16 janeiro 2011

Teu Toque em Silêncio...

teu olhar mudo
é como um toque
de trombeta
e quando tocas
tocas
os homens de ti
e daqui

sempre impassível
vês o nunca e o impossível
além dos sonhos
dos que sonam
o toque
dos sinos
e o tique...
taque...
invisível
dos destinos

o toque
da pedra no lago
produz ondas
que não te tocam:
nada abala
teu ser intocável

mas tocaste a mim
com tua melodia escura
como quem procura
um violino
e um toque de mãos
ao final da tarde...

tocas sem fazer alarde...
e quando a tua árvore
for só um toco
tocarás o céu...
Tu
imperturbável Urubu.

15 janeiro 2011

Mais Uma Catástrofe Criminosa na Amazônia

Vou apenas transcrever aqui trechos do e-mail recebido da ong Avaaz, que luta pela preservação ambiental em nossas terras:

"O Presidente do IBAMA se demitiu ontem devido à pressão para autorizar a licença ambiental de um projeto que especialistas consideram um completo desastre ecológico: o Complexo Hidrelétrico de Belo Monte.

A mega usina de Belo Monte iria cavar um buraco maior que o Canal do Panamá no coração da Amazônia, alagando uma área imensa de floresta e expulsando milhares de indígenas da região. As empresas que irão lucrar com a barragem estão tentando atropelar as leis ambientais para começar as obras em poucas semanas.

A mudança de Presidência do IBAMA poderá abrir caminho para a concessão da licença – ou, se nós nos manifestarmos urgentemente, poderá marcar uma virada nesta história. Vamos aproveitar a oportunidade para dar uma escolha para a Presidente Dilma no seu pouco tempo de Presidência: chegou a hora de colocar as pessoas e o planeta em primeiro lugar.

Assine aqui a petição de emergência para Dilma parar Belo Monte – ela será entregue em Brasília, quando conseguirmos 150.000 assinaturas.

A hidrelétrica iria inundar 100.000 hectares da floresta, impactar centenas de quilômetros do Rio Xingu e expulsar mais de 40.000 pessoas, incluindo comunidades indígenas de várias etnias que dependem do Xingu para sua sobrevivência. O projeto de R$30 bilhões é tão economicamente arriscado que o governo precisou usar fundos de pensão e financiamento público para pagar a maior parte do investimento. Apesar de ser a terceira maior hidrelétrica do mundo, ela seria a menos produtiva, gerando apenas 10% da sua capacidade no período da seca, de julho a outubro.

Os defensores da barragem justificam o projeto dizendo que ele irá suprir as demandas de energia do Brasil. Porém, uma fonte de energia muito maior, mais ecológica e barata está disponível: a eficiência energética. Um estudo do WWF demonstra que somente a eficiência poderia economizar o equivalente a 14 Belo Montes até 2020. Todos se beneficiariam de um planejamento genuinamente verde, ao invés de poucas empresas e empreiteiras. Porém, são as empreiteiras que contratam lobistas e tem força política – a não ser claro, que um número suficiente de nós da sociedade, nos dispormos a erguer nossas vozes e nos mobilizar. "

Já disse que aqui, várias vezes, que essa forma de desenvolvimento que todos os governos vêm promovendo em quase todos os cantos do mundo, pensando apenas no retorno imediato, vai acabar consumindo todo o nosso planeta. Aliás, é o que está acontecendo.

14 janeiro 2011

Poema Catastrófico nº5 – Sem Saída*

não tenho culpa
se sou um
morro
e minha
água
lava
e leva
e mata
a leva
dos que levaram
a minha
mata

um dia fui só
mata-atlântica
e alegria de araras
hoje sou só
chuva-cáustica
e maresias amaras

há muito tempo
aqui estou
sem saída
e para lado algum
eu corro...

os humanos
sem saída
correm
e morrem
vindo até mim
e eu
deslizando ao fim
morro...

*Poema para a maior catástrofe climática da história brasileira, que deixou mais de 500 mortos, vítimas dos deslizamentos de terra provocados pelas enchentes na região serrana do Rio de Janeiro.

