as pessoas confundiram viver
com o que se faz para viver:
vive-se para um meio
e nunca se chega a nada
as pessoas confundiram vida
com o preço que se paga pela vida:
apenas se paga o preço
e não se vive
o objetivo da vida
tornou-se o cansaço para o descanso
para que se atinja de novo
o mesmo objetivo
a se cansar
chama-se de vida
o preenchimento do vazio
de não se viver
10 agosto 2017
08 agosto 2017
Do que se Ergue
aquilo que se faz:
sem paz
aquilo que não vem:
desdém
aquilo que não é:
nem fé
aquilo que se vai:
te foste
aquilo que se foi:
é foice
aquilo que não fui:
me fundo
aquilo que será:
já está
aquilo que não sou:
é som
aquilo que se erguer:
é o ser
sem paz
aquilo que não vem:
desdém
aquilo que não é:
nem fé
aquilo que se vai:
te foste
aquilo que se foi:
é foice
aquilo que não fui:
me fundo
aquilo que será:
já está
aquilo que não sou:
é som
aquilo que se erguer:
é o ser
06 agosto 2017
Vingança
as pessoas em todos os seus passos
passo a passo caminham à vingança
todos esperamos a espada e a lança
que virão em morte de nossos rastos
o caos o fogo a fúria o assassinato
cortarão goelas da falsa esperança
império do horror que nunca se cansa
como gatos que destroçassem ratos
entre o longínquo se levanta um grito
uma tormenta que olho algum alcança
uma catástrofe em noturno rito
numa manhã de chuva morna e mansa
a esperança num coração perdido
vem dizer que sim... haverá Vingança
passo a passo caminham à vingança
todos esperamos a espada e a lança
que virão em morte de nossos rastos
o caos o fogo a fúria o assassinato
cortarão goelas da falsa esperança
império do horror que nunca se cansa
como gatos que destroçassem ratos
entre o longínquo se levanta um grito
uma tormenta que olho algum alcança
uma catástrofe em noturno rito
numa manhã de chuva morna e mansa
a esperança num coração perdido
vem dizer que sim... haverá Vingança
03 agosto 2017
"Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão..." (Baudelaire)
ninguém é o que são:
eu mesmo
só sou meu eu mesmo
quando sou ninguém
o que somos
somos de não-ser
ninguém aqui é são:
somos todos doentes
há mais podres na alma
do que bactérias nos dentes
ninguém é o que seja:
não somos
nem o que se deseja
ah, os que que se julgam sãos...
todo mundo se acha
um épico
mas mais seria si mesmo
um bêbado
eu mesmo
só sou meu eu mesmo
quando sou ninguém
o que somos
somos de não-ser
ninguém aqui é são:
somos todos doentes
há mais podres na alma
do que bactérias nos dentes
ninguém é o que seja:
não somos
nem o que se deseja
ah, os que que se julgam sãos...
todo mundo se acha
um épico
mas mais seria si mesmo
um bêbado
01 agosto 2017
"Elite" acéfala e estúpida
Os absurdos, os desmandos, as injustiças que têm ocorrido no Brasil de agora, desde aqueles do campo político, econômico, trabalhista, da perda de direitos, até os de comportamento social apresentam como uma de suas principais causas algo relativamente simples.
É que o brasileiro, em geral, sofre de complexo de inferioridade e de uma superficialidade desmedida. O brasileiro aspira sofregamente ser "superior". E, na sua superficialidade, ele entende que para ser superior, tem que ter dinheiro e tem que ser da "elite". Quando ele não tem esse dinheiro e\ou ele não é da "elite", acredita que NÃO será inferior se apoiar em tudo, de forma incondicional, os ricos e as elites.
Consciente ou inconscientemente, ele cria uma ilusão de superioridade ao pensar como os ricos, mesmo não o sendo. Ele afirma a si mesmo: " não sou pobre, porque penso como os ricos. Sou da elite, porque aparento ser da elite." E para o brasileiro superficial, aparência é tudo. E a nossa elite é uma das mais acéfalas e estúpidas do mundo. É muito fácil parecer com ela.
