10 agosto 2017

Pós- Humano

as pessoas confundiram viver 
com o que se faz para viver: 
vive-se para um meio 
e nunca se chega a nada 

as pessoas confundiram vida 

com o preço que se paga pela vida: 
apenas se paga o preço 
e não se vive  

o objetivo da vida 

tornou-se o cansaço para o descanso 
para que se atinja de novo 
o mesmo objetivo 
a se cansar 

chama-se de vida 

o preenchimento do vazio 
de não se viver

08 agosto 2017

Do que se Ergue

aquilo que se faz:
sem paz
aquilo que não vem:
desdém
aquilo que não é:
nem fé

aquilo que se vai:
te foste
aquilo que se foi:
é foice
aquilo que não fui:
me fundo

aquilo que será:
já está
aquilo que não sou:
é som
aquilo que se erguer:
é o ser

06 agosto 2017

Vingança

as pessoas em todos os seus passos
passo a passo caminham à vingança
todos esperamos a espada e a lança
que virão em morte de nossos rastos

o caos o fogo a fúria o assassinato
cortarão goelas da falsa esperança
império do horror que nunca se cansa
como gatos que destroçassem ratos

entre o longínquo se levanta um grito
uma tormenta que olho algum alcança
uma catástrofe em noturno rito

numa manhã de chuva morna e mansa
a esperança num coração perdido
vem dizer que sim... haverá Vingança


03 agosto 2017

"Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão..." (Baudelaire)

ninguém é o que são:
eu mesmo
só sou meu eu mesmo
quando sou ninguém

o que somos
somos de não-ser

ninguém aqui é são:
somos todos doentes
há mais podres na alma
do que bactérias nos dentes

ninguém é o que seja:
não somos
nem o que se deseja

ah, os que que se julgam sãos...
todo mundo se acha 
um épico
mas mais seria si mesmo
um bêbado

01 agosto 2017

"Elite" acéfala e estúpida


Os absurdos, os desmandos, as injustiças que têm ocorrido no Brasil de agora, desde aqueles do campo político, econômico, trabalhista,  da perda de direitos, até os de comportamento social apresentam como uma de suas principais causas algo relativamente simples.


É que o brasileiro, em geral, sofre de complexo de inferioridade e de uma superficialidade desmedida. O brasileiro aspira sofregamente ser "superior". E, na sua superficialidade, ele entende que para ser superior, tem que ter dinheiro e tem que ser da "elite". Quando ele não tem esse dinheiro e\ou ele não é da "elite", acredita que NÃO será inferior se apoiar em tudo, de forma incondicional, os ricos e as elites. 


Consciente ou inconscientemente, ele cria uma ilusão de superioridade ao pensar como os ricos, mesmo não o sendo. Ele afirma a si mesmo: " não sou pobre, porque penso como os ricos. Sou da elite, porque aparento ser da elite." E para o brasileiro superficial, aparência é tudo. E a nossa elite é uma das mais acéfalas e estúpidas do mundo. É muito fácil parecer com ela.

30 julho 2017

Árvore é Passado

a árvore passa
porque o progresso passa.
não tem sentido? 
não, a humanidade o perdeu:
atrofiou seus sentidos
de encontrar sentido
de fazer sentido
de ser sentido

agora, qual sentido seguir?

a árvore passa
no sentido de que passou seu tempo
o progresso passa
no sentido de que dá passos
num passo a passo efêmero 
com o qual em breve 
esta humanidade será passado

27 julho 2017

Free Books Editora

A pedido do amigo Paulo Soriano, divulgo seu site/editora, a Free Books Editora, que realiza a publicação de livros digitais com contos e romances de literatura fantástica. Um dos meus contos antigos, ainda de 2010, Urubus Demoníacos, foi publicado na página. Todos os arquivos podem ser baixados em formato PDF. Para conhecer o site, clique aqui

25 julho 2017

Você é só um Robô

não existem governos
não existem nações
não existem países
não existem povos
existem grandes corporações empresariais
existe o lucro
e existe quem dá o lucro
existe o consumo:

o que eles querem
é só que você consuma
e trabalhe para produzir e pagar 
o que consome
e só

para isso existe o controle:
governos são para controlar
empregos são para controlar
leis são para controlar
mídias são para controlar
escolas são para controlar
polícias são para controlar
a medicina é para controlar
a tecnologia é para controlar
a religião é para controlar
a moda é para controlar
tudo é controle

e você é o objetivo da nossa civilização:
você é só um robô

23 julho 2017

Então o Homem quer ir à Marte?

