a humanidade está velha:
aquele envelhecimento precoce
de quem não soube envelhecer
sem sonhos sem sentido sem ideais
(não se acredita em nada mais
e nem há como acreditar)
está como quem olha para um futuro
e não o vê
a humanidade está velha:
não traz mais nada de novo
vive de passado
recapitula tudo o que fez na história
e hoje é um amontoado de temas usados
que se repetem em caos
que se retornam em farsas
em escalas de decadência
a humanidade está velha:
e não aceita
muitas experiências
pouco aprendizado
não se tornou sábia
se empederniu na insensibilidade
doente e caduca
já nem pode aprender
nem se reconhece diante do espelho
a humanidade está velha:
com sua bengala de arrogância
sai às cegas
a dar bengaladas na própria casa
e no próprio destino:
agonizante
e na quase total inconsciência
por um resto de intuição
sente a presença da morte
sua esperança está no que vem depois.
04 novembro 2019
02 novembro 2019
Não Falo de Mim
não falo de mim.
não falo da minha tristeza
porque a minha tristeza é minha amiga.
não falo do meu coração
porque para falar do meu coração
eu tenho que o escutar
e eu não consigo escutar seus gritos
abafado pelos estrondos das tormentas
em que sempre anda metido.
não falo da minha alma.
o que resta dela está muito ocupado
se dando conta do Horror
que cai sobre todos nós.
falar da minha vida?
é inútil.
mas eu daria de bom grado
minha vida inútil
se fosse para varrer
esta humanidade da face da terra.
não falo de mim.
mentira.
todo este horror de que falo
sou eu.
não falo da minha tristeza
porque a minha tristeza é minha amiga.
não falo do meu coração
porque para falar do meu coração
eu tenho que o escutar
e eu não consigo escutar seus gritos
abafado pelos estrondos das tormentas
em que sempre anda metido.
não falo da minha alma.
o que resta dela está muito ocupado
se dando conta do Horror
que cai sobre todos nós.
falar da minha vida?
é inútil.
mas eu daria de bom grado
minha vida inútil
se fosse para varrer
esta humanidade da face da terra.
não falo de mim.
mentira.
todo este horror de que falo
sou eu.
30 outubro 2019
O que Mata
o que mata não é a morte.
é quando não se vive.
o que mata não é o trem.
é ter que andar sempre no trilho.
o que mata não é o erro.
é o que se julga certo
e sempre se faz igual.
o que mata não é a dor.
é a felicidade que nos é imposta.
o que mata não é a vida.
é o que se acha que se precisa
para se viver.
é quando não se vive.
o que mata não é o trem.
é ter que andar sempre no trilho.
o que mata não é o erro.
é o que se julga certo
e sempre se faz igual.
o que mata não é a dor.
é a felicidade que nos é imposta.
o que mata não é a vida.
é o que se acha que se precisa
para se viver.
28 outubro 2019
Não Fode
cobram-me que eu diga
que o homem apesar de tudo
é essencialmente nobre
mas respondo como a Cobra
que o homem ao pesar de tudo
é tão somente cobre
e o que nos resta do que seja humano
é de corpo alma e mente pobre
e nossa semente de humanidade
está peçonhamente podre
mas ainda cobram-me que eu diga
(depois de tudo o que o homem
não foi não é não pode)
que o homem é lá no fundo nobre
e serpentemente silvo:
sério? não fode.
que o homem apesar de tudo
é essencialmente nobre
mas respondo como a Cobra
que o homem ao pesar de tudo
é tão somente cobre
e o que nos resta do que seja humano
é de corpo alma e mente pobre
e nossa semente de humanidade
está peçonhamente podre
mas ainda cobram-me que eu diga
(depois de tudo o que o homem
não foi não é não pode)
que o homem é lá no fundo nobre
e serpentemente silvo:
sério? não fode.