12 janeiro 2011

Pedido

mantenha-me
atento-te
ao mim mesmo
e a tudo que me acerca
e ao cerco
que me há pressa
e ao circo
(de esterco)
deste mundo
atenta-me
e tenta-me
versa-me no teu adiante
de paz e de todo instante
e no teu desilusionismo
pro fundo

ao fundo
do meu lago
que nenhuma onda
se afogue ou se abale  
quer por onde
eu vago
quer por onde
eu vale...

(pre)
sinta-me na minha pele
sem motivo ou alarde
que antes da queda
eu pegue
seja cedo ou tarde
seja mau ou bela:

eterna vigília
e alerta sentinela
porque sempre há um crime
entre um alarme e outro
do que é sublime...

11 janeiro 2011

Lentamente, o Pampa Morre

No Brasil, parece que o único bioma que deve ser preservado é a Amazônia. E os outros biomas e ecossistemas brasileiros, tão imporatentes quanto a Amazônia? O que estamos fazendo com eles? Somente a Amazônia mantém a maioria de sua área preservada, cerca de 80%. Lembrando, no entanto, que até início dos anos 80, a área preservada era de 95%. Em 30 anos, perdemos 15% da floresta.

Já os outros biomas, estão em torno de 50% de sua área original, ou menos que isso. A Mata Atlântica está quase extinta. Resta, tão somente, 7% dessa mata que é uma das mais ricas em biodiversidade do mundo. O mesmo se dá com a Mata de Araucárias, no Sul do Brasil, hoje limitada a algumas "ilhas" nos 3 estados da região. A Caatinga nordestina já perdeu a maioria de sua área, restando algo em torno de 45%, e o Cerrado está em torno dos 50%, sendo, porém, o bioma com o maior índice anual de devastação.

E o Pampa gaúcho? O que nós, gaúchos, estamos fazendo por ele? Atualmente, o Pampa mantém 44% de sua área original. Sendo o RS o único estado brasileiro a possuir esse magnífico bioma que possui 4 mil espécies endêmicas ( ou seja, que só ocorre nessa região), sua responsabilidade na preservação é imensa. No entanto, não é isso que ocorre.  Apenas 3,6%  da área do Pampa está dentro das prioridades de preservação dos governos. Todos os anos, são perdidos 364 km² de sua vegetação, que vai dando lugar à agropecuária sem sustentabilidade, ao avanço das plantações de pinus, à desertificação e ao desenvolvimento caótico das cidades.

Se isso continuar, o que nos restará dentro de alguns anos? Rios secos e desertos? Para o Pampa que morre, escrevi o poema abaixo, que republico aqui no blog.

Ao Fim do Pampa

quero-quero vasto que me olha denso,
o que é que alarma no teu sino antigo?

pampa que crepúsculas,
não te sones antes que eu me vide...

folha de angico que te nervas sopro,
o que é que julga na tua chama acesa?

pampa que te noites,
não te lues antes que eu me ocase...

sanga que adaga em todo um céu de chumbo,
o que é que marcha no teu grito frio?

pampa que te sangues,
não te doenças antes que eu me febre...

coxilha em cosmo que me fúria um sonho,
em quais sentenças é que te levantas?

pampa que te fins,
não te mortes antes que eu te ame...

(Na imagem, um trecho preservado do Pampa na fazendo de meu tio, na região do rio Itacurubi.)

10 janeiro 2011

O Sucesso de um Conto (e motivos para o ler)

A arte é, para mim, o que de melhor saiu da alma humana. Mas também pode ser ingrata. O artista, principalmente se for um artista marginal, maldito, que não está presente na grande mídia, além de ser criador, deve ser também seu próprio empresário/publicitário/editor, tudo, enfim. Não basta ao artista marginal criar. Deve ainda divulgar o que escreve, realizar sua própria propaganda, autopromover-se. Porque são raros os que se propõem a fazer a propaganda de alguém relativamente desconhecido. E porque, é ostensível,  o sentido da arte não é só a sua existência, a sua criação, mas também é fundamental a sua recepção pelo público.