30 julho 2017
Árvore é Passado
a árvore passa
porque o progresso passa.
não tem sentido?
não, a humanidade o perdeu:
atrofiou seus sentidos
de encontrar sentido
de fazer sentido
de ser sentido
agora, qual sentido seguir?
a árvore passa
no sentido de que passou seu tempo
o progresso passa
no sentido de que dá passos
num passo a passo efêmero
com o qual em breve
esta humanidade será passado
porque o progresso passa.
não tem sentido?
não, a humanidade o perdeu:
atrofiou seus sentidos
de encontrar sentido
de fazer sentido
de ser sentido
agora, qual sentido seguir?
a árvore passa
no sentido de que passou seu tempo
o progresso passa
no sentido de que dá passos
num passo a passo efêmero
com o qual em breve
esta humanidade será passado
27 julho 2017
Free Books Editora
A pedido do amigo Paulo Soriano, divulgo seu site/editora, a Free Books Editora, que realiza a publicação de livros digitais com contos e romances de literatura fantástica. Um dos meus contos antigos, ainda de 2010, Urubus Demoníacos, foi publicado na página. Todos os arquivos podem ser baixados em formato PDF. Para conhecer o site, clique aqui.
25 julho 2017
Você é só um Robô
não existem governos
não existem nações
não existem países
não existem povos
existem grandes corporações empresariais
existe o lucro
e existe quem dá o lucro
existe o consumo:
o que eles querem
é só que você consuma
e trabalhe para produzir e pagar
o que consome
e só
para isso existe o controle:
governos são para controlar
empregos são para controlar
leis são para controlar
mídias são para controlar
escolas são para controlar
polícias são para controlar
a medicina é para controlar
a tecnologia é para controlar
a religião é para controlar
a moda é para controlar
tudo é controle
e você é o objetivo da nossa civilização:
você é só um robô
não existem nações
não existem países
não existem povos
existem grandes corporações empresariais
existe o lucro
e existe quem dá o lucro
existe o consumo:
o que eles querem
é só que você consuma
e trabalhe para produzir e pagar
o que consome
e só
para isso existe o controle:
governos são para controlar
empregos são para controlar
leis são para controlar
mídias são para controlar
escolas são para controlar
polícias são para controlar
a medicina é para controlar
a tecnologia é para controlar
a religião é para controlar
a moda é para controlar
tudo é controle
e você é o objetivo da nossa civilização:
você é só um robô
23 julho 2017
Então o Homem quer ir à Marte?
I – o homem no espaço
quer levar a vida a Marte
o homem na Terra
quer levar a vida à Morte
II – a ciência tenta descobrir
se há em Marte o metano
e nem sabe
se há no homem o humano
III – caro leitor:
o homem quer ir a Marte
para aprender a amar-te?
IV – aham, o homem quer ir a Marte...
grande marte
grande mar de...
grande merda
quer levar a vida a Marte
o homem na Terra
quer levar a vida à Morte
II – a ciência tenta descobrir
se há em Marte o metano
e nem sabe
se há no homem o humano
III – caro leitor:
o homem quer ir a Marte
para aprender a amar-te?
IV – aham, o homem quer ir a Marte...
grande marte
grande mar de...
grande merda
19 julho 2017
Mensagem da Ruína
finda teu rastro em ruína
enfia o rabo no reto
risca da face da terra
teu rosto-resto em ruína
homens de raça-ruína
reles que roem e rastejam
porcos que arrancam e arrastam
num riso-reza em ruína
roídos seres-ruína
na rua em raivas e ratos
de ranço e ranho rodeados
roucos de caos e ruína
rompida em fome e ruína
se rega em rugas tua alma
as rãs compõem o teu réquiem
e rolam ao som das ruínas
homem em rápida ruína
larga ao raio tua rosa
rasga essas roupas de rico
rema em teu rio de ruínas
enfia o rabo no reto
risca da face da terra
teu rosto-resto em ruína
homens de raça-ruína
reles que roem e rastejam
porcos que arrancam e arrastam
num riso-reza em ruína
roídos seres-ruína
na rua em raivas e ratos
de ranço e ranho rodeados
roucos de caos e ruína
rompida em fome e ruína
se rega em rugas tua alma
as rãs compõem o teu réquiem
e rolam ao som das ruínas
homem em rápida ruína
larga ao raio tua rosa
rasga essas roupas de rico
rema em teu rio de ruínas
16 julho 2017
Soneto às Palavras Não Ditas (ou Ao Após)
palavra que sinto quando me esqueço
o que é que de ti lembrar-me te faz?
deusa que eterna ao instante fugaz
nada que traga o meu não ao avesso
seja comigo ao altar do teu preço
verbo-destino que sigo-me atrás
silêncio que os muros quebra do mas
sonata que alta ao que nunca mereço
ah se eu corresse em teu rio sempre em chama
íris que fosse no som desta voz
braço sanguíneo que se ergue da lama
verso de espera que se ala no após
ah se teu quem fosse aquilo que chama:
deixa esquecer-me e lembrar-te entre nós
o que é que de ti lembrar-me te faz?
