a garganta ressecada
nos lembrará a ausência da água
o mundo sem inocência
nos lembrará a ausência dos bichos
a vida sem graça
nos lembrará a ausência das artes
nos lembrarão a ausência do amor
nos lembrará a ausência da vida.
falsos poetas apresentam várias ou todas
das seguintes características:
- muito aparecem
pouco escrevem
- quando escrevem
não dizem nada de novo
(ou nada de nada)
- acham que podem escrever
sem ler nada ou muito pouco
ou que vão escrever apenas lendo
sem viver nada
- quando são criticados
ou quando alguém não gosta
do que escreveram
eles se importam
- não gostam ou são indiferentes
a gatos
- são chatos pra caralho
que encanta e se teme
onde quer que estiver?
desde os infernos do diabo
do delírio do vinho
do sabor do morango
à menstruação da mulher
há vermelho
onde quer que se quer.
esse vermelho que ferve no fogo
esse vermelho sinal de perigo
esse vermelho da guerra de Marte
esse vermelho da arte de Vênus
esse vermelho daquilo que digo
um espelho
do mais quente reflexo
há vermelho no amor
há vermelho no ódio
há vermelho no sexo
há vermelho na dor.
há vermelho no crepúsculo
um pouco antes do escuro
e para o vermelho caminha
o nosso futuro.
os extremos se tocam.
não é nenhuma novidade:
da genialidade à loucura
basta um pequeno exagero.
e o dedo da Ásia (olhem no mapa)
toca a bunda da América
ou vice versa.
mas também se tocam dentro de nós.
entre a grandeza de fazer o bem
ou o prazer de cometer o mal
é só uma questão
de como amanhecemos.
corre nas nossas veias
entre beijos transas e abraços
a ânsia de sorrir ou de chorar
a vontade de amar
ou desejo de vingança.
Michelangelo nos mostrou
o toque de Deus nos nossos dedos.
Dante nos escancarou
o toque do Inferno em nossa mente.
somos apenas os peões
de um tabuleiro invisível?