26 outubro 2019
O Direito de Viver que Você Não Tem
você não tem direito a viver
tem direito a pagar:
seus pais pagam pelo hospital
quando você nasce
depois pagam por comida
roupa casa água luz
brinquedos livros lazer
remédios estudos transporte
seja por imposição seja por escolha
(se eles puderem escolher)
então se paga por mais estudo
e se paga para poder trabalhar
você pagará a partir desse trabalho
pela vida que começará a pagar:
é a sua vez de pagar
por aquilo que seus pais pagavam por você
(se é que você tinha pais para pagar)
você poderá começando
a pagar para morar
e você pagará para morar
mesmo que o lugar seja seu
depois você vai querer pagar por um carro
e você pagará para poder sair com o carro
e onde quer que você vá
para poder ter alguma graça onde você foi
terá que pagar por alguma coisa
para estar lá
pagar para sair
pagar para estar
pagar para fazer
pagar para ter
pagar para poder
pagar para amar
e você sabe que tudo pelo que paga
uma boa parte você não pagará só o preço
mas pagará também a parte roubada
que fica pelos caminhos do mundo:
você paga pela injustiça
e você também sabe que pagará para ficar velho
e ao fim das contas
(que tudo é um fim de contas)
pagará para morrer
só pelo Ser que você não paga:
o Ser não tem preço
tem direito a pagar:
seus pais pagam pelo hospital
quando você nasce
depois pagam por comida
roupa casa água luz
brinquedos livros lazer
remédios estudos transporte
seja por imposição seja por escolha
(se eles puderem escolher)
então se paga por mais estudo
e se paga para poder trabalhar
você pagará a partir desse trabalho
pela vida que começará a pagar:
é a sua vez de pagar
por aquilo que seus pais pagavam por você
(se é que você tinha pais para pagar)
você poderá começando
a pagar para morar
e você pagará para morar
mesmo que o lugar seja seu
depois você vai querer pagar por um carro
e você pagará para poder sair com o carro
e onde quer que você vá
para poder ter alguma graça onde você foi
terá que pagar por alguma coisa
para estar lá
pagar para sair
pagar para estar
pagar para fazer
pagar para ter
pagar para poder
pagar para amar
e você sabe que tudo pelo que paga
uma boa parte você não pagará só o preço
mas pagará também a parte roubada
que fica pelos caminhos do mundo:
você paga pela injustiça
e você também sabe que pagará para ficar velho
e ao fim das contas
(que tudo é um fim de contas)
pagará para morrer
só pelo Ser que você não paga:
o Ser não tem preço
24 outubro 2019
Da Extinção da Humanidade
I - para o planeta
(em sua condição atual)
a vida de um tigre
representa uma importância muito maior
do que a vida de um ser humano
II - a humanidade ainda acredita
que não será extinta
pelas catástrofes planetárias
porque está no topo:
mas as catástrofes planetárias
(e isso nos ensina a história)
são justamente para derrubar
o que está no topo
III - "como é acima é abaixo":
se há uma sabedoria planetária\universal?
haveria algum sentido
não haver sabedoria no planeta
mas ela ser encontrada de vez em quando
nos parasitas que o habitam?
(em sua condição atual)
a vida de um tigre
representa uma importância muito maior
do que a vida de um ser humano
II - a humanidade ainda acredita
que não será extinta
pelas catástrofes planetárias
porque está no topo:
mas as catástrofes planetárias
(e isso nos ensina a história)
são justamente para derrubar
o que está no topo
III - "como é acima é abaixo":
se há uma sabedoria planetária\universal?
haveria algum sentido
não haver sabedoria no planeta
mas ela ser encontrada de vez em quando
nos parasitas que o habitam?
21 outubro 2019
A Gigantesca Pequenez de Bolsonaro
Na imagem, tartaruga morta pelo óleo no litoral nordestino. O desgoverno do Bolsonaro até agora não fez NADA para limpar as praias, naquele que é o maior desastre ambiental em extensão da história brasileira. São os nordestinos e as ONGS que estão limpando. O egoísmo e a mesquinharia de Bolsonaro dizem que ele não tem nada que ver, porque o óleo não é brasileiro. Colocaram, sem provas, a culpa na Venezuela, mas a origem ainda é desconhecida. A única suspeita real são de barris da Shell abandonados na região. A imprensa oficial quase não se manifesta sobre a possível responsabilidade da poderosa Shell. Seja de quem for a culpa, o mínimo que se espera de um governo é proteger o seu povo e o seu território. Mas temos uma abominação na presidência que odeia o seu próprio país. A justiça já mandou o desgoverno federal se responsabilizar. Mas o dito presidente do país, um ser baixo, pequeno, minúsculo, cruel e desumano, vergonhoso e ridículo se recusa a agir, porque odeia nordestinos e odeia a natureza. Foi isso que vocês colocaram no poder.
18 outubro 2019
Morte de uma Civilização
I - esta civilização
ao passo que (des)anda
só tem um propósito
só tem um destino:
(con)sumir
II – a morte de uma civilização
não é quando morrem todos
os que fazem parte dela
quando morre uma civilização
todos os que fazem parte dela
já estavam mortos
III – quando pessoas
puderem decidir quem vive quem morre
para que a humanidade ainda exista
é porque a humanidade
já deixou de existir
ao passo que (des)anda
só tem um propósito
só tem um destino:
(con)sumir
II – a morte de uma civilização
não é quando morrem todos
os que fazem parte dela
quando morre uma civilização
todos os que fazem parte dela
já estavam mortos
III – quando pessoas
puderem decidir quem vive quem morre
para que a humanidade ainda exista
é porque a humanidade
já deixou de existir
16 outubro 2019
A um Grande Amigo
gato quieto
sentado no meio do pátio
como se fosse no meio do cosmos
tu
que sentes tudo
sem perderes o gelo
eu sei que tu sabes
sem me dizer palavra:
olha por mim
como se eu te orasse
ora por mim
como se eu te houvesse
gato
tu és todo sentido
e indiferença
vês o sentido do todo
e o todo sem-sentido
da humanidade em sentença
no teu passo felino
há à presa perigo
porque nele há silêncio
e a quem te agride de pedra
tu respondes mistério
gato meu amigo
exemplo de homem
a ser seguido
sentado no meio do pátio
como se fosse no meio do cosmos
tu
que sentes tudo
sem perderes o gelo
eu sei que tu sabes
sem me dizer palavra:
olha por mim
como se eu te orasse
ora por mim
como se eu te houvesse
gato
tu és todo sentido
e indiferença
vês o sentido do todo
e o todo sem-sentido
da humanidade em sentença
no teu passo felino
há à presa perigo
porque nele há silêncio
e a quem te agride de pedra
tu respondes mistério
gato meu amigo
exemplo de homem
a ser seguido
13 outubro 2019
Alma Desescrita
escrever uma palavra
antes que a palavra acabe:
nem ao menos um poema
que um poema nem mais há de ...