deusa que eterna ao instante fugaz
nada que traga o meu não ao avesso
seja comigo ao altar do teu preço
verbo-destino que sigo-me atrás
silêncio que os muros quebra do mas
sonata que alta ao que nunca mereço
ah se eu corresse em teu rio sempre em chama
íris que fosse no som desta voz
braço sanguíneo que se ergue da lama
verso de espera que se ala no após
ah se teu quem fosse aquilo que chama:
deixa esquecer-me e lembrar-te entre nós
13 julho 2017
Desaforadas (ou Após Ouvir Shostakovich)
porque há risos gargalhadas
em cascatas cataratas
sanguinadas pelas pragas
são cantatas de gargalhas
das risadas alastradas
zombarias pelas águas
são compassos de risadas
entre asas garras e brasas
pelas rubras russas geadas
o deboche dos abutres
o gaguejo de macacos
gorgolejo de galinhas
graves línguas de lagartos
o sarcástico dos asnos
entre gárgulas e cabras
ironias desbocadas
em metralhas e sarcasmos
em grotescos e catarras
há danças valsas e facas
essa desgraça engraçada
a lembrar que a humanidade
é uma piada
em cascatas cataratas
sanguinadas pelas pragas
são cantatas de gargalhas
das risadas alastradas
zombarias pelas águas
são compassos de risadas
entre asas garras e brasas
pelas rubras russas geadas
o deboche dos abutres
o gaguejo de macacos
gorgolejo de galinhas
graves línguas de lagartos
o sarcástico dos asnos
entre gárgulas e cabras
ironias desbocadas
em metralhas e sarcasmos
em grotescos e catarras
há danças valsas e facas
essa desgraça engraçada
a lembrar que a humanidade
é uma piada
11 julho 2017
Poema de Ocaso a uma Sonata de Schubert
é quando ouço aquela sonata de Schubert
que um cavalo vem bater na minha porta:
então estranho o peso dos olhares dos sapos
e escrevo poemas (que) não-sãos
há algo de Poe nunca-lido
e uma desolação de silêncio
de não-flauta na mata
é uma sentença de um quadro de Bosch
que não me sai do que pesadelo
é sonho de sol cada vez mais ao norte
um vento de corvo que abutra no ar
carta carteando selos vermelhos
e um planeta por trás dos espaços
é a ponta de um dedo em um dedo
como se fosse um beijo sinal:
há algo do que já é tarde
e a iminência de um vasto Final
que um cavalo vem bater na minha porta:
então estranho o peso dos olhares dos sapos
e escrevo poemas (que) não-sãos
há algo de Poe nunca-lido
e uma desolação de silêncio
de não-flauta na mata
é uma sentença de um quadro de Bosch
que não me sai do que pesadelo
é sonho de sol cada vez mais ao norte
um vento de corvo que abutra no ar
carta carteando selos vermelhos
e um planeta por trás dos espaços
é a ponta de um dedo em um dedo
como se fosse um beijo sinal:
há algo do que já é tarde
e a iminência de um vasto Final
09 julho 2017
Dessilêncio
olho aquele olhar que me olha
sem que dirija algum olhar
a nenhum lugar:
vejo-o lá
quando o olhar que me vê
não o vejo
porque nem está
não se (h)ouve palavra.
no seu dessilêncio
verbo ausente do denso
que se pensa dito
e é o tudo:
só mais uma gota na taça
e o imenso do nada quanto se faça
o que é feito em verdade
é feito sem que se importe
no deixe que se fale ou cale
é assim que ficará um sopro no alto
um passo no vale:
só serei o que sou
quando do mim mesmo
me estiver falto
e a um passo do falhe
aliás o de Olhar
não se diz de nenhum jeito
eu mesmo não falo de coisa alguma
e este poema
como bem podem (não) ver
nem chegou a ser feito
sem que dirija algum olhar
a nenhum lugar:
vejo-o lá
quando o olhar que me vê
não o vejo
porque nem está
não se (h)ouve palavra.