I – o homem no espaço
quer levar a vida a Marte
o homem na Terra
quer levar a vida à Morte

II – a ciência tenta descobrir
se há em Marte o metano
e nem sabe
se há no homem o humano

III – caro leitor:
o homem quer  ir a Marte
para aprender a amar-te?

IV – aham, o homem quer ir a Marte...
grande marte
grande mar de...
grande merda

19 julho 2017

Mensagem da Ruína

finda teu rastro em ruína
enfia o rabo no reto
risca da face da terra
teu rosto-resto em ruína

homens de raça-ruína
reles que roem e rastejam
porcos que arrancam e arrastam
num riso-reza em ruína

roídos seres-ruína
na rua em raivas e ratos
de ranço e ranho rodeados
roucos de caos e ruína

rompida em fome e ruína
se rega em rugas tua alma
as rãs compõem o teu réquiem
e rolam ao som das ruínas

homem em rápida ruína
larga ao raio tua rosa
rasga essas roupas de rico
rema em teu rio de ruínas

16 julho 2017

Soneto às Palavras Não Ditas (ou Ao Após)

palavra que sinto quando me esqueço
o que é que de ti lembrar-me te faz?
deusa que eterna ao instante fugaz
nada que traga o meu não ao avesso

seja comigo ao altar do teu preço
verbo-destino que sigo-me atrás
silêncio que os muros quebra do mas
sonata que alta ao que nunca mereço

ah se eu corresse em teu rio sempre em chama
íris que fosse no som desta voz
braço sanguíneo que se ergue da lama

verso de espera que se ala no após
ah se teu quem fosse aquilo que chama:
deixa esquecer-me e lembrar-te entre nós

13 julho 2017

Desaforadas (ou Após Ouvir Shostakovich)

porque há risos gargalhadas
em cascatas cataratas
sanguinadas pelas pragas

são cantatas de gargalhas
das risadas alastradas
zombarias pelas águas

são compassos de risadas
entre asas garras e brasas
pelas rubras russas geadas

o deboche dos abutres
o gaguejo de macacos
gorgolejo de galinhas

graves línguas de lagartos
o sarcástico dos asnos
entre gárgulas e cabras

ironias desbocadas
em metralhas e sarcasmos
em grotescos e catarras

há danças valsas e facas
essa desgraça engraçada
a lembrar que a humanidade

é uma piada

11 julho 2017

Poema de Ocaso a uma Sonata de Schubert

é quando ouço aquela sonata de Schubert
que um cavalo vem bater na minha porta:
então estranho o peso dos olhares dos sapos
e escrevo poemas (que) não-sãos

há algo de Poe nunca-lido
e uma desolação de silêncio
de não-flauta na mata

é uma sentença de um quadro de Bosch
que não me sai do que pesadelo

é sonho de sol cada vez mais ao norte
um vento de corvo que abutra no ar
carta carteando selos vermelhos
e um planeta por trás dos espaços

é a ponta de um dedo em um dedo
como se fosse um beijo sinal:
há algo do que já é tarde
e a iminência de um vasto Final

09 julho 2017

Dessilêncio

olho aquele olhar que me olha
sem que dirija algum olhar
a nenhum lugar:
vejo-o lá
quando o olhar que me vê 
não o vejo
porque nem está

não se (h)ouve palavra.
no seu dessilêncio
verbo ausente do denso
que se pensa dito
e é o tudo:
só mais uma gota na taça
e o imenso do nada quanto se faça

o que é feito em verdade
é feito sem que se importe 
no deixe que se fale ou cale
é assim que ficará um sopro no alto
um passo no vale:
só serei o que sou
quando do mim mesmo
me estiver falto
e a um passo do falhe

aliás o de Olhar
não se diz de nenhum jeito
eu mesmo não falo de coisa alguma
e este poema
como bem podem (não) ver
nem chegou a ser feito