mas viver uma palavra
que ao menos não nem nada
pois nem mesmo vai ser lida
malentendida pela estrada
me sofrer uma palavra
que já era no que foste
e antes que o dizer se morra
e antes que o amor se passe
(como se ele já não fosse)
dessangrar uma palavra
antes que o humano acabe
(como se ele ainda fosse...)
me restar uma palavra
entre caos horror e calma
antes que se dane a vida
e que se desescreva a alma
antes que a palavra acabe:
nem ao menos um poema
que um poema nem mais há de ...
mas viver uma palavra
que ao menos não nem nada
pois nem mesmo vai ser lida
malentendida pela estrada
me sofrer uma palavra
que já era no que foste
e antes que o dizer se morra
e antes que o amor se passe
(como se ele já não fosse)
dessangrar uma palavra
antes que o humano acabe
(como se ele ainda fosse...)
me restar uma palavra
entre caos horror e calma
antes que se dane a vida
e que se desescreva a alma
10 outubro 2019
Parafuso da Engrenagem
fazer parte da humanidade:
ser obrigado por lei
a viver de acordo com a lei
acordada por outros
da qual nem se fez parte
do acordo
depois eles vão querer te colocar
num trabalho
de preferência num que se canse muito
e se pense pouco
(pouco mais que um porco)
e não se tenha tempo nem ânimo nem alma
de se questionar
fazer parte da humanidade:
ter que ser produtivo
(não se questiona para quem
nem por qual motivo)
para manter funcionando a engrenagem
(como se funcionasse)
de uma civilização capenga
por um caminho de riso
fazer parte da humanidade
ter que aparentar o normal
parecer como os parecidos
aceitar o inaceitável
para ser aceito como todo mundo
e todo mundo como igual
fazer parte da humanidade:
ser condicionado a seguir o trilho
até o ápice do cansaço
para obter o direito do fracasso
e de morrer como um ganso
(a se puxar o gatilho)
não ser o que se é
para ter o que (não) se quis
e ter que ser responsável
para assumir a responsabilidade
de que foi por um tris
que não se foi feliz
fazer parte...
não.
fazer Arte
ser obrigado por lei
a viver de acordo com a lei
acordada por outros
da qual nem se fez parte
do acordo
depois eles vão querer te colocar
num trabalho
de preferência num que se canse muito
e se pense pouco
(pouco mais que um porco)
e não se tenha tempo nem ânimo nem alma
de se questionar
fazer parte da humanidade:
ter que ser produtivo
(não se questiona para quem
nem por qual motivo)
para manter funcionando a engrenagem
(como se funcionasse)
de uma civilização capenga
por um caminho de riso
fazer parte da humanidade
ter que aparentar o normal
parecer como os parecidos
aceitar o inaceitável
para ser aceito como todo mundo
e todo mundo como igual
fazer parte da humanidade:
ser condicionado a seguir o trilho
até o ápice do cansaço
para obter o direito do fracasso
e de morrer como um ganso
(a se puxar o gatilho)
não ser o que se é
para ter o que (não) se quis
e ter que ser responsável
para assumir a responsabilidade
de que foi por um tris
que não se foi feliz
fazer parte...
não.