no seu dessilêncio
verbo ausente do denso
que se pensa dito
e é o tudo:
só mais uma gota na taça
e o imenso do nada quanto se faça
o que é feito em verdade
é feito sem que se importe
no deixe que se fale ou cale
é assim que ficará um sopro no alto
um passo no vale:
só serei o que sou
quando do mim mesmo
me estiver falto
e a um passo do falhe
aliás o de Olhar
não se diz de nenhum jeito
eu mesmo não falo de coisa alguma
e este poema
como bem podem (não) ver
nem chegou a ser feito
06 julho 2017
Sentença
a cada árvore plantada
há mil derrubadas
ou ainda mais
e já são tantas
quem nem deixam sinais
a cada água que é clara
há mil esgotadas
de veneno e fedor
e já são tantas
que nem se nota o horror
a cada balada composta
há mil baladas
na cara ou na testa
e esse rastro de sangue
é tudo o que nos resta
a cada animal que é amado
há mil massacrados
ou sob tortura
e essa doença da vida
já não tem mais cura
a cada beijo que é dado
há mil que são fingidos
e ainda mais outros mil
daqueles malditos
e tenho dito
há mil derrubadas
ou ainda mais
e já são tantas
quem nem deixam sinais
a cada água que é clara
há mil esgotadas
de veneno e fedor
e já são tantas
que nem se nota o horror
a cada balada composta
há mil baladas
na cara ou na testa
e esse rastro de sangue
é tudo o que nos resta
a cada animal que é amado
há mil massacrados
ou sob tortura
e essa doença da vida
já não tem mais cura
a cada beijo que é dado
há mil que são fingidos
e ainda mais outros mil
daqueles malditos
e tenho dito
04 julho 2017
Ladrão com Honra
há o ladrão covarde
e o ladrão com honra:
o ladrão covarde
vira político
abre uma empresa
ou funda uma igreja
para poder roubar
com a polícia e a lei do lado
veja bem:
eu não escrevi
que todo político empresário ou pastor
quis sê-lo por ser ladrão
(é preciso que se diga
pois há quem entenda tudo errado)
já o ladrão com honra
(sejamos francos)
assalta bancos
e o ladrão com honra:
o ladrão covarde
vira político
abre uma empresa
ou funda uma igreja
para poder roubar
com a polícia e a lei do lado
veja bem:
eu não escrevi
que todo político empresário ou pastor
quis sê-lo por ser ladrão
(é preciso que se diga
pois há quem entenda tudo errado)
já o ladrão com honra
(sejamos francos)
assalta bancos
01 julho 2017
A Época da Ausência
a cada passo dado pela humanidade
morre um otimista
que não percebe o passo
e não sabe que morreu
_________________
acreditar (ainda)
nesta civilização
como sendo civilização
é algo menos de ingênuo
e mais de perverso
_________________
dizem que vivemos tempos de desespero...
discordo.
para o desespero é necessária a consciência
de que se perderam as esperanças
essa consciência não a temos:
vivemos tempos de vazio
vivemos a época da ausência
morre um otimista
que não percebe o passo
e não sabe que morreu
_________________
acreditar (ainda)
nesta civilização
como sendo civilização
é algo menos de ingênuo
e mais de perverso
_________________
dizem que vivemos tempos de desespero...
discordo.
para o desespero é necessária a consciência
de que se perderam as esperanças
essa consciência não a temos:
vivemos tempos de vazio
vivemos a época da ausência
29 junho 2017
O Bem-Sucedido
vivia para o trabalho
mas estava certo de que não
achava que era dos que não perdiam
oportunidades:
não se desperdiça uma chance
de se ganhar um pouco mais
não se recusa
só mais uma horinha extra
não se diz não para mais um cliente
não se deixa de aumentar a poupança
para se vagabundear nas férias
ninguém deve se dar por satisfeito
se pode aumentar sua renda no próximo ano
não se vive sem ambições sem metas de crescimento
mais diplomas na parede
é mais dinheiro na conta do banco
o descanso pode esperar
a carreira não
a saúde pode esperar
a promoção não
o amor pode esperar
o status social não
a alma pode esperar
o sucesso não
ficar ouvindo música
não vai dar um carro novo
não é se divertindo que se reforma a casa
investimentos não brotam de passeios
se se deixa de prosperar
o que os outros vão dizer?
primeiro progredir
para um dia se viver
mas o progresso não para...
mas estava certo de que não
achava que era dos que não perdiam
oportunidades:
não se desperdiça uma chance
de se ganhar um pouco mais
não se recusa
só mais uma horinha extra
não se diz não para mais um cliente
não se deixa de aumentar a poupança
para se vagabundear nas férias
ninguém deve se dar por satisfeito
se pode aumentar sua renda no próximo ano
não se vive sem ambições sem metas de crescimento
mais diplomas na parede
é mais dinheiro na conta do banco
o descanso pode esperar
a carreira não
a saúde pode esperar
a promoção não
o amor pode esperar
o status social não
a alma pode esperar
o sucesso não
ficar ouvindo música
não vai dar um carro novo
não é se divertindo que se reforma a casa
investimentos não brotam de passeios
se se deixa de prosperar
o que os outros vão dizer?
primeiro progredir
para um dia se viver
mas o progresso não para...