06 julho 2017

Sentença

a cada árvore plantada
há mil derrubadas
ou ainda mais
e já são tantas
quem nem deixam sinais

a cada água que é clara
há mil esgotadas
de veneno e fedor 
e já são tantas
que nem se nota o horror

a cada balada composta
há mil baladas 
na cara ou na testa 
e esse rastro de sangue 
é tudo o que nos resta

a cada animal que é amado
há mil massacrados
ou sob tortura
e essa doença da vida 
já não tem mais cura

a cada beijo que é dado
há mil que são fingidos
e ainda mais outros mil
daqueles malditos

e tenho dito

04 julho 2017

Ladrão com Honra

há o ladrão covarde
e o ladrão com honra:
o ladrão covarde
vira político
abre uma empresa
ou funda uma igreja
para poder roubar
com a polícia e a lei do lado

veja bem:
eu não escrevi

que todo político empresário ou pastor
quis sê-lo por ser ladrão
(é preciso que se diga

pois há quem entenda tudo errado)

já o ladrão com honra
(sejamos francos)
assalta bancos

01 julho 2017

A Época da Ausência

a cada passo dado pela humanidade
morre um otimista
que não percebe o passo
e não sabe que morreu
_________________


acreditar (ainda)
nesta civilização
como sendo civilização
é algo menos de ingênuo
e mais de perverso
_________________

dizem que vivemos tempos de desespero...

discordo.
para o desespero é necessária a consciência
de que se perderam as esperanças
essa consciência não a temos:
vivemos tempos de vazio

vivemos a época da ausência

29 junho 2017

O Bem-Sucedido

vivia para o trabalho
mas estava certo de que não
achava que era dos que não perdiam
oportunidades:
não se desperdiça uma chance

de se ganhar um pouco mais
não se recusa
só mais uma horinha extra
não se diz não para mais um cliente
não se deixa de aumentar a poupança
para se vagabundear nas férias

ninguém deve se dar por satisfeito
se pode aumentar sua renda no próximo ano
não se vive sem ambições sem metas de crescimento
mais diplomas na parede
é mais dinheiro na conta do banco

o descanso pode esperar
a carreira não
a saúde pode esperar
a promoção não
o amor pode esperar
o status social não
a alma pode esperar
o sucesso não

ficar ouvindo música
não vai dar um carro novo
não é se divertindo que se reforma a casa
investimentos não brotam de passeios

se se deixa de prosperar
o que os outros vão dizer?

primeiro progredir

para um dia se viver

mas o progresso não para...

27 junho 2017

Questão de Honra

o amor
é uma questão de trato
a confiança
é uma questão de taco
a dor
é uma questão de trégua
a política
é uma questão de treta
a justiça
é uma questão de troca
a vida 
é uma questão de transa
a solução
é uma questão de trago
o fim
é uma questão de tempo

25 junho 2017

o verso não é meu

o verso? deixo que ele saia
como sendo mulher que dispa sua saia
e sem que eu pense em nada além de pensar-me

o verso nada tem a ver do que penso
a arte que por ele passa quando passa
vem de um outro todo que nem tenho
vento que se vaga não comigo
lago que se nada no não-dito

deixo que passe o que se passa por mim
por que não importa aquilo do que sinto
e o que corre no sangue do que tenho
de que vale o vale que me afundo?

o verso é vasto longo e fundo
vai muito além do que nem está em mim:
por que querer que ele fale de um eu?
por que o verso tem que ser o que é meu?

22 junho 2017

Vida Moderna x Vida

há tanta coisa no tempo de vida
que não há mais tempo para a vida
viver tornou-se uma ordem a ser acatada
dada por todos que não são ninguém
sob o pretexto de uma escolha
em que não se escolhe

faça isso faça assim faça o certo
seja feliz tenha bens alcance o sucesso
trabalhe estude se informe
compre consuma ostente
vá à academia faça curso de inglês caminhe no asfalto
não pode beber não pode fumar mas pode comer porcaria
tenha um celular avançado
nas férias vá para a praia
consulte um médico faça exames
empine sempre um sorriso
ajude alguma causa social
goste do que está na moda
seja o que se espera de ti
tenha planos tenha metas tenha ambições
e os atinja

mas não basta ter
é preciso mostrar que se tem:
não se é feliz nem se tem sucesso
se os outros não souberem
que você é feliz e que você tem sucesso

faça isso tudo
e no que sobrar do tempo
lamente não ter tempo pra nada

20 junho 2017

mundotrágico

motosserras
motocerros
motossangas
matamorros
matassorros
matadouros

maremotos
maresmortos
maresmudos
mardemonstros
mardemedos
mardemerdas

amazônico
malozônico
magrocórrego
holocáustico
agrotóxico
agrotúmulo

mundocômico

18 junho 2017

(Só) Trabalhe!

quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer: "SÓ trabalhe!"
é a melhor forma de dominação:
quem só trabalha
não tem tempo para ler
não tem tempo para ouvir
não tem tempo para ver
não tem tempo para pensar
não tem tempo para sentir
para se inquietar
para questionar
para contemplar
enfim, não tem tempo para a vida

quem não vive
não se importa com o que vive
não se importa com o que sofre
não se importa com o que morre

a era pós-humana
a era pós-tudo
quer só máquinas quer só robôs
porque eles SÓ trabalham

quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer "SÓ trabalhe!"

eles só não dizem só
porque não é só
isso


15 junho 2017

Duas Palavrinhas

I - do poema futuro:

em cadáverso
um cadáver
em cadáestrofe
uma catástrofe

II - do tempo:

o problema do tempo 
é que um dia ele chega
e quando chega
o tempo que passou 
não chegou:
o tempo é sempre 
insuficiente

13 junho 2017

Dos Homens sem Paz

I  - a próxima guerra
dos homens sem água
será pela mágoa
de uma terra 
acabada sem trégua
pelos homens sem garra e sem guelra
morridos à míngua

II – a espada
na terra cravada
será cruz

a cruz
no pulso empunhada
será espada

III – os homens só terão paz
quando a paz for daquelas
de cavar covas

11 junho 2017

Contradição

afirmam alguns
que a vida surgiu do nada
mas o que seria o nada?

de duas
uma:

I – a toda vida que há
surgiu do nada que não é?
mas como
se até na matemática
qualquer número
vezes zero
é sempre zero?

ou o nada
é só um nome que damos
às causas
que não alcançamos
em nossos limites?

II – ou então o nada
é o nada mesmo
e ponto.

nesse caso
a vida que vemos
também é um nada

se é um nada
não existe

ou existem nadas
que existem?

e quem vê o que não existe
se só acredita vendo
acredita no que não existe

como pode o que não existe
existir?

08 junho 2017

Soneto de um Último Século

vasta contemplação do fim do humano 
surgiu-me entre beijos de horror e caos
sangue felídeo daqui até o Laos
lábios de som em desastre oceano

teu rosto não-visto em réquiem brahmiano 

nunca acabou de acabar-me ao final 
teu olho ainda sinto entre um temporal 
e entre estes céus de vermelho romano 

agora é tarde o distante do cedo

ergueu-se o fim e sonhei-te perplexo
violino e piano entre pânico e medo 

mas em tuas mãos havia um reflexo 

em teu cabelo ocultava um segredo: 
o de que a morte é o mistério do sexo


06 junho 2017

Sobre a "Festa" no Instituto Evangélico : adiantei-me

O poeta, o escritor sem fama, que é o meu caso, é um cara chato. Como não tem mídia para o promover, tem que promover a si mesmo. Por isso que vou repostar um poema que publiquei aqui em 5 de abril, o qual expressa, em sua primeira parte, exatamente a situação ocorrida no Instituto Evangélico de Novo Hamburgo. Seu título é "dos Brasileiros e da Humanidade": 

I - o complexo de pequenez e de inferioridade do brasileiro 
é tão grande e tão superior 
que ele precisa escolher alguns como mais inferiores 
para humilhar oprimir eliminar e pôr a culpa 
e assim se sentir superior 

II - a humanidade se cansou 
(assim como quem já assistiu a tantos filmes de horror 
que já nada mais choca ou surpreende): 
coisa alguma faz efeito algum .
quando se chega a esse ponto 
é preciso mudar a fundo 
ou morrer e pronto

04 junho 2017

600 mil hectares A MENOS de reservas e milhões de hectares DESMATADOS perdoados

Com um Congresso formado principalmente por ruralistas, gigantes do agronegócio e por grandes empresários, e com um presidente que é apenas um fantoche na mão dos interesses econômicos, o que se pode esperar? Além, é claro do massacre dos direitos trabalhistas, devemos também esperar o massacre do nosso já massacrado meio ambiente. 