De modo que para que se leia a  obra de alguém que pouco se conhece, é necessário que se deixe alguns motivos, e tais motivos podem ser a opinião de alguns leitores. É o que farei aqui. Alguns de meus contos são publicados em um dos mais importantes sites de literatura fantástica do Brasil, o Estronho e Esquésito. Um deles, o conto "A Lenta Morte da Mulher Bela" recebeu um número expressivo de comentários. Transcreverei alguns aqui no blog, com a intenção de que suscitem nos leitores o interesse de o ler, do começo ao fim, espero. Talvez alguns julguem isso como um exibicionismo. Não serei hipócrita em dizer que não há nada de exibicionismo no ato. Porém, todo ser humano é exibicionista, todos gostam de ver suas qualidades apreciadas. Alguns são discretos, mais reservados, mais conscienciosos, outros chegam a ser insuportáveis. Mas todos temos ao menos um pouco de exibicionismo. Negá-lo é uma hipocrisia. No entanto, minha intenção maior é, realmente, estimular os leitores a conhecerem e interagirem com o meu trabalho. Abaixo, alguns comentários deixados no citado site (aqui o link), e, em seguida, o conto: 

De Júlio César Vieira:

Com certeza um dos melhores contos que eu já li.
É incrível a comparação e a gente não consegue parar de ler, vai devorando. 

De Alessandra Bellan:

Parabéns pelo excelente conto!
Suas descrições são de tirar o fôlego. Pude visualizar os ambientes com clareza, sentindo todo o clima denso que é criado na história, linha após linha. Adorei o final! Digno de reflexão. 

De Rafael Schiabel:

Terminei a leitura emitindo um expressivo "Nossa!".
As palavras usadas e as descrições da mulher e da bestialidade de seus companheiros de quarto me fizeram adentrar na história.
Alessandro se mostrou um ótimo escritor. O clima sombrio e o sofrimento da mulher ficaram excelentes, além de proporcionar ao leitor uma reflexão sobre o que fizemos e ainda estamos fazendo com nosso planeta.

De Marina Rosa:

Realmente muito bom conto. Devorei com os olhos a tela desde o começo em uma imensa expectativa. O suspense contido no conto me levou a ficar até um pouco entorpecida no final, com a resolução e ainda querendo mais.
É fácil imaginar o estado da mulher bela da forma como é retratado, repugnante e ao mesmo tempo impressionantem ente impossível de parar de ler.
Excelente leitura, e muito boa para reflexão também. Adorei.

De Valdênia:

incrível, maravilhoso...
um conto surpreendente, rico e emocionante.
jamais imaginaria este final e no entanto ele fez mto mais sentido que qualquer outro.

De Joana D'arc Maciel:

Não esperava um desfecho como esse...realmente nos faz refletir sobre as nossas atitudes, a nossa indifença para com os problemas da Terra, que é nosso lar, nossa base, um dos motivos pelo qual vivemos.
Além disso, a narração do autor foi brilhante...me fez adentrar na cena, como se eu vivenciasse o momento, a dor e o sofrimento da mulher.

Aproveitando, deixo ainda este comentário, feito sobre o meu conto mais recente publicado, "O Meu 33º Assassinato". O comentário é de José Jorge (aqui o link):

Sem dúvida, um conto muitíssimo bem engendrado, digno de figurar entre os mais famosos casos de mistérios policiais!
O autor pareceu-me ser um profundo conhecedor da natureza humana, bem como dos seus inúmeros problemas psíquicos.
Vá em frente, amigo, você tem futuro, mas espero que nunca lhe ocorra a idéia de usar seu talento para fazer o mal, certo? 


A Lenta Morte da Mulher Bela


A magnífica beleza daquela mulher deslumbrava a todos. Mesmo agora, gravemente doente, sua beleza ainda encantava. Mas um intenso sofrimento era plenamente visível em seu rosto de olhos fundos e encovados. Sua doença era verdadeiramente terrível, impiedosa, e, aos poucos, bem aos poucos, em uma extrema e quase imperceptível lentidão de brutal angústia, seu organismo ia sendo consumido pela absurda enfermidade. Era como a mais desolada e arrastada das marchas fúnebres.


Enfermidade que a definhava de uma forma digna da mais elevada comiseração. Seus sintomas algumas vezes surgiam, noutras, desapareciam por completo. Porém, quando retornavam, eram ainda mais violentos. Dores insuportáveis em todas as partes do corpo. Ela chorava copiosamente nestes momentos. Mas o que assombrava ainda mais era a inexplicável indiferença com que quase todos observavam a sua agonia.