fazer Arte
07 outubro 2019
Contribuição à Literatura Nacional
literatura do agrado
dessas que é amiga de todos
de mandar beijos aos quatro cantos
e acender vela a tudo que é santo
pode ser tudo
menos literatura
literatura sorriso
dessas de cana açúcar melado
que pinga calda em concursos-feira
entre a baba de plateias-fake
pode ser tudo
mas não é arte
ok pode ser muitas coisas:
sabujo – adulo – servílio
medíocre – pelego – ordinário
guarapa – laxante – excremento
até escravatura
tudo isso e mais o que se queira
menos literatura
dessas que é amiga de todos
de mandar beijos aos quatro cantos
e acender vela a tudo que é santo
pode ser tudo
menos literatura
literatura sorriso
dessas de cana açúcar melado
que pinga calda em concursos-feira
entre a baba de plateias-fake
pode ser tudo
mas não é arte
ok pode ser muitas coisas:
sabujo – adulo – servílio
medíocre – pelego – ordinário
guarapa – laxante – excremento
até escravatura
tudo isso e mais o que se queira
menos literatura
05 outubro 2019
O Grandioso Cu dos "Sábios"
I - lá vão os “sábios”
do nosso tempo
com sua baba aba(o)stada
de sabão
falam e fazem espuma
julgam quem sangra ou noite ou fuma
mas mantêm firmes
enquadrados no sofá
os limites ilimitados
do ser cuzão
II – lá vão os "sábios"
posudos podados peidados
de tanto manuais cartilhas e bulas
solenes sensatos e pulhas
com algemas correntes cadeados
para prender a vida
nas suas (mori)bundas
e ensinar a quem vive
como se deve viver
e por fim lhe dizer:
“eu não tenho razão?”
III - lá vão os “sábios”
(que mal conhecem
o perfume dos lábios...)
para colocar o ser
a consciência o cosmos
num rodapé de página
dos seus alfafarrábios
03 outubro 2019
Ajudando quem não gosta de mim a gostar menos ainda
não gosto de alho
nem de cebola crua
nem de praia
também não gosto de verão
(a não ser pra ir pro mato)
não gosto de pipoca nem de levantar cedo
nem de Natal nem de Ano Novo
não gosto de funk nem de pagode nem de sertanejo
nem de fandango
nem de country
e acho um saco Semana Farroupilha
não gosto de azeite de soja
nem de olhar programas de TV
também não gosto de comemorações cívicas
nem religiosas
não gosto de comemorações em geral
não consigo ser participativo
e me incluir entre as gentes
não gosto de jogos eletrônicos ou online
ou de comédias românticas nem de berinjela
ou de comidas salgadas
não gosto de gente que está sempre de alto astral
e que tem uma mensagem positiva\otimista
(furada)
para qualquer situação
não consigo olhar para as pessoas
e sentir esperança (me incluo)
não gosto de dançar
(não gosto porque mal consigo)
não gosto de pessoas que não gostam
de animais
tenho extrema dificuldade de gostar de pessoas
que se acham boas iluminadas e justas
(porque sei que não são)
não gosto de festas e eventos sociais
não gosto de bajulação
não gosto de autoajuda e tudo do tipo
não gosto de tirar fotos sorrindo
nem de pessoas que só falam em dinheiro
ou que acham que a vida é sinônimo
de trabalho e emprego
não gosto de roupas claras
ou de roupas largas
não gosto de Fabrício Carpinejar
nem de Martha Medeiros
não gosto de pregações do tipo "faça isso
não faça aquilo"
não gosto de pessoas que acordam cheias de ânimo
e que querem que você tenha
o mesmo ânimo que elas
não gosto de água com gás nem de refrigerante
mas gostei de deixar motivos
para que não gostem de mim
nem de cebola crua
nem de praia
também não gosto de verão
(a não ser pra ir pro mato)
não gosto de pipoca nem de levantar cedo
nem de Natal nem de Ano Novo
não gosto de funk nem de pagode nem de sertanejo
nem de fandango
nem de country
e acho um saco Semana Farroupilha
não gosto de azeite de soja
nem de olhar programas de TV
também não gosto de comemorações cívicas
nem religiosas
não gosto de comemorações em geral
não consigo ser participativo
e me incluir entre as gentes
não gosto de jogos eletrônicos ou online
ou de comédias românticas nem de berinjela
ou de comidas salgadas
não gosto de gente que está sempre de alto astral
e que tem uma mensagem positiva\otimista
(furada)
para qualquer situação
não consigo olhar para as pessoas
e sentir esperança (me incluo)
não gosto de dançar
(não gosto porque mal consigo)
não gosto de pessoas que não gostam
de animais
tenho extrema dificuldade de gostar de pessoas
que se acham boas iluminadas e justas
(porque sei que não são)
não gosto de festas e eventos sociais
não gosto de bajulação
não gosto de autoajuda e tudo do tipo
não gosto de tirar fotos sorrindo
nem de pessoas que só falam em dinheiro
ou que acham que a vida é sinônimo
de trabalho e emprego
não gosto de roupas claras
ou de roupas largas
não gosto de Fabrício Carpinejar
nem de Martha Medeiros
não gosto de pregações do tipo "faça isso
não faça aquilo"
não gosto de pessoas que acordam cheias de ânimo
e que querem que você tenha
o mesmo ânimo que elas
não gosto de água com gás nem de refrigerante
mas gostei de deixar motivos
para que não gostem de mim
02 outubro 2019
Ronda
I – as formas de vida em risco
mas o que importa é o risco ascendente
dos gráficos dos lucros:
em breve um risco
de cabo a rabo
sobre o que é vida
II - o rodar do radar da Morte
a render futuros
e a rondar a humanidade
mas o que importa é o risco ascendente
dos gráficos dos lucros:
em breve um risco
de cabo a rabo
sobre o que é vida
II - o rodar do radar da Morte
a render futuros
e a rondar a humanidade
29 setembro 2019
A Humanidade está Acabada
não é que a humanidade irá acabar:
ela já o está.