27 junho 2017
Questão de Honra
o amor
é uma questão de trato
a confiança
é uma questão de taco
a dor
é uma questão de trégua
a política
é uma questão de treta
a justiça
é uma questão de troca
a vida
é uma questão de transa
a solução
é uma questão de trago
o fim
é uma questão de tempo
é uma questão de trato
a confiança
é uma questão de taco
a dor
é uma questão de trégua
a política
é uma questão de treta
a justiça
é uma questão de troca
a vida
é uma questão de transa
a solução
é uma questão de trago
o fim
é uma questão de tempo
25 junho 2017
o verso não é meu
o verso? deixo que ele saia
como sendo mulher que dispa sua saia
e sem que eu pense em nada além de pensar-me
o verso nada tem a ver do que penso
a arte que por ele passa quando passa
vem de um outro todo que nem tenho
vento que se vaga não comigo
lago que se nada no não-dito
deixo que passe o que se passa por mim
por que não importa aquilo do que sinto
e o que corre no sangue do que tenho
de que vale o vale que me afundo?
o verso é vasto longo e fundo
vai muito além do que nem está em mim:
por que querer que ele fale de um eu?
por que o verso tem que ser o que é meu?
como sendo mulher que dispa sua saia
e sem que eu pense em nada além de pensar-me
o verso nada tem a ver do que penso
a arte que por ele passa quando passa
vem de um outro todo que nem tenho
vento que se vaga não comigo
lago que se nada no não-dito
deixo que passe o que se passa por mim
por que não importa aquilo do que sinto
e o que corre no sangue do que tenho
de que vale o vale que me afundo?
o verso é vasto longo e fundo
vai muito além do que nem está em mim:
por que querer que ele fale de um eu?
por que o verso tem que ser o que é meu?
22 junho 2017
Vida Moderna x Vida
há tanta coisa no tempo de vida
que não há mais tempo para a vida
viver tornou-se uma ordem a ser acatada
dada por todos que não são ninguém
sob o pretexto de uma escolha
em que não se escolhe
faça isso faça assim faça o certo
seja feliz tenha bens alcance o sucesso
trabalhe estude se informe
compre consuma ostente
vá à academia faça curso de inglês caminhe no asfalto
não pode beber não pode fumar mas pode comer porcaria
tenha um celular avançado
nas férias vá para a praia
consulte um médico faça exames
empine sempre um sorriso
ajude alguma causa social
goste do que está na moda
seja o que se espera de ti
tenha planos tenha metas tenha ambições
e os atinja
mas não basta ter
é preciso mostrar que se tem:
não se é feliz nem se tem sucesso
se os outros não souberem
que você é feliz e que você tem sucesso
faça isso tudo
e no que sobrar do tempo
lamente não ter tempo pra nada
que não há mais tempo para a vida
viver tornou-se uma ordem a ser acatada
dada por todos que não são ninguém
sob o pretexto de uma escolha
em que não se escolhe
faça isso faça assim faça o certo
seja feliz tenha bens alcance o sucesso
trabalhe estude se informe
compre consuma ostente
vá à academia faça curso de inglês caminhe no asfalto
não pode beber não pode fumar mas pode comer porcaria
tenha um celular avançado
nas férias vá para a praia
consulte um médico faça exames
empine sempre um sorriso
ajude alguma causa social
goste do que está na moda
seja o que se espera de ti
tenha planos tenha metas tenha ambições
e os atinja
mas não basta ter
é preciso mostrar que se tem:
não se é feliz nem se tem sucesso
se os outros não souberem
que você é feliz e que você tem sucesso
faça isso tudo
e no que sobrar do tempo
lamente não ter tempo pra nada
20 junho 2017
mundotrágico
motosserras
motocerros
motossangas
matamorros
matassorros
matadouros
maremotos
maresmortos
maresmudos
mardemonstros
mardemedos
mardemerdas
amazônico
malozônico
magrocórrego
holocáustico
agrotóxico
agrotúmulo
mundocômico
motocerros
motossangas
matamorros
matassorros
matadouros
maremotos
maresmortos
maresmudos
mardemonstros
mardemedos
mardemerdas
amazônico
malozônico
magrocórrego
holocáustico
agrotóxico
agrotúmulo
mundocômico
18 junho 2017
(Só) Trabalhe!
quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer: "SÓ trabalhe!"