Das dez pessoas que viviam em seu quarto, apenas uma delas sentia verdadeira piedade ao vê-la morrer de maneira tão lenta e sofrível. As outras aparentavam não se dar conta da devastadora desolação que acometia a bela e pobre mulher. No entanto, todos afirmavam que conheciam sua doença, que sabiam de suas causas a fundo e que possuíam a cura para a pavorosa e fatal enfermidade. Consideravam-se médicos de extrema perspicácia e inteligência. Havia até alguns que diziam que a doença não era grave, que seria facilmente curada e que exageravam no julgamento da intensidade de seus sintomas. Mas ainda não a haviam curado, apesar de todas as tentativas de fazê-lo, tentativas em realidade estúpidas, vergonhosamente insuficientes, enfim, absolutamente inúteis.
Todos os dez indivíduos também afirmavam com total segurança que conheciam o fato de que eles, todos eles, eram os responsáveis, os culpados pela bela mulher agora se encontrar enferma. Sim, a moléstia que a afetava foi causada pelas dez pessoas que viviam em seu quarto. Viviam em seu quarto e dependiam da bela mulher para tudo, para absolutamente tudo, inclusive para viver. Não viveriam sem ela. Daí então a urgente necessidade de curá-la. Se ela morresse, todos os dez morreriam com ela.

De modo que assombrava, era quase inacreditável a indiferença com que seus companheiros de quarto contemplavam a sobrenatural agonia que a passos de anômala marcha fúnebre levava aquela linda mulher a uma morte dolorosa e implacável. Algo realmente incompreensível. O que passaria pela mente dos cinco homens e das cinco mulheres que ali naquele quarto de doença viviam? O que passaria por seus sentimentos?

Talvez os moradores do quarto já estivessem tão habituados com a doença que causaram à mulher que já nem eram capazes de se emocionar com o vagaroso, lento, gradual sofrimento que ela irradiava. Havia ali somente uma pessoa que ainda agia intentando acender os sentimentos dos outros para que realmente tomassem consciência da iminente situação em que se encontravam. Porém, sempre inútil.

Mais e mais o clima reinante naquele quarto tornava-se pesado e nervoso. Sombras pesarosas iam surgindo dos cantos do ambiente carregado de densos espectros de ocaso. Lentamente, numa lentidão que parecia eterna. Em alguns momentos, luzes cintilavam em algumas pequenas reentrâncias quase ocultas que traziam consigo determinada esperança. Porém, em pouco tempo eram rapidamente subjugadas por nuvens escuras de uma fumaça de ignota origem.

Sistematicamente, a bela mulher em sua suprema agonia emitia gritos horripilantes, gemidos dilaceradores, que ensurdeciam e inflamavam os ouvidos dos seus companheiros de quarto, a ponto de sangrá-los. Mesmo assim, raramente se emocionavam, bem raramente...

Os gritos da bela mulher não eram reações desesperadas somente às suas dores excruciantes, mas ela reagia também às terríveis chagas que surgiam em todo o seu corpo e sangravam de forma inclemente, espargindo um sangue pútrido e mau-cheiroso, que se derramava por toda a cama, maculando os brancos lençóis e carregando o ar impuro de pestilentas emanações. As chagas desapareciam com o passar dos arrastados dias, mas sempre retornavam, cada vez piores, em cores mórbidas que iam do vermelho, ao roxo e finalmente ao negro.

E as pessoas ali respiravam aquela atmosfera mefítica, com uma imbecil tranquilidade sorridente. A mulher ardia em febre, e sua febre irradiava-se pelo ar, elevando a temperatura gradativamente. Ondas de enfermidade visivelmente partiam de seus entristecidos olhares de negras olheiras. Suas lágrimas não cessavam de escorrer como orvalhos de desgraça por seus miríficos cabelos negros. Sua face pálida e cadavérica implorava por misericórdia. No entanto, aqueles que viviam em seu quarto apresentavam um comportamento tão estúpido, tão indiferente, tão agressivo e miserável, que faziam, ainda que inconscientemente, com que a moléstia da mulher se agravasse ainda mais.