tornou-se um algo
que deixou de ser
e não se avisou a si mesmo
o que há são indivíduos desfeitos
que não formam
um todo de humanidade
ou humanidade seja esse todo
de desfeitos e de acabados
de caóticos e desdestinados
não é que o homem irá acabar:
ele já o está.
tornou-se um algo
que deixou seu ser
tropel de mortos andantes
olhares vazados
desorizontes
sangue esvaziado
ausência de avantes
sonha o homem
que continua
que abre os caminhos
que pavimenta suas ruas
- mas -
só abre uns buracos abismos
onde enterra futuros
os sons e os sóis
e as almas sem nada
nem nuas
ela já o está.
tornou-se um algo
que deixou de ser
e não se avisou a si mesmo
o que há são indivíduos desfeitos
que não formam
um todo de humanidade
ou humanidade seja esse todo
de desfeitos e de acabados
de caóticos e desdestinados
não é que o homem irá acabar:
ele já o está.
tornou-se um algo
que deixou seu ser
tropel de mortos andantes
olhares vazados
desorizontes
sangue esvaziado
ausência de avantes
sonha o homem
que continua
que abre os caminhos
que pavimenta suas ruas
- mas -
só abre uns buracos abismos
onde enterra futuros
os sons e os sóis
e as almas sem nada
nem nuas
26 setembro 2019
O Fracasso da Humanidade e o Meu
escrever é saber que não se presta
não que só escrevendo se saiba
(há quem escreva e não saiba de nada
que é porque na real não escreve)
mas escrever
é saber que o ser humano é lixo
escrever é saber que não se vale nada
que pessoa alguma vale merda nenhuma
a diferença é que quem escreve
percebe:
as outras se acham se enganam se iludem
sempre se agarram na miséria
de alguma máscara:
ou no trabalho e o trabalho passa a ser tudo
(que nem sabem o que fazem
quando estão de folga)
ou em alguma religião
que lhes rouba dinheiro pensamento e liberdade
ou no dinheiro
que os torna um completo imbecil filhodaputa
ou vivem melecados e grudentos
de mensagens motivacionais
ou sorrisinhos babacas de otimismo paz amor
ou como aqueles fanfarrões cheios de papo na boca
e de merda na cabeça
com discursinhos vazios de direita merreca
e vivem convictos de que são SUCESSO!!!
já eu me olho no espelho
e penso na merda que é a humanidade
que eu faço parte dela
e sou responsável pelo que faz
esse amontoado de parasitas:
a humanidade é um fracasso
porque eu sou um fracasso.
a diferença é que eu escrevo sobre isso
e você não.
não que só escrevendo se saiba
(há quem escreva e não saiba de nada
que é porque na real não escreve)
mas escrever
é saber que o ser humano é lixo
escrever é saber que não se vale nada
que pessoa alguma vale merda nenhuma
a diferença é que quem escreve
percebe:
as outras se acham se enganam se iludem
sempre se agarram na miséria
de alguma máscara:
ou no trabalho e o trabalho passa a ser tudo
(que nem sabem o que fazem
quando estão de folga)
ou em alguma religião
que lhes rouba dinheiro pensamento e liberdade
ou no dinheiro
que os torna um completo imbecil filhodaputa
ou vivem melecados e grudentos
de mensagens motivacionais
ou sorrisinhos babacas de otimismo paz amor
ou como aqueles fanfarrões cheios de papo na boca
e de merda na cabeça
com discursinhos vazios de direita merreca
e vivem convictos de que são SUCESSO!!!
já eu me olho no espelho
e penso na merda que é a humanidade
que eu faço parte dela
e sou responsável pelo que faz
esse amontoado de parasitas:
a humanidade é um fracasso
porque eu sou um fracasso.
a diferença é que eu escrevo sobre isso
e você não.
24 setembro 2019
Sobre o Discurso Mentiroso de Bolsonaro diante do Mundo
O discurso de Bolsonaro na ONU, apesar de ter sido escrito por outros (já que o tal presidente mal consegue articular palavras, imaginem escrever) foi a tônica de sua campanha (e que tem sido seu desgoverno): descaradamente mentiroso, crivado de asneiras sem base e recheado das típicas declarações estúpidas da mais babaca extrema direita de quem se tem notícia.
Foi o discurso de um pseudopatriota, cuja "soberania" da Amazônia de que fala consiste em entregá-la a madeireiros, garimpeiros, grileiros e à ganância sem freios de latifundiários do agronegócio, que só o que desejam é ver a floresta no chão.