é a melhor forma de dominação:
quem só trabalha
não tem tempo para ler
não tem tempo para ouvir
não tem tempo para ver
não tem tempo para pensar
não tem tempo para sentir
para se inquietar
para questionar
para contemplar
enfim, não tem tempo para a vida
quem não vive
não se importa com o que vive
não se importa com o que sofre
não se importa com o que morre
a era pós-humana
a era pós-tudo
quer só máquinas quer só robôs
porque eles SÓ trabalham
quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer "SÓ trabalhe!"
eles só não dizem só
porque não é só
isso
eles querem dizer: "SÓ trabalhe!"
é a melhor forma de dominação:
quem só trabalha
não tem tempo para ler
não tem tempo para ouvir
não tem tempo para ver
não tem tempo para pensar
não tem tempo para sentir
para se inquietar
para questionar
para contemplar
enfim, não tem tempo para a vida
quem não vive
não se importa com o que vive
não se importa com o que sofre
não se importa com o que morre
a era pós-humana
a era pós-tudo
quer só máquinas quer só robôs
porque eles SÓ trabalham
quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer "SÓ trabalhe!"
eles só não dizem só
porque não é só
isso
15 junho 2017
Duas Palavrinhas
I - do poema futuro:
em cadáverso
um cadáver
em cadáestrofe
uma catástrofe
II - do tempo:
o problema do tempo
é que um dia ele chega
e quando chega
o tempo que passou
não chegou:
o tempo é sempre
insuficiente
em cadáverso
um cadáver
em cadáestrofe
uma catástrofe
II - do tempo:
o problema do tempo
é que um dia ele chega
e quando chega
o tempo que passou
não chegou:
o tempo é sempre
insuficiente
13 junho 2017
Dos Homens sem Paz
I - a próxima guerra
dos homens sem água
será pela mágoa
de uma terra
acabada sem trégua
pelos homens sem garra e sem guelra
morridos à míngua
II – a espada
na terra cravada
será cruz
a cruz
no pulso empunhada
será espada
III – os homens só terão paz
quando a paz for daquelas
de cavar covas
dos homens sem água
será pela mágoa
de uma terra
acabada sem trégua
pelos homens sem garra e sem guelra
morridos à míngua
II – a espada
na terra cravada
será cruz
a cruz
no pulso empunhada
será espada
III – os homens só terão paz
quando a paz for daquelas
de cavar covas
11 junho 2017
Contradição
afirmam alguns
que a vida surgiu do nada
mas o que seria o nada?
de duas
uma:
I – a toda vida que há
surgiu do nada que não é?
mas como
se até na matemática
qualquer número
vezes zero
é sempre zero?
ou o nada
é só um nome que damos
às causas
que não alcançamos
em nossos limites?
II – ou então o nada
é o nada mesmo
e ponto.
nesse caso
a vida que vemos
também é um nada
se é um nada
não existe
ou existem nadas
que existem?
e quem vê o que não existe
se só acredita vendo
acredita no que não existe
como pode o que não existe
existir?
que a vida surgiu do nada
mas o que seria o nada?
de duas
uma:
I – a toda vida que há
surgiu do nada que não é?
mas como
se até na matemática
qualquer número
vezes zero
é sempre zero?
ou o nada
é só um nome que damos
às causas
que não alcançamos
em nossos limites?
II – ou então o nada
é o nada mesmo
e ponto.
nesse caso
a vida que vemos
também é um nada
se é um nada
não existe
ou existem nadas
que existem?
e quem vê o que não existe
se só acredita vendo
acredita no que não existe
como pode o que não existe
existir?