Em um instante soou um luto deprimente. E nas atmosferas ensombrecidas, mornas de enfermidade, densas de pesadelos, assomou pelo ambiente degradado a tensão desesperada de uma trágica marcha fúnebre. E suas notas noturnas vibravam como sinos agourentos de palpáveis maldições. Simultaneamente, adejaram pela janela as asas de um corvo que surgiu da noite distante, do espaço longínquo, e fitou seus olhos fundos de sentenças nas pessoas que ali no quarto estavam. O corvo assemelhava-se a um anjo. Trazia uma carta no bico.

Às vezes, os dias transcorriam em aparente serenidade. A serenidade funesta que antecede as mais devastadoras tormentas. E nos dias lentos, rastejantes, de tensão insuportável, relâmpagos e trovões, por vezes distantes, por vezes próximos, espargiam horrores e deixavam um odor ominoso pelo ambiente do quarto. E o clima obscurecia-se paulatinamente.

Ataques golfejantes de tosse assediavam os pulmões da bela mulher. Golfadas espessas de sangue espalhavam-se por todo o aposento. Um catarro amarelecido descia canhestramente de seu nariz. Ela debatia-se e revirava-se na cama inundada de um suor ardente, pegajoso e febril.

Pela janela semiaberta do quarto, uma estranha luminosidade avermelhada penetrou no ambiente de dúvidas e desesperos adejantes. A bela mulher desvairava, inebriada das mais absurdas catástrofes. Contorcendo-se de dor em todos os seus órgãos, ela levava as mãos amareladas e ressequidas, de veias proeminentes, à cabeça que latejava freneticamente.
Um sopro anômalo e rubro de sangue entrou com diabólica violência pela janela entreaberta. Tal sopro deve ter afetado a sanidade da bela mulher. Agonizante, como um furacão ela redobrou suas forças para erguer-se da cama sanguinolenta. Insana, descontrolada, enlouquecida, ela agarrou com suas mãos crispadas, de unhas crescidas e ensanguentadas, um por um o pescoço daqueles que viviam em seu quarto e os estrangulou com fúria alucinante. Nove dos dez moradores do quarto foram mortos dessa forma. Apenas aquela mulher que sinceramente tentava ajudar a bela enferma foi poupada. E, nesse instante, uma tênue fagulha de vida refulgiu em seus enormes olhos verdes. E o nome da bela mulher era Terra.

08 janeiro 2011

Tua Mão na Minha

não há fácil diante da tua face
não há jeito
o frio da tua mão de paz
silência nas fibras do meu peito...
quando tentei te abandonar
sangrou-me algo como ar
os teus passos
sempre passaram junto aos meus
e eu temo o teu compasso
e o teu ritmo de (as)salto
agarrou-me pelo braço
e vi segredo nos teus dedos
e teu braço nos meus medos...

há sopro e sempre
pela sombra dos teus olhos
e doce éter este dos teus óleos
que se derrama no meu nunca
e violinam na minha nuca
és nuvem em violino
clara
e saltos no meu destino
alma
quando tentei faltar-me o céu
névoa subiu-me aos lábios
meus sentidos coronários
estão em ti há a(s)cender
e ocultaste no que me pulso
que Deus é o sempre Ser.

07 janeiro 2011

II Fórum Latino-Americano de Literatura e IV Encontro de Escritores do MERCOSUL

A Casa do Poeta de Santiago e o Centro de Integração Latino-Americana realizarão, nos dias 14, 15 e 16 de janeiro de 2011, na Câmara de Vereadores de Santiago/RS, o II Fórum Latino-Americano de Literatura e IV Encontro de Escritores do MERCOSUL.

Qualquer interessado poderá participar do evento. O investimento é de R$ 20,00, e será fornecido um certificado de participação de 25h. As inscrições podem ser feitas na Casa do Poeta de Santiago. Confira, abaixo, o cronograma do evento:



05 janeiro 2011

Verssoss Impassíveiss

entre o ssim e o ssom
ssilenssia o sséu esstranho
do teu ssegredo...

há calma d’alma
que nada abala
que nunca passa
teu ssempre ssábio
ssol de ssonata
adagio largo
e calma d’água
que nada...