Foi o discurso de um narcisista delirante e patético, que tenta tapar o sol com a peneira do fracasso completo que está sendo seu desgoverno, o discurso de um louco completamente alienado e imbecil, que tenta negar fatos, a ciência, a educação, a verdade, no intuito inútil de esconder a sua perversidade e ignorância que beiram absurdos kafkianos.
Certamente, seu discurso totalmente fora da realidade e de fanfarrão de bolicho levou ao delírio a multidão (cada vez menor, diga-se de passagem) de seus cegos e fanáticos adoradores.
21 setembro 2019
Eles Buscando Felicidade
felicidade não se busca:
não pode ser buscado
um ponto que não está em um ponto
que se alcance:
isso se chama cansaço
quem alcança o ponto desejado
logo vê o outro ponto mais adiante
e naquele ponto visto e não-chegado
mora a felicidade imaginada falsa delirante
(que há outro ponto mais a frente
pelo qual morre toda gente)
quem feliz se julga
é só um largo gole de vinho que traga
segura uma vela
que a primeira ventania apaga
a felicidade (olha que é só o vinho)
é como para o colecionador
o ato de encontrar
um selo raro:
só dura o momento do ato
só pode ser feliz
quem sabe que não pode sê-lo
de fato
não pode ser buscado
um ponto que não está em um ponto
que se alcance:
isso se chama cansaço
quem alcança o ponto desejado
logo vê o outro ponto mais adiante
e naquele ponto visto e não-chegado
mora a felicidade imaginada falsa delirante
(que há outro ponto mais a frente
pelo qual morre toda gente)
quem feliz se julga
é só um largo gole de vinho que traga
segura uma vela
que a primeira ventania apaga
a felicidade (olha que é só o vinho)
é como para o colecionador
o ato de encontrar
um selo raro:
só dura o momento do ato
só pode ser feliz
quem sabe que não pode sê-lo
de fato
20 setembro 2019
Bosch, Schumann e Dante viam Demônios
olhando Bosch
ouvindo Schumann
lendo Dante
não sei se o que escorre
é a tua lágrima
ou o nosso vinho
ou este meu sangue
ouvindo Schumann
lendo Dante
não sei se o que escorre
é a tua lágrima
ou o nosso vinho
ou este meu sangue
16 setembro 2019
Beethoven Berrando Bêbado
Beethoven aos 54 anos estava surdo
e era bêbado.
foi quando concluiu sua 9ª Sinfonia
a maior obra musical de todos os tempos
(de acordo com muitos).
ninguém aguentava Beethoven nessa época
nos 6 anos que ele levou para terminar
a 9ª Sinfonia.
o sobrinho medíocre que vivia com Beethoven
dizia que ele berrava como um louco
o tempo todo.
o que Beethoven berrava viria ser
uma das mais emocionantes melodias já ouvidas.
diziam que Beethoven era um surdo alcoólatra acabado
e ele tentou reger a estreia da sua 9ª Sinfonia.
(foi a duração dessa sinfonia
que deu base à duração de um cd
quase 200 anos depois).
mas Beethoven estava tão surdo
que outro maestro teve que reger para ele.
teve um filme de 1995
"Minha Amada Imortal"
em que uma pessoa que odiava Beethoven
disse que ela não poderia mais odiar alguém
que fez uma música como a 9ª Sinfonia
(o que só pode ser invenção do filme).
hoje amam mais Beethoven pelo que ele fez
do que pelo que ele era
mas ele só fez porque foi o que era
e o que ele é
é na verdade o que ele fez.
e era bêbado.
foi quando concluiu sua 9ª Sinfonia
a maior obra musical de todos os tempos
(de acordo com muitos).
ninguém aguentava Beethoven nessa época
nos 6 anos que ele levou para terminar
a 9ª Sinfonia.
o sobrinho medíocre que vivia com Beethoven
dizia que ele berrava como um louco
o tempo todo.
o que Beethoven berrava viria ser
uma das mais emocionantes melodias já ouvidas.
diziam que Beethoven era um surdo alcoólatra acabado
e ele tentou reger a estreia da sua 9ª Sinfonia.
(foi a duração dessa sinfonia
que deu base à duração de um cd
quase 200 anos depois).
mas Beethoven estava tão surdo
que outro maestro teve que reger para ele.
teve um filme de 1995
"Minha Amada Imortal"
em que uma pessoa que odiava Beethoven
disse que ela não poderia mais odiar alguém
que fez uma música como a 9ª Sinfonia
(o que só pode ser invenção do filme).
hoje amam mais Beethoven pelo que ele fez
do que pelo que ele era
mas ele só fez porque foi o que era
e o que ele é
é na verdade o que ele fez.