08 junho 2017
Soneto de um Último Século
vasta contemplação do fim do humano
surgiu-me entre beijos de horror e caos
sangue felídeo daqui até o Laos
lábios de som em desastre oceano
teu rosto não-visto em réquiem brahmiano
nunca acabou de acabar-me ao final
teu olho ainda sinto entre um temporal
e entre estes céus de vermelho romano
agora é tarde o distante do cedo
ergueu-se o fim e sonhei-te perplexo
violino e piano entre pânico e medo
mas em tuas mãos havia um reflexo
em teu cabelo ocultava um segredo:
o de que a morte é o mistério do sexo
surgiu-me entre beijos de horror e caos
sangue felídeo daqui até o Laos
lábios de som em desastre oceano
teu rosto não-visto em réquiem brahmiano
nunca acabou de acabar-me ao final
teu olho ainda sinto entre um temporal
e entre estes céus de vermelho romano
agora é tarde o distante do cedo
ergueu-se o fim e sonhei-te perplexo
violino e piano entre pânico e medo
mas em tuas mãos havia um reflexo
em teu cabelo ocultava um segredo:
o de que a morte é o mistério do sexo
06 junho 2017
Sobre a "Festa" no Instituto Evangélico : adiantei-me
O poeta, o escritor sem fama, que é o meu caso, é um cara chato. Como não tem mídia para o promover, tem que promover a si mesmo. Por isso que vou repostar um poema que publiquei aqui em 5 de abril, o qual expressa, em sua primeira parte, exatamente a situação ocorrida no Instituto Evangélico de Novo Hamburgo. Seu título é "dos Brasileiros e da Humanidade":
é tão grande e tão superior
que ele precisa escolher alguns como mais inferiores
para humilhar oprimir eliminar e pôr a culpa
e assim se sentir superior
II - a humanidade se cansou
(assim como quem já assistiu a tantos filmes de horror
que já nada mais choca ou surpreende):
coisa alguma faz efeito algum .
quando se chega a esse ponto
é preciso mudar a fundo
ou morrer e pronto
04 junho 2017
600 mil hectares A MENOS de reservas e milhões de hectares DESMATADOS perdoados
Com um Congresso formado principalmente por ruralistas, gigantes do agronegócio e por grandes empresários, e com um presidente que é apenas um fantoche na mão dos interesses econômicos, o que se pode esperar? Além, é claro do massacre dos direitos trabalhistas, devemos também esperar o massacre do nosso já massacrado meio ambiente.
Agora, Temer e o Congresso querem reduzir 600 mil hectares (o equivalente a QUATRO cidades de São Paulo) a Floresta Nacional do Jamanxim, no já muito desmatado estado do Pará, ou seja, na Amazônia. E quer fazer coisa semelhante em várias outras reservas na Amazônia. Se com todas essas reservas, já há uma grande devastação em muitas áreas da Amazônia, inclusive o ritmo do desmatamento só aumentou desde o início do (des)governo Temer, imaginem como será com a redução dessas reservas? Em poucos anos, teremos um ritmo alucinante de destruição na Amazônia como nunca antes visto. Quer saber mais sobre o assunto? Clique aqui.
Não bastasse isso, a turma do lucro a qualquer custo ainda anistiou, ou seja, perdoou crimes ambientais, com o seu nefasto Código (des)Florestal. Em 5 anos, foram perdoados 41 milhões de hectares desmatados em áreas que deveriam ser de CONSERVAÇÃO PERMANENTE. Ficou tudo por isso mesmo. Ou seja, natureza destruída e não restaurada. Mais sobre assunto aqui.
Para onde vamos, caro leitor? Tu sabes, o abismo é logo ali.
02 junho 2017
O (Des)sentido da vida
passamos a vida fazendo coisas
que não gostaríamos de fazer
para fazer as coisas que gostaríamos
mas que não teremos tempo de fazer
por ter feito tanto o que não gostaríamos
passamos a vida deixando de ser o que em fundo somos
com o objetivo único de ao fim um dia poder ser:
mas tanto deixamos de ser para poder ser
(para apodrecer)
que quando podemos ser
já não mais somos
que não gostaríamos de fazer
para fazer as coisas que gostaríamos
mas que não teremos tempo de fazer
por ter feito tanto o que não gostaríamos
passamos a vida deixando de ser o que em fundo somos
com o objetivo único de ao fim um dia poder ser:
mas tanto deixamos de ser para poder ser
(para apodrecer)
que quando podemos ser
já não mais somos
31 maio 2017
A Era da Superfície
I - época contraditória:
as pessoas estão tão sentimentais
e insensíveis:
se emocionam. mas só com merdas:
choram pelo mocinho da novela
cagam para o massacre do que é vida
II – a tarefa do artista
é a mais ingrata a mais inútil:
precisa atingir o verdadeiro sentimento humano
ou seja trabalha cada vez mais com o nada
seja de seu seja de outros
III - de modo que o artista
que mais alcança o coração alheio
é o que melhor esgota o seu
as pessoas estão tão sentimentais
e insensíveis:
se emocionam. mas só com merdas:
choram pelo mocinho da novela
cagam para o massacre do que é vida
II – a tarefa do artista
é a mais ingrata a mais inútil:
precisa atingir o verdadeiro sentimento humano
ou seja trabalha cada vez mais com o nada
seja de seu seja de outros
III - de modo que o artista
que mais alcança o coração alheio
é o que melhor esgota o seu
28 maio 2017
Sou a favor da Ditadura
Sou a favor da reforma da previdência, desde que eu, assim como as empresas, fique anos sem pagar impostos e depois seja perdoado.