Agora, Temer e o Congresso querem reduzir 600 mil hectares (o equivalente a QUATRO cidades de São Paulo) a Floresta Nacional do Jamanxim, no já muito desmatado estado do Pará, ou seja, na Amazônia. E quer fazer coisa semelhante em várias outras reservas na Amazônia. Se com todas essas reservas, já há uma grande devastação em muitas áreas da Amazônia, inclusive o ritmo do desmatamento só aumentou desde o início do (des)governo Temer, imaginem como será com a redução dessas reservas?  Em poucos anos, teremos um ritmo alucinante de destruição na Amazônia como nunca antes visto. Quer saber mais sobre o assunto? Clique aqui.

Não bastasse isso, a turma do lucro a qualquer custo ainda anistiou, ou seja, perdoou crimes ambientais, com o seu nefasto Código (des)Florestal. Em 5 anos, foram perdoados 41 milhões de hectares desmatados em áreas que deveriam ser de CONSERVAÇÃO PERMANENTE. Ficou tudo por isso mesmo. Ou seja, natureza destruída e não restaurada. Mais sobre assunto aqui

Para onde vamos, caro leitor? Tu sabes, o abismo é logo ali.


02 junho 2017

O (Des)sentido da vida

passamos a vida fazendo coisas
que não gostaríamos de fazer
para fazer as coisas que gostaríamos
mas que não teremos tempo de fazer
por ter feito tanto o que não gostaríamos

passamos a vida deixando de ser o que em fundo somos
com o objetivo único de ao fim um dia poder ser:
mas tanto deixamos de ser para poder ser
(para apodrecer)
que quando podemos ser 
já não mais somos

31 maio 2017

A Era da Superfície

I - época contraditória: 
as pessoas estão tão sentimentais 
e insensíveis: 
se emocionam. mas só com merdas: 
choram pelo mocinho da novela 
cagam para o massacre do que é vida 

II – a tarefa do artista 
é a mais ingrata a mais inútil: 
precisa atingir o verdadeiro sentimento humano 
ou seja trabalha cada vez mais com o nada 
seja de seu seja de outros 

III - de modo que o artista 
que mais alcança o coração alheio 
é o que melhor esgota o seu

28 maio 2017

Sou a favor da Ditadura

Sou a favor da reforma da previdência, desde que eu, assim como as empresas, fique anos sem pagar impostos e depois seja perdoado.

Sou a favor da sonegação fiscal, desde que quando eu comprar um produto ou pagar por um serviço tenha o imposto que eu pago, que será sonegado, devolvido pra mim.

Sou a favor,  assim como o deputado Jair Bolsonaro, que as mulheres ganhem menos por seus trabalhos (afinal, elas engravidam), desde que essas mulheres que ganham menos não sejam a minha mulher, a minha mãe ou a minha filha.

Sou a favor do combate às minorias menos favorecidas, que só incomodam mesmo, desde que não toquem naquilo em que eu sou minoria.

E, para encerrar, sou a favor da ditadura, desde que  eu seja o ditador.



26 maio 2017

Assassinato

vida
é aquilo que nos deixa a cada instante
não porque o tempo passa e então se morre
mas porque o tempo passa
e não se vive

tempo
é aquilo que não se sabe
que se perde a cada instante:
pensa que não perde quem trabalha
mas só não perde quem tem alma

alma
é aquilo que se mata
a todo instante

25 maio 2017

Era da Velocidade

época da velocidade
a jato a vácuo 
a comida comprada pronta 
a morte a 200 por hora 
em milésimos de segundos 

o amor é questão de fundos
ou de voltas pelo mundo 
só o tempo do beijo ou do sexo 
sem volta e sem nexo  

celular computador internet:
é a vida no agora e no antes 
sem que haja adiantes 

as correias dos motores mecânicos 
poesia de sensor eletrônico 
correrias dos centros urbanos 
agonias dos supér(fluos) humanos
as mídias domando as massas 
os seres extintos em massa 

o instantâneo da desintegração nuclear 
o descartável do coração e do cérebro 
a ausência de sentidos vitais... 

e o meu poema 
que já durou tempo demais

21 maio 2017

Questão de Preço

não verás saída
para  o que te selaram como preço
pois verás um cerco que te prensa
e um circo de esterco que te apreça

é só este charco que te acerca:
desde o que pensas
(que é o que te ditam as imprensas
a te enfiar pelo rabo)
até essa pressa
de consumir a todo apreço
o que te ditam as empresas
a transbordar pelo ralo

de modo que a nossa queda
é só questão de preço e passo
ao abismo
que se paga e a que se vai
e é inútil todo alerta:
todas essas eras de alarde
o tempo com desprezo
esmaga cedo ou tarde