14 setembro 2019
Resta Brahms
se tudo já foi dito
e nada tem adiantado
restam o tudo ou nada e o trago
se a vida perdeu sentido
e o sonho é um abutre exangue
restam a vida ou sonho e o sangue
se tudo que foi arte
hoje é fim de caminho
restam a arte o fim e o vinho
se o mundo é uma taça vazia
e nem importa que tu ames
resta a taça e resta Brahms
e nada tem adiantado
restam o tudo ou nada e o trago
se a vida perdeu sentido
e o sonho é um abutre exangue
restam a vida ou sonho e o sangue
se tudo que foi arte
hoje é fim de caminho
restam a arte o fim e o vinho
se o mundo é uma taça vazia
e nem importa que tu ames
resta a taça e resta Brahms
12 setembro 2019
Sobre a Tua Vida Esmagada
onça atropelada
(pela estrada):
nenhuma lágrima
de ninguém
só teu sangue esparramado
a tua alma derramada
(pela estrada)
é mancha do que era:
para quem passa rápido
(que é preciso ir e vir
a correr e a sorrir)
tu foste de outra era
e agora és nada
tu sendo uma
és todos
que já não são
para que fosse
o progresso
(pela estrada ao nada)
quem se importa
na pressa?
tua existência
num mundo moderno
é inútil
é um excesso
sobre a tua vida esmagada
(pela estrada findada)
soprou um hálito
de so(risos)
a sonhar com beijos na noite
ou com sono de justos
ou em festas baladas
sobre a tua vida esmagada
(pela estrada esvaziada)
eu mesmo...
fiz o quê?
nada
só um poema
que também é nada
para quem o lê
(pela estrada...)
(pela estrada):
nenhuma lágrima
de ninguém
só teu sangue esparramado
a tua alma derramada
(pela estrada)
é mancha do que era:
para quem passa rápido
(que é preciso ir e vir
a correr e a sorrir)
tu foste de outra era
e agora és nada
tu sendo uma
és todos
que já não são
para que fosse
o progresso
(pela estrada ao nada)
quem se importa
na pressa?
tua existência
num mundo moderno
é inútil
é um excesso
sobre a tua vida esmagada
(pela estrada findada)
soprou um hálito
de so(risos)
a sonhar com beijos na noite
ou com sono de justos
ou em festas baladas
sobre a tua vida esmagada
(pela estrada esvaziada)
eu mesmo...
fiz o quê?
nada
só um poema
que também é nada
para quem o lê
(pela estrada...)
10 setembro 2019
Você é Doente
a maneira dos que controlam a sociedade
poder controlar aquilo que não controlam
é determinar tudo que foge ao controle
como doença:
se você bebe além do social, você é doente
se você fuma, você é doente
se você não faz exames regulares com um médico
você é doente
se a você não interessa
ser alguém com um bom emprego
que te dê um bom dinheiro
que te estampe como bem sucedido
você é doente
(mental)
se você pensa e se comporta fora do padronizado
e se interessa por coisas que ninguém se interessa
você é doente
(mental)
se você sente
(se sente muito)
você é doente
se você não segue a regra geral
de estudar se formar trabalhar
constituir família
ser um pilar da sociedade
homem de bem
ter boa casa bom carro
acumular bens
achar que isso é tudo
e finalmente morrer
você é doente
(total)
se você não se sente
vitorioso feliz alto astral sorridente
você é doente
eles querem que você seja um robô:
robôs não ficam doentes
poder controlar aquilo que não controlam
é determinar tudo que foge ao controle
como doença:
se você bebe além do social, você é doente
se você fuma, você é doente
se você não faz exames regulares com um médico
você é doente
se a você não interessa
ser alguém com um bom emprego
que te dê um bom dinheiro
que te estampe como bem sucedido
você é doente
(mental)
se você pensa e se comporta fora do padronizado
e se interessa por coisas que ninguém se interessa
você é doente
(mental)
se você sente
(se sente muito)
você é doente
se você não segue a regra geral
de estudar se formar trabalhar
constituir família
ser um pilar da sociedade
homem de bem
ter boa casa bom carro
acumular bens
achar que isso é tudo
e finalmente morrer
você é doente
(total)
se você não se sente
vitorioso feliz alto astral sorridente
você é doente
eles querem que você seja um robô:
robôs não ficam doentes
07 setembro 2019
A Tempestade (De Novo)
o homem
(que já não tem reforma)
para hipocrisiar sua miséria
e na tentativa malinformada
de impedir que as forças se formem
formou toda forma de (de)formações:
desde patéticas técnicas inarmônicas
até mecânicas máquinas estúpidas
só para nos acomodar no nada
de nossas disformes fôrmas
inúteis nocivas vazias
e ainda se acha
(esse ser que se diz humano)
capaz de entender aquilo que se forma
com cálculos fórmulas
cossenos
a foder-nos
mas uma outra Força se levanta:
não há nada que possa contra
a formação da Tormenta
(que já não tem reforma)
para hipocrisiar sua miséria
e na tentativa malinformada
de impedir que as forças se formem
formou toda forma de (de)formações:
desde patéticas técnicas inarmônicas
até mecânicas máquinas estúpidas
só para nos acomodar no nada
de nossas disformes fôrmas
inúteis nocivas vazias
e ainda se acha
(esse ser que se diz humano)
capaz de entender aquilo que se forma
com cálculos fórmulas
cossenos
a foder-nos
mas uma outra Força se levanta:
não há nada que possa contra
a formação da Tormenta
04 setembro 2019
Humanidade, Vai Dormir.