...(a)tinge
adagio lago
que pedra alguma
perturba
infringe

tranquila alaga
nada em meu nada
na calma da adaga
que ninguém enfrenta
ou afaga

ssingra o teu ssopro
maternal ssereno
ao ssereno da sselva
ssangra o teu ssonho
de fogo
a que todo sser
sse rende...

éss como um ssilvo
de sserpente
que assende...

(Na imagem, uma escultura da deusa egípcia Ísis)

04 janeiro 2011

Eu preferiria Tiririca a José Otávio Germano, Marco Peixoto, Mano Changes, Danrlei...

Ano novo e (alguns) deputados novos. Mas a merda continua. Só que agora a merda é mais bem paga. Aumentaram um pouquinho os salários dos representantes do povo. Merecem, afinal, representar este povo brasileiro burro e pobre não é fácil. É, o mundo mudou. Antes eram os nobres que nadavam no dinheiro enquanto o povo agonizava. Agora são os políticos.

Pois é, e virou moda todos falarem mal do Tiririca. Não entendo. Tem muito deputado pior que ele e ninguém fala nada. Qual o problema do Tiririca? Porque ele é palhaço e ignorante? É o retrato do povo: palhaço e ignorante. Por que as pessoas que se acham muito inteligentes não dizem que é também um absurdo REelegerem alguém que passou todo um mandato sempre envolvido em suspeitas de ladroagem, como o nobre deputado José Otávio Germano, exibindo sua eterna cara-de-pau, com suspeitas até pelo pescoço no caso do DETRAN, que, para variar, virou pizza?

E o povo o reelegeu. E disso ninguém fala nada. O que o Germano tem de melhor que o Tiririca? Se o Tiririca se candidatasse pelo RS e ocorresse a tragédia de os outros candidatos serem, por exemplo, José Otávio Germano, Marco Peixoto, Mano Changes e Danrlei, eu votaria no Tiririca. Sem titubear.

O Marco Peixoto sempre defendeu os interesses dos ricos, sempre esteve do lado da Deusmelivre Yeda Cruzes!, foi suspeito de estar envolvido em algumas fraudezinhas que não investigaram direito, como a do DETRAN, e ficou por isso mesmo... O      que o Marco Peixoto tem de melhor que o Tiririca? Mais dinheiro? Não, o Tiririca deve ser rico também. Mas nasceu pobre. Já o Marco Peixoto nasceu em berço de ouro. E isso já seria um motivo suficiente para não votar no Marco. Agora, o sr. Peixoto, depois de todas as suspeitas não comprovadas (e não investigadas) é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Haha! Essa piada nem o Tiririca faria.

E o Mano Changes? Um idiota vocalista (acho) duma banda totalmente imbecil conhecida como “Comunidade Ninjitsu” (nem sei se é assim que se escreve). Aliás, o Mano Changes já foi deputado (nem sei se reelegeu, espero que não), e figurou como um dos parlamentares que menos apresentou projetos. E o Danrlei, haha! ex-goleiro do Grêmio, que só foi eleito pelo fanatismo dos gremistas. Alguém por acaso acha que Mano Changes e Danrlei entendem mais de governo que o Tiririca? Para mim, são todos uns imbecis nesse campo. E pode até ser que o Tiririca lá em SP seja melhor que todos esses por aqui.

E é claro que há vários outros que eu não votaria de jeito nenhum. Peguei esses como simples exemplos. Sempre há gente pior que o Tiririca. Mas de quem ninguém fala nada. É fácil ridicularizar quem é palhaço. Eu prefiro ridicularizar os colarinhos brancos.

Apenas, não posso concordar com o Tiririca e seu slogan: “Pior que tá não fica”. Como diria Murphy: “Nada é tão ruim que não possa ficar pior”.

02 janeiro 2011

Três Rápidas Considerações Meio-Poéticas III

I

o homem sempre acha um jeito
de não ter que fazer
o que deve ser feito:
para quem acha que pode
sem pagar o preço
qualquer enfeite é perfeito...

II

tudo é retorno:
se a maçã que  colhemos
é bela por fora
mas bichada por dentro
larguemos de mão
e esperemos o giro
da gravidade do tempo...

III

o universo é movimento contínuo
por isso o Fim vai e volta
tudo ressurge e vai embora:
volta e meia o universo está calmo
e volta e meia ele se revolta...
como agora.