Sou a favor da sonegação fiscal, desde que quando eu comprar um produto ou pagar por um serviço tenha o imposto que eu pago, que será sonegado, devolvido pra mim.
Sou a favor, assim como o deputado Jair Bolsonaro, que as mulheres ganhem menos por seus trabalhos (afinal, elas engravidam), desde que essas mulheres que ganham menos não sejam a minha mulher, a minha mãe ou a minha filha.
Sou a favor do combate às minorias menos favorecidas, que só incomodam mesmo, desde que não toquem naquilo em que eu sou minoria.
E, para encerrar, sou a favor da ditadura, desde que eu seja o ditador.
26 maio 2017
Assassinato
vida
é aquilo que nos deixa a cada instante
não porque o tempo passa e então se morre
mas porque o tempo passa
e não se vive
tempo
é aquilo que não se sabe
que se perde a cada instante:
pensa que não perde quem trabalha
mas só não perde quem tem alma
alma
é aquilo que se mata
a todo instante
é aquilo que nos deixa a cada instante
não porque o tempo passa e então se morre
mas porque o tempo passa
e não se vive
tempo
é aquilo que não se sabe
que se perde a cada instante:
pensa que não perde quem trabalha
mas só não perde quem tem alma
alma
é aquilo que se mata
a todo instante
25 maio 2017
Era da Velocidade
época da velocidade
a jato a vácuo
a comida comprada pronta
a morte a 200 por hora
em milésimos de segundos
o amor é questão de fundos
ou de voltas pelo mundo
só o tempo do beijo ou do sexo
sem volta e sem nexo
celular computador internet:
é a vida no agora e no antes
sem que haja adiantes
as correias dos motores mecânicos
poesia de sensor eletrônico
correrias dos centros urbanos
agonias dos supér(fluos) humanos
as mídias domando as massas
os seres extintos em massa
o instantâneo da desintegração nuclear
o descartável do coração e do cérebro
a ausência de sentidos vitais...
e o meu poema
que já durou tempo demais
a jato a vácuo
a comida comprada pronta
a morte a 200 por hora
em milésimos de segundos
o amor é questão de fundos
ou de voltas pelo mundo
só o tempo do beijo ou do sexo
sem volta e sem nexo
celular computador internet:
é a vida no agora e no antes
sem que haja adiantes
as correias dos motores mecânicos
poesia de sensor eletrônico
correrias dos centros urbanos
agonias dos supér(fluos) humanos
as mídias domando as massas
os seres extintos em massa
o instantâneo da desintegração nuclear
o descartável do coração e do cérebro
a ausência de sentidos vitais...
e o meu poema
que já durou tempo demais
21 maio 2017
Questão de Preço
não verás saída
para o que te selaram como preço
pois verás um cerco que te prensa
e um circo de esterco que te apreça
é só este charco que te acerca:
desde o que pensas
(que é o que te ditam as imprensas
a te enfiar pelo rabo)
até essa pressa
de consumir a todo apreço
o que te ditam as empresas
a transbordar pelo ralo
de modo que a nossa queda
é só questão de preço e passo
ao abismo
que se paga e a que se vai
e é inútil todo alerta:
todas essas eras de alarde
o tempo com desprezo
esmaga cedo ou tarde
para o que te selaram como preço
pois verás um cerco que te prensa
e um circo de esterco que te apreça
é só este charco que te acerca:
desde o que pensas
(que é o que te ditam as imprensas
a te enfiar pelo rabo)
até essa pressa
de consumir a todo apreço
o que te ditam as empresas
a transbordar pelo ralo
de modo que a nossa queda
é só questão de preço e passo
ao abismo
que se paga e a que se vai
e é inútil todo alerta:
todas essas eras de alarde
o tempo com desprezo
esmaga cedo ou tarde
Assinar:
Postagens (Atom)