Essa é uma pergunta que sempre me fiz. E nunca ninguém me respondeu satisfatoriamente. Como pode um país que está entre as 10 maiores economias mundiais ter bolsões de miséria gigantescos? Má distribuição de renda? Óbvio. Mas por quê? Por que a renda é má distribuída? De que adianta o desenvolvimento se ele não resolve os problemas sociais e ambientais? Obviamente, não é desenvolvimento, pode ser crescimento, assim como é um crescimento a proliferação das células de um câncer.
A melhoria da distribuição de renda dos últimos anos é, na verdade, pífia, apesar do esforço do último governo. E isso é uma questão que governo nenhum resolve sem uma mudança de mentalidade dos indivíduos. Eu, às vezes, fico pensando desconsolado quando leio as notícias de jornais: empresas estatais têm lucro recorde, bancos estatais têm lucro recorde, país bate recordes de produção, país bate recordes de exportação e por aí vai. É tudo muito belo, mas e daí? Eu sou um brasileiro e não vejo benefício nenhum com todos esses recordes de produção. Pelo menos para mim, para minha família, para os que conheço, não. Servem para quê? Para quem? Para ocorrer uma verdadeira distribuição de renda, não só no Brasil, mas em muitos outros países, deveria haver uma reforma moral, ética, mental, psíquica, enfim, não uma reforma de governo, mas do próprio ser humano. Coisa que, em meu pessimismo, duvido muito.
O texto abaixo não é uma resposta à minha pergunta, mas tem bastante relação com o que acabo de afirmar. Foi escrito por Caco Coelho, em sua coluna do último sábado no jornal "Correio do Povo". Não é o texto integral, mas apenas o trecho que julgo mais pertinente.
"O Brasil, desde sempre, adequou a divisão de suas riquezas ao privilégio de poucos. (...) A maior parte dos investimentos públicos, subserviente a esses princípios seletivos, sempre foi feita para aqueles que possuem mais. O princípio público nunca foi respeitado. No lugar de promover a coletividade, a maioria da população permanece tendo que dedicar o seu esforço para locupletar os mais abastados. Assim é o investimento em educação, onde a maior parte é destinada ao ensino superior. A este privilégio têm acesso aqueles que tiveram a oportunidade de estudar em escolas particulares, de frequentar cursinhos eletistas. (...)
Agora mesmo, foi divulgada a safra recorde de grãos de nosso Estado: 24 milhões de toneladas foram produzidas. O Rio Grande do Sul possui uma população de pouco mais de 10 milhões de pessoas, sendo que 3 milhões estão na linha da miséria absoluta, ou seja, não sabem o que vão comer na próxima refeição. Toda essa produção injetará na economia gaúcha mais de 13 bilhões de reais, o mesmo que o lucro liquido de um banco. Ou seja, o que representa a oportunidade de colocar por ano na mesa de cada cidadão o correspondente a quase duas toneladas e meia de grãos, é o mesmo que um grupo pode lucrar explorando o capital."
Quantas toneladas de grãos tiveram em sua mesa aqueles cadavéricos humanos da foto acima?