01 janeiro 2011

Poema em Có-digo

Santa Ana
é mãe de Maria...
quem sabe se na luz
também não há ironia?

ah se eu pudesse olhos
e depois descanso
pelo Mar de verde
pelo mar que ver(te)
este mal de Werther...

entre a treva da noite
(com (dis)tintos sanguíneos)
e o alvo da rosa
há dois lagos mansos...
quem me dera descansos...

a final por quê?
o que fazer com o ouro dos tolos?
por que presente aos inimigos?
e dádivas aos não-pedidos?
e carne para os cervos?

se eu tivesse o pi
calcularia os segredos
e se tivesse o voto
escolheria as sinas
e se tivesSe o cal e o com
ligaria as palavras
e a minha ave voaria...(?) 


ou é verdade mágica
ou é ilusório ótico...
não entendeste?
ótimo. 

30 dezembro 2010

Algumas Palavras Intensas para 2011

1) "O mundo, hoje pequeno e quase sem remédio,
Hoje, ontem e amanhã, nos faz ver nossa imagem:
Sempre um oásis de horror num deserto de tédio!"

Baudelaire

2) "É sempre assim com as coisas que os homens começam; há uma geada na primavera, uma praga no verão, e suas promessas fracassam... No fim, não sobra nada além do que 'poderia ter sido'."

Tolkien

3) "De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
      Talvez, matando-te, o conheças finalmente... Talvez, acabando, comeces...

Fernando Pessoa

4) "Foi quando compreendi
     Que nada me dariam do infinito que pedi,
     Que ergui mais alto meu grito
     E pedi mais infinito!"

José Régio

5) "Pra que partir? Sempre se chega enfim...
     Pra que seguir empós das alvoradas
     Se, por si mesmas, elas vêm a mim?"

Mário Quintana

6) "Seu trabalho, sua existência bem regrada, sua família e seus interesses mundanos, tudo isso talvez não passasse de mentiras."

Tolstói

7) "Nas coisas muito secretas devemos ter pouca companhia."

Dante Alighieri

8) "Por que é que tão raras vezes se vê a torrente do gênio altear-se em grandes ondas, avançar rugindo e perturbar as almas? É porque os espíritos sensatos, temendo a devastação dos seus pavilhõezinhos, sabem evitar a tempo, por meio de diques, o perigo que os ameaça."

Goethe

9) "A ciência ocidental obscurece a visão quando apregoa que o único gênero de saber é o que está de acordo com ela."

Jung

10) "Há que se arranhar a alma com garras de tristeza para que entrem as chamas do horizonte astral."

García Lorca

11) "Ao mesmo tempo que existe um infinito ao nosso redor, há algum infinito dentro de nós mesmos?"

Victor Hugo

29 dezembro 2010

Três Rápidas Considerações Meio-Poéticas II

I

o meu sol
é o mais limpo
o mais puro
o mais sincero
e o mais esperado:

ele só vem 
depois da tempestade.

II

coração poderoso
é aquele que às vezes falha.

III

sobre Deus não.
é a antipalavra.

ou todas elas.

27 dezembro 2010

Se o Espaço é Curvo...

palavra que vai
palavra que volta
o que me trará
quando bater à minha porta?
para onde que irá
tudo o que digo?
o que é que me voa
naquilo que verbo?

que asa que bate
em cada meu verso?
que ave que canta
em cada segredo
se não sei se estou certo?

quem foi que me disse
isso que deixo?
quem foi que me fez
ser que não eu?

que preço que pago
pelo sopro que largo?
e daquilo que sinto
o que é que é meu?

quem é que me sonha
lá no que falto?
que deus que não sei
me sangrou e por quem?
que fim e que mãe e que luz e que alto?
o que é que me vem?

se o espaço é curvo
tudo fará volta...
eu espero o meu verso
vir me mirar na minha porta...

25 dezembro 2010

Há Perigo porque Há Silêncio...

olho de gato
que sentes tudo
sem perderes o gelo
que tudo sabes
sem dizeres palavra
olha por mim
como se eu te orasse
ora por mim
como se em ti sentisse...