pra que seguir acordada
no final do teu dia
que não deu em nada?
caminhar para onde?
destruir mais o quê?
tu já caminha em círculos infernais
a matar a vida por onde passa
a voltar com um rastro de sangue
sempre ao mesmo lugar
que sentido encontrou
em tudo que tu (não) fez?
florestas tombadas rios de imundícies
animais extintos desertos venenos
lagos de fezes horrores e medos
paraísos que se tornaram infernos
abismos que se abriram cedo
seja o que for do que fores
humanidade
deixou em agonia teus filhos
arrancou os membros e furou os olhos
da tua mãe
por um saquinho de moedas
e não há passo a ser dado
que em si já não tenha sido
nem há nada a ser dito
nem um feito a ser erguido
nem um algo acreditado:
só resta teu vasto cansaço
só resta tua casa em pedaços
só resta tua alma vazia
Humanidade...vai dormir
que amanhã é outro dia
no final do teu dia
que não deu em nada?
caminhar para onde?
destruir mais o quê?
tu já caminha em círculos infernais
a matar a vida por onde passa
a voltar com um rastro de sangue
sempre ao mesmo lugar
que sentido encontrou
em tudo que tu (não) fez?
florestas tombadas rios de imundícies
animais extintos desertos venenos
lagos de fezes horrores e medos
paraísos que se tornaram infernos
abismos que se abriram cedo
seja o que for do que fores
humanidade
deixou em agonia teus filhos
arrancou os membros e furou os olhos
da tua mãe
por um saquinho de moedas
e não há passo a ser dado
que em si já não tenha sido
nem há nada a ser dito
nem um feito a ser erguido
nem um algo acreditado:
só resta teu vasto cansaço
só resta tua casa em pedaços
só resta tua alma vazia
Humanidade...vai dormir
que amanhã é outro dia
01 setembro 2019
Todos Nós Morremos
todos nós morremos
do tanto
ou do nada
que fazemos
todos nós morremos
do muito que queremos
ou mais ainda
do muito que fugimos
todos nós morremos
da vida que levamos
ou da morte que vivemos
todos nós morremos
disso que a olhos vistos
disso que nem vemos
todos nós morremos
do que nos iludimos
do que muito sabemos
e estamos todos mortos
(já abrimos abismos)
e nem percebemos
e estamos todos mortos
que é já o fim da Noite
e só após o sono
amanheceremos
do tanto
ou do nada
que fazemos
todos nós morremos
do muito que queremos
ou mais ainda
do muito que fugimos
todos nós morremos
da vida que levamos
ou da morte que vivemos
todos nós morremos
disso que a olhos vistos
disso que nem vemos
todos nós morremos
do que nos iludimos
do que muito sabemos
e estamos todos mortos
(já abrimos abismos)
e nem percebemos
e estamos todos mortos
que é já o fim da Noite
e só após o sono
amanheceremos
30 agosto 2019
26 agosto 2019
Lições da Poeira
vê como tudo se perde
por entre os dedos
do que não vemos
vê como tudo se verte
por entre a vida
que nem é vista
e a água que corre
(só nos resta o porre)
nem percebemos
que já é areia...
lições da poeira
quando vê-se que é
o que nem é já se foi
estamos sempre
um passo atrás
daquilo que nos passa
só somos
(somos sós)
quando nem será mais
e deixamos que morram
antes que o corpo
as nossas almas
até então imortais
mas eram só de areia...
lições da poeira
e o que sobra
é o papel do que fomos
superfície maquiada e derradeira
o pó da face plastificada
e ficam ali as pessoas
num mundo já à beira
sendo um móvel de belo verniz
a se escorrer do nariz
perfilado da máscara
o que os cupins deixaram em lasca
aquelas pessoas ainda vivas
mas só do que não foram
restos vazios de casca
baldes cheios de poeira
e castelos de areia...
por entre os dedos
do que não vemos
vê como tudo se verte
por entre a vida
que nem é vista
e a água que corre
(só nos resta o porre)
nem percebemos
que já é areia...
lições da poeira
quando vê-se que é
o que nem é já se foi
estamos sempre
um passo atrás
daquilo que nos passa
só somos
(somos sós)
quando nem será mais
e deixamos que morram
antes que o corpo
as nossas almas
até então imortais
mas eram só de areia...
lições da poeira
e o que sobra
é o papel do que fomos
superfície maquiada e derradeira
o pó da face plastificada
e ficam ali as pessoas
num mundo já à beira
sendo um móvel de belo verniz
a se escorrer do nariz
perfilado da máscara
o que os cupins deixaram em lasca
aquelas pessoas ainda vivas
mas só do que não foram
restos vazios de casca
baldes cheios de poeira
e castelos de areia...
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