. Em breve todos os países estarão aplicando este método para eleger os representantes do povo. Que método seria? Simples, a Análise Fisionômica. Explico. Segundo a minha teoria, não se pode aprovar como candidato a cargos públicos eletivos ninguém que tenha uma fisionomia não confiável, em outras palavras, que tenha cara de sem-vergonha. Espero ganhar algum dinheiro com essa minha teoria revolucionária, pois com a literatura a coisa está feia.

Alguns dirão que é preconceito. Eu digo que é só uma questão de sagacidade, perspicácia.  Observam atentamente a fisionomia das pessoas. Não tenho o menor receio em afirmar que a maioria esmagadora dos políticos que têm cara de sem-vergonha realmente o são. E eu diria até que em um índice próximo aos 90%. É claro que há exceções. Mas exceções... são exceções. Isso não quer dizer, naturalmente, que um político com cara de santo seja verdadeiramente santo. Pode ser que também seja um safado. Mas a minha teoria não pretende ter eficácia de 100%. Nem Einstein chegou a tanto. Mas é confiável. Isso eu garanto. E, convenhamos, a maioria dos políticos têm cara de sem-vergonha. Ou o senhor, a senhora, amáveis leitores, discordam?

Observem, por exemplo, a imagem acima. É o nosso excelentíssimo deputado estadual José Otávio Germano, do PP. Para que cara de sem-vergonha mais do que a dele? Envolvido com a CPI do Detran faz tempo. Dizem que desviou milhões de reais. Suspeito de liderar o esquema de fraudes no Detran. Estava lendo o Correio do Povo desta terça, 20 de setembro, Dia do Gaúcho. A manchete da página 6 diz o seguinte: “José Otávio Germano segue réu no caso do Detran”.  Já tentou duas vezes ser excluído da ação de improbidade administrativa. A Justiça negou as duas vezes. Segundo Germano, as provas apuradas durante a investigação teriam sido obtidas de maneira ilegal. Percebam, amigos leitores, que o próprio deputado admite que há provas contra ele. Ele não questiona a veracidade das provas. Questiona se elas valem como provas. Mas parece que a Justiça as está aceitando. É, e o idôneo deputado Germano está perdendo o seu poder político, inclusive em sua cidade.

Mas é claro que o Germano não é a única prova da minha teoria. Há muitas, muitas outras.  Pensem, amigos leitores, nos seus políticos mais detestados. Todos eles não têm cara de sem-vergonha? Alguns exemplos: o Collor. O Sarney. O falecido e saudoso Antônio Carlos Magalhães. O Michel Temer. Tem cara de mordomo sem-vergonha. E dizem que o mordomo é sempre culpado. Logo... O Aldo Rebelo, autor da cafajestada do Novo Código Florestal. Que cara de cabra safado. E por aí vai, certamente o leitor já identificou vários outros. Então, não estou certo?

Concluindo, a questão é extraordinariamente simples: a Análise Fisionômica deve ser obrigatória a todo pretendente à política. Ou, se não vier a ser, porque os que fazem as leis são os próprios sem-vergonhas, devemos simplesmente não votar nos caras com caras que não ensejam confiança. E, por favor, a ideia é minha, não roubem meus royalties.

Ah sim, já ia me esquecendo. Já que estamos falando do pepista Otávio Germano, sabiam da última do PP? Não? PQP! O Partido dos Pobres, PP, foi contra a homenagem às vítimas da Ditadura Militar. Não entendo. Pessoas que o partido ajudou a torturar e matar (não esqueçam que o PP é a antiga ARENA) deveriam ser homenageadas pelo próprio partido, para que ficasse provado o seu arrependimento. Assim, todos os papistas, digo, os pepistas,  entrariam no Reino dos Céus. E, nesse caso, eu preferiria ir para o Inferno. 

19 setembro 2011

Três Rápidas Considerações Sobre o Vinho

I

bebê-lo
é olhar
o sou do que não tenho
pelo lado oposto
daquele outro gosto
do teu olhar
no espelho

II

no vinho
o que é que se afoga?
não se afoga
o fogo é que se inunda
afogueado no meu sangue
de taça quente e funda

III

há o branco e há o rosa
e há aquele em que não minto...
mas o melhor do beijo
é quando ele fica tinto...


17 setembro 2011

Palavra de Não-Dizer

o que será que diz
a palavra que não consigo dizer?
ou melhor
o que ela diz eu sei
mas não consigo fazer
com que ela se faça dizer
e não é bem que eu saiba
é muito mais que eu sinto
que saber e sentir não se confundem
em uma palavra tão só
ou talvez se confundam tanto
que se tornem outra coisa além
e também não é bem sentir
que o sentir ainda não é
bem o que está aqui ou ali
talvez seja algo mais sublime
e que paire lá onde eu não me veja
ou talvez ainda eu veja
mas não consiga tornar o que vejo
naquela palavra que não disse
e também por que eu hei de dizê-la?
que nenhuma palavra que eu diga
vale a existência de uma estrela...

15 setembro 2011

Passando Minha Adaga na Semana Farroupilha

Algumas constatações sobre a Semana Farroupilha:

 - A Semana Farroupilha transformou-se em um desfile de agroboyzinhos nas camionetinhas do papai, enquanto gaúchos de verdade, os peões que trabalham duro nas estâncias e cultivam as verdadeiras tradições gaúchas (não para fazer bonito ou para aparecer, mas porque isso é o natural deles) não podem comprar um par de botas. Muito menos desfilar com um cavalo. É como retrata Cyro Martins na sua “Trilogia do Gaúcho a Pé.”

-  Grande parte dos campos dos grandes estancieiros gaúchos é campo que foi roubado na época em que as fronteiras das terras não eram cercadas. É como diz o inesquecível personagem Juvenal em “O Tempo e O Vento” do Érico Veríssimo, referindo-se ao estancieiro Amaral: “Todo mundo aqui  sabe que metade dos campos desse velho é tudo campo roubado!”

- Os agroboyzinhos gostam também de andar por aí enchendo a pança de cerveja e gritando o “Grito do Sapucai”, que é herança de nossos índios guerreiros. Mas os índios ou foram massacrados ou se encontram em estado miserável em suas terras devastadas. E os “gaúchos” pouco se importam.

- E os “farroupilhas” bem pilchados apreciam também matar cavalos esgotados desfilando com bandeiras sob o sol do litoral pra mostrarem que são machos.

- E os nossos “pampeiros”, que dizem amar a terra, amar o pampa, são os mesmos que estão acabando com ele plantando soja, pinus e o diabo. Acabando com os rios, desviando água para plantações de arroz, infestando tudo de pesticidas, massacrando nossa fauna, causando erosões, assoreamentos, desertificação, enfim, transformam o pampa num inferno de desolação. Mas na Semana Farroupilha, amam a terra gaúcha.

- Não me pilcho, mas sei que amo minha terra mais do que muitos pilchadinhos engomadinhos por aí. Alguns gaúchos deveriam entender que, mais do que a pilcha, o que define o gaúcho são os valores de honra, dignidade e coragem.

14 setembro 2011

Não sei ser Prático

praticamente
não sei ser prático:
na vida prática
não há praticidade para mim
perdoem-me os práticos sensatos
mas eu me pratico  assim

nem só de prático
vive o homem
a vida é além
que feijão no prato
que catar como rato
as migalhas do chão
é, talvez eu seja errado
mas também nunca fui são...

pratico o não-prático.
que por onde pratica
o prático vê pratas
onde elas estão
já eu vejo pórticos
onde eles não hão...

a minha práxis
é não ser prático:
sou só labirintos de sós
sem solução