és todo sentido
e indiferença
vês do todo o sentido
sem ver o sem-sentido todo
da filosofia e da crença...

no teu passo felino
há à presa perigo
porque nele há silêncio

e etéreo...

a quem te agride com a pedra
tu respondes mistério...

amigo
traze geada ao meu frio
e sentido
ao meu sentido
não, nenhum humano...
tu, Gato
és meu exemplo a ser seguido.

23 dezembro 2010

Dois Poemas para o Natal...

Abaixo, deixo dois poemas para o Natal. O primeiro é de Fernando Pessoa. O segundo é da minha humilde autoria, escrito durante o Natal do ano passado. Os dois poemas deixo como minha mensagem natalina aos amigos leitores do blog.

Poema de Natal

Natal... na província neva.
Nos lares aconhegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo, 
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho e saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

Fernando Pessoa


Poema de Natal (o meu)

talvez te desejasse felicidades
a felicidade que ânsia pelos dramáticos angelicais
anos-luz de desejos que se afogam
nos impossíveis das idades...
mas não vou te desejar felicidades.

talvez te desejasse saúde
a saúde que sol pelos campos em tons azuis
verdes-luz de paisagens que se somem
nas contradanças do alaúde...
mas não vou te desejar saúde.

talvez te desejasse amor
o amor que céus pelas lunáticas infinitais
beijos-luz de sonhar-te que se vagam
ao som da mais clara cor...
mas não vou te desejar amor.

não, não vou desejar...
nem felicidades
nem saúde
nem amor
nem paz
nem calma

eu só te desejo Alma.

(Na imagem, o quadro "Anunciação", de El Greco.)

22 dezembro 2010

Palavras de Silêncio...

eu nunca digo teu nome
porque ele está em tudo que falo
e ainda mais no que calo
eu nunca calo teu nome
porque ele está em tudo que digo
esteja o ser
ou seja o eu contigo

teu nome é o verbo
de cada reverso
cada palavra
aqui bem ou mal-dita
é teu nome
em outro universo
em três letras de um código
sem sim
a ser fim
no alter-lado da vida

teu nome é um planeta que orbita
ao redor do núcleo de um átomo
e é um elétron que gira
ao redor do sistema de um sol
teu nome é alma e é som
e está só
e é pedra à estrela
e na pedra há uma estrela
seja em aura ou imersa
e vice-versa

o que mais sei
é o que não me disseste
mas sei que não saberei
todas as roupas que vestes
pela madrugada...

e como não Te dizer
se estás em tudo
e nadas cada vez mais
no meu nada?

21 dezembro 2010

Poemas do Término e Contos do Fim 41

A edição 41 do zine literário Poemas do Término e Contos do Fim estará disponível a partir da noite de hoje, dia 21/12.  Inclui a 1ª parte do conto "Agora Vou Lá. Tenho que Degolá-la." e os poemas "O Tornado",  "Poema Suicida", "Soneto aos Últimos Momentos" e "Poema Catastrófico nº3".

O zine 41 está também disponível digitalmente, gratuito, como a versão impressa. Para recebê-lo, basta que o leitor deixe seu e-mail aqui ou mande para reiffer@gmail.com, que então ele será enviado.

Em Santiago, os pontos de distribuição da versão impressa são os seguintes: locadoras Fox, Classic e Stop, biblioteca pública, biblioteca da Uri, Ponto Cópias e Livraria Santiago. Pode ser enviado para qualquer cidade do Brasil ou exterior, mediante o pagamento das despesas de correio.

Além de Santiago, o zine Poemas do Término e Contos do Fim possui distribuição nas seguintes cidades: Santa Cruz do Sul/RS, Santa Maria/RS, Porto Alegre/RS, Santo Ângelo/RS, São Gonçalo/RJ e Goiana/PE.
O trabalho de design da publicação é realizado por Guilhermes Damian.

19 dezembro 2010

Três Rápidas Considerações Meio-Poéticas

I

para toda vontade
existe um senão.
há quem queira seguir uma estrada
sem obedecer a sinalização.

II

o bom da ironia
(e isso não é uma ironia)
é que ela faz graça
sem trazer alegria.

III

percebo que o mundo
está em perfeito equilíbrio:
há um lado áspero
e outro liso...
o planeta me causa choro
a humanidade me causa riso.